V E N U S - Origin (Segunda Temporada) escrita por badgalkel


Capítulo 6
2.5 Sangue Vermelho


Notas iniciais do capítulo

(Por gentileza ler as notas finais do capítulo após leitura)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/783527/chapter/6

O ambiente estava escuro, como se as trevas tivessem engolido a tudo e a todos. No entanto ela tinha plena ciência de seu corpo, sua mente e a energia que fluía por dentro do seu ser. Seus pensamentos pareciam vazios, tão embaralhados e confusos que ela não poderia focar em um específico.

Ao seu redor, um território inabitável e desconhecido causava-a arrepios, mas não era porque o frio proliferava ferozmente. Ela esfrega os braços, em uma tentativa fracassada de tentar se esquentar até que uma fresta de luz surge do alto e desponta seu brilho até o chão, a poucos metros de onde ela estava.

A luz começa a percorrer o ambiente, passando em todos os pontos menos onde ela estava. Até que ela para e o coração da jovem dá um salto automático.

Havia um homem ali.

Um homem que a princípio ela não conhecia.

Apesar da hesitação e consciência de que não deveria, ela se aproximou, ficando frente-a-frente com o homem.

Ele, por sua vez, mirava-a diretamente nos olhos e uma conexão tão forte surgiu que ela não conseguiria desviar nem mesmo se quisesse. Aqueles olhos completamente azuis estavam marejados, não demorando-se em derramar algumas lágrimas pelo rosto completamente jovial.

Foi quando sua mão se ergueu e tocou aquela face tristonha, e assim que o fez, o homem aproximou-se e enlaçou os braços ao seu redor.

— Por favor, volte. – ele suplicou.

Como se aquelas palavras tivessem a despertado, assim que soaram, a mulher se afastou desviando-se dos braços fortes e confortáveis.

Agora de longe, o homem estica a mão em sua direção e sopra: - Harriet, por favor!

A mulher então percebe que ele mira através dela e gira nos próprios calcanhares, seguindo o olhar do rapaz.

Lá, também iluminada por uma fresta de luz que vinha do alto, estava ela própria... só que... diferente?!

Ela então se aproxima da imagem dela mesma, como um reflexo, e mira-a sem pudor. A mesma estrutura, as mesmas curvas, a mesma vestimenta, a mesma face exceto a cor da pele. A mulher à sua frente parecia humana.

Ela segue os seus movimentos e por um momento Vênus pensou estar mirando um espelho. Até que a imagem segura-a pelos ombros.

— Liberte-me! – ela esbraveja, com os olhos marejados. – Liberte-me, eu suplico!

Vênus tenta se desviar das mãos de seu reflexo e, ao se afastar, nota que a outra está presa em uma espécie de cubo de vidro.

— Por favor! – o reflexo pede novamente.

Vênus olha ao seu redor e observa que o homem havia desaparecido. No entanto, ela ouve passos abafados e assim que se volta para a direção deles encontra Ayesha.

— Suma sacerdotisa. – ela se curva.

Ayesha se move até o cubo de vidro, onde o reflexo de Vênus está aos prantos, e o toca. Assim que sua mão encosta na superfície uma descarga de raios energizados a joga para longe.

— O que você fez? – Vênus indaga à humana, correndo para onde a sacerdotisa foi arremessada.

— O necessário. – Ayesha responde com um sopro sem vida para, em seguida, apontar para o reflexo dentro do cubo de vidro com a mão trêmula e ordenar: – Destrua-a.

Sem pensar duas vezes Vênus se levanta e caminha até o cubo de vidro. Seu reflexo se afasta inconscientemente.

— Não faça isso! – ela pede. – Será o nosso fim!

Vênus para por um instante, confusa.

— Ela quer nos destruir! – o reflexo aponta para Ayesha, que veemente nega.

Vênus torna a olhar para seu reflexo e percebe que, atrás dela, está o homem que havia visto anteriormente. Ele se aproxima da parede do cubo de vidro.

