Laços escrita por Kaline Bogard


Capítulo 5
Quando a vida oferta uma nova chance


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura! ♥



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Shino observou enquanto Kiba ninava a filha de leve. A cena trouxe um calor agradável ao peito e a certeza de que fazia a coisa certa.

— Eu sei que estão morando no seu carro — falou sem grande afetação.

O outro ergueu a cabeça e o analisou por breves segundos. A expressão até então de deslumbramento tornou-se um tanto desconfiada.

— Quem é você? Como sabe tanto sobre mim? E por que está fazendo isso?

A pergunta era muito justa. Shino admitia ter invadido a privacidade alheia, por uma boa causa, mas ainda assim uma invasão que Kiba desconhecia.

— Você já sabe quem eu sou: Aburame Shino, coproprietário dessa empresa. Eu sei tanto sobre sua situação porque mandei investigar. E faço isso porque tenho uma condição. Sofro de obsessão…

— Você é um stalker?! — Kiba interrompeu a explicação avançando alguns passos para trás. Por sorte não se afastou muito do elevador, se fosse preciso entrava nele e desaparecia dali com a filha!

Shino ficou meio chocado pela rapidez da conclusão equivocada.

— Não — tratou de garantir — Não sou um stalker. Não é esse tipo de obsessão… — o desconcerto o fez perder a linha de raciocínio.

Kiba sondou a expressão do homem por alguns segundos, decidindo entre lutar e fugir. Por fim descartou as duas opções e preferiu ouvir.

— Pensamentos obsessivos…? — jogou a possibilidade no ar.

— Sim, é isso. Sofro de Transtorno Obsessivo Compulsivo. Estava prestes a passar por uma crise aguda, mas sua história me deu foco e me ajudou.

A nova explicação fez Kiba relaxar visivelmente. Ele cursava o quinto semestre da faculdade quando teve que trancar o curso por falta de dinheiro para pagar as mensalidades. Isso também era do conhecimento de Shino: a conta corrente e a poupança do rapaz foram zeradas, bem por época do nascimento de Sumire. Kankuro descobriu sem dificuldade alguma que o procedimento de aborto chegou a ser marcado. Porém desmarcado pouco antes da data prevista. Somando dois mais dois, o resultado era óbvio: Kiba usou o dinheiro para fazer a namorada mudar de ideia e garantir que Sumire tivesse a chance de nascer. Além do mais, assumiu todas as dívidas hospitalares, por isso vivia numa situação tão complicada, mesmo a bebê tendo mais de um aninho.

Essas descobertas nem eram o mais surpreendente.

Havia uma anotação nas descobertas que fez Shino perder a reação por breves instantes, enquanto lia o relatório. Kiba namorava a mãe de Sumire, mas a probabilidade dele ser o pai da criança era quase nula. Quando a criança nasceu, com nove meses de gestação, mal fazia sete meses que o casal se conheceu.

Como era possível ele fazer tanto por uma criança que sequer…

Então observou a forma cuidadosa com que o rapaz segurava a filha. Nada havia a entender, apenas admirar e respeitar as escolhas de alguém que garantiram que a menininha estivesse viva ali e agora. Nada mais que isso.

— Olha, Shino… eu não sei se posso ser a sua âncora. Tá me dizendo que isso tudo te ajudou, mas eu não cheguei a me formar e to passando por umas situações… — depois do longo silêncio, Kiba resolveu ser sincero.

— Então não aceita o emprego?

— Eu não disse isso! — a afirmativa veio depressa — Mas que fique claro: não quero que fique investigando minha vida. Eu vou agradecer a oportunidade trabalhando da melhor forma e ponto final.

— Posso adicionar essas clausulas no contrato, se te deixa mais tranquilo.

Shino não queria ser uma fada madrinha na vida alheia. Aparecer e salvá-lo do perigo apenas para ter um momento de autossatisfação egocêntrico. Sua intenção era dar ferramentas para que o rapaz conseguisse viver com decência e dar uma vida digna para a filha. Sair dos problemas dependeria unicamente de Kiba. Por isso não tinha intenção alguma de continuar investigando-o, cavando coisas ou vigiando. Contratou Kankuro para ter um ponto de partida, agora sabia o bastante, iria fazer a oferta e se afastar para que o outro caminhasse com as próprias pernas.

Kiba analisou a face de Shino por alguns segundos. Pareceu satisfeito ao final.

— Não precisa. Acho que você é um homem de palavra. Qual é a vaga de emprego? Sei limpar direitinho e tenho experiência com entregas. Seja na faxina ou como Office-boy garanto que serei um ótimo funcionário! — não era nada modesto na hora de exaltar as qualidades que possuía.

Shino divertiu-se com o jeito exuberante, principalmente porque o garoto sempre se equivocava em suas conclusões precipitadas.

— A vaga é para trabalhar na creche.

— Creche? — Kiba não entendeu. Mas lembrou-se de que Shino prometeu um emprego e uma vaga para Sumire.

O homem avançou até para perto das grandes janelas e admirar a vista lá fora. Cruzou as mãos atrás das costas antes de retomar a explicação:

— Descobri que temos nove filhos de funcionários sem vaga em creches. Os pais estão com dificuldades em conseguir um lugar, assim como você. Por outros motivos, claro. Então resolvi modificar esse espaço e oferecer uma creche dentro da “Aburame & Yamanaka TechControl”, para os filhos dos nossos empregados. O projeto incluiu dois monitores para tomar conta das crianças. Pensei em oferecer uma das vagas para você e abrir a outra para os demais concorrentes.

