Siblings escrita por hrhbruna


Capítulo 5
04


Notas iniciais do capítulo

Olá a todos! Mais uma vez trago um capítulo. Quero agradecer a Carol pelos comentários motivacionais e absolutamente gentis.

Espero que vocês gostem. Esse capítulo é um dos que mais gosto.



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“Salgueiro chorão pare de chorar;

 Há algo que poderá lhe consolar;

Acha que a morte para sempre os separou;

Mas em seu coração para sempre ficou.”

— MEU PRIMEIRO AMOR.

Na ponta dos pés e enrolada em seu roupão felpudo, Charlotte fez o possível para discretamente deixar o aposento feminino que as jovens terceiranistas dividiam. Ela fechou a porta com um suave clique e soltou o ar que inconscientemente prendia.

            Enquanto descia as escadas espirais de pedra, Charlotte se tornava mais consciente da atmosfera fria e úmida das masmorras. Por mais contraditório que parecesse, ela gostava daquela temperatura. Durante o verão, especialmente, ela sentia falta daquele lugar que havia aprendido a chamar de casa.

            Para todos os efeitos Hogwarts, e consequentemente o Salão Comunal da Sonserina, era seu lar. E as pessoas ali dentro eram o mais próximo de uma família que Charlotte iria conhecer. Pessoas que ela não necessariamente gostava, mas tinha que aprender a ter um bom convívio e construir um espírito de equipe. Não era fácil estudar tanto e ganhar tantos pontos para Sonserina, apenas para Malfoy abrir sua enorme boca dizendo algo estúpido e fazer a Professora McGonagall retirá-lo todos os pontos que ela tinha conseguido com tanto esforço.

            Era naquelas horas que Charlotte, silenciosamente, lançava uma azaração em Malfoy. Ela sabia que Draco era apto o suficiente para rebatê-la, e até mesmo machucá-la se assim quisesse, mas ele nunca o fazia. Charlotte ainda não tinha decidido se o tomava por covarde ou por cavalheiro com aquilo.

            Um miado sutil e ela viu Napoleão. Ele era o gato de Theodore Nott e era uma das coisas mais adoráveis do mundo.

— Olá você. — agachou-se e o afagou nas orelhas. — Sim. Eu senti sua falta. Já viu Zaza?

            O bichano miou de novo como se a entendesse. Ele vivia atrás de Zara o tempo inteiro.

— Não diga a ninguém que me viu. — murmurou erguendo-se. — A não ser que eu não volte até o amanhecer. Aí é melhor dizer a todos que você me viu escapulindo.

            Charlotte nunca se considerou uma aluna problemática. Harry era problemático em muitos sentidos, mas ela era uma menina bastante tranquila. Entretanto enquanto seu irmão preenchia seus fins de semana com quadribol ou detenção, Charlotte até então nunca havia sido pega em nenhuma de suas aventuras pelos corredores no meio da noite.

            Aquela era a primeira noite deles em Hogwarts. Normalmente na primeira noite ela não tinha o menor desejo em quebrar regras, já que ela estava estufada pelo banquete e exausta pela longa e cansativa viagem de locomotiva.

            Entretanto ela sabia que um cometa cruzaria o céu naquela noite. Aquele cometa tinha cruzado o céu há quase cem anos e agora estava voltando. Uma entusiasta da astronomia como era, Charlotte jamais perderia a oportunidade de testemunhar aquilo com seus próprios olhos.

            O caminho até a Torre de Astronomia seria longo e a noite também, portanto Charlotte não viu nada demais em dar um pulo na cozinha. Poucas pessoas conheciam as passagens secretas de Hogwarts, Charlotte mesmo não conhecia tantas quanto gostaria.

            Enquanto se aproximava do quadro de frutas e esticava sua mão para fazer cócegas na pera, Charlotte só pensava que gostaria de conhecer Hogwarts tão bem quanto os Gêmeos Weasley conheciam. Por não conversar muito, e ter um grupo de amigos bastante limitado, Charlotte tinha mais oportunidade que a maioria das pessoas para prestar atenção a detalhes.

