Aurora Borealis escrita por Kyra_Spring


Capítulo 11
Capítulo 10: Ciúmes




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            Era irritante admitir, mas no dia seguinte Bella estava muito melhor. Tudo o que sentia era um certo cansaço e o corpo meio dolorido. O dr. Cullen estava certo, afinal. E Edward também. E, o mais irritante ainda, seu pai também.

            Veio a segunda-feira, e o assunto vigente no estacionamento ainda era o baile do sábado anterior. Pelo que já havia pescado das conversas na entrada da escola, Jessica havia se empolgado um pouco demais com as bebidas, mas quando iam contar o que ela havia feito, a própria Jess apareceu, olhando-os azeda, e os cortou.

_Bando de fofoqueiros desocupados – sibilou, assim que os viu pelas costas – Tá, eu bebi um pouco demais, e daí? Até parece que fui só eu...

_Jess, é melhor você mesma me contar o que aconteceu, ou alguém vai me contar uma versão estendida com comentários extras – disse Bella, erguendo uma sobrancelha – O que houve?

_Eu... bem, eu... ah, droga, eu beijei um garoto do segundo ano que nem conhecia direito! – ela ficou furiosamente vermelha, e escondeu o rosto entre as mãos – Ele passou a festa toda dando em cima de mim, e eu já tinha tomado todas... e o resto, você pode deduzir.

_Ah, sim... não ligue pra isso – Bella deu de ombros, enquanto praguejava mentalmente contra o fato de todos se conhecerem naquela cidadezinha esquecida por Deus – São uns parasitas loucos por fofocas. O importante é você não se abalar com isso, e logo eles a esquecerão.

_Tem certeza? – o tom de insegurança dela era de dar pena – Estou apavorada... Depois de sábado, Mike tem me olhado como se eu estivesse com o vírus ebola.

            As coisas entre ela e Mike Newton eram, no mínimo, estranhas. Eles viviam indo e voltando, sem consolidar um namoro, há meses. Ela realmente gostava dele, mas aparentemente não era correspondida na mesma intensidade. Bella não a culpava por não entender o que realmente existia entre ela e Mike, até porque acreditava sinceramente que ninguém entendia.

_Eu posso falar com ele – sugeriu Bella – Tá, você pisou na bola, e tem plena consciência disso. Mas não justifica todo mundo armar um Tribunal do Santo Ofício para cima de você!

_A culpa é sua – então, Jess fechou a cara – Você sumiu no meio da festa, se estivesse lá comigo teria me impedido!

_Minha culpa? – e, então, Bella riu alto – Ora, até parece! Saiba que eu saí completamente sóbria daquele salão, então não venha me culpar por nada! E, se quer saber, já fui bem castigada – e começou a contar a respeito do passeio sob a chuva e da doença desencadeada por ele.

            Foi então que Angela as interrompeu, com uma expressão de preocupação. Mal as cumprimentou e já começou a falar:

_Primeiro Olympia, e agora isso! – ela tremia – Acabei de ouvir enquanto estava vindo para cá. Parece que encontraram alguns corpos na entrada do circuito de trilhas da cidade agora há pouco.

_Corpos? – as duas outras falaram juntas.

_É. Como os de Olympia, sabe? – Angela estava pálida – Parece que eram pesquisadores da Cornell. Mas o método dessa vez foi diferente. Os corpos não estava dilacerados como os de Olympia, mas estavam drenados, sem uma única gota de sangue. Não é obra de animais, tenho certeza. E... Bella, você está bem?

            Quando Angela mencionou o sangue, Bella parou de ouvir, e sentiu a cabeça girar. “Corpos sugados... mortos... Dean...”. Tudo fazia sentido. O que quer que Kiyone tenha previsto, começava bem ali. O começo do fim, talvez. Ela abaixou a cabeça, tentando se equilibrar.

            Ainda não. Restavam quatro dias – e, se em quatro dias não descobrissem a chave do mistério, aí sim estaria tudo perdido.

_Angela, o que está havendo aqui? – ao longe, ouviu uma voz cristalina e doce – O que há com ela?