— Por favor, Harriet. – ele murmura. – Precisamos de você.

Vênus acorda aos gritos e ofegante. Ela senta-se na cama de lençóis brancos e se pergunta: O que diabos tinha sido aquilo?

Callisto, que desperta com os gritos, logo nota que a parceira está suada e com a respiração alterada. Todavia, quando ele toca o braço da mulher, uma pequena descarga de energia dá-lhe um choque e ele afasta a mão imediatamente.

— Vê? – ele chama.

Imediatamente a mulher vira para ele, seus olhos repletos de energia e a face contemplada em dor.

— Vê, você está bem? – ele indaga se reaproximando vagarosamente.

— Tem alguma coisa errada comigo, tem alguma coisa... – ela disse e tocou no dispositivo na nuca. – Está doendo.

— Vamos, vamos ao laboratório. – Callisto disse e levantou-se rapidamente, contornando a cama e parando ao seu lado.

Vênus respira fundo e pega a mão que Callisto a oferece e se levanta. Com Callisto a sustentando pelos ombros, ele segue até o andar inferior e a coloca dentro do transportador, entrando logo em seguida.

Rapidamente ele os conduz até o laboratório.

Vênus grita.

— O que foi? – ele indaga em agonia.

— Minha cabeça... – ela responde com as mãos sob os olhos. – Está me matando...

Callisto para em frente ao laboratório e pega Vênus no colo. Sem delongas ele adentra o lugar e coloca-a na capsula embrionária.

— Já vai passar, já vai passar... – ele diz acariciando a bochecha da mulher antes de se direcionar ao painel de controle às pressas.

Frequentemente Vênus tinha que ser colocada na cápsula para ser reprogramada e fazer a troca do dispositivo criado por Ayesha pois sua energia lutava inconscientemente todo o tempo para o expulsar de seu organismo e restaurar a própria memória e total poder de Harriet.

Então eles tinham que substituir o dispositivo antigo por um novo todas as vezes e cada vez que isso acontecia Vênus não se recordava dos pesadelos nem mesmo como fora levada ao laboratório.

No entanto, a frequência com que isso acontecia estava desesperadamente diminuindo cada vez mais. Há anos o fenômeno acontecia mensalmente, até que reduziu para duas vezes ao mês para seguida passar a ocorrer semanalmente.

Atualmente já ocorria duas vezes na semana.

A mente de Harriet estava conseguindo retornar aos poucos e cada vez mais poderosa.

E como um aviso, o hipocampo projetava pesadelos com imagens de um passado de Harriet para acionar o seu sistema límbico que despertava os seus poderes. Callisto tinha noção disso porque Vênus sempre acordava gritando nomes específicos: Howard, James, Peggy e Steve. A sequência era a mesma e repetia-se há anos, sempre os mesmos nomes.

Essa noite fora a vez de James.

Callisto desconfiava que estas eram as pessoas importantes na vida humana de Harriet e, que por seu cérebro estar destruindo o dispositivo que impedia que ela se lembrasse deles, tudo voltava à tona.

Mas a dor, a agonia que ela sentia, era demais para ele.

Vê-la sofrer o destruía.

E saber que ela sofria em decorrência das consequência de feitos dele mesmo, fazia-o querer morrer.

Antes que ele apertasse o botão para a restauração, que cessava as dores da amada, ele recordou-se da cena de poucas luas atrás quando Ayesha citou algo como "Controlar o Universo".

Desde então ele tem tentado juntar informações para compreender qual era o real plano da sacerdotisa e ao que ela estava submetendo Vênus. Ele chegara ao ponto de negociar com saqueadores, mas nada eles puderam lhe informar.

Vênus grita de dentro da cápsula.

Callisto sente seu peito doer.

E se...

E se ele não fizesse a restauração do dispositivo desta vez?

Vênus sentiria dor, mas porque Harriet poderia retornar.