            Era surpreendente a capacidade dos gêmeos em desaparecer e perambular pelo castelo inteiro sem serem pegos. Charlotte mesmo não tinha tanta sorte, apesar de não ter sido pega. Mas ela era silenciosa e traçava um caminho objetivo para si, enquanto Fred e George perambulavam pelo castelo como se fossem donos e faziam todo tipo de algazarra imaginável.

— Boa noite. — disse educadamente a um elfo que foi atendê-la. — Poderia me conseguir um lanchinho?

            Ela não tinha fome no momento, mas a noite poderia ser longa, então preferia se precaver.

            Como de costume os elfos a atenderam com uma agilidade absurda. Era sempre um elfo muito velho que fazia questão de preparar suas trouxinhas de comida. Ele sempre a olhava e a tratava com carinho.

— Eu tenho quase certeza que a senhorita não deveria estar fora da cama.

            Charlotte foi pega desprevenida pela segunda vez naquele dia. O Professor Lupin estava ali, usando suas vestes gastas, com as mãos nos bolsos e também trazia consigo uma espécie de trouxinha de comida.

            Aos poucos ela tomava consciência dos fatos. Charlotte, pela primeira vez, havia sido pega fora da cama por um professor. Em pleno primeiro dia de aula!

— Professor. —  murmurou engolindo em seco. — Boa noite.

— Boa noite, Charlotte.

            Remus Lupin, para todos os efeitos, não parecia nem um pouco zangado com ela. Ele olhou para a trouxinha semelhante que ela carregava em mãos e sorriu.

— Uma boquinha mesmo após o banquete?

— Sim. — pigarreou. — Eu sinto fome de madrugada.

— Oh, claro.

            O tom dele e a maneira como arqueou as sobrancelhas indicava explicitamente que ela não tinha sido nem um pouco convincente.

            Charlotte mordeu o lábio inferior, optando, então, por dizer a verdade ao homem mais velho.

— Eu estava indo para a torre de astronomia assistir o cometa. — explicou. — Mas se o senhor preferir, eu posso voltar para o meu quarto.

— Você sabe as regras, Charlotte. Alunos não podem perambular pelos corredores após o toque de recolher.

— Eu sei. Infelizmente, o cometa não entende isso e não se importa com o fato que meu dormitório fica nas masmorras e, portanto, eu jamais poderia assisti-lo. Bem, felizmente eu tenho uma boa saúde. Quem sabe daqui cem anos eu não tenha a oportunidade outra vez, correto?

            Remus Lupin provavelmente se arrependeria daquilo. Oh, ele se arrependeria profundamente, mas ele nunca, jamais, poderia aplicar uma detenção a Charlotte. Não quando ela em cada um de seus traços mostrava a perfeita combinação de seu melhor amigo e a bela e doce Lily.

            Só James teria uma lábia naquele patamar, mas só Lily poderia parecer tão doce enquanto quebrava pelo menos cinco regras do manual do aluno.

— Siga-me, mocinha.

            Muitas coisas passaram pela cabeça de Charlotte naquele momento. A primeira coisa era que o Professor Lupin a levaria até a sala do Professor Snape para que o chefe de sua casa aplicasse a devida punição que ela merecia. Seus pelos do corpo se arrepiavam só de imaginar a cara de Severus quando a visse fora da cama e, pior, sendo pega por alguém.

            O professor Snape não era o favorito da maioria dos alunos em Hogwarts, mas para seus alunos da Sonserina ele costumava demonstrar certo favoritismo. Dizer que Charlotte era sua aluna preferida era um termo forte, mas ela tinha notas boas em sua matéria e não costumava cruzar seu caminho, especialmente considerando a antipatia que o professor já demonstrava por seu irmão, Charlotte não queria arriscar cair na lista negra de Snape.

            Entretanto o caminho que eles seguiram não levava de forma alguma até as masmorras. Aquilo a fez engolir em seco e se perguntou se o professor Lupin estava a levando para Dumbledore pessoalmente.

— Eu não acho que o Diretor apreciaria ter seu sono interrompido por causa de uma simples peripécia. — Charlotte disse com a voz um pouco falha. — O senhor pode me aplicar uma detenção e eu prometo voltar aos meus aposentos.

            Ela não tinha percebido que havia estancado no meio do caminho. A última coisa que precisava era um puxão de orelhas do diretor. Aquela humilhação Charlotte dificilmente poderia suportar.

