A Lenda da Raposa de Higanbana escrita por Lady Black Swan


Capítulo 41
40: Mergulhe e não olhe para trás!


Notas iniciais do capítulo

Inicialmente eu planejava fazer esse capítulo com, no máximo, 9k... Como podem ver está tudo indo do jeitinho que eu não planejei! ¬¬'

GLOSSÁRIO:

Awamori: é uma bebida alcoólica típica e feita exclusivamente em Okinawa, Japão.

Kejoro: Literalmente “Prostituta cabeluda”.

Mokujin: Literalmente “pessoa de madeira”.



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Com um ímpeto de fúria, Akira chutou para longe os montículos de palha ao lado do irmão.

—O que pensa que está fazendo trançando essas sandálias ridículas?!

Akihiko olhou de sua sandália ainda incompleta e mal feita para o irmão mais velho.

—As minhas já estão gastas. — justificou-se.

—Deveríamos estar pensando em maneiras de escapar! — o irmão enfureceu-se — Como pode pensar em suas sandálias quando nossa mãe corre risco de vida?!

Hesitante, Akihiko olhou novamente para sua sandália incompleta.

—Mas Furin-Sama disse que não haveria perigo.

—E Gintsune-Sama também disse que ficaria tudo bem quando rejeitou e passou a ignorar completamente aquela kejoro que mandou seus cabelos para ele, depois dele ter passado quase o inverno inteiro a cortejando!

—Mas… ficou tudo bem… certo? — Akihiko piscou.

—Não para ela! — Akira bateu o pé — Ele não ligava para o que acontecia com ela, mas nada de mal aconteceu com ele ou conosco, então “estava tudo bem” e esse é o ponto: Furin-sama disse que vai ficar tudo bem, mas nós sabemos que ela só se importa com os filhos, não conosco! Por isso não podemos ter garantias do que ela tem planejado para mamãe quando ela diz que “ficará tudo bem”!

Uma risada baixa ecoou acima deles, Anko estava pendurando-se com seus pés e mãos de ponta cabeça a uma das vigas acima deles, com sua longa trança negra pendendo como uma corda.

—Parece que vocês descobriram! — ele saltou dando um mortal no ar e pousando agachado no chão — Talvez não sejam tão otários assim.

Riu colocando-se de pé.

—O que você quer dizer maldito?! — Akira eriçou-se.

—Minha mãe, disse, não disse? A sua mãe é o principal ingrediente para que ela possa recupera o precioso filhote dela. — o sorriso de Anko tornou-se perverso — Afinal sua mãe é o último resquício de um longínquo mundo humano que há nesse mundo, então é claro que mamãe vai usar o sangue dela para desenhar todos os símbolos mágicos, e arrancar suas entranhas para fabricar com elas uma corda que se estenda até o mundo humano. — ele parou pensativo, passando a mão pelo queixo — Quem sabe seus ossos sirvam para serem talhados como bons utensílios também?  Mamãe disse uma vez que as melhores máscaras são feitas dos crânios: máscaras tão perfeitas que quando usadas é impossível para qualquer um, seja humano ou youkai, distinguir a réplica do original.

O rosto de Akihiko começou a variar em tons de branco e verde.

—Ora, seu maldito…! — Sacando a espada, Akira atacou ao filhote de raposa, mas este se esquivou abandonando sua forma humana e disparando correndo pelos corredores. — Quando eu te pegar usarei sua pele de trapo para limpar o chão sua criaturinha traiçoeira!

O jovem meio tengu enfurecido gritou ao seu encalce.

Deixando suas sandálias de lado Akihiko se levantou, mas não tinha intenção de perseguir Anko junto com o irmão, isso não era o mais importante agora, então, abrindo suas grandes asas negras, ele voou direto para o pavilhão sudoeste do castelo onde, embora ele não soubesse disso ainda, uma discussão muito semelhante a que tivera com o irmão se desenvolvia:

—Não sei por que você está tão inquieto. — Mayu suspirou impaciente — Furin-Sama garantiu que ficaria tudo bem.

Tap. Tap. Tap.

Sentado em seu colo, com as costas apoiadas na barriga e seios da mãe, Akio observava quietamente as imagens do pergaminho colorido que ela desenrolava diante de si, sempre mantendo o grampo de cabelo com ponta em forma de aranha na boca e sem dar a menor atenção ao som das vozes dos pais e sua discussão.

—Mas ela não especificou para quem ficaria tudo bem! — Satoshi reclamou. — Aquele sem vergonha também disse que ficaria tudo bem se fizesse aquela nascente de água ferver para cozinhar ovos de terma!

—E ficou tudo bem. — Mayu respondeu calmamente.

—Não para os kappas que moravam lá! — Satoshi retrucou. — E é claro que agora sabemos de quem ele herdou todos esses péssimos hábitos!

—Os ovos cozidos estavam uma delícia. — Mayu continuou desenrolando o pergaminho para mostrar a imagem seguinte da história ao seu filho mais novo. — Veja bebê, Momotaro encontrou o faisão.

—Mayu…! — Satoshi desesperou-se.

Tap. Tap. T…

—Eu também sou contra! — Ryota grunhiu insatisfeito do canto mais distante do quarto abrindo um buraco no tatami com seu grande punho, e assustando a pequena Yuri-chan.

O “tap, tap, tap.” que ecoava pelo quarto se deteve.

Hikari e seu séquito haviam recebido como alojamento um pavilhão inteiro, e suas acomodações eram tão espaçosas e luxuosas que Mayu desconfiava que Ryosuke-Sama houvesse cedido inclusive os próprios aposentos… mas do jeito que as coisas iam, não haveria um pedaço sequer do castelo do dragão que quedaria intacto após a passagem dos onis.

—Papai, você está assustando minha adorável criada Yuri-chan. — Hikari respondeu, retomando o trabalho em seu tear. — E nós já discutimos sobre isso.

Tap. Tap. Tap. Fazia o aparelho enquanto a jovem deusa oni seguia tecendo sua trama.

—E eu fui contra! — Ryota rugiu — O que aquela mulher quis dizer com usar você, minha filha e um ser divino, em um encantamento?! Quem ela pensa…?!

—Papai, não seja tolinho, eu já aceitei ajudá-la, não posso voltar atrás com minha palavra. — Hikari sorriu-lhe, detendo-se em seu trabalho mais uma vez — Tudo o que ela pediu de mim foi que lhe tecesse essa trama com toda minha dedicação e que não permitisse que mais ninguém a tocasse ou se aproximasse dela, como eu poderia dizer não a um pedido tão simples? Além de que isso é muito divertido de se fazer!

Tap. Tap. Tap. Ela riu retomando seu trabalho com grande entusiasmo. Tap. Tap. Tap.

E realmente não havia maneira de dizer “não” àquela sorridente e preocupada mamãe raposa…

—Não há como ser só isso! — Ryota seguiu protestando — Se formos embora agora…!

—A raposa prateada irá ao nosso encalço. — Tap. Seu tom ficou inquietamente soturno. — E isso não deve acontecer. — Tap. — Nunca.

Ryota rosnou cruzando os braços e fincando as garras na própria carne, contendo-se para não arruinar ainda mais o quarto da filha.

—Então falemos com o dragão! Você disse que ele seria capaz…!

Tap!

