Siblings escrita por hrhbruna


Capítulo 6
05


Notas iniciais do capítulo

Eu sei, eu sei... já faz bastante tempo. Mais de um ano. Eu tenho alguns capítulos prontos e tenho a intenção de postar.

Eu lembro que quando eu tinha 14/15 anos ficava muito brava porque os autores das fanfics que eu amava nunca pareciam ter tempo para finalizar. Eu achava que era impossível que alguém não tivesse tempo para escrever um pequeno capítulo de uma história. Hoje eu vejo que isso é completamente possível hahahaha

De toda forma, eu não sei se alguém vai ler esse capítulo, mas eu adoro compartilhar e eternizar minhas histórias. Espero que alguém também goste de ler o que eu trouxe.



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Vivo em um mundo cheio de gente

Fingindo ser quem não é,

Mas quando estou com você,

Sou quem desejo ser.

— A NOVA CIDERELA

 

— Você pode me emprestar suas anotações de História da Magia?

— Sim, claro.

Blaise e Charlotte haviam ocupado o lugar costumeiro da biblioteca naquela tarde de sábado. Já fazia uma semana desde o início das aulas e, surpreendentemente, já havia matéria acumulada para que eles decidissem gastar o sábado a colocando em dia.

Charlotte estava com seus cabelos cor de fogo presos numa trança francesa. Ela ficava muito bonita daquele jeito e era completamente inconsciente do efeito que andava causando na população masculina de Hogwarts, especialmente dois estudantes em particular.

Blaise, assim como Charlotte, não era o cara mais popular da escola. Aquilo com certeza o dava a vantagem de poder assistir o que acontecia ao seu redor silenciosamente.

De onde estava conseguia perceber uma menina preocupada com sua matéria escolar e que nas horas vagas perdia tempo estudando astrologia. Mas do lugar privilegiado que ocupava, viu também dois olhares atentos sobre sua melhor amiga.

Um deles partia do veterano, astro do quadribol, Oliver Wood. Ele era mais velho, mas demasiado infantil, o que provavelmente justificava seu interesse em Charlotte. Até onde Blaise estava ciente, aquele bobão ia buscar sua amiga todos os dias depois da aula e carregava a mochila dela pelos jardins e se contentava com passeios de mãos dadas, porque Charlotte era demasiadamente jovem e estava apreensiva com a ideia de beijá-lo.

O outro vinha de Draco Malfoy, o príncipe das serpentes como ele era conhecido. Mas enquanto o olhar de Wood era esperançoso, o olhar de Draco era mais sério. Ele parecia determinado a ter algo e aquele “algo” era Charlotte.

— Você pode me emprestar sua coruja? — Charlotte indagou. — Não quero pedir Edwiges ao meu irmão.

— Claro. Mas posso perguntar por quê?

— Porque eu encomendei alguns amuletos e essências. Chegará mais rápido se eu mandar uma coruja particular.

— Cara, as vezes eu me pergunto se você escuta as coisas que sai da sua boca...

Charlotte deu de ombros sem se abater. Ela não se importava que Blaise gozasse dos amuletos e incensos. Era aquilo que a mantinha sã, juntamente com os chás que ministrava religiosamente.

Ela não sabia o motivo, mas sentia que as enxaquecas, visão turva e outros sintomas que ao longo da vida ela sentia só quando estava próxima demais de Harry, agora estavam vindo em momentos e situações ao longo do seu dia.

No início Charlotte achava que era porque estava se sentando perto dele, mas mesmo numa aula em que não estava em classe com seu irmão ela havia sentido mal-estar. Draco, é claro, foi o primeiro a se prontificar em a levar até a enfermaria.

— Ele queria me carregar. — Charlotte contou para Blaise, rindo do colega de casa.

— Ele gosta de você. — Blaise falou mais como um alerta. — Ele está muito focado em lhe conquistar.

