Laços escrita por Kaline Bogard


Capítulo 3
A realidade que não se percebe


Notas iniciais do capítulo

Caraca, estamos quase na metade dessa história :o

Boa leitura!



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Shino terminou de ler o relatório sem saber o que pensar. Estava espantado em como as pessoas enfrentavam dificuldades no dia-a-dia, coisas que pareciam saídas daqueles filmes de Hollywood.

Ficou virando as folhas, indo e voltando. Observando as informações que Kankuro resumiu de modo eficiente. Isso tirou sua concentração para o trabalho, tinha chegado no escritório e estava ali desde então, lendo o relatório.

Até que batidas na porta anunciaram a entrada de Yamanaka Ino, com quem dividia a propriedade da multinacional em número igual de ações.

— Bom dia — a bela loira foi dizendo enquanto caminhava pelo carpete até sentar-se na cadeira a frente da escrivanhinha de Shino. Cruzou as pernas num gesto teatral e suspirou.

Shino a conhecia bem o bastante para saber que algo estava errado.

— Bom dia — respondeu sondando a expressão contrariada.

— Aquela raposa do Gaara — Ino não fez mistério sobre o que a irritava — Acredita que ele teve a cara de pau de me propor 70/30 no acordo dos nanos para Suna?

Shino franziu as sobrancelhas. Era uma oferta extremamente desvantajosa para eles. E não combinava em nada com o jeito correto de Sabaku no Gaara.

Faziam negócios com Sunagakure, país que Gaara governava, a um bom tempo. Nunca tiveram problemas antes. Foi graças a excelente relação de negócios que descobriu os talentos de Kankuro (ao qual recorreu mais de uma vez).

— Não fechei acordo — Ino bufou — Vamos nos reunir hoje outra vez para discutir. Não entendo de onde ele tirou essa proposta…

A reclamação continuou, mas Shino perdeu o fio da meada. Recostou-se na cadeira confortável e cruzou os braços, compreendendo tudo. Gaara usou a sugestão prejudicial de propósito, apenas para ter uma desculpa de encontrar com Ino de novo. Eles costumavam almoçar ou jantar juntos para falar de negócios.

Era até engraçado. Sabaku no Gaara, uma autoridade internacional que comandava um pequeno país, usando de tais subterfúgios. E Ino, uma mulher arrojada e independente, tão focada na carreira que não percebia as tentativas camufladas de aproximação.

Suspirou, deixando a mente divagar de volta para o relatório sobre a mesa. Aquele assunto esteve em sua mente no decorrer da semana, a tal ponto que se esqueceu da sombra que ameaçava retornar e atrapalhar sua vida.

Distraiu-se tanto que acabou perguntando avoado:

— Por que as pessoas não colocam os filhos em creches?

Foi algo tão aleatório e fora do contexto que Ino ficou um tanto chocada.

— O quê? — ela estava ali explicando a audácia de Gaara (que nem era tão audacioso assim, haja vista se tratasse de um príncipe), e Shino tinha a coragem de não prestar atenção…?

— Crianças. Na creche. Quem trabalha deveria colocar, não?

Ino imitou o gesto de recostar-se na cadeira, observando o sócio sem entender bem o assunto inesperado.

— Não sei se é tão fácil assim. Nessa época do ano a maioria das vagas já foi preenchida. Creches são particulares e custam caro. Educação pública gratuita é só a partir do Jardim de Infancia.

Foi a vez de Shino se surpreender:

— Sabe bastante sobre o assunto.

Ino deu de ombros.

— As pessoas falam. Sei que Kurenai do departamento de Marketing está com problemas com a filha. Pelo que ouvi ela pediu para uma vizinha cuidar da criança, mas… — fez uma breve pausa — A Sakura também teve dor de cabeça para conseguir vaga para as meninas. A creche perto do hospital tinha uma vaga só. Foi um transtorno.

— Entendo — na verdade Shino ficou meio desolado. Se preocupou tanto com o jovem desconhecido, quando funcionários de sua empresa passavam por dificuldades com os filhos!

— Mas por que isso de repente? — Ino soou curiosa.

Shino não tinha motivo nenhum para mentir ou ocultar o que quer que fosse da amiga e sócia. Fundaram uma multinacional que valia alguns bilhões de dólares no mercado, tudo na base da confiança e da clareza. Eram amigos antes de mais nada. Tornarem-se sócios e construir tudo aquilo foi consequência.

Por isso empurrou a pasta com o relatório na direção de Ino, numa clara indicação de que ela deveria ler.

Enquanto a jovem mulher obedecia a oferta explícita, Shino tirou o telefone do gancho e discou o ramal do Departamento de Recursos Humanos. Foi atendido no segundo toque.

— Bom dia — cumprimentou o funcionário que o atendeu — Preciso que faça um levantamento urgente. Verifique quais funcionários têm filhos menores de idade e em que fase escolar. Quero saber quais estão na escola e quais não estão (...) Não, por enquanto apenas da matriz.

Desligou o telefone, notando a concentração de Ino lendo o relatório.

Shino percebeu que ter um projeto paralelo ajudava a focar e a contornar os pensamentos obsessivos. Então uniu o útil ao agradável, pesquisando mais informações sobre os próprios funcionários.

—--

Umino Iruka era o responsável pelo setor de Recursos Humanos e um profissional extremamente competente. Ino ainda estava lendo o relatório, quando o celular de Shino soou o discreto alerta de email.