—E que tipo de hospede inconveniente eu seria para causar-lhe assim tantos inconvenientes se tudo o que tenho que fazer é tecer? Especialmente quando estou a me divertir tanto e ainda há tantas coisas divertidas e novas para serem exploradas nessa cidade! Na vila nunca posso fazer nada, eu sempre estou trancada na caverna! — Tap. Tap. Tap. Os movimentos de suas mãos eram rápidos e precisos. Tap. Tap Tap. — Veja como sou habilidosa, sequer pareço uma amadora!

—E-está ficando muito bonito minha deusa. — Yuri-chan murmurou timidamente.

Como uma simples convidada, Mayu havia recebido três criadas para auxiliá-la e fazer-lhe companhia durante sua estadia no castelo, de forma que seria natural que Hikari recebesse, no mínimo, cinco vezes esse número de criadas, mas a única que ela aceitara a seu serviço fora à pequena Yuri-chan… e também parecia ter decidido que Mayu era sua dama de companhia pessoal.

E isso porque Satoshi se recusara terminantemente a permitir que todos os pertences de Mayu fossem transferidos para o quarto de Hikari, como havia sido sua exigência inicial.

—Não é? — Hikari mostrou-se resplandecente com o elogio — Como esperado de uma deusa!

—Se gostou tanto dessa coisa então a levaremos…!

A porta do quarto se abriu de repente.

Embora a deusazinha tivesse dado ordens aos seus onis para permitir a entrada de Mayu e seus filhos no quarto dela sempre que quisessem, ainda não era típico de Akihiko aparecer de maneira tão abrupta e descortês.

—Mamãe, papai! — os chamou pálido — Precisamos ir embora antes que a senhora raposa esquarteje a mamãe para fazer pasta!

Mayu achou que ia desmaiar.

—Querido, por que você pensaria…

Tap!

—Meninos, eu amo todos vocês, mas estão me atrapalhando aqui! — Tennyo Hikari colocou-se de pé, juntando as palmas das mãos e entrelaçando os dedos ao lado do rosto — Afinal toda essa energia negativa vai estragar a minha preciosa trama!

Mesmo insatisfeito e irritado, Ryota levantou-se para acatar a ordem, não havia problema deixá-la sozinha no quarto, enquanto estivesse na Corte do Dragão ela estaria segura, então começou a arrastar o tengu consigo em uma chave de braço também.

—Não! Espera… Mayu…! — ele começou a protestar tentando não sufocar.

—Nem Mayu-chan e seu bebê, nem Yuri-chan estão me atrapalhando porque suas energias são quase inexistentes. — Hikari o interrompeu quando Mayu já estava prestes a se levantar para segui-lo.

Mayu imediatamente voltou a sentar-se.

—Você não pode ficar com minha esposa, deusa oni! — Satoshi protestou.

—Não estou roubando nada, apenas pegando emprestado. — Hikari sorriu-lhe, inclinando o rosto de lado apoiando-o dobre a mão — Mesmo porque eu acho que ela também não quer ir com você agora!

—Ande corvo! — Ryota o arrastou, parando apenas para pegar Akihiko no caminho, e jogá-lo por cima do ombro — E você também passarinho, comece a falar do começo essa história de raposas e pasta de humana!

A porta se fechou por detrás deles e Tennyo Hikari esperou até que suas vozes se distanciassem e desaparecessem no corredor, antes de dar uma risadinha e voltar a se sentar.

—Meninos, o que se pode fazer com eles? — ela cruzou as pernas. — Mas papai realmente não tem com o que se preocupar, pois eu olhei o futuro e já sei que nenhum mal me passará durante esse ritual, tudo o que Furin quer de mim é somente a trama. — ela passou os dedos delicadamente pelo trabalho incompleto — Mas se estiver realmente preocupada, Mayu-chan, o que acha de pagar-me uma prenda para que eu possa olhar seu futuro também? Yuri-chan, sirva um pouco de chá para Mayu-chan!

E assim, com um sorriso satisfeito ela retomou seu trabalho de tecelagem, estava muito empolgada e ansiosa com sua tarefa, queria terminá-la logo.

Tap. Tap. Tap.

Pois afinal Tennyo Hikari era incapaz de vislumbrar um futuro que não a envolvesse pessoalmente, se não lhe fosse perguntado diretamente.

Tap. Tap. Tap.

Assim como era incapaz de prever um futuro em que negar-se a ajudar as raposas não culminaria, de uma forma ou outra, na morte de seu pai.

Tap. Tap. Tap.

*.*.*.*

Emergindo até os quadris das gélidas águas invernais da lagoa, as mãos da mulher desnuda agarraram a própria garganta, abrindo a boca e tragando o ar em grandes golfadas, seus longos cabelos prateados caindo por suas costas e flutuando na água ao redor de seus quadris brilhavam suavemente na escuridão, mas não era o frio que a incomodava, esse ela mal notava, era a escuridão, a terrível e opressora escuridão que se assomava sobre ela como se fosse devorá-la…!

Calma. Disse a si mesma, afastando lentamente as mãos da garganta. Está tudo bem, você está bem agora, está livre.

Seus olhos dourados fixaram-se na lua cheia acima de si, havia prometido a To-chan que ficaria bem, pois de outra forma ele não a deixaria.

E seu auspicioso príncipe precisava de um pouco de diversão naquele momento, mais do que apenas beber e se lamentar por aquelas reles humana, ele precisava de algo que o distraísse e a exterminasse de seus pensamentos.

Se ao menos ela pudesse garantir que aquela reles humana jamais voltaria a machucar seu To-chan… seus punhos se cerraram e faíscas elétricas faiscaram sobre a superfície da água, mas então… Momiji suspirou abrindo os punhos lentamente, e erguendo a mão direita para mirar as cicatrizes ainda parcialmente curadas das queimaduras ali, se era pelo bem de To-chan, então por hora a garota era-lhe inalcançável.

Abriu os braços e se pôs a flutuar placidamente de costas na água, sempre com seus olhos fixos na lua cheia, repetindo a si mesma uma e outra vez que estava bem, a escuridão não a engoliria… logo o sol raiaria.

Na solitária noite escura, ela então recitou:

Esperando e esperando por teu passo,
  Sem dormir na cama eu deito,
Durante toda a noite, até a lua,
  Deixando seu posto no alto,
  Desliza de lado no céu.

Gintsune se despertou sem ter exata certeza do que estava acontecendo ou onde estava.

Seu braço esquerdo estava em torno de uma mulher desnuda que dormia sobre seu peito, enquanto ele próprio tinha a cabeça apoiada no ombro de um homem desconhecido e, até onde podia ver com sua visão periférica havia uma silhueta deitada ao lado deste também, não fazia ideia de quem era nenhuma daquelas pessoas, Gintsune sentou-se bocejando e tomando cuidado para não acordar seus companheiros de cama, havia roupas, garrafas quebradas e vazias, em sua maioria de umeshu, e pratos quebrados espalhados pelo chão e… aquilo ali eram marcas de queimaduras no chão e paredes?

Sorriu consigo mesmo, passando a mão pelos cabelos, pelo que podia se lembrar a tempos não tinha uma noite divertida como aquela e seu corpo e mente certamente havia sentido falta disso, por isso que andava sonhando… não importava.

Desde que ele mantivesse suas noites divertidas e ocupadas, não haveria espaços para sonhos indevidos e sem sentido, levantou-se recolhendo cuidadosamente as suas coisas espalhadas pelo chão, um relógio na parede indicava 5h28min, havia passado a noite na cidade de Osaka, recordou, mas estava em um quarto de hotel ou na casa de algum de seus companheiros de noitada?