— Draco pode tentar por mil vidas. Eu jamais me envolveria com alguém que é tão podre por dentro.

— As pessoas mudam.

— As pessoas mudam. Draco não.

Charlotte retomou atenção a suas tarefas até o momento que reconheceu que não iria render mais que aquilo. Ela juntou seus materiais e decidiu que aproveitaria o finzinho da tarde para despachar a coruja de Blaise ao Beco Diagonal.

Deixou a biblioteca e caminhou pelos corredores de Hogwarts, desceu os incontáveis degraus de escada e cortou caminho até os jardins. Ela teria ainda que dar uma volta enorme até chegar ao corujal. Vez ou outra Charlotte indagava a si mesma sobre a necessidade de tudo ser tão distante dentro de Hogwarts.

Pensou no patinete de Dudley. Enquanto crescia, Charlotte gostava de dar voltinhas nele quando os tios não estavam por perto. Não cairia nada mal numa situação daquelas.

Ela estava caminhando quando teve a sensação de estar sendo observada. Normalmente aquilo não a impediria, porque se tratando dela era perfeitamente normal que estivesse tendo seus movimentos sendo vigiados pelos alunos. Contudo, a sensação de estar sendo observada era diferente. Não parecia vir de ninguém, até porque devido a aproximação do outono as pessoas ficavam mais dentro do castelo.

Quando Charlotte estava prestes a ceder e concordar com Blaise que ela estava ficando um pouco paranoica, seus olhos castanhos se arregalaram com a visão de um cão negro saindo dos arbustos.

— Pelas barbas de Merlin. — guinchou, apertando o livro contra seu peito.

O cão latiu e foi até ela. Saltitante e bobo, pulando a seu redor e cheirando sua mochila exatamente da maneira que o cão de Londres havia feito.

Mas aquilo não era possível, era?

— É você? — perguntou baixinho, agachando-se para afagar o animal.

Ele parecia tão feliz em vê-la, e a maneira que rodou ao redor de si apenas parecia uma forma de confirmar a pergunta dela. Como se de fato a entendesse!

— Mas como isso é possível? — murmurou. — Você estava em Londres. Cães não são permitidos em Hogwarts, então você não pode ser de algum aluno...

Enquanto Charlotte deliberava sobre como diabos aquele animal havia a seguido até Hogwarts, o cão farejava sua mochila provavelmente já percebendo que ela tinha seu lanche ali.

O estado do bicho era realmente lastimável. Ele podia ser animado e serelepe ao seu redor, mas estava magro e seu sem semblante era de um animal triste. Era um cão realmente grande para o padrão, mas estava muito desnutrido.

— Aqui. Tome. — disse pegando o sanduiche que tinha levado para dividir com Blaise caso tivesse fome. — Mas não vá se acostumando... você precisa aprender a se virar, precisa caçar coelhos ou algo assim.

Afagou o bicho enquanto ele comia. Harry sempre a disse para não incomodar animais quando eles estivessem comendo, mas o cão negro não parecia apreensivo pelo carinho que Charlotte o fazia.

Contemplou o céu e percebeu com um pouco de desânimo que iria chover. Perguntou a si mesma onde o animal estava se escondendo, se ele estava conseguindo encontrar água também, pois do contrário trataria de providenciar.

— Vou comentar com Hagrid que você está aqui. Ele certamente vai saber o que fazer com você.

Mas ao tornar a olhar para o animal, ele havia desaparecido. Charlotte olhou ao redor procurando o cachorro, mas não havia o menor sinal dele. Para todos os efeitos ela era uma garota insana, agachada no meio do jardim e conversando sozinha.

E é claro que alguém tinha que chegar para testemunhar aquilo. Como se não bastasse passar o primeiro e segundo ano inteiro levando fama de doida.

“Dizem que os que voltam da morte... nunca voltam os mesmos” foi o que ela escutou algumas pessoas sussurrarem após o episódio do ano anterior.