Ele voltou-se para o computador e abriu o navegador, reconhecendo o endereço eletrônico do setor como uma das primeiras mensagens não lidas.

As informações vieram completas. Shino sabia que o setor de Informática tinha um software bem alimentado e completo com dados sobre todos os funcionários. Facilitava e muito o trabalho de todos os departamentos. Ou em situações assim, quando o dono da empresa pedia algum levantamento estatístico.

Shino viu os gráficos. Trinta e um dos empregados pela Matriz da “Aburame & Yamanaka TechControl” tinha ao menos um filho, o que somava quarenta e nove crianças com idades variando entre zero e dezessete anos. Vinte e quatro eram adolescentes cursando o Colegial. Dezesseis das crianças frequentavam o primário. Restavam nove sem nenhuma informação a respeito de matrículas, nem mesmo em creche.

— Como você encontrou esse rapaz? — Ino perguntou fechando o relatório ao terminar de ler.

— No parque Ueno, semana passada — a resposta não demorou a vir — O Financeiro tem oito funcionários e ocupa dois andares do prédio, não é?

Ino parou para pensar.

— Sim. Com os softwares desenvolvidos por Shikamaru conseguimos enxugar o pessoal e alocá-los em outros setores — Ino lembrou-se que na época houve pânico na empresa, muitos temeram ser despedidos ou mandados para alguma das filiais. Mas o crescimento acentuado da “Aburame & Yamanaka TechControl” permitiu que o setor Operacional absorvesse o contingente extra, desse modo ninguém foi despedido.

Apesar da diminuição de recursos humanos, o setor de Finanças continuou operando em dois andares do edifício. Não viram motivos para mudar isso na época. Agora Shino começava a calcular uma possibilidade de aplicar melhor aquele espaço físico.

Faria um investimento filantrópico. Algo que provavelmente aumentaria as despesas líquidas. Todavia Shino era um homem comprometido em contribuir socialmente. Ganhava dinheiro o suficiente para poder aplicar em ações não lucrativas. Era a sua forma de agradecer as boas coisas que alcançou em sua vida.

Pagar o bem com o bem.

Sem perder mais tempo começou a explicar para a sócia o que planejava fazer. Não teve nem dúvidas que Yamanaka Ino aceitaria.

—--

A semana acabou e outra começou. Kiba estava tendo dias daqueles.

Nem só de boa sorte podia viver um homem, hum? Ele não conseguiu fazer as entregas de jornal durante a madrugada, porque foram dias de sereno frio. Era impossível levar Sumire com ele. E não tinha com quem deixar a filha durante a madrugada. Aquele salário faria uma diferença enorme para o seu bolso.

Chyo-san, a velhinha generosa que o ajudava com os banhos, adoeceu e faltou nos últimos dias, obrigando Kiba a fingir demência e lavar a menina na ala masculina. Então ele ia poucos minutos antes de fechar, assim aproveitava o lugar geralmente vazio.

E Kabuto andava nos seus calcanhares como um abutre farejando presa fácil. Já tinha juntado um pouco de dinheiro, mas ainda faltava quase metade do valor que ele cobrava como suborno.

Apesar de tudo conseguiu driblá-lo estacionando o carro em lugares diferentes do usual. E acreditou que continuaria escapando até reunir o resto do dinheiro. Mas se enganou.

Pelo jeito o assistente social era um verdadeiro ninja, pois na sexta-feira pela hora do almoço, bem quando Kiba rumava para a área dos restaurantes em Tokyo, foi abordado por Kabuto.

Não teve chance de fugir antes que ele o alcançasse.

— Olá, Inuzuka-kun. Está complicado te encontrar esses dias… — exibiu um sorriso que era pura arrogância.

— Olá — a resposta saiu mais seca do que Kiba gostaria. Irritar um funcionário público que o tinha na mão não era nada inteligente.

— Vim fazer a verificação de praxe — Kabuto insinuou colocando as mãos no bolso.

Kiba olhou em volta. A rua estava movimentada, ainda estava próximo ao parque, já que não teve tempo de ir muito longe. Mas não era como se pudesse contar com a ajuda de alguém naquele momento.

Estreitou um pouco o braço que envolvia Sumire na mochila-canguru. O outro homem acompanhou o gesto com certa satisfação. Sabia que o elo entre pai e filha era mais um ponto fraco do que qualquer coisa, pois o medo de perder a criança paralisava Kiba.

— Preciso de mais tempo... — o rapaz começou a dizer.

Kabuto fez um gesto de mão, interrompendo o pedido.

— Não posso ceder mais tempo, porque você não tem moradia fixa e eu não vou ficar brincando de gato e rato para te achar. Estou fazendo um favor, Inuzuka-kun — a esse ponto Kabuto parou de sorrir — E é assim que me agradece? Me evitando? Me enrolado? Pais que moram na rua são incapazes de cuidar dos próprios filhos. Preciso fazer o que é melhor para essa garotinha, não leve para o lado pessoal.

Kiba sentiu o suor juntar na fronte. Ali estava o momento que mais temeu até então. Teria que enganar o homem um pouco mais. Então entraria no carro e voltaria para a casa da mãe. Fez o que pôde para defender seu orgulho como pai. Mas preferia perder esse orgulho a perder a amada filha.


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Notas finais do capítulo

Adoro colocar o Kabuto de vilãozinho barato hohohohoho.

Gente, vou separar o Kiba da Sumire; mas é por um bom motivo. Não desistam da história. O final será feliz!

Promessa de dedinho (o˘◡˘o)



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