            O professor Lupin parou quando percebeu que a jovem não mais acompanhava seus passos. Ele olhou sobre o ombro, seu semblante ainda demonstrando indecisão quanto a suas escolhas para aquela noite.

— Não quer ver o cometa? — perguntou em tom baixo.

            Charlotte franziu o cenho e encarou o homem de maneira desconfiada. Aquilo a fez dar outro passo para trás.

            Pirraça não era o único motivo que fazia de Charlotte a perfeita garota sonserina. Ela também era desconfiada, uma das maiores características da serpente.

            O Professor Lupin nunca tinha a deixado com medo. Seu semblante era simpático, seus olhos apesar de cansados apresentavam ternura, mas Charlotte normalmente seguia seus instintos e ela estava desconfiada. Um professor não deveria acobertar sua travessura, tampouco compactuar. Ele deveria conduzi-la, pelo menos, de volta ao salão comunal em vez de se tornar cúmplice.

— Eu acho que... eu acho que não.

— Eu ia te mostrar uma passagem. É um caminho mais seguro até a torre de astronomia... quando eu tinha sua idade também gostava de olhar o céu.

— Tudo bem. Eu posso ver o cometa daqui cem anos. — Charlotte cortou-o de maneira abrupta.

            Remus sentiu seu rosto esquentar ao perceber que Charlotte estava com medo dele. Primeiro ele se envergonhou de si mesmo, mas depois se questionou o que possivelmente poderia ter acontecido a Charlotte para que ela cogitasse a simples possibilidade.

— Você consegue retornar ao seu dormitório? — perguntou educadamente, decidindo não sugerir de escoltá-la a caso de ser pega por Filch.

— Sim senhor.

— Bem... trate de não ser pega. E você não me viu.

— Não senhor.

            Charlote desceu os degraus de forma calma e elegante, mas tão logo quanto ela virou o corredor disparou a correr. Correu até seus pulmões darem indícios que iriam queimar e seu coração sairia pela boca.

            Ela arfou a senha para a parede de pedra, adentrou o salão comunal, chutou Napoleão e Zara pelo caminho até o dormitório e entrou batendo a porta.

— Droga Potter. Deixa de ser sonâmbula, porra. — Daphne reclamou do outro lado.

            Pansy continuava roncando como uma porca e Millie apenas resmungou mediante o barulho. Tracy não tinha dado o menor indício que havia a escutado.

            Deitada em sua cama, Charlotte observou como seus pelos ruivos estavam arrepiados. Ela era muito sensitiva, mas normalmente ela só ficava daquele jeito perto de Harry ou certos alunos da Sonserina.

            Charlotte esfregou o rosto e se sentou na cama. Murmurou mantras a si mesma e respirou profundamente.

            Passava das uma quando Charlotte finalmente conseguiu dormir.

—x-

— Você está péssima.

— Obrigada Blaise. — respondeu amargamente.

            Era verdade, no entanto. Charlotte realmente estava com uma cara péssima para o primeiro dia de aula.

— Como estão suas aulas? — Blaise perguntou curioso para comparar seus horários.

— São basicamente as mesmas que a sua. — Charlotte respondeu.

            Blaise pegou o horário dela e começou a comparar. Charlotte seguia fazendo seu desjejum e tomando uma xícara generosa de café para se manter acordada ao longo do dia, especialmente nas aulas da manhã.

— Adivinhação? Sério? — Blaise debochou. — Eu esperava que você fosse me acompanhar em Runas Antigas.

— Por que você esperava isso?

— Eu não sei! — continuou o amigo no mesmo tom. — Porque Adivinhação é a matéria mais idiota que já vi.

— Não acha que é uma questão de ponto de vista?

            Blaise tinha um bom ponto. Adivinhação não era exatamente a matéria mais bem falada de Hogwarts, muitos diziam até que a professora era louca, mas Charlotte tinha um pezinho firme no misticismo. Ela era profundamente sensitiva e buscava sempre muito refúgio na astrologia. Agora que ela estava no terceiro ano, talvez pudesse usar essas matérias e ver do que realmente era capaz.

— Você não acha mesmo que seus sonhos e suas “visões” têm algum significado, acha? — Blaise revirou os olhos.