Deu de ombros, vestiu-se e desapareceu.

Yukari iria corar e fugir chamando-o de libertino se ele lhe contasse o que andara aprontando, e Higanbana estava a apenas um pulo dali, talvez uma ou duas horas de viagem… mas de jeito nenhum podia voltar até lá ainda!

Além de que havia prometido à irmã que voltaria pela manhã ao jardim botânico Nagai para encontrá-la e os dois passeariam juntos pela cidade hoje.

Ele pousou perto da área de piqueniques do jardim, onde havia deixado sua irmã pela última vez no dia anterior, mas só havia um pequeno grupo de funcionários trabalhando na área, um deles, que parecia estar desencavando algo na neve, dizia:

—Veja, é outra garrafa de umeshu! Quantas dessas ainda têm por aqui? Estamos recolhendo-as desde ontem!

—A neve que caiu ontem à noite também não ajudou em nada, do jeito que as coisas vão, iremos continuar achando-as até a primavera. Pior ainda: acho que vai nevar outra vez. — comentou o segundo se aproximando com um grande saco plástico de lixo. — Como se já não bastasse terem juntado todas as mesas em uma só e deixado todas aquelas travessas e pratos de comida sujos sobre elas, parece até que deram um banquete, que tipo de vândalos é esses?

Vândalos. Gintsune olhou em volta. Que bom que sua amada irmã não estava por perto.

—Todas essas garrafas de umeshu aqui… — começou a dizer uma funcionária um pouco mais longe — Acham que têm haver com o roubo na Choya Umeshu?

Os funcionários se entreolharam hesitantes.

—Pode ser… — começou a dizer aquele primeiro — Habikino fica a menos de 20km daqui, e o ataque foi… o que? Na madrugada entre o primeiro e o segundo dia do ano, certo? E na manhã seguinte a área de piqueniques estava esse desastre…

—Eu vi no noticiário que esse ataque pode ter tido ligação com aqueles sofridos pela Konishi Suzo e a Komaza Jyozo. — a mulher comentou — Só que até agora as autoridades não têm nenhuma pista sobre a identidade dos suspeitos ou o paradeiro das garrafas…

—E ainda assim aqui estamos nós desenterrando garrafas vazias de umesho! — aquele primeiro funcionário comentou irônico, desenterrando mais uma garrafa, quebrada, da neve — Prestem atenção para ver se encontramos garrafas de saquê ou sochu tamb…

—Aquilo ali em cima da árvore é outra garrafa?! — o segundo funcionário interrompeu espantado.

Desinteressado, Gintsune saiu à procura da irmã.

Foi encontrá-la sentada na pequena ilha na lagoa admirando a paisagem ao redor com a ponte arco-íris ao fundo.

—Eu realmente odeio como os humanos conseguem mudar o ambiente tão rapidamente, destruindo e conspurcando tudo o que tocam. — ela comentou quando ele sentou-se ao seu lado — Mas não posso negar que o talento deles para criar o belo também é admirável.

—Humanos são verdadeiras caixinhas de surpresas. — ele concordou sorrindo — Na maior parte youkais são guiados por suas naturezas, instintos, obsessões e convicções e geralmente não conseguem se desviar disso, mas humanos… você nunca sabe o que esperar deles.

Os olhos dele tornaram-se nublados e distantes.

Momiji pigarreou.

—Eu gostaria de volta aqui na primavera também. — comentou — Há centenas de flores nesse jardim e seria maravilhoso poder vê-las, e ouvi dizer que há também um jardim de rosas, eu nunca vi um jardim de rosas.

—Podemos voltar quando você quiser! — ele animou-se rapidamente.

Momiji ergueu a mão enluvada, tocando a flor de plástico que adornava a lateral do cabelo de seu amado príncipe, onde ele havia arranjado aquilo?

—E como foi sua noite?

—Agitada. — ele riu — Bastante divertida, mas nosso umesho já acabou então talvez devêssemos seguir em frente, depois de passearmos um pouco.

—Ontem à tarde fomos àquele espetáculo sobre raposas no teatro Bunraku, o que gostaria de fazer hoje?

—Poderíamos passear de barco no fosso do Castelo de Osaka! — ele sugeriu de imediato — E depois visitar o aquário Kaiyukan, eu soube que lá há animais do mundo todo!

—Parece muito interessante. — ela concordou sorrindo.

—E também quero ir para Minami fazer compras, eu adoraria vê-la usando várias roupas lindas, irmã! — ele prosseguiu empolgado. — E comeremos também! Há um ótimo restaurante chamado Kashiwaya que você irá adorar irmã!

—Faremos o que você quiser To-chan. — Novamente Momiji assentiu.

Ela faria tudo o que pudesse para que aquele brilho jamais abandonasse os olhos de seu precioso príncipe.

*.*.*.*

Ultimamente Yukari vinha tendo a impressão de que acordava a cada dia apenas para descobrir nos noticiários que novo incidente misterioso e inexplicável havia acontecido no país: qual destilaria famosa havia sido invadida, depredada e roubada? Que ponto turístico histórico tinha sido depredado por vândalos farreando durante a noite? Por que não havia testemunhas em nenhum dos casos?

E se forçar a manter impassivelmente distante, como se não soubesse de coisa alguma.

O que deu nele?! Por acaso tinha enlouquecido?!

Aquele bêbado arruaceiro…!

Mas, pelo menos por agora, havia outros assuntos em sua cabeça;

Durante várias décadas os Shibuya, assim como várias famílias comerciantes locais de Higanbana, havia escolhido o templo de Kofuku Ebisu, deus do comércio, para a primeira visita do ano, e nunca houve questionamentos sobre isso… por isso esse devia ser um ano excepcional.

—Esqueça Daisuke, iremos ao templo de Inari esse ano! — Tsubaki bateu o pé no chão. — Devemos agradecer a deusa por ter nos protegido quando a raposa escapou e nos ajudado a expulsá-la!

—Não diga baboseiras mamãe! — Daisuke franziu o cenho. — Os Shibuya sempre visitaram o templo de Kofuku Ebisu.

—Baboseiras?! — o rosto dela ficou vermelho — Só diz isso porque fomos umas das poucas famílias poupadas durante os incidentes do ano passado, aliais isso deveria ser razão em dobro para visitarmos Inari esse ano! — ela apontou direto para o rosto do filho — E se está assim tão certo de que deveríamos visitar Kofuku Ebisu, por que não vai você mesmo Daisuke?! Você nunca sequer sai dessa colina, se nem visita o templo, não tem direito de reclamar!

Se pudesse escolher Yukari diria que preferia visitar o templo de Sugawara no Michizame, pois iria começar seu último ano na escola e queria rezar por sorte nos estudos, mas não queria deixar a situação mais complicada ainda.

—Está decidido: nós iremos ao templo de Inari! — sua avó determinou.

—Hum… na verdade mamãe. — sua mãe pigarreou. — Acho que eu gostaria de ir ao templo de Ebisu, mas a senhora e Yuki deviam mesmo ir ao templo de Inari.

Yukari não disse uma só palavra.

E ficou em silêncio durante a maior parte do caminho junto com a avó e a mãe.

Tudo bem, se estavam indo ao templo de Inari, pelo menos se certificaria de comprar um amuleto para Aoi-chan.

