Dois meses haviam se passado desde o acidente. Tom e Cassandra estavam em terapia e a relação dos dois, mesmo que não namorassem mais, estava extremamente abalada. Bill e Anna mantinham-se bem, mesmo com o namoro a distância. Mas provavelmente quem estava pior de todos era a garota de cabelos negros e mechas coloridas que além do trauma de estar dentro do carro que capotou e ter todas as lembranças, ainda tem de aguentar a mãe madame e perua de Katherine dizendo-lhe que a culpa do acidente era dela e ainda havia a terapia para manter os movimentos da coluna após as cirurgias, talvez esses sejam os motivos da garota de mechas coloridas ir dormir quase todos os dias em choro, quase sempre assistido de sua irmã mais nova.
              Eram quase três da manhã, estava tudo escuro e Jasmine havia acordado, ouvia murmúrios e já imaginava que eram da irmã mais velha. Todas as noites, desde o acidente, ela chorava. Parecia entrar em desespero ao lembrar de tudo que ocorrera naquela noite. Mas aquela noite Jasmine decidira fazer algo que ajudaria sua irmã.
 -- Alô? -- o garoto de tranças negras atendeu com a voz embargada de sono -- Quem fala?
 -- Tom é você? -- a voz da garota de 12 anos soou no telefone, fazendo-o despertar imediatamente -- É a Jasmine, desculpa te acordar, mas preciso que você venha pra cá urgente.
 -- O que aconteceu?
 -- Vem pra cá que eu te explico.
              Tom desligou o telefone ao mesmo tempo que a irmã de Cassandra e colocou a primeira roupa que viu pela frente e desceu até o quintal pela janela e foi de skate até a casa das duas irmãs, que não moravam tão longe. Passou os poucos quarteirões e logo estava em frente ao sobrado amarelo que sua ex namorada morava. Pegou pela calha e pelas ervas que cresciam enramando-se pela parede e subiu até o quarto de paredes azuis e móveis brancos e viu que a janela estava levemente aberta, com lamúrias vindas do canto do quarto.
 -- Quem ta ai? -- perguntou a garota assustada, enxugando as lágrimas
 -- Hey... calma ai -- o garoto de tranças aproximou-se -- Sou eu Cass...
 -- T-Tom? -- a garota sentiu sua garganta travar e ficar com um fio de voz -- É v-você?
 -- Sim sou eu -- ele sorriu e ajoelhou-se a sua frente -- Jasmine me falou que você estava meio mal e me pediu pra vir.
 -- Entendi...
 -- Ela não estava errada. Me disse que você ainda estava abalada com o acidente. Que não conseguia dormir mesmo com a ajuda da psicóloga.
 -- Ela te contou bastante coisa não foi?
 -- Sim. -- o de tranças sentou-se no chão e puxou-a para seu colo -- Me conta, o que ta te deixando assim?
 -- É o acidente -- Cassandra apertou-se ao tórax de Tom, abraçando-o com força enquanto algumas lágrimas fugiam de seus olhos -- A mãe da Katy ta me culpando pelo acidente, ela fica dizendo o tempo todo que se eu não quisesse ir embora depois daquilo... E talvez a culpa seja minha porque se eu não quisesse tanto ir embora, teria prestado atenção no fato de que ela estava bêbada e que não tinha condições de dirigir... Mas eu não me importei, eu só quis saber de ir pra casa o quanto antes possivel...
 -- Cass, você realmente ficou magoada com aquilo que eu disse? Ou o que eu não disse? -- Tom pergunto delicadamente, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha da garota em seu colo
 -- Tom apesar de tudo eu ainda gosto de você, algumas coisas que você diz ainda me machucam, sabe? Não sou tão fria quanto demonstro, ainda mais quando o assunto é você...
              O garoto de tranças negras estagnou por um momento, ela realmente estava dizendo que ainda o amava e que quando ele dizia certas coisas, como o que dissera no dia do acidente ainda machucavam ela? Não houve dúvidas naquele momento de que o sentimento que havia entre eles era recíproco, então Tom foi dando pequenos selinhos rápidos desde o pescoço até a bochecha da garota em seu colo e deixou para que ela lhe desse o último beijo nos lábios, que ela fez logo em seguida, dando margem para que ele a levasse para a cama, sem separarem o beijo.
 -- Vai voltar pra casa? -- perguntou a garota de mechas coloridas quando já estavam deitados e o garoto de tranças negras estava  deitado ao seu lado -- Já são quase quatro horas...
 -- O funeral é a tarde, posso ficar com você até lá?
 -- Eu gostaria... -- ela virou para ele e entrelaçou seus dedos -- Me faz bem você ficar aqui.
 -- Me faz bem estar com você Cassie. --  ela se virou contra ele e este colocou-a em "concha" -- Gostaria que você dormisse agora. Pode te fazer bem. Boa noite Cass...
 -- Boa noite liebe...
              Foi a última coisa que a garota murmurou antes de cair no sono, logo seguida por Tom que sentiu o corpo todo amortecido por ela tê-lo chamado de liebe outra vez. Ela vivia chamando ele assim quando namoravam, desde sua primeira vez juntos e isto sempre o fez sorrir mais do que sorria há muito tempo.