— Eu acertei quando disse que sua mãe estava se casando de novo.

— Mas que surpresa. Ela já não foi casada pelo menos umas vinte vezes!

— Você não sabia que ela estava saindo com alguém. — Charlotte defendeu-se. — Eu também acertei quando disse que as provas do segundo ano seriam canceladas.

            Blaise era um cético. Ele sempre encarou as intuições e sonhos de Charlotte com grande ceticismo e até mesmo ironia. Ele parecia achar graça de quão certa Charlotte se sentia em alguns momentos simplesmente por causa de sua intuição.

— E eu acertei também quando disse...

— Ei Potter!

            Ela foi interrompida pela chegada de Draco. Sem fazer a menor cerimônia, o menino loiro se colocou entre Charlotte e Blaise.

            O italiano murmurou um palavrão, pegou a própria mochila e saiu de perto. Ele era completamente intolerante a presença de Draco e não conseguia entender como Charlotte se arrepiava sempre que passava perto do rato de Ronald Weasley, mas não tinha ânsia de vômito em conversar com um completo boçal.

— Eu te vejo em Feitiços. — Blaise resmungou antes de sair o mais rápido que as pernas permitiam.

            Charlotte olhou com impaciência para Draco.

— O que você quer? Eu estou comendo.

— Eu já sei como vou cobrar meu favor. — Draco pontuou.

— Deixe seus trabalhos na sala comunal. Agora, deixe-me comer em paz.

            O sonserino riu como se Charlotte tivesse contado uma excelente piada. Antes fosse, mas Charlotte dificilmente contava piadas e dificilmente contaria qualquer uma que fosse engraçada.

— Você vai ao passeio de Hogsmead comigo. — anunciou Draco.

            Foi a vez de Charlotte rir. Ela riu com gosto, o suficiente até para perder a fome e começar a juntar seus materiais.

            Draco não pareceu achar engraçado. Primeiro ele a olhou confuso e em seguida ofendido, obviamente o tom dele foi irritado ao indagar.

— Qual a graça? — perguntou enquanto a seguia em seu encalço.

— Você acha mesmo que eu vou a Hogsmead com você, Draco? — Charlotte arqueou as sobrancelhas ruivas. — Poupe-me.

— Por que não iria?

— Porque não somos amigos.

            As respostas de Charlotte para Malfoy sempre foram abruptas e duras. Não era a primeira vez que ela o dizia aquilo, mas Draco até então nunca parecia ter se ofendido com aquelas declarações.

— Bem, não somos amigos, é? Eu cuidei da sua gata o verão inteiro, eu te paguei sorvete, eu te mandei um presente de aniversário...

— Você sabe que fez tudo isso por sua conta, certo? Eu não pedi pra você cuidar da Zara, você se ofereceu. Eu não pedi sorvete, você ofereceu. Eu não pedi presente de aniversário, você enviou. — Charlotte pontuou seriamente. — Eu não entendo porque você está aqui cobrando algo de mim. Eu disse que faria suas tarefas e é o máximo que farei por você.

            Poucas pessoas conseguiam deixar Draco Malfoy sem palavras. Charlotte Potter era uma dessas pessoas.

            Draco não sabia explicar, mas desde o dia que ele colocou os olhos em Charlotte Potter devorando uma casquinha de sorvete de chocomenta, algo em suas entranhas despertou e dentro dele havia um desejo arrebatador, um sentimento de posse que dificilmente poderia ser explicado. Ele queria Charlotte. Ele queria tê-la.

            Aos onze anos ele queria ser seu amigo, queria que ela gostasse dele, incluísse-o em seu pequeno forte que aparentemente só havia lugar para Zabini. Com doze anos de idade algo tinha mudado na maneira que Draco enxergava Charlotte. Certo dia ele se sentou atrás dela durante a aula de Transfiguração e passou a aula inteira embriagado pelo cheiro de seus cabelos ruivos.

            Agora, aos treze, depois de passar o verão inteiro sonhando com Charlotte num vestido branco e indo ao seu encontro, Draco tinha tomado uma decisão que a maioria dos bruxos sangue-puro do seu nível tinham que tomar muito cedo.

