When the Sun Goes Down escrita por Amy Manson


Capítulo 3
You Probably Couldn't See For The Lights But I Was Staring Straight At You - III




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O local possuía uma fachada chamativa, em vermelho neon. Era intimidante, confesso, mas eu ainda era uma policial treinada. Treinada para deter humanos. Reviro os olhos condenando meus próprios pensamentos. Meu carro estava estacionado no lado oposto a entrada do bar, a cada minuto que eu esperava por Hughes, o frio na minha espinha aumentava. Nunca estive cara a cara com vampiro, mas obviamente já ouvi histórias. Eles são frios, calculistas e perigosos, principalmente perigosos. Mas também havia exceções, aqueles que desejavam apenas sobreviver, sem ferir humanos. Meu subconsciente gritava na esperança de que eu encontrasse somente estes vampiros dentro do tal Fangtasia, apesar de eu saber muito bem que não seria esse o caso.

De onde eu estava, tinha uma visão privilegiada da entrada do bar. Humanos e vampiros chegavam e saiam a todo o momento, buscando algum tipo de excitação. Talvez o relacionamento entre as espécies não seja tão diferente do meu próprio vício. O desejo de sentir algo novo ou de não sentir mais nada, a adrenalina por fazer algo proibido, o inédito... Quem sabe eu não sou exatamente uma daquelas pessoas, apenas medrosa demais para me arriscar no desconhecido. Me arriscar no vampiresco.

Quando o tempo de espera já começa a me incomodar, olho no relógio e percebo que Mark está quarenta minutos atrasado. Procuro por meu celular para poder ligar para o meu parceiro. Hughes nunca se atrasava, algo deveria ter acontecido. Digito seu número que sei de cabeça e o homem a atende no terceiro toque.

— Oi, cadê você? Eu já cheguei aqui no bar  – meu tom denuncia minha inquietação.

— Me desculpa mesmo, Beth, eu ia te ligar, mas ‘tá tudo muito corrido por aqui. — Mark justifica demonstrando sincero arrependimento. – É o Charlie, ele passou mal, e a Marissa me pediu para vir pro hospital. Eu não vou poder te encontrar, desculpa mesmo.

Como eu já imaginava, Mark teve um imprevisto. Charlie era seu filho, e Marissa a ex-esposa. Com o divórcio os dois passaram a compartilhar a guarda do menino.

— Como ele ‘tá? Foi algo muito grave? – pergunto genuinamente preocupada.

— Não foi nada grave, só uma intoxicação alimentar. Mas eu ainda quero ficar perto dele – Mark se justifica, mesmo eu não julgando necessário – A gente pode ir ao bar amanhã a noite, se você não se incomodar.

— Não, tudo bem. Eu vou entrar sozinha, vai ficar tudo bem – falo a segunda frase mais para mim mesmo do que para Mark.

— Você tem certeza? Pode ser perigoso, não acho uma boa ideia.

— ‘Tá tudo bem, eu já estou aqui mesmo. São só algumas perguntas, nada de mais – tento justificar minha decisão, mesmo não devendo.

— E como você vai fazer com as visões? – Mark diminuiu o tom de voz, mas ainda sim pude sentir sua preocupação.

— Eu vou dar um jeito, não se preocupa com isso. Só toma conta do Charlie e diz que eu mandei um beijo – falo visando encerrar o assunto. Não que eu estivesse confiante em usar as habilidades sozinha em um bar de vampiros, mas discutir o assunto não faria muita diferença.   

— Tudo bem então. Me desculpa mesmo, Beth. Me liga se alguma coisa acontecer – Mark finaliza e eu só concordo com um murmuro já desligando a ligação.

Eu estou prestes a entrar em um bar de vampiros sozinha para fazer perguntas sobre garotas mortas. Meu corpo reluta em sair do carro ao pensar nisso, o medo começa a tomar conta de mim. Pergunto-me como poderei usar minhas visões sozinha em um ambiente hostil. Ccomeço a questionar minha sanidade por ter dispensado a proposta de Hughes para voltarmos no dia seguinte. Talvez eu realmente não estivesse pensando direito, mas já era tarde demais para mudar de ideia.