—Nossos hóspedes a tem elogiado bastante ultimamente. — sua avó comentou quando sua mãe já havia descido do ônibus — Diligente e reservada.

—Isso é bom. — respondeu baixa e monótona.

—Eles não a conhecem como eu, você está muito calada! — a avó estalou a língua. — E isso desde o natal.

—Eu fui colocada em prisão domiciliar no meu quarto desde o natal. — comentou.

—Eu não nasci ontem menina, naquela noite você entrou correndo e foi para seu quarto tão rápido que eu nem percebi que estava sem casaco até Kaoru trazê-lo no dia seguinte, não é a toa que pegou um resfriado! Sorte não ter pegado uma pneumonia! — a mão da avó apoiada em seu braço apertou-a.

—Não é para tanto… — Yukari desviou os olhos para a janela, retorcendo as mãos enluvadas sobre o colo.

—Qual era a temperatura naquela noite mesmo? 5°C? — fungou cutucando-a com a ponta do guarda-chuva — O que aconteceu Yuki, você brigou com seus amigos? Ou foi aquele rapaz enorme? Ele com certeza ficou muito perturbado quando eu lhe disse que você tinha adoecido.

—Ninguém fez nada.

Era a verdade. Sempre tivera noção do quão inumanamente insensível e descarado era Gintsune, ela mesma havia se humilhado sozinha, e só de pensar em tudo que dissera naquela noite…!

A avó suspirou pesadamente.

—Seu pai pode ser obtuso para qualquer assunto além daquela amada pousada dele, mas sua mãe está preocupada também. — mas como Yukari manteve-se em silêncio durante vários minutos, ela apenas mudou de assunto: — Você realmente não tinha outra coisa para usar além desse casaco surrado e essas trancinhas?

Yukari franziu o cenho.

—Meu casaco cumpri bem a função de me aquecer vovó, portanto é perfeitamente adequado.

Mas aquela resposta pareceu inaceitável para a avó:

—Deveríamos honrar e mostrar toda nossa gratidão aos deuses por sua proteção e bondade, por isso temos que estar vestidas da melhor maneira possível! — ela própria estava usando seu melhor quimono e haori de inverno — Especialmente você, que passará por seu primeiro Yakudoshi esse ano! — de repente a avó levantou-se a puxando junto consigo — Desceremos aqui!

 

 

 

—Essa não é nossa estação. — respondeu confusa — Ainda faltam duas estações para…

—Vou te comprar um casaco novo e botas!

Yukari arregalou os olhos.

—Vovó, isso realmente não é necessário!

Mas já seguia para a saída do ônibus.

—Claro que é necessário Yuki, não ouviu o que acabei de dizer?

—Não é hora disso agora! — tentou dissuadi-la antes que elas descessem do ônibus — Temos que fazer a visita ao templo e hoje é o último dia…!

—Temos o dia todo para isso! — a avó jogou as moedas da passagem de ambas dentro do caixa do ônibus e curvou-se em agradecimento para o motorista — Muito obrigada pelo serviço, tenha um ótimo ano.

—Cuidado ao descer, por favor. — o motorista respondeu educadamente. — Feliz ano novo.

—Vamos Yukari! — a avó chamou-a já descendo — Quer ter sete anos de azar?

E sem opções Yukari a seguiu.

—Mas avó…!

—Quer ganhar um gorro novo também?!

Então Yukari se calou.

*.*.*.*

Os sapatos eram desconfortáveis e Momiji os retirou junto com as estranhas meias para sentir melhor a areia entre seus pés, ao mesmo tempo em que subia as saias com uma das mãos e na outra segurava um grande e redondo copo de vidro grosso com awamori e gelo.

—Veja as estrelas To-chan. — comentou erguendo o olhar. — Achei que não houvesse mais estrelas assim nas cidades.

Foi quando um vulto passou por ela em alta velocidade, deixando para trás mais da metade do banquete de sete pratos uma dúzia de garrafas vazias de awamori, as calças, botas e meias, Gintsune seguiu correndo em direção ao mar, arrancando também a jaqueta, o gorro — na verdade aquele chapéu de palha trançada transmutado, do qual ele nunca se separava — e a camisa antes de saltar entre as ondas, ali ele mergulhou e desapareceu da superfície.

Com os longos cabelos prateados brilhando suavemente na escuridão, ele deslizou cada vez mais fundo por entre cardumes de peixes, aproximando-se dos recifes de corais, seu corpo tornando-se aos poucos mais liso e flexível, enquanto seus membros retrocediam até que desaparecessem, tornando-se assim um imenso peixe de quase dois metros de comprimento, não estava habituado àquela forma, então não conseguia imitá-la à perfeição e tampouco mantê-la por muito tempo, mas de qualquer jeito não precisava de muito, labaredas fantasmagóricas de fogo azul se acenderam em torno dele enquanto ia submergindo cada vez mais no silêncio e na paz…

“Por que me sinto assim? Me diga!”

Mas aparentemente não havia silêncio, escuridão, bebida ou diversão capaz de calar seus pensamentos.

É verdade que sempre preferiu os cenários mais urbanos, porém também havia sentido falta daquilo, há quanto tempo não mergulhava no oceano? Nem sequer conseguia se lembrar.

Essa costumava ser sua vida no passado, relembrou-se, sempre viajando de um lado para o outro, nunca se fixando em um mesmo lugar por mais de alguns meses, então aquele tengu estúpido apaixonou-se pela esposinha e a trouxe ao mundo de ambos, depois vieram os garotos e Gintsune soube que se os deixasse sozinhos eles virariam aperitivos.

E algo semelhante também se passava em Higanbana, não é?

Ora, por que mesmo agora, simplesmente ainda se mantinha em um mesmo lugar por tanto tempo? E mesmo quando viajava, sempre retornava ao ponto de partida?

… certamente não era apenas por que a cidade era interessante.

Era Yukari.

Gintsune suspirou — peixes suspiravam? — ela havia se tornado sua importante amiga, e ele tinha que cuidar dela… mas ao invés disso, havia se descuidado, sido impulsivo e, consequentemente, a machucado.

O tengu, a esposinha e os garotos também… será que estavam bem?

Gintsune havia os deixado sozinhos em seu mundo há tanto tempo… e se algo houvesse acontecido a eles, certamente haveria uma chuva de fogo.

Assim como sua amada irmã, quantos séculos ela sofrera apenas para protegê-lo?

Que sua irmã nunca o escutasse, mas ele era um verdadeiro estúpido.

Pois isso era o que sempre fazia: Esquecia-se e se descuidava de quem lhe eram realmente importantes!

Ele havia destruído restaurantes, lojas e mercados, invadido fábricas, e talvez até depredado alguns monumentos históricos, mas sempre tinha o cuidado de que ninguém saísse seriamente machucado em nenhuma de suas empreitadas.

E então?

De que lhe adiantava ter tanto cuidado com estranhos, quando, ao fim, seus amigos mais preciosos acabavam tão ou mais lastimados quanto seus joguetes?

De que adiantava?!

—Como foi seu mergulho To-chan? — a irmã sorriu-lhe erguendo os olhos do livro que lia sentada na areia ao vê-lo retornar já quando o sol despontava no horizonte.

Ao lado dela estavam seus sapatos e meias e todas as roupas do irmão, perfeitamente dobradas e organizadas em uma pilha.