_Não faço idéia – respondeu a própria, com um tom preocupado – Estávamos falando a respeito daquela história no circuito de trilhas e ela ficou assim.

_Bella, está me ouvindo? – levou algum tempo até reconhecer aquela voz como sendo a de Alice – Ei, Bella, olhe pra mim. Olhe pra mim, por favor – a cabeça ainda girava, mas ela se forçou a erguer os olhos e encarar a vampira, que agora tocava seu rosto – Fique calma, está tudo bem.

_Alice... Alice, você... – ela balbuciava, sem saber ao certo o que dizer – Eles foram... eles foram...

_Eu já sei. Todos nós já sabemos – a outra continuou, a voz doce e calmante – Agora, você precisa mesmo se acalmar. Ficar histérica, agora, não vai ajudar em nada.

_Por que ela ficou assim? – perguntou Jessica, assustada.

_Acho que é porque o pai dela andou envolvido nas buscas, e ela ficou com medo por ele – a capacidade que Alice tinha de inventar desculpas perfeitas em questão de segundos era mesmo um talento ímpar – Não aconteceu nada a Charlie, você sabe disso. Não adianta se desesperar quando ele está seguro dentro do distrito policial. Agora vamos para a sala. Acho que temos uma aula de Inglês agora, não é?

            As quatro seguiram caminhando juntas. O baile já parecia um evento distante e confuso, e agora sua mente estava povoada com imagens apavorantes de vampiros famintos vindo em sua direção. Quando pensava em Dean, lembrava-se na mesma hora de James – e se perguntava se, desta vez, teria tanta sorte quanto antes.

_Onde está Edward? – ela conseguiu balbuciar, quando já estavam quase na porta da sala.

_Está acampando com Jasper e Emmett – respondeu Alice, que acrescentou rápido, ao ver os olhos das outras duas se arregalarem – Mas eles estão fora do circuito, mais ao sul. E voltarão amanhã mesmo.

            Edward não estava presente... e Dean e seus irmãos também não. Não podia ser uma coincidência, embora Bella desejasse isso com todas as suas forças.

_Eles não foram caçar os Hook, Bella, pode ficar tranquila – na hora do almoço, Alice conseguiu interpretar a expressão de pavor no rosto da garota – Estão mesmo apenas caçando. Eu vou esta noite. Fiquei sabendo da previsão da Kiyone a respeito de quinta-feira, e tentei captar algo. Só consegui ouvir o som de água. Parecia um rio, ou algo assim.

_Isso não é muita coisa – gemeu a outra – E isso muda tudo. Eles ignoraram o aviso. E agora?

_O pessoal de casa se dispôs a esperar mais quatro dias – a primeira estava pensativa – Mas, seja o que for, agora a vigilância será redobrada.

_Como foi a reação na sua casa a essa notícia?

_A pior possível... Jasper e Emmett já queriam partir para a briga assim que ficaram sabendo. Carlisle conseguiu impedir, e disse que vai convocar um novo conselho. Edward, então, contou sobre a previsão da Kiyone e conseguiu acalmar os ânimos. Então, ficou combinado: na quinta-feira à noite, vamos ter outro conselho entre os Cullen. Os meninos saíram para caçar, para se preparar. Rose foi para Denali, como emissária oficial da família, tentar conseguir ajuda da família da Tanya. E, agora, eu sou a guarda-costas. Amanhã, eu irei, junto com Esme, e Carlisle vai sair hoje à noite.

_E Edward, como reagiu?

_Se quer saber, a reação dele foi a mais assustadora de todas. Ele ficou calmo como um monge!

_Calmo? – Bella piscou, sem conseguir entender bem – Mas não era ele quem estava mais irritado com tudo isso?

_Exatamente. E foi ele mesmo quem ajudou Carlisle a impedir Jasper e Emmett, foi ele quem disse para esperarmos um pouco mais... é sério, foi muito estranho. Mas tem alguma coisa nele, uma empolgação irracional... Acho que ele está feliz por finalmente ter a sua chance de vingança e quer tempo o bastante para se preparar e planejar. Honestamente, isso é péssimo.