Abro a porta do meu carro abruptamente e fecho da mesma maneira. Se pensasse demais iria desistir, e não posso me dar esse luxo. Caminho em direção a entrada com as pernas trêmulas. Arma e distintivo no cós da calça, celular no bolso e as fotos das vítimas na mão, eu sabia me defender caso algo desse errado. Eu ficarei bem, penso alto, não acreditando nas minhas próprias palavras.

***

A música alta incomoda meus ouvidos, tornando difícil pensar direito. Fangtasia está lotado, mas ainda consigo me movimentar com facilidade. A princípio parece um a bar como outro qualquer, pessoas dançam, bebem, beijam, se divertem... fico mais tranquila ao chegar a essa conclusão, eu estava exagerando, não é o lugar mais assustador da Terra como eu havia suposto. Eu espero. 

Caminho calmamente até o balcão, observando as pessoas ao meu redor. Não é difícil diferenciar os humanos dos vampiros. A postura dos imortais é tão superior que é impossível confundir, a pele pálida também denuncia a espécie.  Ao encontrar um assento vazio próximo ao local onde são servidas as bebidas, sento virada em direção as pessoas. Uma estranha sensação de estar sendo observada me atinge, e eu posso sentir minha nuca arrepiada.

Viro de frente para o bar, buscando alguém com o olhar que possa me levar até o gerente ou alguém do tipo. Coloco minhas mãos em cima do balcão e nesse momento tudo ao meu redor parece congelar. As imagens na minha cabeça vêm e vão como fleches, rápidos demais para eu identificar qualquer detalhe. Uma visão, finalmente.

O local está lotado, a música parece ainda mais alta que anteriormente, e no meio da multidão eu reconheço do rosto de Emily Nacon, ela está sentada ao lado de um vampiro. Então ela também estava envolvida com os imortais. A garota está de olhos fechados enquanto um vampiro loiro se alimenta dela, o que a menina não parece contestar. De longe, percebo um homem de cabelos castanhos a observando, não consigo ver seu rosto, mas por algum motivo sinto que tem algo de muito errado com ele.

— Você vai pedir alguma coisa?

Escuta uma voz distante me tirar de meu devaneio. O bartender me encara com um olhar impaciente, eu suponho que essa não foi a primeira vez que ele me chamou. Sua pele extremamente branca entrega sua natureza. Decido responder logo antes que o vampiro fique ainda mais ávido.

— Eu sou a detetive Elizabeth Powell. Na verdade, eu estou aqui a trabalho. Será que eu poderia falar com o seu gerente? É assunto policial – explico rapidamente, ansiando por alguém que possa responder minhas perguntas.

— Vá servir outra pessoa, Shadowdog, eu assumo daqui – as palavras vêem de atrás de mim e me vira na direção da pessoa que as disse.

A dona da voz é uma vampira loira, que usa um espartilho preto, calças de couro e um salto mais alto do que eu julgo necessário. Ela é ameaçadora, para dizer o mínimo.

— Meu nome é...

— Eu já ouvi o seu nome, detetive – a mulher me interrompe antes que eu termine minha frase – Assunto policial, você disse? Me siga e eu te levarei a alguém que pode responder suas perguntas.

Ela fala já caminhando para direção de uma sala privada, ao perceber que eu não me movi, lança um olhar entediado em minha direção e me incentiva a segui-la com a cabeça. Talvez não seja a atitude mais inteligente do mundo seguir uma vampira até uma sala isolada, mas julgo que não há nada de tão horrível que possam fazer comigo em um bar lotado. Me levanto e sigo a mulher a minha frente.

— Você ‘tá me levando para a sala do gerente? Eu realmente preciso fazer algumas perguntas importantes.