— Charlotte?

Era o professor Lupin para seu desespero.

Charlotte imediatamente se ergueu e limpou as meias sujas de grama. Ela não estava usando seu uniforme verde e prata usual, até porque era fim de semana, mas ela não abdicava das meias para esquentar suas pernas.

O homem magro e de aspecto cansado caminhou na sua direção. Ele a olhava com curiosidade, sua capa esvoaçava devido a ventania de outono que estavam testemunhando.

— Sim, professor? — ela respondeu.

Desde o episódio da cozinha, Charlotte fez o possível para evitar qualquer contato direto com o professor. Ela não era participativa nas aulas dele, fazia questão de se sentar atrás e pedia a Blaise para entregar suas atividades.

— Você está bem? — indagou o homem se postando a frente dela.

Charlotte anuiu, explicando que seu cadarço havia desamarrado.

— Hum. Nesse caso, acho bom voltar para dentro do castelo. — comentou Lupin olhando para o céu. — Ao que tudo indica vem vindo um temporal.

— Eu tenho que ir até o corujal. — Charlotte murmurou discretamente se distanciando.

Ela podia sentir seu corpo reagir pela presença de Lupin.

— Bom... tome cuidado, ok?

— Sim senhor.

—x-

            Na segunda-feira Charlotte tinha acordado indisposta. Ela ficava cada vez mais ansiosa para que as essências chegassem e ela pudesse ministrar seu chá. Apoiando a cabeça nas mãos e os cotovelos sobre a mesa, ela prendeu a respiração para não sentir o cheiro dos ovos e da comida saborosa de Hogwarts.

— Você deveria ter ido à enfermaria. — Blaise resmungou. — Eu vou te levar.

— Não. Nós temos poções agora. Snape não vai me dar um minuto de sossego se eu faltar a aula dele...

— Mas você está passando mal!

— Shh! — Charlotte suplicou. — Por favor. Eu só estou enjoada. Quantas vezes fui a aula enjoada no último ano? Inúmeras.

Blaise evidentemente não parecia um fã daquela situação, mas ele tinha aprendido que discutir com Charlotte sobre aquilo era uma causa perdida. Quando ela se decidia sobre algo, então normalmente ela não mudaria de ideia a respeito.

Quem dera, porém, se Charlotte tivesse conseguido chegar às masmorras. Na metade do caminho, apesar de Blaise ter mantido os passos o mais lento que conseguia, havia percebido que o rosto de sua melhor amiga perdia a cor aos poucos.

— Charlotte? — murmurou Blaise com a mão em suas costas. — Lottie?

Sempre começava com uma sensação horrível de enjoo, depois se tornavam calafrios e, por fim, Charlotte era tomada pelo buraco negro que tirava seu ar e queimava as entranhas do corpo.

Dentro de sua cabeça um enorme zumbido, o som agudo de uma mulher gritando, raios verdes e o frio... o frio do vazio. O frio da morte.

E depois que isso passava... havia calor. Calor da vida. E uma lembrança feliz!

Um dia de verão, um parque e um piquenique. Uma mulher que era tão parecida com a menina que Charlotte via todos os dias diante do espelho. Um homem com o semblante divertido e amável, olhos idênticos aos dela escondidos por óculos de armação redonda.

E por fim... o cão negro correndo e latindo alegremente ao fundo. E aos pés de sua cama.

Os gritos de Charlotte ecoaram pela enfermaria e o cão despertou assustado com os berros. Ele assistiu enquanto Charlotte era contida por Madame Pomfrey e, mais uma vez, sedada.

—x-

Em pleno outono era natural que o dia demorasse mais a clarear. Charlotte abriu os olhos lentamente reparando que a única luz presente era a da vela parcialmente derretida no criado mudo.

Ela reconheceu o ambiente da enfermaria e mais que imediatamente recolheu as pernas magricelas, esperando que o cachorro negro estivesse deitado ali de novo. Mas não havia sinal algum do animal.

