A Nau Negra escrita por CarolFeuille


Capítulo 2
Capítulo 1 - O corpo


Notas iniciais do capítulo

Finalmente, depois de um longo prólogo... conheçam o Jack ♥



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 Em terra firme, um dos espectadores da chegada na Nau Negra, como a estavam chamando, conversava com um dos oficiais do porto. Ambos observavam a embarcação atracada, esperando os homens de Mark saírem.

— Quer dizer então, que essa embarcação curiosa é do capitão Mark? – Disse o policial desconfiado quando viu os marinheiros saindo da nau.

—Senhor, eu não sei do que você está falando. – Disse Maxwell, o segundo capitão, que havia acabado de sair da nau a tempo de ouvir as palavras do policial. – Só sei que há um homem morto lá e eu não quero ter nada a ver com isso.

—Um homem morto? – Questionou o oficial. Aquilo parecia estar tomado um rumo diferente do que ele esperava. – Epa, epa, epa... Fique aqui, Max. Você e seus homens. Nem pensem em sair do porto. Meu soficiais estarão de olho em vocês – Ele disse quando o segundo capitão fez menção de sair – E Patrick... – Ele chamou pelo cidadão que conversava com ele minutos atrás e que o havia falado sobre a situação suspeita – ... Chame o Jack, por favor.

***

Jack Owens era um jovem estudante de química que havia chegado na cidade três anos antes. Era magro, alto demais, tinha cabelos castanhos claro, olhos  da mesma cor e um sorriso engraçado e sagaz. Jack fugiu de sua cidade e de seus pais aos dezenove anos, largando a faculdade de química no meio (mas já tendo aprendido tudo que os professores e os livros da pequena biblioteca tinham para lhe ensinar). Acabou parando naquela cidadezinha por ser a mais próxima do canal da mancha, e seu destino final era Paris, mas claro, ainda não tinha arranjado dinheiro para viver por lá. E até que possuíse meios para se sustentar na sua cidade dos sonhos, estava preso no pacato vilarejo de Dover.

Agora Jack tinha vinte e dois anos e trabalhava na polícia, devido a sua facilidade de aprendizado, memorização e seus conhecimentos em química. Ele trabalhava na equipe de detetives, mais especificamente. Muitos oficiais não gostavam de ter um jovem tão inexperiente trabalhando ao lado deles, mas o inspetor Connor Baker viu o potencial das habilidades do garoto logo no ano em que ele chegou e o apoiava.

Jack chegou ao porto vestindo sua típica calça de flanela um pouco curta, sua camisa branca de manga e seu colete curto abotoado. Um pouco informal demais para o gosto dos detetives que o esperavam.

— E então? – Disse Jack, com um sorriso no canto da boca. – O que temos aqui?

— Um barco coberto por piche. Vazio, se não contarmos com o homem morto no convés. – Disse o detetive Mr. Morgan com desdém.

— Interessante. Algum documento, instrumento de navegação?... – Perguntou o garoto.

— Vazio, Jack. – Disse o detetive.

— Eu ouvi. Só queria ter certeza de que vocês não tinham deixado passar nada. – Jack sorriu. – bem, onde está o corpo? 

O detetive Morgan abriu caminho pela multidão que tentava espiar o que estava acontecendo. Assim que eles chegaram à embarcação, Jack o viu. Ele jazia no chão em uma posição estranha e estava coberto de piche, assim como o resto do barco. Mais parecia um amontoado de panos engordurados e negros do que uma pessoa que um dia já esteve viva.

—Algum sinal de violência? – Perguntou Jack sério.

—Nada detectado ainda. Com esse piche todo fica difícil ver hematomas e ferimentos pequenos. – Respondeu Morgan.

Jack aproximou–se do corpo. Observou o interior da boca, os olhos, as roupas… Fez uma cara de desgosto e levantou-se. Olhou ao redor por um segundo e fez um sinal para Morgan o dispensando e agradecendo a ajuda. O detetive não ficou feliz, claro, não gostava que ele o tratasse como seu subordinado, mas voltou para suas anotações sobre o corpo.

Jack deixou os outros detetives e os peritos com o cadáver estranho e começou a andar pelo convés do barco. Tudo que era visível de fora da embarcação estava pitado com aquela substância negra e viscosa. O rapaz passou a mão pelo parapeito da nau, também coberto de preto, e limpou na camisa o pouco da substância já ressecada pelo sol que se prendeu na sua mão.

Andou por todo o convés e andou de novo olhando com mais detalhes e perdido em pensamentos, até  que chamaram seu nome.

—Jack! venha aqui, por favor! —Era o inspetor Baker que chamava.

—Mr. Baker! – Saudou Jack.

— Meu jovem, é bom vê–lo. — Mr. Baker sorriu. — Eu gostaria de ter tempo para ser educado, mas irei direito ao assunto: O que seus conhecimentos de química podem me dizer sobre esta substância que recobre a cena do crime? É mesmo piche?

—Piche, pez, betume, óleo... Como você quiser chamar. – Respondeu Jack naturalmente.