Quando termino de falar, ela para em frente a uma porta fechada e sinaliza com a cabeça para eu entrar.

— Aí está o seu gerente – ela falou a última palavra com certo desdém e caminhou na direção de onde viemos.

Considero por um segundo abrir ou não a porta, mas decido que o melhor a se fazer era acabar logo com isso. Giro a maçaneta sem ao menos bater na porta, me repreendendo no segundo seguinte, mas entrando na sala mesmo assim.

Ao entrar, me deparo com um vampiro sentado em uma cadeira. Sua pele é extremamente pálida e seu cabelo é loiro. Fico parada por mais tempo do que o necessário avaliando sua aparência, sua bela aparência. Nesse momento conclui que é verdade tudo que as pessoas falam sobre o quão atraentes os vampiros são. Sua postura é imponente e seu olhar é frio e penetrante, me sinto exposta como nunca havia sentido antes.

— Me foi informado que você está interessada em fazer algumas perguntas – o homem fala olhando na minha direção, eu continuava parada no mesmo lugar, mas ao ouvir sua voz percebo que já estou dessa maneira a mais tempo do que o normal e sigo em sua direção. Paro em frente a sua mesa e me sento em uma das cadeiras a sua frente.

— Meu nome é Elizabeth Powell, eu sou detetive da polícia de Shreveport – me apresento, mostrando meu distintivo, apesar de desconfiar que ele já saiba quem eu ra – Eu estou investigando uma série de homicídios que nós temos motivos pra acreditar que estão conectados com vampiros.

Termino minha fala esperando alguma reação do homem na minha frente. Quando percebo que ele não falará nada, decido continuar.

— Eu vim aqui porque nós sabemos que as vítimas frequentavam o bar, e imaginamos que elas poderiam ter conhecido algum vampiro aqui, ou até mesmo o assassino...

— Então vocês supõem que o assassino é um vampiro?

O homem me interrompe antes que eu passo terminar, sua voz entrega que ele pode ter ficado ofendido.

— Nós não podemos confirmar ou negar nada, é uma investigação em andamento -  me apresso em justificar minha fala – O que nós sabemos é que elas estavam envolvidas com vampiros e que estiverem nesse bar – digo mais confiante dessa vez – O senhor... – interrompo minha fala ao perceber que não sei o nome do homem.

— Eric Northman – ele responde, se adiantando na resposta da pergunta que eu faria em seguida.

— Senhor Northman, o senhor reconhece essas garotas? – falo enquanto coloco as fotos das vítimas em cima da mesa. Ele se aproxima das fotos para poder ver melhor, imagino eu.

— Não me chame de senhor, faz eu me sentir velho – ele diz enquanto volta a encostar-se na cadeira, olhando para mim. O sarcasmo em sua voz era evidente.

Fico sem saber o que dizer, e ficamos nos encarando por mais tempo do que o necessário, de novo em silêncio. Seus olhos azuis são magnéticos para mim, eu quero me aproximar, mas não o faço, o que consome todo autocontrole que eu acreditava que tinha.

— É possível que elas tenham estado aqui, eu não presto atenção em cada garota humana que entra ou sai do bar – Eric fala desviando seu olhar do meu e me trazendo de volta a realidade – Mas eu reconheço essa aqui – diz enquanto indica a foto de Emily Nacon – Nós nos tornamos próximos quando ela veio aqui, uma pena que esteja morta.

 O vampiro loiro na visão era ele. Chega a essa conclusão, mas não falo nada em voz alta, eu pareceria louca. Não posso evitar perceber certa ironia em seu pesar em relação à Emily.

— Você tem alguma ideia de alguém que poderia fazer mal a ela? – pergunto não muito crente de que conseguiria uma resposta satisfatória.

 - Infelizmente não posso ajudá-la com isso, detetive. Nós não conversamos muito.

Novamente a ironia se faz presente e eu percebo que não conseguirei mais nenhuma informação útil com o homem, então decido encerrar nossa conversa.