            “Então era disso que Charlie falava quando mencionou as coisas estranhas no circuito de trilhas...”, ponderava Bella, brincando com o refrigerante. Agora, sua mente trabalhava mais racionalmente. “Nesse caso, eles estão se preparando para uma provocação final. Será que já sabem sobre mim? Seria bem possível...”

            Agora, sua mente trabalhava a todo o vapor, e assim seguiu durante o resto do dia. Na hora da saída, o baile já não era mais o centro das atenções. Em vez disso, os alunos comentavam, preocupados, a respeito das mortes nas trilhas de Forks. Todos falavam baixo, cheios de medo, como se pressentissem que poderiam ser os próximos, se fossem descuidados. Antes de saírem, Angela ainda conseguiu alcançá-las, dizendo:

_Por favor, tomem cuidado – Bella sentiu-se estremecer ao ouvir a recomendação da amiga – Acabei de ouvir no rádio. Aparentemente, esses assassinatos seguem padrões que estão sendo encontrados em todo o país desde o começo do ano passado. A polícia trabalha com a hipótese de um assassino em série, e pode ser que ele ainda esteja aqui.

_Vamos ser cuidadosas, pode deixar – assentiu Bella – Tome cuidado também.

            Foi então que uma idéia ocorreu a Alice.

_O que acha de irmos embora juntas? – seu sorriso era quase atrevido – Bella estava me oferecendo uma carona agora mesmo, e não é bom sair sozinho por essas estradas. Vamos na caminhonete dela, e depois eu peço a alguém para buscar o meu carro.

            Angela, que estava sem carro naquele dia e não gostava muito da perspectiva de ir andando para casa, concordou na mesma hora, assustada demais para recusar a companhia de pessoas conhecidas e de confiança. Bella, porém, engoliu em seco. Parecia mesmo que a sorte estava contra ela, então as chances de ficarem as três pelo caminho eram enormes. Mesmo assim, o sorriso de Alice não a deixou dizer não. E, em silêncio, as três embarcaram em sua picape.

            Dito e feito. Um quilômetro e meio à frente, a caminhonete parou, vencida pela velhice. O motor liberava uma fumaça horrível, e as repetidas tentativas de dar a partida foram inúteis. Eram, novamente, as forças do caos se manifestando sobre a vida de Bella, já conturbada o bastante sem aquela ajudinha do destino.

_É inacreditável – dizia Bella, a testa no volante, a voz quase extinta – Inacreditável... Tantas chances você teve para quebrar, sua lata-velha desgraçada, e tinha que ser justo agora?

_Esperem aqui, meninas – Alice, porém, era mais decidida – Não estamos tão longe assim da escola, então eu vou voltar a pé e buscar o meu carro para podermos ir para casa. E aproveito também para pedirmos um guincho para você, Bella.

            “O que diabos ela está planejando?”, Bella se flagrou pensando. Aquilo parecia algum tipo de plano, mas ela ainda não tinha percebido onde a outra queria chegar. Mas, ao olhar pelo retrovisor e ver um Camaro vermelho vindo à distância, tudo ficou claro.

            Uma armadilha para os Hook. E ela era a isca.

_Angela, fique calma – sussurrou Bella – Acho que Dean Hook é um cara muito perigoso, mas ele não nos fará nada. Lembra daquilo que eu te contei sobre ele e o Edward? Então, eu não sei ao certo o que esperar dele, mas quero descobrir.

_Por que está fazendo isso se ele é tão perigoso assim? – a amiga dela estava sem cor e sem voz.

_Você não entenderia...

            Logo depois, o Camaro estacionava ao lado da caminhonete. Dean estava na direção, sozinho. O sorriso dele era acolhedor, mas havia um brilho novo em seus olhos negros – um brilho de malícia e gula, como se estivesse prestes a realizar um desejo louco e sabidamente proibido.

_Oh, olá, meninas! – ele acenou, e Bella se forçou a sorrir e acenar de volta – Problemas com o carro?

