When the Sun Goes Down escrita por Amy Manson


Capítulo 1
And So It Begins - I


Notas iniciais do capítulo

Caso tenham curiosidade para saber como imagino os personagens originais, segue o link: https://imgur.com/a/I1pTHZY



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A luz vinda da janela invade meus olhos sem pedir permissão. Naquele momento me xingo infinitas vezes por não ter fechada as cortinas na noite anterior e prometo a mim mesma não cometer o mesmo erro, mesmo sabendo que provavelmente o farei. Procuro por um relógio no criado mudo e ao encontrar percebo que já estou atrasada, levanto rapidamente em direção ao banheiro, já basta a quantidade de atrasos que tive esse mês. Tomo banho rapidamente e vou direto ao quarto buscar algo para vestir. Nesse momento me dou conta do assunto inacabado na minha cama.

— Ei, levanta. Hora de acordar. - falo enquanto puxo os lençóis do desconhecido com quem passei a noite. Ele se move preguiçosamente, não me parecendo disposto a ir embora. 

— Você precisa ir agora, eu já 'tô atrasada pro trabalho. - dessa vez sou mais pontual com minhas palavras e ele finalmente abre os olhos. 

— Será que eu não posso esperar aqui até você voltar? - ele diz, me fazendo  revirar os olhos. 

— Não, você precisa ir agora. - já estava ficando sem paciência pra toda a ladainha. - Sai da minha casa, agora.

— Meu Deus, tão ríspida. Nem parece a pessoa que eu conheci ontem à noite. 

Eu poderia até ficar ofendida com aquelas palavras, mas vê-lo levantando e pegando seus pertences me fez relevar sua audácia. 

— Eu vou te ver de novo? - perguntou enquanto deixava o meu quarto. A essa altura, eu já não tinha mais disposição alguma  para o homem na minha frente. 

— Eu não lembro mais  seunem o nome, tenha um pouco de respeito própriao e só saia. 

Volto minha atenção às roupas na minha frente sem me importar com a reação do desconhecido na minha casa, mas foi impossível não ouvir o barulho da porta da frente batendo anunciando a saída definitiva do mesmo. Finalmente, penso alto enquanto coloco uma calça jeans preta e camisa regata na mesma cor. Escolho uma bota coturno e um sweater verde escuro para completar. Devido ao atraso, não posso parar pra fazer alguma coisa no cabelo, então vou direto à sala de estar para pegar meu distintivo e arma e coloco ambos no cós da calça, pego minha bolsa e tiro de dentro a chave do carro. Deixo minha casa com pressa e dirijo o mais rápido possível até a delegacia. 

***

Chego no trabalho sob o olhar julgador de Hughes, meu parceiro, não tenho nem o direito de ficar brava com ele, não tenho sido a melhor das parceiras ultimamente.

— Qual é a desculpa da vez? – ele pergunta tomando um gole de seu café.

— Me desculpa, não vai se repetir, eu juro. – respondo mais pra mim mesmo do que pra Hughes, afinal ele não acredita mais nas minhas mentiras. – Ele já chegou?

— Sim, mas para sua sorte ainda não convocou a reunião.

Respiro tranquila ao saber que não terei problemas com meu capitão, pelo menos não hoje. Vou até a cafeteira buscar um copo de café para me manter atenta, a ressaca ainda se faz presente e a fome eventualmente vai me lembrar de que não como nada desde o dia anterior. Volto a minha mesa e começo a dar uma olhada nos casos que tenho pendentes, nada fora do comum, somente umas queixas de assalto e alguns casos de violência doméstica esperando veredicto judicial. Ainda me é estranho pensar nesses casos específicos como “comuns”, mas depois de certo tempo fazendo o que eu faço poucas coisas são capazes de causar indignação. O caso passando no telejornal é uma das poucas exceções. Serial killer de jovens garotas, somando agora sua quarta vítima.

— Ei, Jules, será que você poderia aumentar o volume, por favor? – fala à secretária. Prontamente, ela pega o controle e aumenta o volume da televisão.  

