When the Sun Goes Down escrita por Amy Manson


Capítulo 2
Heavy - II




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/779896/chapter/2

Entro na lanchonete na esperança de encontrar minha irmã já no local. Em uma rara ocasião, eu não estou atrasada. O relógio marca sete horas e quatorze minutos, indicando que estou no local dentro do horário marcado. Vejo  minha irmã em uma das mesas no fundo e vou em sua direção. O local não é dos melhores, mas serve uma panqueca decente. Chego à mesa de minha irmã e a cumprimento com um abraço.

— Você ‘tá atrasada. – Hannah fala enquanto nos sentamos. Não posso evitar uma cara de indignação.

— Você ‘tá brincando, né? Nós marcamos sete horas, eu não ‘tô atrasada. – falo enquanto aceno pra a garçonete vir pegar nossos pedidos.

— Eu ainda preciso chegar na escola às oito, então é melhor a gente se apressar. – a garota a minha frente fala fingindo um desinteresse típico adolescente, tudo pra não mostrar que realmente se importa.

— Nós vamos querer as panquecas da casa, um suco de maça e um café, obrigada. – a garçonete anota nossos pedidos e se retira sem falar nada.

— Como sabia que eu ia pedir suco de maça? – Hannah pergunta, parecendo curiosa.

— É seu favorito desde que você tem oito anos, Hannah, eu não iria esquecer. – respondo orgulhosa de mim mesma por conhecer tão bem minha irmã.

Começamos a conversar algumas banalidades enquanto nosso café da manhã não chegava, apesar de termos 12 anos de diferença, sempre me senti muito próxima de Hannah, até mesmo quando fui pra faculdade, quando ela tinha apenas seis anos, fiz questão de manter contato para que ela sempre soubesse que eu estava apoiando ela. Com uma mãe como a nossa, a união acabou se tornando nossa maior força.

— Mas então, por que você quis passar a manhã comigo? – minha irmã pergunta quando nossas panquecas chegam. Ela prontamente pega uma e não economiza ao colocar mel em todo prato. Faço uma careta em repulsa automaticamente, felizmente Hannah não percebe.

— Eu tenho uma boa noticia, na verdade. – falo enquanto pego minha balsa para mostrar à Hannah a “novidade” -  Eu estou tentando ficar sóbria de novo.

Ao terminar a frase, coloco minha moeda de um dia sóbria na mesa. Pode não parecer muito, e aquela já era minha terceira moeda de sobriedade, mas eu sentia que devia compartilhar com minha irmã o quão otimista estou dessa vez. Hannah, por sua vez, não pareceu tão animada quanto eu.

— É sério dessa vez? Porque da última vez que você ficou “sóbria” não durou nem cinco meses. – a garota falou demonstrando toda a decepção que sentia por saber de todos os meus problemas com bebida. Já não bastava tudo o que vivemos com a nossa mãe, eu ainda decidi me tornar uma bêbada, como ela sempre dizia. Procuro não me abalar e apenas respondo sua pergunta com sinceridade.

— É sério, Hannah. Eu não estaria te contando se não fosse. – digo enquanto tomo um gole de café e pego uma panqueca no prato, me servindo em seguida. Ficamos caladas por alguns minutos enquanto comemos, mas logo decido quebrar o silêncio.

— Como estão as coisas em casa? A mamãe ‘tá sendo muito cruel com você? – pergunto demonstrando toda preocupação possível em meu olhar.  Hannah hesita por um segundo, desconfortável, mas responde mesmo assim.

— ‘Tá tudo normal, na verdade. Fora as humilhações constantes e os surtos de sempre, nada mudou. – posso sentir o pesar em sua voz.

— Ela ‘tá tomando os remédios?

— Ela foi ao psiquiatra semana passada, ele mudou a medicação. Ela realmente acha que vai fazer alguma diferença. – Hannah responde rolando os olhos involuntariamente, eu acredito.