— Já está acordada?

Uma voz suave chamou sua atenção. Ela seguiu o som e viu Albus Dumbledore adentrando a enfermaria, usando suas vestes tradicionais como se sequer tivesse dedicado algum tempo ao sono.

Charlotte coçou os olhos cor de avelã ao mesmo tempo que perguntava.

— Há quanto tempo eu estou sedada?

— É madrugada de quarta-feira.

— Eu perdi um dia inteiro?

As crises de Charlotte agora se tornavam mais longas. Antes ela tinha enjoos, dores de cabeça e desmaios, mas passava a tarde na enfermaria e seria liberada a tempo do jantar.

O diretor manteve seu semblante calmo. Ele se aproximou da cama de Charlotte e escondeu as mãos atrás do próprio corpo, indicando-a que ele não tinha a intenção de tocá-la, somente conversar.

— O que é um dia, Srta. Potter? Poderá ficar a par do conteúdo ministrado. Seu amigo Blaise também fez questão de entregar todos seus trabalhos.

A menção ao melhor amigo a fez se lembrar que ele a alertara sobre seu mal-estar.

— Como está Blaise? — indagou. — Ele está muito assustado?

— O Sr. Zabini ficou bastante relutante em deixá-la. Ele só saía nos momentos que seu irmão queria vê-la.

— Harry veio me ver?

— Sim. — o homem confirmou com um sorriso. — Parece espantada.

Charlotte normalmente era boa em administrar suas emoções. Normalmente ela nunca entregava seus sentimentos reais sobre algo, mas também Albus Dumbledore talvez pudesse ler sua mente. Não seria de se estranhar.

— Subestima o quanto seu irmão se importa com você, Charlotte. — Dumbledore disse em tom amigável e paciente. — Apesar de vocês levarem vidas separadas e serem tão diferentes, você é a única família dele. Seu irmão fará o que for preciso para que você fique segura e feliz.

Ela engoliu em seco. Sua pele coçava só de pensar em Harry sentado na cadeira ao lado.

Inconscientemente começou a esfregar seus braços magros e raspar as unhas pela superfície pálida.

— Acalme-se criança. — pediu o diretor. — Está tudo bem. Ele só queria saber como você estava. O senhor Malfoy e o senhor Wood, da Grifinória, também vieram visitá-la. Ao mesmo tempo, inclusive. As flores são do nosso amigo Grifinório.

Dumbledore estava, claramente, conduzindo a conversa a um rumo diferente para não deixar Charlotte agitada. O diretor achava curioso que a garota tivesse quase que reações alérgicas ao irmão. Ela repelia o irmão ao ponto de implorar no primeiro ano para que o Chapéu Seletor a mandasse para um caminho totalmente oposto ao escolhido por Harry.

— E Draco parece gostar muito da senhorita. Ele deixou esses chocolates porque diz ser seus favoritos. — Dumbledore comentou rindo levemente com a caixa das bombas de hortelã. — O amor juvenil me encanta.

— Professor, o que há de errado comigo?

     A pergunta escapou dos lábios de Charlotte como se ela fosse uma criança de oito anos.

Os olhos cor de avelã entregavam o que ela verdadeiramente sentia quanto aquilo tudo: medo. E se estivesse enlouquecendo?

— Eu estou ficando louca? Por que essas coisas acontecem comigo repetidamente? E por que estão ficando cada vez piores?

— Você não está ficando louca, Srta. Potter. Eu ainda não sei o porquê dessas coisas acontecerem justamente a você, mas passaremos por isso juntos. Eu te dou minha palavra.

Ainda abatida pela poção, Charlotte tornou a fechar os olhos. No dia seguinte, ao acordar, ela não saberia dizer se a conversa que tivera pela madrugada com Dumbledore havia sido real ou parte de um sonho.


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Notas finais do capítulo

O que acharam?



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