— A jovem de 19 anos, Caroline Sanders, foi mais uma vitima do serial killer que vem causado pânico em Shreveport. Em uma sociedade na qual vampiros andam a solta, você nunca imaginaria que acabaria temendo um mero humano. – a apresentadora acrescentou um comentário pessoal que eu julguei desnecessário. – O estado do corpo de Caroline se encaixa com o modus operandi do assassino, também encontrado nas três primeiras vítimas, Taylor Ross, Emily Nacon e Shirley Philips. Todas menores de 21 anos. A polícia continua sem dá uma declaração satisfatória do caso. E agora vamos pras notícias de esportes... - ao perceber que a televisão foi desligada, olha para trás procurando saber quem o fez. Deparo-me com o olhar insatisfeito do capitão James Crews.

— Pra sala de reunião, agora. – ele fala aos policias presentes e pelo seu tom de voz, já sabemos que podemos esperar más noticias.

Sigo até a sala de reunião com Hughes ao meu lado, nos sentamos em uma das cadeiras próximas ao local onde nosso capitão compartilharia as “boas novas”.

— Como todos vocês já sabem o Departamento de Polícia de Shreveport está tendo dificuldade em encontrar o tal serial killer de garotinhas. – Crews iniciou, em três anos que eu trabalho com ele, é a primeira vez que o vejo realmente preocupado. – A opinião pública vem sendo fortemente influenciada pela mídia e o prefeito já começou a pressionar.

Ao ouvir as últimas palavras do capitão, o esquadrão inteiro entrou em alerta. Com o prefeito em cena, tornou-se clara a magnitude que esse caso tinha tomado.

— Com isso em mente, e tendo em vista a ineficiência do esquadrão responsável pela investigação, o Departamento transferiu o caso para nossa delegacia.

Antes mesmo de o capitão terminar a frase, o burburinho já se espalhava pela sala. Algumas pessoas pareciam animadas com a oportunidade de trabalhar em um caso como esse, outras estavam apenas preocupadas com as consequências dessa transferência. Eu, com certeza, me encaixo no segundo grupo.

— Como eu estava dizendo, - Crews elevou a voz e o silêncio se fez presente novamente. – o caso agora pertence a nós, e saibam que eu não pretendo descansar até encontrarmos o culpado. Toda atenção dessa delegacia deverá ser focada em encontrar o assassino, essa é a nossa única prioridade. Contudo, nós não podemos parar o nosso trabalho diário, a comunidade ainda precisa de proteção.

O capitão mantinha sempre o mesmo semblante preocupado, e a essa altura o esquadrão já não sabia mais o que esperar do homem.

— Eu já fiz a minha escolha em relação aos detetives designados ao caso, os mesmos terão o dia de hoje para finalizar a papelada pentende de seus casos finalizados e entregar os casos abertos a sargento Ruiz para serem redesignados.

— E quem são os detetives que serão responsáveis pelo caso? – uma das detetives presentes interrompeu a fala do capitão, sendo repreendida com um olhar do mesmo.

— Prosseguindo, a minha escolha foi unicamente baseada no histórico de eficiência dos detetives e capacidades profissionais. Hughes e Powell, vocês serão responsáveis por tirar esse assassino das ruas.  

***

Posso sentir os olhares de todos os presentes na minha direção. Ninguém ousaria questionar a fato de Hughes ser escolhido para o caso, ele era um detetive excepcional. Mas não eu. Eu era a que estava sempre atrasada, com bafo de vodka ou fazendo sexo casual com um dos policiais de patrulha. Eu não era nem de longe a detetive com as qualidades que a capitão havia descrito.

— Eu espero não ser questionado na minha decisão. Estão dispensados. – Crews saiu em direção a sua sala, deixando qualquer indignação que alguém tivesse sem resposta. Deixando minhas perguntas sem resposta.

Aos poucos a sala vai ficando vazia, os detetives não fazendo nenhuma questão de esconder sua decepção e frustração por terem sido deixados de lado enquanto eu era beneficiada.

— Ei, ‘tá tudo bem? Você parece assustada com alguma coisa. – Hughes pergunta, tocando gentilmente no meu braço. Volto minha atenção a ele.

— Isso não ‘tá certo, eu não sou nem de longe qualificada pra esse caso. – respondo sem tentar esconder minha preocupação com a escolha do capitão.

— Do que você ‘tá falando? Você é uma ótima detetive, pode não ser a mais pontual, mas com certeza é muito boa no que faz.