 Nossa mãe sofre de transtorno bipolar e uma leve esquizofrenia, por causa disso, nossa vida nunca foi fácil. Ela tinha bons momentos, claro, mas na maioria das vezes estava passando por algum tipo de crise. Quando era vivo, nosso pai trabalhava com vendas, por isso não passava muito tempo em casa, durante 12 anos coube a eu lidar com toda a carga emocional de Judy Powell. Humilhação, espancamento, vozes vindas do além... Eu já vi de tudo, e infelizmente Hannah também. Quando nosso pai morreu, minha irmã tinha somente dois anos, e o estado de nossa mãe piorou. Por algum motivo, ela passou a culpar Hannah, segundo mamãe, ele não teria batido o carro de se não tivesse saído para comprar os remédios para uma febre alto que a garota estava sentindo, a partir daí, tudo piorou. Os xingamentos tornaram-se constantes e as punições também, eu fazia o possível para proteger minha irmã, mas não era nenhuma adulta e precisava cuidar da minha própria saúde mental, por isso fui embora à primeira oportunidade, aos 18 anos, para a faculdade. O plano era nunca mais retornar à Shreveport, mas eu já havia abandonado minha irmã uma vez, não podia fazer de novo. Então voltei, aos 22 anos, e me tornei policial. Não posso levar Hannah pra morar comigo, ela ainda é menor de idade, mas posso fazer o possível pra tornar sua vida mais fácil.

— Posso te fazer uma pergunta? É meio pessoal. – Hannah fala mudando de assunto, não insisto em falar de nossa mãe, é doloroso demais para nós duas.

— Claro, você sabe que pode me perguntar qualquer coisa. – respondo segurando sua mão delicadamente. Hannah sorri de lado, parecendo mais segura.

— Esse é lugar mais inapropriado do mundo pra falar sobre isso, mas eu vou falar mesmo assim. – ela declarou, levemente corada – Quando você acha que é a hora certa pra começar a fazer sexo?

 Pela expressão no rosto de Hannah, eu devo ter reagido da pior forma possível. A pergunta me pegou de surpresa, claro, mas eu devia pelo menos tentar disfarçar. Recomponho-me e pensa na melhor maneira de responder minha irmã.

— Desculpa, sério, minha reação foi péssima. Eu só não esperava isso, ainda mais agora, mas tudo bem, vamos lá. Eu não acho que tenha uma hora certa, na verdade. Pra mim, foi com 15 anos, mas foi mais pra irritar a mamãe do que qualquer outra coisa. – falo, arrancando um leve sorriso de Hannah, então decido perguntar: – Você ‘tá namorando alguém?

A menina parece um pouco desconfortável, e ponderando se deve ou não me responder. Mas decide contar.

— Não namorando, mas tem esse garoto que eu ‘tô conversando há um tempo. Ele é ótimo, sério, e uma das pessoas mais interessantes que eu já conheci.

Hannah responde com um largo sorriso no rosto, nada mais puro e fantasioso que o amor adolescente. Tento não deixar minha amargura afetar o humor de minha irmã, então decido pensar em outra coisa.

— E qual é o nome desse rapaz tão sensacional? Ele é da sua escola? – pergunto genuinamente interessada.

— O nome dele é Josh. – ela responde a primeira pergunta rapidamente, mas parece não saber o que dizer em relação à segunda

— Onde você o conheceu? – insisto novamente. Hannah muda totalmente de expressão, parecendo levemente preocupada.

— Ele estuda em outra escola, perto do bairro dos ricos, eu não sei exatamente o nome. Foi uma amiga que me apresentou ele.

Ela respondeu, não parecendo ter certeza do que estava dizendo. Procuro não pressioná-la, provavelmente não é nada grave, mas faço uma nota mental pra mim mesma visando voltar a falar disso no nosso próximo encontro.

Hannah terminou de comer suas panquecas em silêncio e eu a acompanhei. Quando  terminamos, pedi a conta e fomos direto para o meu carro, eu ainda a deixaria na escola antes de ir para a delegacia. Durante a viagem, conversamos apenas banalidades, mas quando estacionei o carro na frente da sua escola, senti a necessidade de terminar o assunto de hoje mais cedo.

— Hannah, você sabe que eu te amo, né? E ‘tô do seu lado pra tudo? – ela não responde, apenas confirma com a cabeça – Tudo bem então, tenha um ótimo dia.

Nos abraçamos e trocamos um beijo na bochecha, quando Hannah já estava fora do carro, eu a chamo novamente, lembro-me que esqueci de lhe dizer o conselho mais importante de todos.