—Revigorante e esclarecedor!

Puxando para si uma garrafa ainda cheia, Gintsune tomou um longo gole de bebida, antes de girar e arremessá-la quilômetros de distância em direção ao mar, explodindo-a no céu com uma bola de fogo que, por alguns segundos, iluminou o céu como um segundo sol azul.

—To-chan? — Momiji piscou fechando o livro.

Com ou sem véu os protegendo do resto do mundo exterior, uma explosão daquele calibre certamente não deixaria de ser notada, ela já podia sentir humanos parando no calçadão, olhando para o céu e comentando assustadas.

O irmãozinho puxou suas calças da areia para vesti-las, juntamente com uma nova garrafa de awamori.

—Eu me sinto ótimo! — garantiu gargalhando e emborcando a garrafa.

O véu caiu em torno deles, alguns humanos começaram a notá-los ali, apontando-os e falando entre si, “Quem eram aqueles?” “O que estavam fazendo na praia?” “Certamente haviam sido os responsáveis pela explosão de agora a pouco!” Aquele homem estava seminu?”, e obviamente não demorou a que um homem de bicicleta em um uniforme de polícia assoviasse agudamente com seu apito em direção a eles.

—Oi! — gritou-lhes — O que estão fazendo aí?!

Parecendo nem tê-lo escutado, To-chan atirou mais uma garrafa vários quilômetros em direção ao mar, fazendo-a explodir em chamas azuis no céu, e vários humanos gritarem de medo e admiração.

—Parem aí! — gritou-lhes aquele mesmo guarda de antes, agora abandonando sua bicicleta no calçadão e correndo em direção a eles pela areia. — Parem agora mesmo!

Ainda não parecendo notar a aproximação do humano que corria e gritava com eles, apitando estridentemente, To-chan pegou mais uma garrafa em cada mão e começou a brincar de malabarismo com elas.

—Ouça irmã, você sabia que aqui nessa…

Ele havia começado a falar quando, de repente aquele guarda humano os alcançou, passando por Momiji e pisoteando as roupas de To-chan na areia ao agarrá-lo pelo ombro.

—Soltar fogos de artifício sem licença na praia é…!

Começou a ralhar-lhe em um tom ultrajante que fez os cabelos da nuca de Momiji se eriçarem, mas então, mais rápido que qualquer um de seus raios, o homem saiu voando, com seus pés erguendo-se desajeitados e seu corpo caindo pesadamente entre os pratos de comida do pequeno jantar das raposas.

Momiji piscou o que havia acontecido?

—Ah sinto muito, minha intenção não era te machucar. — To-chan comentou com um sorriso selvagem, que recordou Momiji do pai, estalando as juntas dos dedos de uma mão, enquanto segurava as garrafas com a outra — Não, isso é uma mentira deslavada! — Ele gargalhou jogando os cabelos para trás, antes de curvar-se e agarrar o homem inconsciente pelo colarinho — Eu sou um grande cretino manipular e mentiroso, sabia? Mas hoje tive uma grande revelação! Se sempre vou acabar sendo a razão direta ou indireta daqueles que me são importantes saírem machucados, então por que eu deveria me segurar com meros estranhos? Mas que saber? — Jogou o policial de lado, fazendo-o rolar diversas vezes na areia. — Eu não me importo mais!

Girando novamente ele arremessou em direção ao mar dessa vez duas garrafas de uma vez, explodindo ambas.

Momiji nunca o vira agir daquela forma, mas ao guardar o livro dentro da manga e se colocar de pé, ela viu que no calçadão várias pessoas haviam pegado seus celulares e filmavam toda a cena, eletricidade estalou em volta do corpo da raposa, por mais que seu adorável príncipe amasse ser visto e admirado, ela não permitiria àqueles reles humanos tratá-lo como uma monstruosidade de algum espetáculo para satisfazer suas mórbidas curiosidades.

De uma só vez muitos espectadores na multidão gritaram quando seus celulares tiveram um curto circuito e uma corrente elétrica percorreu seus braços desde a mão com a qual seguravam o aparelho, fazendo-os os largarem por reflexo, ao mesmo tempo em que os gritos assustaram e dispersaram o restante da multidão.

Ao longe Momiji ouviu sirenes que se aproximava rapidamente.

—Ouça irmã, você sabia que aqui nessa ilha você pode encontrar muitas praias com grãos de areia em forma de estrela? — To-chan a chamou com um sorriso brilhante que nada tinha haver com o sorriso selvagem de agora a pouco, enquanto juntava na areia tantas garrafas quanto conseguia e as colocava magicamente dentro de seu gorro transmutado — E sabe quando eles aparecem mais facilmente?

Momiji limpou a areia de suas hakamas com as mãos enluvadas e sorriu-lhe.

—Não To-chan, diga-me.

Um par de carros de polícia parou abruptamente na estrada acima deles, e uma dupla de policiais saiu de cada um deles.

—Alto! — gritou um policial — Mãos para cima!

Nenhum dos dois lhe deu a mínima atenção, e com um sorriso absolutamente inocente, Gintsune respondeu à irmã:

—Após um tufão!

*.*.*.*

… meteorologistas ainda estão à procura de uma explicação para o inesperado tufão de categoria um que atingiu a costa das ilhas de Okinawa, tendo seu epicentro próximo as ilhas de Taketomi, na última noite de sexta-feira, dia 4…”

Yukari deixou as bandejas caírem.

—Sinto muito! — ela sobressaltou-se, recolhendo tudo novamente — Por favor, me perdoem, limparei imediatamente!

—Está tudo bem querida. — a gentil senhora a reconfortou — Todo mundo comete erros.

Ainda assim Yukari continuou a se curvar por repetidas vezes, enquanto recolhia tudo e deixava o quarto, lá dentro ainda podia ouvir o casal de idosos conversando enquanto a televisão noticiava sobre o inexplicável tufão nas ilhas de Okinawa:

—E você queria ir para Okinawa assistir o eclipse solar. — dizia o marido.

—Okinawa é o melhor lugar no país para se observar o céu, e eu também queria fugir do frio! — respondeu a esposa — Mas ainda bem que não fomos.

Yukari afastou-se, nem todos os eventos estranhos que aconteciam no país podiam ser culpa de Gintsune e sua irmã, ela estava paranoica e tinha que parar de pensar nele!

Sabia que certamente ele não estava pensando nela enquanto vagabundeava e farreava por aí.

Ocupar sua mente com trabalho era isso o que precisava, pois sempre que se encontrava ociosa sua mente vagueava para onde não deveria.

—Yuki, aí está você. — a avó a interceptou aos pés da escada — Preciso que faça algo por mim, está ocupada?

—Eu ia limpar o quarto 103… — respondeu envergonhada.

—Esqueça, eu faço isso por você. — a velha senhora puxou um envelope e uma bolsinha de moedas de dentro do obi — Pode ir até a loja de conveniências e enviar essa carta? Eu mesma iria, mas hoje está incrivelmente frio para as minhas juntas.

É verdade que a avó costumava ser menos ativa no inverno.

—É claro avó. — concordou inclinando levemente a cabeça. — Irei me trocar agora.

—E use seu casaco e seu gorro novos!

A loja de conveniências mais próxima ficava na esquina ao final da rua, mas como já estava fora, Yukari resolveu estender sua viagem um pouco mais… atravessando a ponte e indo além do grande campo de higanbanas, até uma ruazinha adjacente ali próxima.