_Infelizmente – respondeu Bella, tentando parecer despreocupada – Mas outra amiga nossa já foi buscar ajuda – ela não mencionou Alice, para ter certeza de que seu plano, fosse qual fosse, desse certo.

_Não querem uma carona? – ele ofereceu – Tem bastante espaço lá atrás.

_Não posso deixar a minha caminhonete no meio da estrada, Dean. Vou ficar e esperar o guincho.

_Acho que não pudemos conversar direito a respeito do que houve no baile – ele deu um sorriso torto, que lembrava muito sutilmente um esgar de fúria – Você sabe do que eu estou falando.

_Aqui não é a hora nem o lugar – quando pensou no baile, lembrou-se de Emma praticamente arrancando Edward de perto dela, e novamente o medo cedeu lugar à raiva – Outro dia, talvez.

_O que acha de aproveitarmos a quinta-feira, então? – o sorriso dele alargou ainda mais – Você poderia ir conhecer a minha casa.

_Isso seria muito inapropriado – os olhos dela se estreitaram mais – Eu tenho um namorado, esqueceu?

_É só uma visita, eu juro – os olhos dele faiscavam – Há muitas coisas que eu preciso te contar. Coisas que envolvem inclusive seu namorado Edward – ela percebeu a ênfase na palavra – de quem você fala tão bem. Por favor... Será apenas uma visita de cortesia à minha casa, só isso. E minha mãe também quer voltar a falar com você

            “Quatro dias...”, pensou, desviando cuidadosamente os olhos de Dean. “É isso.”

_Então está certo – ela concordou – Eu vou, você me diz o que quer dizer e paramos por aí. E é mesmo bom que eu não veja a Emma no meio do caminho, pois ainda não a perdoei por toda aquela palhaçada.

_Isso não tem nada a ver com a Emma – retorquiu ele – Eu não vou deixar que ela a importune.

_Nesse caso, está bem – o tom dela estava objetivo, quase sem emoção – Mas não crie ilusões.

_Vocês têm certeza de que não querem uma carona?

_Não. Preciso esperar o guincho e nossa outra amiga ainda não voltou.

_Nesse caso, então, devo deixar as adoráveis senhoritas – ele sorriu, e lançou um olhar mais longo na direção de Bella – Seu perfume é mesmo inacreditável... Bem, meninas, até mais!

            Ele saiu, numa velocidade controlada. Bella esperou pacientemente que ele sumisse estrada afora antes de se permitir respirar aliviada por alguns instantes. Angela, porém, a encarava, desaprovadora.

_O que foi isso? – sua voz estava fraca – Você me disse que ele era perigoso e aceita sair com ele? E que história é essa de perfume? Nunca percebi que você usava!

_É difícil explicar – tentou Bella – Tem alguma coisa errada com a vinda deles para Forks, e eu estou tentando descobrir. E esse é o único jeito. Edward sabe o que estou fazendo.

            Pouco depois, Alice já aparecia, com o carro azul-escuro. O guincho veio depois, e em alguns minutos Angela já estava em casa. Quando Alice e Bella ficaram sozinhas no carro, a segunda disse:

_Você armou isso, não foi?

_Sim – respondeu a primeira – Eu sabia que seu carro ia quebrar hoje. E sabia que ele te convidaria hoje para o que quer que vai acontecer na quinta-feira. Dei um jeito de trazer Angela conosco para deixá-la mais segura. Ele ainda não vai se atrever a tocar pessoas tão próximas assim do círculo de convivência dele, como colegas de escola. Mas, se sabemos que tem água envolvida nessa história, está claro que o convite para a casa dele era fachada. Agora que sabemos o que esperar, podemos seguir em frente com mais cautela, não concorda?

_Mesmo assim, tenho medo de Charlie lá fora... – e, então, ela percebeu surpresa que uma lágrima começava a escorregar por sobre sua face – E se eles descobrirem tudo e resolverem descontar nele?

_Não vai acontecer – o tom de Alice era decidido – Simplesmente não vai acontecer.

            Em silêncio, elas seguiram até a casa de Bella. Dessa vez, Charlie estava lá, e ficou observando enquanto o guincho deixava a caminhonete na entrada de carros da casa.

