Paralelo 22 escrita por Gato Cinza


Capítulo 7
7




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— Garota louca! – Nicolas ainda estava limpando o rosto com as mãos, quando Malvina estendeu para ele um guardanapo de papel que pegou com o barman.

— Você mereceu – ela disse com seriedade recebendo um olhar irritado.

— Você estava zombando dela – ele acusou – A culpa é sua.

— Não nego que a culpa seja minha, mas ela estava em sua companhia. Você não devia ter rido dela, devia ter dito para não se importar comigo ou qualquer coisa que causasse a impressão de defesa. Ela não se sentiu ofendida por mim e sim por você que riu dela.

— Eu não estava rindo dela.

— Vá dizer isso para ela, então – Malvina deu de ombros.

Nicolas ficou em pé, se aproximou dela. Tudo que ela pensava era que estava perto demais, mesmo com aquelas luzes fracas e coloridas dava para notar os pontinhos castanhos ao redor das pupilas de seus olhos azul-esverdeados, ele não devia chegar tão perto, não era seguro. E lá vinha a porcaria dos calafrios se espalhando por seu corpo, aquecendo tudo enquanto uma bola de neve preenchia seu estômago. Ergueu o queixo sustentado o olhar dele, não se afastou. “Ele não me afeta”, pensou.

— É melhor ir lavar, está ficando grudento – não pode ocultar a satisfação que estava sentindo ao provocar a raiva dele.

Se ele fosse um babaca, ficava mais fácil desprezá-lo e ignorar o efeito magnético que possuía. Repetir isso á si mesma tinha funcionado nos dias em que era obrigada a conviver com ele separados por alguns metros de distância e uma parede fina. Ele sorriu, espelhando o deboche dela e antes que ela calculasse seu movimento, já tinha a abraçado.

— Agora estamos grudadinhos – ele sussurrou provocante em seu ouvido.

Nicolas sentiu quando ela estremeceu e se afastou com um sorriso largo, indo limpar-se. Malvina acompanhou-o com uma expressão quase letal, fazendo Roberto rir alto.

— Que é? – perguntou irritada.

— Nada não.

Uma mulher se aproximou e chamou Roberto para dançar, ele a avaliou e sorriu indo com ela. Malvina não queria voltar para a mesa dos amigos do advogado, por isso sentou no banco usado antes por Nicolas e se colocou a observar seu par dançando com a morena de cabelos cor-de-rosa. Roberto tinha a convidado para sair e ela aceitou sem hesitar, ele estava numa categoria de pessoas que ela fingia ser de suas vidas passadas. Aquele tipo de pessoa que você nunca viu na vida, mas por quem tem uma afinidade inexplicável á primeira vista como se fossem velhos amigos se reencontrando por acaso. Era assim que ela se sentia com Roberto, como se tivesse o conhecido em algum momento da sua vida.

— Sozinha delícia? – ela grunhiu ao sentir a mão tocando-a.

Era Ulisses, embriagado.

— Saí fora.

— Eu te vi dançando com Beto – ele apontou o homem que dançava ainda – Fiquei de pau duro te imaginando rebolando em cima dele.

Malvina estreitou os olhos, estava perto do bar e era dali que vinha o cheiro, Ulisses não estava bêbado, estava drogado. Ficou em pé e saiu do alcance da mão dele.

— Não me toque – mandou imperiosa.

Não podia controlar as ações de alguém com uma mente entorpecida por alucinógenos que qualquer tipo, já tinha lidado com isso mais vezes do que gostaria de lembrar e sabia que cada droga tinha um efeito e alguns organismos reagiam de modo inesperado. Não queria e nem ia arriscar provocar a cólera de alguém que não estava no controle de si mesmo. Ulisses alargou seu sorriso bobo e passou a língua pelos lábios.

— Vamos conversar num lugar mais privativo – ele estendeu a mão para ela.

Ignorando-o, resolveu ir ficar com os amigos de Roberto. O casal estava bebendo e discutindo a relação quando foi apresentada a eles, mas pelo menos não corriam risco de terem um copo enfiado em suas gargantas. Mal deu um passo e Ulisses a agarrou pelo cotovelo, também não teve tempo para reagir por que quando se virou para acertá-lo, ele já estava sendo empurrado por Nicolas.

— O que pensa que está fazendo? – brigou

— Relaxa Nick, eu só ia leva-la para dar uma volta – voltou a sorrir para Malvina – Uma dancinha particular.

— Fica longe dela – Roberto exigiu, enlaçando a cintura de Malvina – Devia manda-lo para casa, Nick, está bêbado demais.