            Ele iria se casar com Charlotte Potter quando a hora chegasse. Ele tinha passado o verão inteiro enfurnado na biblioteca de seus pais procurando a brecha que precisava no histórico de sua família e no Estatuto das Famílias Puro-Sangue a fim de conseguir o respaldo necessário para ele, como varão, se casar com uma mestiça.

— Draco?

            Charlotte franziu o cenho. Por um instante Draco parecia ter caído em completo transe, seu rosto tinha perdido a pouca cor que tinha e seus olhos ficaram tristes. Entretanto, recuperando a pinta de Príncipe das Serpentes, Draco fechou a cara e disse.

— Você fala como se eu estivesse lhe dando uma opção, Potter. — ele retorquiu. — Nós vamos a Hogsmead juntos. Que fique claro.

— Eu não vou a Hogsmead com você! O que iriam pensar?

— Que você é a menina mais sortuda de Hogwarts, evidentemente!

— Ora essa. Você é mesmo muito cheio de si, Malfoy. — Charlotte revirou os olhos.

            Ela estava pronta para seguir seu caminho sozinha, mas por infelicidade do destino Malfoy também tinha escolhido fazer Adivinhação em vez de Runas Antigas.

— Ficou sabendo o que aconteceu com seu irmão testa-rachada? — Draco perguntou.

— Harry já conseguiu problemas no primeiro dia de aula?

— Antes fosse o primeiro dia de aula. — Draco franziu o cenho. — Você não ficou mesmo sabendo?

            O tom de Draco tinha a deixado curiosa. Normalmente Charlotte evitava as fofocas que diziam respeito a Harry. Ela não gostava de se preocupar com ele, não gostava nem de saber de seus planos loucos.

— Um dementador o atacou. — explicou Draco. — Entraram na cabine dele quando estavam atrás do Sirius Black, o fugitivo.

            Charlotte franziu o cenho.

— Você está mentindo.

— Eu não estou. — Draco defendeu-se. — A escola inteira sabe. Admira-me que você não saiba.

            Eles chegaram a sala de Adivinhação e imediatamente Charlotte conseguiu identificar Harry. Ele fechou a cara assim que viu que ela estava chegando acompanhada de Malfoy, mas surpreendendo a todos, e até a si mesma, Charlotte dispensou o companheiro de casa e foi até onde o irmão estava sentado com seu amigo ruivo, ignorando completamente os sinais que seu corpo a davam.

            Harry puxou a mochila da cadeira que guardavam para Hermione para que Charlotte pudesse se sentar. Ele observou o semblante anormalmente preocupado da ruiva.

— Você está bem? Só agora fiquei sabendo do dementador... — ela disse bem baixinho, ignorando completamente a presença de Ron.

— Estou bem. — retorquiu o menino de óculos de grau. — Se era só isso que queria saber, pode ir se sentar com seu namoradinho.

— Draco não é meu namorado. — Charlotte rosnou.

— Ele bem que queria. — Ron resmungou.

— Cala a boca. Ninguém está falando com você. — Charlotte retrucou.

            Se Harry não gostava de seus amigos, tampouco Charlotte conseguia engolir os dele. Draco era irritante, mas ele era de sua casa enquanto Ron era um grifinório chato e metido.

— Você poderia ter me dito. — Charlotte murmurou em continuidade.

— E o que você poderia ter feito? — Harry replicou.

— Eu não sei. Eu teria lhe dado um chocolate ou algo assim... teria ficado com você pelo restante da viagem para garantir que não desmaiasse de novo.

— O professor Lupin me deu chocolate e eu fiquei com Ron e Hermione o resto do trajeto.

            Harry viu a feição de Charlotte mudar de novo. Ela era, normalmente, apática a tudo, contudo, quando ele mencionou o professor suas feições mudaram.

— Eu não confio nele. — Charlotte murmurou.

— Em quem? No professor Lupin? — Harry indagou, confuso. — Foi ele quem me ajudou. Ele espantou o dementador.

— Eu não confio nele. — Charlotte tornou a dizer, dessa vez num tom mais firme.

            O jovem de cabelos escuros ia perguntar a sua gêmea por que ela não confiava em um dos poucos professores descentes que tinham, mas Hermione acabou aparecendo subitamente e Charlotte foi se juntar a Draco.