— Se você for transar, use camisinha. – digo e minha irmã salta uma gargalhada alto, seguida por mim. Nos despedimos uma última vez e ela entra na escola, só então eu sigo meu caminho direto ao trabalho.  

***

— Mas como isso é possível? Beth Powell chegando no horário para trabalhar?

A primeira coisa que escuto ao entrar na delegacia é o deboche descarado de Mark. Faço questão de evidenciar todo meu descontentamento mostrando o dedo do meio para ele, que prontamente faz uma cara de ofendido, mas mesmo assim posso ver o sorriso escondido em seus lábios.

— O que aconteceu? Caiu da cama? – Hughes pergunta quando já estou sentada na minha cadeira, que fique em frente à do meu parceiro.

— Eu fui tomar café da manhã com a Hannah, precisava contar uma coisa pra ela.

Já imaginando que Mark perguntaria o que era, pega minha moeda de sobriedade e coloco em sua mesa. Ele não fala nada, apenas abri um sorriso verdadeiro. Um belo sorriso.

— Isso é ótimo, Beth. Eu estou muito orgulhoso de você. – o homem fala, vindo até minha mesa para um abraço, que eu aceito de bom grado.

Mark é muito mais do que somente um parceiro, ele também é um melhor amigo. Ter seu apoio significa muito pra mim.  O abraçou continuou até o homem mudar de assunto, sinto no meu subconsciente uma leve hesitação em me afastar, era ótimo estar em seus braços. O que você está fazendo? Repreendo a mim mesmo quando me dou conta do que pensei.

— Eu preciso te mostrar uma coisa sobre o caso que você vai amar.

Passado o momento melhores amigos/Beth inapropriada, Mark começa a falar sobre nossa investigação e eu vou até a sua mesa para ouvir a novidade.

— Como nós já sabemos, todas as vítimas tinham mordidas de vampiros. – ele começa, abrindo os arquivos do caso – Até aí, tudo bem, não é exatamente uma novidade hoje me dia. – Mark continua, com um leve tom julgador na voz  - Mas ontem a noite eu estava pensando sobre o caso e cheguei a seguinte conclusão: essas garotas teriam que ter encontrado esses vampiros em algum lugar, certo? – ele olha em minha direção e eu confirmo com a cabeça, aquilo me parecia um tanto óbvio, mas decido não dizer nada – Então eu fui checar os arquivos para ver se não encontrava alguma pista e me deparo com o tal bar de vampiros Fangtasia.

Mark concluiu sua descoberta com um sorriso convencido, característico dele. Em outras circunstâncias, eu provavelmente acharia uma forma de debochar disso, mas não agora. Agora nós tínhamos uma pista do nosso caso.

— Mas se o bar aparece nos arquivos, então a outra equipe deve ter checado, não é? – exponho meu pensamento para Mark, e eu posso ver em seu olhar que ele tem a resposta perfeita para aquilo.

— Eles não checaram, sabe por quê? – Hughes faz uma pergunta retórica, olhando pra mim – O bar só foi mencionado nos casos da Shirley Philips e Caroline Sanders, que foi mandado direto para nós, as outras duas garotas aparentemente nunca estiveram no local. - Mark concluiu sua fala, esperando alguma reação da minha parte.

— Duas de quatro vítimas com certeza estiveram no local, isso é suficiente pra gente ir lá fazer algumas perguntas. E quem garante que as outras duas não estavam indo escondido também? – dessa vez sou eu quem faz a pergunta retórica – Isso foi ótimo, Hughes, finalmente uma pista. O único problema é que nós só poderemos ir lá quando o sol se puser, e ainda faltam umas boas horas pra isso. – conclui um pouco cabisbaixa dessa vez.

— Não tem problema, até lá a gente fica procurando mais pistas que podem nos ajudar a fazer as perguntas certas. – o homem me responde e logo em seguida toma um gole de seu café.