— Mandar embora? – Ulisses riu abrindo os braços – Eu sou dono disto aqui, sou eu quem manda os outros embora.

Ele piscou para Malvina que anunciou:

— Nesse caso, me despeço.

Ulisses deu uma risadinha estranha ao passar por eles.

— Vou avisar o Dave e a Carol – Roberto soou tão aborrecido quanto se sentia.

Era raro encontrar uma companhia agradável para sair quando podia sair sem ter que voltar cedo para casa por causa do trabalho. Dave e Carol quase sempre o chamavam e ele recusava todas às vezes, remarcando para outro momento ou uma hora mais adequada que culminava com almoços aos domingos em família, ele era padrinho de casamento e do filho mais velho do casal de quem era melhor amigo desde o ensino médio (coisa do destino, melhores amigos desde a infância).

— Não mesmo. Se estragar sua noite por minha causa eu não falo mais com você, pior, nunca mais dançamos juntos.

— Você tem dez anos?

— Não, a maturidade das crianças de dez anos me causa ansiedade – brincou dando um beijo no rosto dele – Me ligue amanhã, quero saber como termina entre você e Lady Pink.

Roberto olhou sobre o ombro, a morena de cabelos coloridos o olhava enquanto tentava prestar atenção ao que sua amiga falava. Ela sorriu ao notar sua atenção e desviou o olhar.

— Tem certeza que não quer que eu te leve?

— Vá se divertir Roberto – ela apontou para as pessoas que dançavam.

O homem de cabelos castanhos e sorriso perfeito, revirou os olhos, deu um beijo no rosto dela e se afastou. Malvina fingiu que não viu que Nicolas ainda estava ali, apenas foi embora. Ele a alcançou do lado de fora.

— Eu te levo – não era uma pergunta.

— Está dirigindo? – ela estreitou os olhos com desconfiança.

— Claro, é para isso que tenho carro.

— O que você estava bebendo lá dentro? – quis saber cruzando os braços.

— Uísque – admitiu com voz baixa, quase um murmúrio.

Ela assentiu e aguardou o manobrista trazer o sedan cinza dele. Assim que estendeu a chave para o dono do carro, ela tomou.

— Eu dirijo – informou.

— É meu carro.

— Eu sei, entra logo ai – apontou o lado do passageiro enquanto dava a volta.

Ela dirigiu até o apartamento de Henrique, estava vazio por que o amigo informou que ia dormir na casa dela e deu a chave para o caso dela querer dormir num lugar mais familiar – como era habito acontecer sempre que não se queriam ir para casa. Nicolas olhou para o edifício e depois para ela.

— Eu fico aqui – disse para ele, soltando o cinto de segurança – Agora pode correr todos os riscos de dirigir bêbado.

Nicolas riu enquanto abria a porta do carro. Malvina esperou ele dar a volta antes de se despedir e encerrar aquela noite que tinha começado tão boa. Nicolas não fez isso, ele tirou a chave da ignição e acionou os alarmes.

— Vou te deixar na porta do seu apartamento – ele sorriu quase inocente.

— Eu não te quero dentro de casa – reclamou defensiva.

— Falei que ia te deixar na porta – mais uma vez na noite ele estava invadindo seu espaço pessoal – Mas se quiser me convidar para entrar, não recusarei.

Malvina engoliu em seco. Fazer aquilo na frente de muitas pessoas era bem diferente que encará-lo sozinha. Os seus sentidos estavam em alerta máximo, esperando um sinal para atacar. Queira que ele entrasse no apartamento sabendo o que aconteceria? Claro. Permitiria? Não. Nunca. Jamais. Ele beijava tão bem...

Espera. Por que estavam se beijando? Quando ele se mexeu que ela nem notou? Ou foi ela? Quem liga para os detalhes? Enfiou os dedos nos cabelos macios dele e o puxou para mais perto, não que tivesse muito espaço entre eles. Sabia que ia se arrepender depois, mas no momento não queria ligar para as consequências. Quando se separaram, ofegantes, ela lançou um olhar duvidoso para o prédio de fachada amarelada.

O apartamento ficava no segundo andar, mesmo sem ninguém circulando por ali ás três horas da madrugada, se comportaram. Tinha câmera no elevador. Mas assim que entraram no apartamento bem organizado de Henrique retomaram ao que foi interrompido. As roupas foram sendo tiradas e largadas pelo caminho até o quarto, os toques e beijos foi mudando de ritmo á medida que iam chegando onde queriam. No silêncio entre as quatro paredes, os gemidos e os murmúrios ofegantes de aprovação soavam mais altos.


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