— Saia daqui. — o loiro disse enxotando Crabbe que estava ocupando o lugar ao lado dele.

            Charlotte se encolheu para evitar que o ombro de Crabbe se encostasse contra seu corpo, mas o brutamontes parecia fazer questão.

— Olha por onde anda, mestiça. — ele rosnou.

— Da próxima vez que você encostar em mim, vai ser a última vez que você vai encostar em algo. — anunciou.

            Não era de seu feitio fazer ameaças, mas recentemente ela vinha ficando cada vez mais impaciente e pouquíssimo tolerante às pessoas de sua casa, especialmente a população masculina.

            Se Crabbe a levou a sério, ou ele só tinha muito medo Draco, Charlotte não iria saber, mas por um bom tempo ela teria paz.

            Até o fim da aula de Adivinhação, Charlotte tinha certeza que Blaise estava certo e ela havia feito uma péssima escolha. A aula tinha sido entediante, praticamente nada que saía da boca da professora Trelawney fazia qualquer sentido.

            Ela leu a sorte de Malfoy e basicamente dizia que ele iria gostar da sobremesa do jantar. Quando Draco leu a dela, ele não perdeu a oportunidade para provocar Charlotte.

— Aqui diz que você vai a Hogsmead comigo e vamos trocar beijos perto da Casa dos Gritos. — o menino tinha um sorriso malicioso.

            Seria engraçado se não fosse completamente trágico.

— Morgana. — rezou Charlotte esfregando a ruguinha entre as sobrancelhas.

            Quando a sineta soou indicando o fim da aula, Charlotte não esperou Draco recolher os materiais dele. Ela puxou tudo de qualquer jeito para dentro da mochila e foi a primeira a passar pela porta, caminhando o mais rápido que suas pernas permitiam para a aula de Feitiços com a Corvinal.

            Ela estava checando se sua varinha estava mesmo dentro da mochila quando, por pouco, não esbarrou em alguém.

— Oi! — disse surpresa.

— Oi. Fugindo? — Oliver Wood perguntou.

— Pode-se dizer que sim. — Charlotte respondeu, colocando fios de cabelo atrás das orelhas. — E você?

— Mais como caçando. — Oliver revirou os olhos. — O time inteiro está se escondendo de mim porque eu acho que poderíamos começar a treinar hoje mesmo.

            Charlotte não podia julgá-los completamente. Ela particularmente não era afeiçoada a atletas, especialmente aqueles como Wood que pareciam ter só Quadribol na cabeça. Entretanto o fato de um rapaz bonito, mais velho e popular se interessar por Charlotte a deixava levemente cheia de si.

— Então... lembra que tínhamos falado de dar uma volta no jardim hoje? — Wood indagou em tom ansioso.

            O capitão do time da Grifinória estava nervoso para convidar para sair uma menina que não tinha nenhuma experiência romântica. Outra vez aquilo seria cômico se não fosse trágico.

            Charlotte mordeu o lábio inferior e pensou. Ela tinha ficado entusiasmada com a ideia, mas Oliver tinha 17 anos e ele a deixava apreensiva. Não que tivesse escutado uma palavra ruim sequer do goleiro, mas Charlotte nunca havia ido a um encontro, ela nunca tinha beijado nenhum menino e nem se interessado por algum até então...

— Olha... você parece um cara legal, mas eu sou meio nova pra você, não acha?

— Acho sim. — concordou imediatamente o capitão da Grifinória. — Não estou cobrando nada de você. Só vamos caminhar e conversar se assim preferir.

— O que caras do sétimo ano têm pra falar com meninas do terceiro ano?

— Eu posso te dar umas dicas para os NOMs.

            Não parecia ainda um motivo bom suficiente, mas até então Charlotte não sentia nada que a deixasse apreensiva a Wood. Nada que seu corpo a alertasse pelo menos.

            Olhando para ele, Charlotte conseguia apenas enxergar honra, bondade e coragem. O verdadeiro Grifinório de ouro.

— Minha última aula do dia é Poções. Eu acho que podemos caminhar um pouco antes do jantar.

— Ótimo. Eu te pego nas masmorras para irmos juntos.


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