A primeira pista real do caso do serial killer que temos em dois meses, é uma ótima notícia. Volto para minha mesa e começo a abrir os arquivos disponíveis. O trabalho dos detetives antes responsáveis pelo caso é desleixado, isso é inegável, mas é o que temos para estudar. Leio as páginas cuidadosamente, analisando cada informação sobre as garotas que possa ser relevante. Taylor Ross, a primeira vítima, 17 anos. Os pais perceberam que ela estava desaparecida quando já se passava das 21 horas e a garota ainda não havia chegado da escola. O mesmo ocorreu com Emily Nacon, de 16 anos.  Ambas tiveram as queixas de desaparecimento reportadas no dia do sumiço, o que levou seus corpos a serem encontrados do dia seguinte.  As outras vítimas, maiores de idade, só tiveram seus sequestros denunciados dias depois, dificultando o trabalho já mal feito dos detetives. Talvez se eles tivessem trabalhado mais rápido, penso eu, alguma delas ainda estaria viva.

Depois de certo tempo lendo os arquivos, decido comunicar o capitão da pista que temos do caso, aviso a Mark o que vou fazer e me dirijo até a sala de Crews. Bato na porta e ele prontamente me concede permissão para entrar.

— Capitão, Hughes e eu temos uma pista do caso. Hoje à noite nos iremos ao Fangtasia, o tal bar de vampiros, fazer algumas perguntas. – falo me aproximando de sua mesa.

— Isso é ótimo, Powell. – ele responde com sua habitual seriedade. – Enquanto estiver lá, você poderia utilizar suas habilidades para descobrir algo mais.

Crews sugere, e nesse momento fico um pouco desconfortável. Não que eu não quisesse usar as visões, mas não era algo que eu me sentia confortável em falar tão abertamente. Procuro não expressar isso ao capitão na minha frente.

— Claro, capitão. Amanhã de manhã o senhor terá novas informações do caso. Com licença. – digo já me retirando da sala e indo em direção a mesa de Mark. Ao chegar, puxo uma cadeira e me sento ao lado do homem.

— Ele sugeriu que eu usasse as visões hoje à noite no bar. – falo próxima a Hughes, me certificando que ninguém estará ouvindo.

Mark me lança um olhar preocupado ao perceber meu desconforto.

— Tudo bem se você não quiser, a gente pode inventar uma desculpa pra ele. – o homem sugere atencioso.

— Eu quero usar, mas vai ser estranho fazer isso cercada de estranho. Que por sinal são vampiros. – falo, me repreendendo logo em seguido. Tento sempre manter em mente que os vampiros são pessoas comuns, como eu. Mas numa hora dessas é difícil manter a diplomacia.

 - Nada de ruim vai acontecer com você lá dentro, eu juro. – Mark fala segurando em minhas mãos e olhando nos meus olhos. Seu olhar encontra o meu e por um segundo, que mais pareceu uma eternidade, eu fico sem reação. É como se Mark olhasse no fundo da minha alma, e naquele momento eu não pudesse esconder nada dele.

Separo nossas mãos quando finalmente volta a realidade e percebo que ficamos ali mais tempo do que pareceu. A tensão é palpável no ar.

— Eu sei que nada de ruim vai acontecer – respondo já levando e colocando a cadeira no lugar – eu tenho uma arma. – busco quebrar a tensão com um pouco de sarcasmo, e saio antes de Mark poder me responder.

***

A noite já havia chegado e com ela, a hora de ir no tal bar de vampiros. Sugeri a Mark ir em casa antes para tomar um banho, o que ele concordou. Cada um foi para sua residência e nos encontraríamos no bar, o combinado era só entrar quando o outro estivesse chegado.

Após sair do chuveiro, seco o cabelo e vou à procura de algo para usar. Confesso que não existe muito variedade no meu guarda roupa. Diversas calças jeans, blusas básicas, sweater, jaquetas de couro e muitas, muitas botas coturno.

Acabo optando por uma das calças jeans escuras e uma blusa branca lisa, coloco uma jaqueta de couro por cima e calço uma das botas.  Vou até o espelho e termino de arrumar o cabelo, como não tenho o costume de usar maquiagem, passo somente uma base, pó compacto e um rímel. Por um segundo me questiono se estou me arrumando para ir a um bar de vampiros, ainda mais estando lá a trabalho, mas logo a ideia passa e eu me dirijo até o criado mudo para pegar o meu distintivo e arma, coloco ambos no cós da calça e saiu de casa indo em direção ao Fangtasia.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "When the Sun Goes Down" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.