_Pelo amor de Deus, não diga nada – ela bufou, enquanto entrava em casa, encarando-o – Não diga absolutamente nada, porque hoje essa banheira maldita acabou com o meu humor!

            O estado de espírito dela estava péssimo. Havia raiva, e medo, e ressentimento, e apreensão, e ansiedade, tudo misturado de um jeito indefinido. E não ver Edward com certeza só ajudou a piorar tudo. Não que não gostasse de Alice, na verdade se ela não estivesse lá as coisas poderiam ter ficado bem piores. Mas, naquele momento, daria tudo para ouvir a risada debochada dele, enquanto dizia que já esperava que alguma coisa daquele tipo acabasse acontecendo cedo ou tarde.

            Naquele dia, as coisas se decidiram a dar errado. Tentou escrever um e-mail para Renée, mas a linha telefônica passou o dia todo dando ocupado. Queimou o jantar, destruiu metade do dever de história ao derrubar suco sobre ele e brigou com Charlie mais de uma vez. E, para piorar tudo, Edward ainda estaria ausente durante a noite. Parecia mesmo uma conspiração dos céus.

            “Tomara que amanhã esteja tudo melhor”, ela pensou, antes de cair no sono.

            O que ela não sabia era que a espiral descendente continuaria no dia seguinte.

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            Bella ficou especialmente feliz ao ver o Volvo prateado parado à porta, quando saiu para o colégio no outro dia.

_Eu te avisei a respeito da picape – foi a primeira coisa que Edward disse, rindo, assim que ela entrou no carro – Ela estava mesmo resistindo mais do que eu esperava, mas era inevitável.

_Respeite os enfermos – ela retrucou – Pelo que Charlie me falou, vamos ter que refazer todo o motor, e o preço das peças e da mão-de-obra vai ser uma verdadeira facada nos rins.

_Eu acho que você precisa mesmo é de um carro melhor e mais novo – ele começou, mas ela o cortou:

_Fora de cogitação. Gosto da picape e quero vê-la andando de novo. Quem sabe, se mexermos no motor, ela faz mais do que noventa por hora... – a voz dela ficou azeda – Garanto que, se eu jogasse a minha caminhonete contra o seu Volvo, ele seria feito em pedaços e o meu carro continuaria inteiro.

_Espero que você não queira testar isso na prática... – a voz dele estava sarcástica, mas logo assumiu um tom neutro e suave – A propósito, Alice me contou sobre a visita que você fará aos Hook depois de amanhã. Espero que vocês duas saibam o que estão fazendo.

            Bella sentiu o estômago despencar à menção do nome deles. Instintivamente, se encolheu contra o banco. Era inacreditável que eles pudessem provocar nela tantas emoções diferentes. Às vezes era medo, às vezes era fascínio, às vezes era raiva, e na maior parte do tempo uma mistura de tudo. E, por isso, não sabia o que esperar daquele encontro.

_Nós dois decidimos monitorar os seus passos, à distância – ele continuou, no mesmo tom – É claro que você não esperava que iríamos deixá-la sozinha agora, não é? E, ontem, Alice foi caçar longe da cidade e fora do raio de interferência de Simon. Ela andou vendo o seu futuro, e disse que nada te acontecerá. É inacreditável, mas o plano de Emmett está funcionando às mil maravilhas mesmo.

_Ela me contou que Jasper e Emmett queriam ir atrás deles ontem mesmo – observou Bella, tentando se acalmar – E disse que se assustou com a sua calma.

_Não posso negar que já estava esperando por esse momento – ele abriu um sorriso feroz – E, exatamente por isso, não quero estragar tudo com atitudes impensadas.

_Um dia você vai me contar o que houve entre vocês, não vai? – disse ela, observando-o.

            Edward a encarou. Ela não desviava os olhos dele, e o olhava como se houvesse qualquer coisa nele que ela não era capaz de reconhecer. Estava se exaltando, e isso era ruim. Por isso, ele suavizou a expressão facial e disse, calmo:

_É claro que vou – a conversa, então, foi para um lado mais neutro, concentrando-se no baile e nas pequenas fofocas derivadas dele que corriam pela escola.