Não era isso que ele queria?

Outro grito ensurdecedor veio da cápsula.

Callisto engoliu em seco enquanto mirava o botão de restauração.

Talvez Harriet voltaria.

Mas, e se ela voltasse?

Os planos de Ayesha iriam para o buraco mas... e quanto a eles?

Callisto foi enfeitiçado pela beleza e sabedoria de Harriet assim que pousou os olhos nela e, com todos esses anos em que cuidou de Vênus, se apegou completamente aquela mulher.

Ele a amava.

Talvez quando ela voltasse a ser Harriet não seria mais a sua parceira. Até porque Harriet nunca foi.

E assim nunca seria, depois de saber o que ele havia feito com ela.

Ele iria perde-la. Para sempre.

Não poderia imaginar sua vida sem ela.

Novamente mirou o botão de restauração e suou frio.

O que ele deveria fazer?

— Como você está? – Callisto indaga ao oferecer uma caneca de Pólvora quente à mulher.

— Bem. – ela responde, aceitando a caneca e dando um gole no líquido de coloração escura. – Só com um pouco de dor de cabeça, mas é suportável.

Callisto sorri.

— Se lembra do pesadelo que teve esta noite? – ele questiona.

Vênus se acomoda por debaixo da manta que o rapaz havia posto sobre seus ombros e enruga a testa por um instante.

Ela dá uma golada na bebida e responde em seguida: - Pouca coisa. Sei que tem algo a ver com Ayesha.

— Mesmo?- Callisto questiona dividido entre a surpresa e excitação.

— Sim. – afirma. – Ela... ela pediu que eu... que eu destruísse algo. – revelou hesitante.

— E... O que era? – Callisto indaga esperançoso.

— Eu não... – ela engole as próprias palavras e mira o rapaz com um sorriso travesso no rosto. – Você sabe que não posso falar sobre as missões secretas com você.

Callisto suspira decepcionado.

— Bom, - ela se levanta e joga a manta na cadeira onde há pouco estava sentada. – tenho que ir antes que Ayesha venha até aqui. Odeio quando ela vem inspecionar se há algo de errado comigo, como se eu fosse um robô com defeito.

Vênus pousa a caneca sob o balcão de vidro e sela os lábios nos de Callisto rapidamente antes de se retirar do laboratório, deixando para trás um rapaz confuso.

Ele se vira automaticamente para o painel de controle e seleciona a gravação de horas atrás para reprodução.

Por que não havia funcionado?

Na imagem ele vê Vênus dentro da cápsula se contorcendo de dor.

Ele se arrepia, como se estivesse revivendo aqueles momentos de agonia tudo de novo.

Então, na imagem, ele vê o exato momento em que ele desiste de fazer a restauração e acompanha os instantes seguintes onde Vênus simplesmente vai se acalmando e sai da cápsula.

Completamente renovada.

A ruga de dúvida em sua testa cresce.

Harriet não teria que ter retornado?

Então ele seleciona o relatório do monitoramento cerebral de quando ela estava na máquina e suspira aliviado ao constatar: a imagem mostra os fios quase imperceptíveis do dispositivo se recolhendo e liberando o cérebro aos poucos.

Vai funcionar – ele pensou.

Ele só precisava torcer para que o dispositivo se desinstalasse do cérebro dela o mais rápido possível, antes que Ayesha pudesse notar e antes que Vênus conseguisse cumprir a sua missão de "Controlar o Universo".

—x-

Viscardi, as derivas da Galáxia Divindade.

A distinta nave dourada está pairando a órbita do planeta completamente abandonado quando a voz da sacerdotisa soa calma através do comunicador: - Preparada?!

Do alto, Vênus faz uma varredura pela superfície do planeta com os olhos antes de sair para a gravidade zero. Vagarosamente a mulher flutua pelo espaço sem fim e se aproxima do planeta, adentrando a sua atmosfera sem grandes problemas.