Hughes se apressou em falar, e apesar de não concordar, eu pude sentir verdade em suas palavras.

— Não, tem alguma coisa de errado nisso. Eu vou falar com o capitão. – digo, já caminhando em direção a porta. Hughes me segue, tentando me impedir.

— Ele deixou bem claro que não quer ser questionado, é melhor deixar as coisas como estão.

— Não, Mark, isso não ‘tá certo, eu preciso falar com ele. – desta vez, Hughes não me segue, e eu vou direto até a sala do capitão.

Um caso como esse é o sonho de todo detetive, e comigo, obviamente, não era diferente. Mas as coisas não funcionam como nós sonhamos, eu simplesmente não sou capaz de lidar com tamanha responsabilidade, não eu. Eu sou a detetive que lida com pequenos assaltos e maridos abusivos, eu sou a detetive que já tentou ficar sóbria duas vezes e não conseguiu, eu sou a detetive que enxergar coisas estranhas nas cenas de crime, eu sou a detetive estranha. Nada mais do que isso.

Chego até a sala do capitão e bato na porta, espero sua resposta para poder entrar, já ensaiando o que vou dizer quando estiver frente a frente com ele.

— Entre.

Ao receber sua resposta, giro a maçaneta e entro na sala, me deparando com o mesmo olhar preocupado de minutos atrás.

— Como posso ajudá-la, Powell?

— Capitão, por mais que eu seja realmente grata pela sua confiança em relação ao caso do serial killer, eu não posso dizer que entendo a decisão. Existem detetives muito mais aptos do que eu nessa delegacia. – exponho meus pensamentos de forma firme, mas tentando parecer respeitosa.

— Achei que tivesse deixado claro que não queria ser questionado da minha decisão, Powell. – o homem falou, olhando nos meus olhos. Ele era intimidador, isso é inegável.

— Sim, senhor. Mas eu realmente não acho que sou a pessoa apropriada para assumir esse caso. – enquanto eu tento me justificar, Crews levanta de sua cadeira indo em direção a persiana em sua sala, ele a fecha e caminha em minha direção.

— Você consegue ver coisas não, é?

Meu corpo inteiro paralisa ao ouvir as palavras do capitão. Ninguém sabia sobre isso, ninguém exceto uma pessoa.

— Eu... – não consigo terminar a frase, o medo toma conta de mim.

— Eu confesso que fiquei surpreso, e até um pouco descrente, quando Hughes me informou essa sua “habilidade”. Mas acho que em um mundo onde vampiros bebem sangue sintético tudo é possível.

Crews continuou, e eu já não sabia mais o que viria pela frente. Não sabia o que seria de mim de agora em diante. A única coisa que eu sei é que Hughes tem algo a explicar.

— Você não tem o que temer Powell, de verdade. Seu segredo está seguro comigo, mas nesse momento eu preciso que você me explica como funciona e precisa ainda mais que você use isso para pegar o assassino. – ele falou sentando novamente em sua cadeira, imito seu gesto e me sento em um dos assentos em frente a mesa do capitão.

— Então isso é tudo o que o senhor quer? Que eu pegue o assassino? – pergunto curiosa.

— Você tem a minha palavra. – Crews assegurou, e eu escolhi confiar em sua declaração.

Nunca soube exatamente descrever as coisas que eu vejo, mas acho que já está mais do que na hora de começar a pensar nisso.

— Não são visões exatamente, é mais como se a minha mente conseguisse formar essas imagens de coisas que aconteceram em algum lugar. Mas eu devo tocar em alguma coisa que estava lá no momento em que algo aconteceu. – tento explicar da melhor maneira que consigo. Crews não parece entender o que estou dizendo, mas honestamente eu também não entendo.

— Você é vidente?

— Não, eu não consigo ver coisas que vão acontecer. Somente fleches do passado e isso ajuda a solucionar alguns casos. – o olhar de Crews entrega que dessa vez ele entendeu.

— Então se você tiver algo que estava na cena do crime e estiver presente no lugar poderemos achar o assassino? – o homem pergunta genuinamente interessado na resposta.

— Pode ajudar, eu acho. – respondo igualmente sincera.

— Vou providenciar para que isso aconteça. Enquanto isso, você e o Hughes podem pegar os arquivos do caso com as pistas que já temos e começar a investigar. – ele fala dando a entender que nossa conversa estava encerrada, concordo com a cabeça e vou até a porta.