A tabuleta acima da campainha dizia “Nishiwake”.

—Yukari-chan? — Aoi-chan recebeu-a confusa saindo de casa depois que o irmão foi chamá-la.

—Boa tarde, Aoi-chan, desculpe por ser inconveniente e vir tão repentinamente. — Yukari curvou-se.

—Não é nenhum inconveniente.

Aoi-chan negou, aproximando-se, mas antes que ela pudesse abrir o portão, Yukari segurou-lhe a mão.

—Não pretendo entrar, serei rápida. — afirmou um pouco sem jeito — Eu só queria te dar isso, pretendia dar-te na escola, mas como tive a oportunidade de vir aqui, pensei… é um amuleto protetor.

Aoi-chan olhou impassível para o pequeno embrulho de seda vermelha depositado na palma de sua mão, antes de sorrir letargicamente para Yukari.

—Obrigada por se preocupar Yukari-chan, eu vou guardá-lo debaixo do travesseiro, mas já está tudo bem agora, eu não tenho mais pesadelos… não tenho sonho algum. — suspirou aliviada — Tudo acabou.

Yukari tentou sorrir de volta, sim, parece que tudo tinha acabado mesmo, pois após aquela cena que fizera na ponte, duvidava seriamente que algum dia Gintsune retornasse a Higanbana, já que ele sempre perdia o interesse em seus brinquedos depois de conseguir quebrá-los.

*.*.*.*

Música alta e luzes coloridas piscando.

Pessoas dançando e gritando para serem ouvidas.

Corpos amontoados e diversão.                    

Um lugar onde deveria ser quase impossível ouvir os próprios pensamentos… mas não era o bastante.

Prensada contra a parede ela riu e deixou que as mãos dele lhe explorassem o corpo, enquanto ela própria deslizava uma mão jaqueta adentro por seu peitoral, e a outra descia por suas costas, abraçando-o e trazendo-o para mais perto de si.

—Oi, o que você acha de irmos a um lugar mais reservado? — ele lhe sugeriu perto de seu ouvido, descendo pelo pescoço.

—Mais reservado… — ela repetiu languidamente — Por quê?

Seus dedos se entrelaçaram na nuca dele, ah… ela o faria mesmo dizer com todas as palavras, não é? Tão má e provocadora…

—Para que possamos nos divertir a sós.

—Oh… mas já estou me divertindo tanto aqui. — ela espalmou ambas as mãos em seu peitoral.

—Posso fazê-la se divertir muito mais. — ele prometeu.

E ela? Ela simplesmente riu em sua cara.

—Ah sim, aposto que sim… — desdenhou — Mas não estou interessada.

Empurrou-o fazendo-o se desequilibrar de leve antes de esquivar-se e unir-se a multidão dançante, mas mesmo se aquele homem a tivesse tentado detê-la e segui-la, não poderia, pois aquela bela mulher deixou de existir no momento em que sumiu na multidão… mas um belo homem alto e de longos cabelos negros surgiu não muito tempo depois, se dirigindo ao bar enquanto acabava de inspecionar uma carteira que tinha em mãos.

Alguns documentos e cartões. Constatou Gintsune. Ah! Ali! Algum dinheiro finalmente!

Pegou as notas e jogou a carteira fora de qualquer jeito, por que humanos agora andavam com tão pouco dinheiro? Essa já era a sétima ou décima carteira, e eles pareciam gostar mesmo de cartões, desse jeito ele teria que começar a invadir suas mentes para pegar as senhas, sempre que quisesse pegar uma carteira… mas a graça estava justamente pegar as carteiras sem usar nenhum truque adicional, apenas experimentando quantos pequenos objetos pessoais ele era capaz de surrupiar-lhes sem que percebessem enquanto os distraia… mas talvez tivesse sido um jogo sem graça desde o inicio.

Humanos eram tão facilmente ludibriados, que pegar suas carteiras, relógios, anéis, celulares etc. não tinham graça desde o começo.

Escolheu no cardápio do bar uma bebida que ele sequer conseguia pronunciar o nome corretamente, uma tal de “Vodka Margarita Rosa”, só porque a cor parecia interessante, estava mexendo distraidamente no celular que recolhera junto com a carteira, digitando uma conhecida combinação de números que só por acaso havia memorizado no mês passado — esse, provavelmente, era o resultado de ser bom com números — quando ouviu aquele choro bem próximo a si.

Caramba. Suspirou enfadado, ele não deveria nem conseguir ouvir os próprios pensamentos ali, mas por que parecia que o choro daquela mulher estava perfurando seus tímpanos? Não queria ouvir choro ou histórias tristes, então estava pensando em virar-se e oferecer-se para pagar-lhe alguma bebida, mas havia alguém entre ele e a mulher, a quem Gintsune não havia reparado antes, e parecia estar falando algo para a mulher chorosa:

—Você sabia que eu sou casado…

Então era só um caso extraconjugal, nada de novo afinal, eles podiam resolver sozinhos, apesar de que poderiam ter escolhido um lugar melhor para a conversa, Gintsune agradeceu por sua bebida com um gesto e bebeu um gole, já olhando a volta para escolher seu próximo alvo, mesmo que seu jogo de pegar pequenos pertences estivesse extremamente sem emoção até ali… talvez se começasse a colocar pertences de outras pessoas nos bolsos umas das outras, ficasse interessante…?

Mas, por mais que não estivesse interessado, o choro da mulher continuava se fixando em seus ouvidos:

—Mas você me disse que me ajudaria… — ela soluçava — Nos conhecemos desde a escola, e eu pensei… mas agora nunca poderemos voltar a sermos amigos!

Sua taça estilhaçou-se.

—Senhor…! — o barman assustou-se.

Entretanto Gintsune estava com a mão no ombro do sujeito, virando-o para si.

—Oi amigo, dá licença. — gritou-lhe, porque os humanos não tinham ouvidos tão bons para captar sons.

—Que foi? Estou ocupado! — o sujeito gritou-lhe de volta, só que bem menos amigável.

—Sim, isso eu estou vendo. — Gintsune cansou-se de gritar, então estava simplesmente projetando sua voz nos ouvidos e mente do sujeito, que não pareceu perceber — Pelo que ouvi vocês dois tiveram um caso, estou certo? Não que eu tenha moral ou vontade para me meter nisso.

Quantas vezes ele havia sido o terceiro de uma relação a dois?

—Sim isso mesmo, então não se meta!

Ele tentou dar-lhe as costas, mas Gintsune apertou seu ombro dolorosamente.

—No entanto, se eu ouvi direito, essa mulher acaba de dizer que vocês eram amigos de longa data? — Gintsune esticou os lábios, mostrando-lhe as presas, mas havia uma expressão animosa demais em seu rosto para se confundir aquele gesto com qualquer tipo de sorriso — O quão vil e baixo precisa ser um sujeito para ferir e descartar alguém a quem via como amigo antes? Foi divertido seduzi-la? Foi divertido brincar com seus sentimentos?

—Você está bêbado?! Solte-me! — O homem reclamou tentando afastar a mão, cujas garras já se cravavam em seu ombro — Cale-se imbecil, não sabe do que está falando, isso não tem nada haver contigo!

—Sua intenção era machucá-la desde o inicio ou foi só um estúpido que pôs tudo a perder por impulso?!