            O dia seguiu normalmente. Bella não se lembrava de ver o Camaro vermelho no estacionamento, e também não encontrou nenhum dos Hook pelo caminho. Começava a alimentar esperanças de se ver livre deles, por mais um dia. E, assim, permitia-se aproveitar, e tentar convencer Jessica a deixar de lado a história do baile e falar de uma vez com Mike. Angela ainda parecia intimidada e assustada, mas prometeu que ia deixar toda aquela história de lado.

            Edward, por sua vez, estava atento a cada passo de Bella. Ele podia perceber sua tensão e rigidez, como se ela esperasse que uma bomba explodisse em cima dela a qualquer momento. Que pena... ela não era tão boa quanto ele para esconder emoções desagradáveis. Mas ainda encarava a situação melhor do que ele – e qualquer um – esperaria.

            Na saída, porém, ela finalmente entrou em colapso. Mas não pelos motivos mais óbvios.

            Assim que estavam saindo, Mike e Eric a arrastaram para a sala do grêmio estudantil, para que ela os ajudasse a escolher fotos para um mural. Apesar de aborrecido, ele não fez nada para impedi-la. Afinal, pensou, com uma pontada de crueldade, os dois eram o menor dos seus problemas... Então, sentou-se perto da porta, esperando que ela saísse.

_Olá, Edward – foi então que ouviu uma voz melodiosa às suas costas, e engoliu em seco – Onde está a humanazinha enjoada? Ou já se cansou dela e pensou no que eu disse?

_Sutil como sempre, não é, Emma? – o sobressalto deu lugar à raiva e ao tédio, enquanto ele se virava e se levantava – O que quer dessa vez?

_O de sempre, você sabe – ele viu que ela sorria. Havia nuances vermelhas em seus olhos negros, o que indicava que ela tinha acabado de sair de uma caçada farta. Lançou um olhar fugaz na direção da rua, e viu o Camaro parado ali.

_Eu realmente não sei o que é que vocês querem de nós – ele se empertigou, aproximando o seu rosto do dela – Mas saibam que vamos colocá-los para correr daqui muito em breve, então é melhor você nem sonhar em me provocar, está claro?

_Sabe que eu adoro quando você fica assim, nervoso? – ela o empurrou na direção da parede – Você fica parecendo mais forte, mais decidido. Gosto disso.

_Se não quiser que eu te machuque aqui e agora – ele sibilou – sugiro que me solte.

            Mas ela não soltou. Ela fez pior, muito pior...

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_Eric, eu já disse, tente colocar umas fotos em que apareça a maior parte da turma – enquanto isso, Bella saía da sala do grêmio, sendo seguida por Eric e Mike. Ela não estava com humor para discutir um assunto tão trivial quanto um mural, mas tinha a obrigação de agir normalmente – As fotos de grupos vão dar uma impressão melhor. Se quiser colocar uma de cada um sozinho, também, ficaria bom, mas dê preferência aos grupos!

_É, mas várias garotas reclamaram das fotos de grupos – observou Mike – Elas ficaram falando que estavam feias, e não-sei-mais-o-quê, e...

            Então, os dois rapazes pararam. Bella estacou, congelada, na porta, ao se deparar com uma cena deprimente e repugnante. De repente, sentiu todo o estoque de ódio para a vida inteira borbulhar de uma vez só e correr por suas veias quase na velocidade da luz. Seus punhos estavam fechados e trêmulos, e a respiração estava alta e entrecortada. A própria imagem da ira.

_Está tudo bem? – Eric se arriscou a perguntar, tímido, mas ela já tinha se esquecido da presença dele.

            Era Emma Hook, e naquele momento ela beijava Edward.

            Ele parecia resistir, e assim que ela parou na porta, ele tentou empurrar Emma, sem sucesso. Ela também não parecia se importar com a presença de Bella, ali.