***

Caminho em direção a minha mesa e o primeiro rosto que vejo é de Mark Hughes, naquele momento a fúria toma conta de mim. Vou a sua direção buscando confrontá-lo sobre ter revelado meu segredo ao capitão, mas ele não parece desconfiar que eu já sei sobre sua mentira.

— Eu já peguei os arquivos do caso e você não vai acreditar no que tem aqui. Eu ‘tô começando a achar que tem mais nesse caso do que qualquer um podia imaginar. – ele fala sem perceber a fúria em meus olhos.

— Eu preciso falar com você agora. – seguro em seu braço sem delicadeza alguma e o levo até a sala de descanso, que se encontrava vazia. Quando tronco a porta, vou até Hughes buscando deixar clara minha decepção.

— Eu não acredito que você contou ao capitão sobre as coisas que eu vejo. Eu confiei em você e você me traiu.

Deixou toda minha raiva clara em minhas palavras e olhar de arrependimento de Hughes me diz mais do que eu queria saber. Ele realmente não se orgulha do que fiz.

— Eu sinto muito mesmo, Beth, eu juro. Eu só estava preocupado com você, e ele é nosso capitão, eu achei que pudesse ajudar ou algo do tipo. – ele fala gesticulando com as mãos. Eu sei que não devia, mas ainda acredito nele. – O que ele falou pra você? Ele te ameaçou? Eu realmente sinto muito, Beth – Hughes parece cada vez mais indignado com a situação, eu posso sentir a fúria em seu tom. - Eu vou matar aquele filho da puta.

Falou enquanto ia em direção a porta, rapidamente vou atrás dele, buscando pará-lo.

— Ele não fez nada, sério. Só me pediu pra usar as visões para pegar o serial killer. – explico, me colocando entre Mark e a porta.

— Você jura? Porque eu ainda ‘tô disposto a matar ele.

— Eu juro, ele só quer que a gente resolva o caso. Só isso. – respondo enquanto Hughes volta a caminhar pela sala, parecendo mais calmo.

— Eu realmente não queria trair sua confiança, Beth. Eu só achei que isso iria ajudar. – o homem explica mais uma vez porque fez o que fez. Eu ainda estava magoada, mas considerando que nada de ruim aconteceu, eu decido perdoá-lo.

— ‘Tá tudo bem, mas na próxima vez conversa comigo antes de falar isso pra alguém, tudo bem? – peço, olhando em seus olhos.

— Tudo bem, não vai mais acontecer, eu juro. – Hughes promete, segurando minhas mãos.

Hughes é meu parceiro há três anos, quando virei detetive, eu podia confiar nele, sei disso.

— Nós devíamos começar a olhar os arquivos do caso e eu ainda tenho um monte de papelada pra fazer. – falo indo em direção a porta, Mark vem logo atrás de mim.

Durante o resto do dia, cuidei de finalizar minhas papeladas pendentes e estudar os arquivos do caso com Hughes. Todas as vítimas possuíam mordidas de vampiros, mas foram mortas tendo a garganta cortada, por ora, isso descartava suspeitos sobrenaturais, mas ainda iríamos ficar atentos a isso. As garotas também possuíam as mesmas características: cabelos loiros, olhos azuis e tinham entre 15 e 20 anos. Em dois meses de investigação, essas eram todas as informações obtidas. Quatro meninas mortas e nenhum suspeito em vista.

***

Mark e eu decidimos que já era hora de encerrar o expediente, no dia seguinte iríamos decidir como proceder com a investigação e conversar com Crews sobre a melhor forma de usar minhas habilidades para capturar o assassino. Agora que eu sei o motivo de ter sido escolhida para esse caso, me sinto mais confiante em continuar trabalhando nele, e para isso eu deveria fazer algumas mudanças.

Estaciono meu carro em frente ao Centro Comunitário de Shreveport, local onde ocorrem reuniões dos Alcoólicos Anônimos quatro vezes na semana. Essa não é minha primeira vez tentando ficar sóbria, eu já havia desistido anteriormente, talvez eu não seja forte o bastante pra me manter limpa, ou talvez eu não tivesse a motivação correta, mas pela primeira vez, eu me sentia capaz.  


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