Sem conseguir livrar-se do agarre, o adultero, já no limite de sua paciência, virou-se e tentou socar-lhe, mas Gintsune — por fim largando seu ombro — segurou-lhe o punho no ar.

—Essa foi uma ideia ruim. — advertiu-lhe com um sorriso selvagem. — Você não pode me machucar.

Foi um conselho de amigo, e até bem generoso, mas aquele pobre estúpido não quis escutá-lo e puxou o punho de volta para outra tentativa de golpear-lhe, dessa vez Gintsune não teve vontade de detê-lo.

O soco acertou-o do lado esquerdo da mandíbula, mas ele não sentiu o que deveria, ou tampouco se moveu, e sequer piscou, quando o sujeito recolheu a mão, segurando-a junto ao peito e gemendo de dor.

—Avisei-te que não pode me machucar, embora, eu admito, bem que mereça.

Afirmou calmamente, apesar do sorriso distorcido que tinha em seus lábios, agarrando o homem pela frente da camisa e, com um simples giro do braço atirando-o por cima do balcão do bar e fazendo-o chocar-se com as prateleiras feitas de vidro onde estavam todas as bebidas.

O som do vidro se estilhaçando e do grito da mulher antes chorosa pareceram se erguer duas vezes mais alto que a música.

Ah, aquilo sim lhe aliviava a mente de alguma forma.

Aquilo sim tinha alguma emoção!

Rindo e jogando os cabelos para trás, Gintsune saltou sobre o balcão, para pegar o maldito.

Gritos, confusão, garrafas quebradas — alguém o acertou por trás? — agora sim estava divertido.

—Que escolha você tem agora maldito? — ele perguntou-lhe entre um soco e outro — Vai deixá-la ir? Quer que ela te esqueça? Não, não quer…! Mas se regressa ao lado dela vai feri-la! Então a dor ou o esquecimento, qual deles…?!

Suas palavras seguintes foram afogadas em álcool, dois jorros espumantes que encharcaram seus cabelos e roupas.

—Que impertinente da sua parte causar todo esse tumulto na minha casa. — uma voz feminina o repreendeu, a música havia parado, embora as luzes coloridas continuassem piscando. — Como pretende me pagar por todo o prejuízo?

Parada do outro lado do balcão estava uma elegante mulher usando longos cabelos prateados presos em uma trança frouxa jogada de lado sobre um dos ombros, e vestindo um conjunto de saia social preta e blusa tomara que caia listrada com decote coração com um grande paletó branco feminino jogado por cima dos ombros.

—Têm ideia de quanto custava todas essas garrafas? — perguntou-lhe suspirando entediada, mantendo o tempo inteiro a atenção no grande celular vermelho que segurava — Isso sem mencionar que acabo de desperdiçar duas das minhas melhores garrafas de champanhe por sua causa.

Próxima a ela no balcão havia duas garrafas de vidro verde e rótulos dourados, pingando sobre poças espumantes.

Então isso é champanhe? Gintsune lambeu a mão, sentindo o sabor da nova bebida. Nada mal.

Um par de mãos agarrou seus braços e o colocou de pé com um solavanco, ainda encarando a mulher Gintsune não tentou resistir.

—O que faremos com ele, senhora? — perguntou um dos brutamontes que o havia agarrado — Devemos chamar a polícia?

—Sim, façam isso, e chamem uma ambulância para esse pobre infeliz também. — ela respondeu — E enquanto espera, mantenham nosso baderneiro trancado lá nos fundos para esfriar… — finalmente erguendo os olhos para encará-lo, ela deteve-se — Esperem! — deixando o celular de lado, aquela expressão de tédio foi sumindo enquanto um sorriso crescia lentamente em seus lábios — Ora. Que lindo rosto o seu.

—Ouço muito isso. — Gintsune sorriu-lhe de lado. — E que olhos fascinantes os seus.

Eles eram verdes e profundos, quase como joias de jade.

—Ouço muito isso. — ela sorriu-lhe de volta. — Soltem-no. — ordenou com um movimento de mão — Como se chama?

Diante das dezenas de olhares confusos, sem entender o que estava se passando ali, Gintsune colocou as mãos nos bolsos da jaqueta.

—Gin.

—Realmente? — a mulher duvidou — Pois bem, Gin, eu gostei muitíssimo de seu rosto, na verdade estou até impressionada.

—Eu costumo gerar esse efeito. — Gintsune anuiu.

Um brilho de divertimento pareceu surgir nos olhos da mulher, enquanto o analisava.

—Você me parece um homem bastante interessante, sabia Gin?

—Que coincidência, eu também acho que você deve ser uma mulher muito interessante.

—Chamo-me Arisu. — apresentou-se lhe entendendo uma mão — Estaria interessado em dividir uma garrafa de champanhe comigo, Gin?

Mas o tom em sua voz parecia sugerir bem mais do que apenas uma garrafa de champanhe para aquela noite.

Gintsune aceitou sua mão estendida.

—Encantado.

*.*.*.*

Era impressionante como mesmo não tendo olhos, narizes e bocas, as mulheres sem rosto eram perfeitamente capazes de transmitir seu desgosto e censura a Ryosuke enquanto tratavam dele.

—Não é nada grave, eu só estou um pouco sem prática. — garantiu rindo sem graça enquanto Natsu lhe enfaixava as costelas.

Após analisar em silencio sua perna por algum tempo, Aki lhe estendeu um pedaço de pano enquanto, com a mão livre, indicava o local onde deveria haver uma boca em seu rosto, mas Ryosuke recusou.

—Estou perfeitamente bem, pode continuar. — autorizou, Aki anuiu e, com uma mão segurou firmemente sua coxa enquanto com a outra dava uma forte batida no joelho do dragão o recolocando no lugar e fazendo-o urrar momentaneamente de dor. — Obrigado pela assistência… senhoras. — ofegou enfiando os braços nas mangas do quimono e arrumando-o — Isso é tudo…

Gritos.

Um minuto de paz seria impossível, certo?

Ryosuke suspirou se levantando.

Desde que cedera seus aposentos para Ohika-chan, ele vinha dormindo em seu escritório, mas Kanji já tinha coisas demais com o que se preocupar para ter tempo de perder mais penas ainda com isso.

—Ryosuke-sama! — Ofuyu gritou vindo correndo em sua direção ao vê-lo.

Sendo as tsurara-onnas uma espécie tão efêmera e delicada que era incapaz de existir além do inverno, derretendo sempre que o calor da primavera se aproximava, não era de se estranhar que ela também houvesse se tornado tão facilmente em alvo de certas brincadeiras… como, por exemplo, ser perseguida por um trio de velas voadoras.

Acolhendo-a em um abraço protetor, ele destruiu as velas com um único movimento de suas garras.

E nem podia imaginar o autor de tal brincadeira, mas, se tivesse que chutar, diria que foi o mesmo individuo que poucos dias atrás misturara o arroz dos onis com cola e seu saquê com vinagre.

—Você está bem, Ofuyu?

Perguntou afastando-a delicadamente, pois até o calor de um contato direto prolongado poderia ser prejudicial à delicada estrutura física da mulher de gelo.

—Um pouco de cera pingou no meu ombro. — ela respondeu enfiando o indicador até a segunda falange no buraco resultante.

Ryosuke passou a mão pelos cabelos.

—Ofuyu, talvez fosse mais seguro se você deixasse o castelo por um tempo. — sugeriu.