_O que está havendo aqui? – a voz dela saiu tão ácida que até mesmo Mike e Eric recuaram alguns passos. Emma se desvencilhou de Edward, pachorrenta, e abriu um sorriso cínico, enquanto dizia:

_Ah, é você, Isabella. Eu e o Edward estávamos tendo uma conversinha aqui...

_Bella, pelo amor de Deus, eu juro que... – ele gaguejava, mais pálido que o normal. Naquele momento, aproveitando-se da distração da vampira, ele afastou-se alguns passos. Sua tentativa de explicação, porém, foi cortada na mesma hora.

_Cale a boca, Edward, eu me entendo com você depois – Bella vociferou, fazendo com que ele também recuasse mais alguns passos. Ela se virou, então, na direção de Emma, encarando-a.

_Ora essa, Isabella, por que toda essa histeria? – a voz dela era pura doçura e veneno – Será que você não é capaz de aceitar um pouco de concorrência saudável?

_Nós duas sabemos que a última coisa que você quer é um pouco de concorrência saudável – a garota sibilou, consumida pela raiva. Ela avançou alguns passos, até ficar com o rosto a apenas alguns centímetros do da vampira – Então eu acho que é melhor você manter as patas bem longe do meu namorado se não quiser se arrepender amargamente do dia em que nasceu.

_Ah, é? – a risada dela foi quase insuportável, e Mike precisou segurar Bella pelo braço para que ela não acertasse Emma – E o que alguém como você poderia fazer contra mim?

_Quer descobrir isso agora? – o ódio borbulhava dentro de suas veias, queimando e ferindo, e seus impulsos eram todos relacionados a destruir alguma coisa ou alguém – Bem aqui, bem na frente de todo mundo? Quer mesmo saber o que eu posso fazer?

_Você não faz mesmo idéia de com quem está se metendo, não é? – a outra sussurrou, num tom que só Bella pôde ouvir – Garota tolinha... se soubesse, acho que abaixaria a crista perto de mim...

_Está me ameaçando, Emma? – Bella sorriu, raivosa, e respondeu no mesmo tom sussurrado – Bem se vê que você adora falar, mesmo. Mas, a menos que realmente queira partir para a ação, é melhor ficar longe do Edward, bem longe.

            As duas ficaram se encarando por um tempo. Bella, mesmo entre todo o ódio, não pôde deixar de se divertir com a expressão confusa de Emma. Estava escrito na testa dela. A vampira queria acabar com todas as provocações e dar cabo dela bem ali, na frente de todos. Por outro lado, sabia que não podia, e isso a enfurecia. E também não parecia acreditar que ninguém fosse petulante o bastante para desafiá-la, quer a pessoa soubesse de sua condição ou não.

_Parem as duas agora mesmo! – enfim, chegou a coordenadora, aos berros – Srta. Swan, logo você se envolvendo em briguinhas na porta da escola? O que o chefe Swan pensaria disso? E você, srta. Hook, eu realmente não esperava um comportamento desses vindo de você. Aliás, das duas! Que papelão, ficarem discutindo e brigando como dois moleques de rua!

_Desculpe, sra. Hansi – disse Bella, enquanto se dirigia para o estacionamento. Antes de sair, porém, lançou um olhar cáustico na direção de Emma, que o devolveu com dez vezes mais veneno.

            Seus passos ainda estavam duros como os de um soldado em marcha. Quanto descaramento, beijá-lo assim na frente de todos! Se as duas estivessem em pé de igualdade, nada a impediria de partir para cima daquela saliente ali mesmo, na frente de todos!

_Bella, preciso te falar uma coisa... – no meio do caminho, ouviu uma voz ofegante, mas não se virou para ver quem era nem diminuiu o passo.

_Depois.

_É sério, é importante! – era Jessica, com certeza.

_Não vai dar, Jess.

_Olha, eu vi tudo! Foi ela que partiu pra cima do Edward, e ele tentou se esquivar! Não seja muito dura com ele.

_Eu sei! – a voz dela subiu três oitavas. Nesse momento, então, ela se obrigou a parar, respirar fundo e falar com Jessica. A outra a encarava ansiosa – Ah, desculpe... é que o que eu vi ali me deixou louca de ódio! Se eu pudesse, teria quebrado os braços dela bem ali!