—Então os marinheiros tinham razão. —Disse Mr. Baker.

—Eles tinham que ter. — O jovem sorriu. — Todo bom marinheiro conhece essa substância. Ela é usada para impermeabilizar os cascos dos navios.

—Oh, bom saber. Apesar de não saber como isso pode nos ser útil…

— Eu também posso dizer que piche é uma substância derivada do petróleo e facilmente inflamável.

—Obrigada, Jack.

— Não há de que, inspetor. – Jack disse com um sorrisinho de satisfação e começou a caminhar para o outro lado a fim de continuar suas investigações.

— Jack, espere. —Disse o inspetor.

O jovem voltou o olhar para o seu chefe.

— Deixe as interrogações deste caso para os especialistas, sim? —Mr. Baker parecia preocupado. —Esta investigação mexe com gente muito importante e eu sei que seus métodos não são muito tradicionais.

— Mas, Mr. Baker! – Jack tentou protestar em um tom infantil, mas foi cortado por seu superior.

— Sem “mas”, garoto. Por favor. — Mr. Baker estava sério. Acreditava na capacidade de dedução de Jack, só não acreditava na sua capacidade de ser sutil. Ele não disse isso agora, mas já havia dito muitas vezes. – é melhor você ir pra casa agora. Nós damos conta. – Ele falou com um sorriso de desculpas.

Jack fez um comprimento formal e deu as costas. Parecia não haver nada que pudesse mudar a decisão de Baker. Normalmente era assim. Logo quando estava começando a ficar interessante.

***

O caminho de volta para sua casa parecia mais cinzento do que alguma horas antes. O mar estava revolto e grossas nuvens de chuva cobriam as águas mais distantes, mas estavam se aproximando rápido. Jack não ligava muito. Chegaria em casa logo e a tempo de não se molhar. Acenderia a lareira e ficaria com os pés para cima pensando no caso e tentando combater o tédio que já começava a lhe abater.

Assim como o céu, sua mente também estava bagunçada e borrada. De uns tempos para cá Jack não conseguia pensar em outra coisa além de sua viagem, ou melhor, em quão distante estava esta realidade. Ele andava nas ruas que beiravam o mar com os pensamentos transitando entre suas ambições e sonhos e a realidade, ou mais especificamente, o que ocupava sua realidade naquele momento: O caso. Que conseguia ser interessante o suficiente para a sua mente hiperativa.

Um barulho de passos apressados interromperam o seu fluxo de pensamento e Jack notou que a chuva já havia começado. E por um momento pensou que os pingos grossos haviam o feito imaginar passos, já que ninguém não havia ninguém por perto.

Mas não, ele estava ouvindo de novo. Olhou para o lado oposto ao mar de onde aparentemente o som vinha. E viu um pequeno e ágio vulto perto das lojas ainda fechadas, tentando se aproveitar do pequeno refúgio que os beirais das construções lhe proporcionavam.

Jack não conseguia ver quem era, pois o grosso manto d'água que os separava não o permitia. Ele andava no sentido contrário ao de Jack, em direção as docas. Movido pela curiosidade e, obviamente, pela vontade de matar o tédio, Jack foi em direção ao vulto.

— Ei! – Ele gritou quando chegou a uns 9 metros do homem – Olá! Ei cara, quer alguma ajuda? —Ele gritou um pouco mais alto. Não havia ninguém mais na rua fora os dois.

A mancha escura, pois era só isso que Jack conseguia enxergar, em vez de responder apressou o passo e, em seguida, hesitou. Como se considerasse correr para o outro lado, mas em vez disso continuou o seu caminho para as docas. Isso só fez com que a curiosidade de Jack aumentasse. Aliais, ele tinha razões para suspeitar, eles estavam próximos a uma cena do crime, não estavam? Mesmo que não fosse nada, pelo menos a corrida havia esquentado um pouco seu corpo.

Finalmente alcançou a figura indistinta. Ele estava contra a luz de uma loja, e Jack estava com muita água nos olhos, mas, mesmo assim, falou:

— Espera, espera. Você está – Você está bem? – Jack puxou o ar.  A breve corrida na chuva estava fazendo o seu efeito. – Você está nos perímetros de uma investigação policial – Jack falou puxando do bolso seu último comprovante de pagamento da polícia como quem retira um distintivo da jaqueta.

O passante que até então estava contra luz e com o rosto baixo, levantou a cabeça e laçou a Jack um olhar um tanto hostil, que, na verdade, não combinada muito com os olhos profundos, rosto delicado ou com os longos cabelos negros que possuía.

Jack levou um susto tão grande ao encarar o rosto da transeunte que deu um passo para trás, um passo que não tocou o chão e sim uma grande poça que havia na beira da calçada. O que, por consequência, o fez cair. No chão, ficou encarando a moça meio sem saber o que fazer, meio paralisado pela visão. Mas ela simplesmente deu as costas e continuou o seu caminho em um ritmo ainda mais apressado.

— Ei, ei, ei! Espera! – Jack havia saído do “transe” e se levantado a tempo de ver a moça desaparecendo novamente na cortina de chuva.


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