Não era uma oferta leviana. Inuzuka Kiba estava quase se formando Psicólogo. Era uma pessoa indicada para trabalhar profissionalmente com crianças.

— Caralho! — Kiba ficou impressionado com a ideia — Hum... digo, caraca!

Shino virou-se e o encarou. Aquelas reações o encantavam!

— Comprar o necessário para a creche começar a funcionar também é parte dos deveres. Berços, colchões, lençóis, brinquedos… — retomou a fala — Temos um acordo com um dos restaurantes nessa rua. Nossos funcionários podem fazer as refeições com desconto, agora vou adicionar as refeições das crianças. Esse é o espaço da creche, o oitavo andar. Banheiros ficam naquela porta — indicou a direita, uma passagem que Kiba não tinha reparado antes — Talvez uns biombos ajudem a dividir melhor o espaço. Mas confio que você saberá o que é adequado.

Kiba ficou observando o outro em silêncio. Aquilo tudo era bom demais pra ser verdade.

— O que você ganha em troca? — se ouviu perguntando, para em seguida emendar: — Desculpa, não quis ser grosseiro, eu só…

Calou-se. Esse ano e meio vivendo na rua com um bebê não foi fácil. Aprendeu que havia pessoas maravilhosas, dispostas a estender a mão e ajudar. Mas também existia crueldade e maldade, gente capaz de sugar até a última gota de sangue sem misericórdia.

Toda a bondade que recebeu foi de seres humildes, não de homens ricos como o dono daquela empresa. Não conseguia compreender.

Shino meneou a cabeça, descartando a preocupação de Kiba.

— Eu ganho muito com isso. Todas as despesas com a creche serão deduzidas do imposto de renda da empresa. Garantindo uma vaga para as crianças, meus funcionários trabalharão com mais qualidade. E… — suspirou — Talvez isso me ajude a manter o foco. Não vou usar você como uma âncora para meu transtorno, apenas o projeto em si.

Kiba sorriu.

— Faz sentido! Caralho, cara… — a frase empolgada silenciou de súbito, enquanto Kiba corava um pouco — Hum… digo, Caraca, chefe. Essa oportunidade caiu do céu! Muito obrigado! Eu aceito sim.

— Excelente — o homem sentiu-se aliviado. A apreensão que nem se deu conta ter o abandonou, enquanto fez um gesto em direção à porta — Vou apresentá-lo no departamento de Recursos Humanos, lá você terá acesso à uma cópia do contrato e demais trâmites legais. Também pode…

Nesse momento Sumire começou a chorar, interrompendo a explicação. Kiba tentou niná-la e acalmá-la, mas não fez muito efeito.

— Ela tá com fome — suspirou. O encontro com Kabuto e depois a pseudo reunião com Aburame Shino o fizeram perder a noção da rotina — Se importa se dermos uma pausa? Sei que preciso assinar o contrato o quanto antes, mas…

— Tudo bem — Shino relevou. Não era um encontro nos moldes padrão de negócios. Ia convidar Kiba para tratar da oferta e quando flagrou o assistente social agindo daquele jeito intimidador, mudou os planos e levou o garoto direto para apresentar a proposta.

Por um segundo sentiu-se tentado a convidar o futuro empregado da “Aburame & Yamanaka TechControl” para almoçar tardiamente, porém mudou de ideia. Teve receio de ser mal interpretado.

No fim das contas, nem precisou fazer nada. Kiba acabou o convidando.

— Se puder me dizer onde fica o restaurante aqui próximo e… ah! — só então deu-se conta de que veio de carona. Não tinha muito dinheiro consigo. Na verdade, precisaria rondar os arredores do Ichiraku tentar a sorte. Passou a dar tapinhas de consolo nas costas da filha. Tinha uma mamadeira de leite com vitaminas, poderia saciar a menina na emergência. Ao menos isso…

— Posso apresentá-lo ao restaurante como um dos nossos funcionários. Tem direito a fazer a refeição com desconto. E ela só será cobrada no holerite do próximo mês.

— Tem certeza?! — Kiba animou-se. Tanto pela oferta quanto pelo choro da menina que abrandou — Ainda não assinei o contrato.

Shino avançou pela sala, fazendo um gesto para que Kiba o seguisse. Quando foi obedecido, tirou o celular do bolso.

— Iruka? — falou com o responsável pelo departamento — Peça para o Office Boy levar o contrato do novo funcionário para o restaurante conveniado. Estaremos lá em dez minutos. Obrigado — então se virou para Kiba — Minha última invasão em sua privacidade. Depois prometo que seremos apenas profissionais trabalhando na mesma empresa.

— Combinado! — o garoto sorriu. Comida era algo que nunca recusava para si, quanto mais para a filha! — Bem, depois vou precisar de uma carona de volta pra Ueno. Aí sim, relação cem por cento profissional!

Ambos disseram com convicção e certeza inquestionável, porque acreditaram realmente nisso: que conseguiriam manter tudo a nível técnico. Naquele instante pensavam no futuro trabalhista e nada mais.

Mas a vida prega peças, e a história de duas pessoas pode tomar um rumo totalmente inesperado, como viriam a descobrir em breve.


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Notas finais do capítulo

Falta pouco pra acabar!



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