_Tente se acalmar, está bem? Emma é uma verdadeira p... bem, você sabe o que ela é muito melhor do que eu – a outra falava rápido, numa torrente – Só estou dizendo isso para você não brigar demais com o Edward injustamente.

_Pode deixar, eu não vou – assentiu a primeira, sentindo um cansaço repentino – Preciso ir, ele está me esperando.

            É claro que Bella sabia que a culpa não era de Edward. O que não queria dizer que ela não queria gritar com ele. Aliás, precisava gritar com alguém, quem quer que fosse, mas não se sentia bem em descontar sua ira em quem não estivesse envolvido naquela história.

_Lembra quando você disse que uma garota ciumenta é uma arma de destruição em massa? – foi o que ele disse, assim que ela entrou no carro. Ela percebeu que ele estava meio encolhido no banco, e que, apesar das ironias, havia uma genuína apreensão em seu rosto – Bem, hoje tive a prova. É sério, você ficou mesmo assustadora lá fora!

_Nesse exato momento, todo mundo lá na porta está esperando que eu grite com você como uma desvairada, e estou realmente tentada a fazer isso – ela sibilou azeda – Então, se não quiser ser o protagonista do maior surto histérico da história de Forks, não me teste.

_Eu quase consigo ver seus olhos escurecendo – a diversão na voz dele era muito irritante – Acho que até mesmo Emma ficou com medo de você! E acho que os rapazes vão ficar doidos quando souberem que você fez a princesinha dos Hook descer do salto na frente de todo mundo!

_Aquela vadia... – ela sibilava, mais para si, percebendo vagamente que o carro estava mais lento do que o normal – Por que ela tinha que dar em cima justamente de você? Será que não tinha mais ninguém pra importunar?

_Se vai começar a ter um ataque, me avise para parar o carro antes – ele continuava tentando fazê-la rir. Não estava brincando: Bella realmente ficava assustadora, quando estava com raiva. Ele não diria a ela, por exemplo, o quão imprudente havia sido por desafiar uma vampira sanguinária e sádica como Emma Hook na frente de toda aquela gente. Até porque, no fundo, sentia uma certa satisfação ao vê-la sem reação. Emma precisava saber a quem realmente ele pertencia – no sentido literal da palavra, fazia questão de se lembrar, sempre que olhava para o lado e a via ali.

_A culpa também é sua – ela disse, inesperadamente, com a voz já menos carregada – Você diz que eu sou um ímã de acidentes. Você deve ser algum ímã, também, mas para mulheres desequilibradas!

_Eu sou irresistível, o que posso fazer? – ele riu alto – Mas já tenho dona. Ela pode tentar o quanto quiser, mas não vai conseguir ter nada de mim.

_É bom mesmo – ela já não conseguia mais manter a voz séria. Ainda estava brava, e muito, mas a simples presença de Edward já a acalmava – Aliás, é melhor você ser muito carinhoso comigo daqui para frente, porque ainda estou brava com você.

_Bella bobinha – murmurou ele, acariciando de leve o rosto dela – Prometo que vou ser o namorado mais carinhoso do mundo. Só não espere uma serenata sob a sua janela, acho que Charlie não gostaria.

            Ciúme. O monstro de olhos verdes. E, naquele momento, estava faminto e irritado.

_Fiz uma besteira sem tamanho, não é? – ela disse, com um suspiro – Ela ficou furiosa, garanto que só está esperando uma chance de tirar satisfações comigo.

_Ela não terá essa chance – os lábios dele se crisparam levemente, e Bella não soube dizer se era um sorriso ou um rosnado – Por enquanto, vamos apenas voltar para casa. Se bem que, honestamente, estou um pouco decepcionado – ele reassumiu o tom divertido – Pelo jeito que você falou na porta da escola, eu estava esperando um pouco mais de animosidade...

_Se não quiser me ouvir gritando de verdade – ela estreitou os olhos – é melhor ficar quieto, então.

            Ele riu, divertido. E, sentindo-se estranhamente bem, rumou para a casa dos Swan.


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