Assim que ultrapassa a camada iônica ela acende as rajadas cósmicas nas mãos e permanece no ar, uma vez que a gravidade do planeta está em exercício. Aos poucos ela desce e pisa no solo rochoso do planeta.

Ela caminha, a procura de algo que possa chamar-lhe a atenção ou algum tipo de pista que revele o que acontecera naquele lugar.

Casas abandonadas, prédios caindo aos pedaços, a vegetação morta e nenhum sinal de água.

— Nenhum sinal de vida. – Vênus pronuncia ao comunicador – Vou fazer uma varredura mais apurada para me certificar.

"Perfeitamente" – Ayesha responde.

Vênus então sobrevoa toda a superfície do planeta para, depois de um longo período, pousar no mesmo lugar e afirmar: - Nada por aqui, sacerdotisa.

"Deve haver algo que nos leve aonde ele está" – Mesmo atenta as palavras que Ayesha pronunciava, Vênus sentiu que algo se aproximava e desviou a tempo da grande rocha que fora jogada em sua direção.

Ao virar-se ela se depara com um ser voador coberto por uma capa preta qual escondia toda a sua face.

— Quem é você? – Indaga o recém-chegado, que Vênus nota ser mulher pela tonalidade da voz.

—Vênus. – ela pronuncia.

Dito o nome a mulher encapuzada ataca Vênus. De alguma forma a mente dela projetava que as rochas fossem de encontro com a guardiã.

Vênus desvia de todas elas e levanta vôo, com as rajadas cósmicas nas mãos. No alto ela concentra toda a sua energia em mãos e dispara contra a mulher.

Ao se desviar o capuz a descobre e revela o ser de aparência humanoide da pele na cor cinza com faixas roxas ao redor do rosto.

"Vênus?" – a voz de Ayesha soa pelo comunicador.

— Tive um contratempo, - ela respondeu ofegante. – já retorno com notícias. Câmbio.

A mulher então se joga contra Vênus e a soca no rosto. A força do soco arremessa Vênus no solo do planeta, causando destroços abaixo de si.

Antes que ela pudesse se levantar a mulher a ataca novamente, direcionando mais rochas em sua direção.

Elas massacram Vênus contra o chão.

A mulher então, com o pensamento precoce de que aquele ser já estaria acabado, se aproxima.

Vênus emite todo o seu poder e as rochas explodem para todos os lados.

Com os olhos repletos de energia cósmica e fúria em sua face, ela voa de encontro com a mulher e a ergue pelo pescoço. A mulher, por sua vez, tenta soltar-se da mão forte de sua inimiga.

Vênus então joga a mulher contra as ruínas de um prédio abandonado, fazendo-a atravessar diversas paredes. O prédio sucumbi e desmorona em cima da mulher cinzenta.

Como se isso não fosse o suficiente Vênus dispara energia por suas mãos contra os destroços do prédio e os derrete, transformando-o em uma única rocha sólida.

Ofegante ela decide pousar ao chão e passa a mão sob o nariz, limpando o sangue vermelho que escorria.

Vênus franze a testa ao mirar aquele sangue de coloração diferenciada.

O sangue dos soberanos sempre fora de cor amarelada, e não vermelha.

Distraída pelo fato de seu sangue estar de outra cor, Vênus não percebe que a mulher saíra do casulo de rochas e está a ponto de lhe atacar. A mulher então dispara vários socos seguidos e derruba a guardiã no chão.

Vênus nunca vira ser tão forte quanto igual.

Por fim, já caída, quando não consegue se defender mais, Vênus sente a mulher segurá-la pelo cabelo e bater sua cabeça contra o chão.

Tudo fica escuro.

 

—x-

Pólvora quente: Bebida típica dos soberanos, feito com pólvora em pó e água fervendo. Se iguala ao chá dos humanos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "V E N U S - Origin (Segunda Temporada)" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.