— Muito obrigada pelo seu tempo, foi de grande ajuda – tento ser educada, apesar de ele não ter me dito nada mais do que o que eu já sabia – Você se importa se eu fizer algumas perguntas aos bartenders e clientes? Eles podem ter alguma informação – pergunto já me levantando da cadeira. Independente de sua resposta, eu ainda falaria com as pessoas, eu estava aqui pra isso.

— Fique a vontade para falar com quem quiser, detetive Powell – ele fala, levantando e  vindo na minha direção para me levar até a porta, eu imaginei. Contudo, ele parou próximo a mim e antes que eu pudesse me mexer, ele continuou: - O que você viu no bar?

Ao ouvir suas palavras, meu corpo paralisa. Não era possível que ele pudesse saber ou ter visto algo, eu sempre era o mais discreta possível, as pessoas não desconfiavam de nada. Pessoas normais não desconfiam, mas ele não é uma pessoa normal. Minha mente acusa e eu passo a levar isso em consideração. O medo toma conta de mim, fico sem reação e sem saber o que dizer, não é possível que eu tenha sido descuidada, então como ele poderia ter notado algo? Questiono a mim mesma, mas não expresso minha dúvida. Ao perceber que já estou em silêncio a tempo demais, decido responder sua pergunta de forma evasiva. 

— Eu não sei do que você está falando – minha voz não passa confiança nenhuma, e obviamente o vampiro percebe isso.

— Sim, você sabe – ao contrário de mim, ele tem a absoluta certeza de suas palavras – Você viu ou sentiu alguma coisa no bar. Você provavelmente não percebeu por causa da luz, mas eu estava olhando na sua direção, e alguma coisa aconteceu naquele momento.

O homem parecia cada vez mais seguro de suas palavras. Eu estava nervosa, por isso decidi que era melhor sair logo da sala, me afasto de Eric e vou em direção a porta.

— Eu agradeço o seu tempo e realmente não sei do que você está falando – reforço minhas palavras enquanto caminho – Voltarei a entrar em contato, caso a investigação me traga novamente ao seu bar.

Quando eu já estou saindo de sua sala, Eric caminha rapidamente na minha direção e para na minha frente, me impedindo de sair.

— Eu espero que você volte a entrar em contato.

Quando terminou de falar, o homem saiu da minha frente e eu saio da sala sem olhar pra trás. Eu não podia imaginar como ele havia notado alguma coisa, não era possível alguém perceber algo. Tudo acontecia dentro da minha cabeça, eram apenas imagens, nada mais. Começo a me questionar o que poderia acontecer caso ele decidisse procurar respostas para sua desconfiança. Temo por minha segurança involuntariamente, mas tento não pensar nisso, não me ajudaria em nada. Percebo que não estou em condições emocionais estáveis o bastante para continuar a investigação, por isso decido voltar para o meu carro. No caminho, chega à conclusão de que eu não saberia como lidar com isso. Geralmente, seria com bebida e sexo casual com algum estranho, essa era minha válvula de escape pra tudo, mas minha sobriedade não me permitia fazer isso. Apesar de fazer apenas um dia que eu parei de beber, não valia a pena jogar tudo fora novamente. Eu não me permitiria fracassar pela terceira vez.

Entro no meu carro e respiro fundo antes de começar a dirigir. Durante todo o caminho para minha casa, eu reflito sobre os acontecimentos dessa noite. Minha investigação me levou até um bar onde eu conheci um vampiro absurdamente atraente que de alguma maneira sabia que eu havia tido uma visão em seu bar. Eu temia, mas ao mesmo tempo me convencia de que nada poderia me acontecer. Chego em casa com esse pensamento em mente, coloco meu distintivo e arma na mesa de centro da minha sala de estar, junto com a minha bolsa. Antes de dormir, tomo um banho que ajuda a me acalmar, foi um dia longo e eu anseio por um pouco de descanso.  


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