Ofuyu não recebeu bem a noticia, ela contraiu-se levando as mãos ao peito.

—Deixar o castelo?! — assustou-se.

—Mas não quero que saia da cidade! — tentou acalmá-la, de fato tentar sair da cidade naqueles tempos conturbados seria muito mais perigoso. — Eu lhe arrumarei acomodações, é claro…

—Eu fiz algo de errado mestre? — ela contorceu as mãos.

—Não, de jeito nenhum! Eu só acho que seria mais cômodo…

Ofuyo lançou-se contra ele, agarrando-se firmemente com os braços em volta de seu corpo.

—Eu só posso viver durante o inverno, então não desperdiçarei nem um dia que seja longe de meu mestre, mesmo que isso possa encurtar drasticamente meus já reduzidos dias, ou torná-los nos meus últimos, pois amo-o com todo o meu coração mestre!

Ainda que ela tivesse fugido tão desesperadamente de um pequeno grupo de velas, parecia não haver problemas em se atirar direto nas chamas de um dragão!

Empurrando-a delicadamente pelos ombros, como se tivesse medo que ela se desfizesse ao seu toque — na verdade tinha um pouco — Ryosuke jogou a cabeça para trás suspirando alto e expirando uma fina coluna de fumaça pela boca, se Ofuyu iria permanecer ali independente dos riscos, então parece que só lhe restava uma opção… embora tivesse a impressão de que aquele pedido iria cair em ouvidos tão surdos quanto dizer à tsurara-onna que era mais seguro para ela não passar aquele inverno no castelo.

Ainda assim ele foi procurar pela raposa feiticeira no pátio de Apreciação ao Luar, nem mesmo Ryosuke sabia dizer exatamente quando e muito menos como, mas em algum momento as raposas aparentemente haviam se mudado para seu castelo, apesar de que felizmente a raposa prateada passava a maior parte do tempo fora “cuidando de seus assuntos” a feiticeira e seu filhote ainda eram perfeitamente capazes de causar uma quantidade razoável de inconvenientes: com a mãe tomando posse do ambiente como se fosse seu próprio laboratório de experiências e o filhote correndo solto e desenfreado pelos corredores, misturando vinagre e saquê ou usando velas encantadas para perseguir os moradores.

—Okuro-youko-sama. — chamou inclinando levemente a cabeça ao chegar ao pátio. — Poderia ceder-me um momento?

Mas não havia uma feiticeira ali, e sim três, cada uma delas se ocupando de uma tarefa distinta: a primeira andava pelo jardim, coordenando um grupo de raposas tubos que voavam para todos os lados carregando pinceis, tinta e pergaminhos, a segunda, sentada próxima a entrada, estava esculpindo uma máscara em madeira, com uma muda de roupas dobradas ao seu lado, e a terceira, a original, estava ajoelhada às margens do espelho d’água no centro do jardim, com os cabelos amarrados no alto e as mangas recolhidas, enquanto trabalhava em uma espécie de boneco de madeira de tamanho humano, com três raposas tubo que iam e vinham trazendo-lhe ferramentas.

—Boa tarde, seja bem vindo mestre dragão! — a raposa e suas duas cópias o saudaram, mas somente a original se deteve em sua tarefa e seguiu falando: — Estou realmente muito agradecida por toda a sua gentileza em nos receber aqui e generosidade em nos ceder este lugar, ele é perfeito para meus objetivos, está quase tudo pronto, inclusive Tamaki se encarregou de limpar o céu para que as estrelas estejam bem visíveis quando o momento chegar e tenho certeza que logo reencontrarei meus filhotes.

—É gratificante ouvir isso, senhora. — Ryosuke pigarreou com as mãos ocultas dentro das mangas — E falando em seus filhotes, o mais novo…

—Sim, ele está muito contente também! — ela o interrompeu alegremente — Meu raio de sol é um espírito livre e aventureiro, mas você deve entender mestre dragão, que em um mundo como o nosso não é assim tão simples deixar nossos bebês livres para brincarem onde quiserem.

—É claro. — concordou por falta de opções.

—Por isso que é tão importante que tenhamos encontrado esse lugar seguro onde minha doce esperança possa correr e explorar livremente.

—Ah sim, sobre isso. — Ryosuke recomeçou — É claro que ele é um filhote cheio de energia e curiosidade, mas talvez fosse melhor ter um pouco mais de cuidado pra que ninguém se machuque...

—Entendo perfeitamente o que quer dizer, mestre dragão! — quem respondeu foi à cópia sentada próxima a ele, aquela que esculpia uma máscara — Também não acho que seja bom meu raio de sol passar o dia todo ocioso, então lhe dei uma tarefa para ocupar-lhe um pouco.

De repente Ryosuke teve um mau pressentimento.

—Que tipo de tarefa?

—Para encontrar e trazer a garota de gelo até mim! — respondeu alegremente — Um espécime tão raro, eu não poderia perder a chance de vê-la mais de perto e acrescentá-la a minha coleção!

Ryosuke enrijeceu.

—O que quer dizer com isso senhora?

A cópia de raposa sorriu-lhe e, sem responder coisa alguma cobriu o rosto com a máscara de madeira branca e impassível que acabara de esculpir.

Parando para pensar, aquelas velas não estavam fazendo Ofuyu correr exatamente naquela direção?! Ela definitivamente tinha que sair do castelo o quanto a…!

Explosões. Gritos.

Ryosuke virou-se, achando por um momento que algum ataque sorrateiro havia alcançado o castelo, mas se deteve um instante depois, o som das explosões era pequeno demais para ser de um ataque, mesmo que parecessem estar se aproximando…

—Mestre salve-me! — Ofuyo gritou surgindo para lançar-se sobre ele novamente.

Naquele ritmo aquele seria o último inverno da pobre e delicada tsurara-onna!

O dragão voltou-se seriamente para a raposa original:

—Ouça senhora, eu realmente acho que deveríamos impor alguns limites!

Mas ela obviamente não o estava escutando.

—Oh querido muito bem. — a raposa que coordenava as kudagitsune o parabenizou batendo palmas. — Você a trouxe!

—Eu teria trazido antes, mas o dragão me atrapalhou! — o filhote negro respondeu chegando com o chapéu de palha pendurado na parte de trás do pescoço e tendo o rosto e as mãos cobertos de cinzas — Ele destruiu suas velas, mãe!

—Não tem problema querido! — a feiticeira original garantiu — Você merece um prêmio!

O premio foi um chute em suas costas que o mandou rolando direto pela neve e a grama.

—Esse maldito explodiu nosso mingau! — Akira vociferou com os cabelos e as roupas todas lambuzadas de pé onde antes Anko estivera — Akio está parecendo uma bola de lama e mamãe não vai acabar de lavar e secar os cabelos até a primavera!

Cada uma das três feiticeiras reagiu de uma maneira diferente quando Akira voou para dentro do jardim e ele e Anko começaram a trocar socos e pontapés.

—Parem! — gritou a cópia que coordenava as kudagitsunes — Se moverem uma pedra sequer de lugar e estragarem meu ambiente eu juro que irei amarrá-los de ponta cabeça e deixá-los lacrado em uma caverna escura por nove dias!

E com um único movimento ordenou que seus ajudantes os separassem e imobilizassem.

—Oh querido, isso seria muito inconveniente, pois vou precisar dela amanha de manhã. — a feiticeira original alegou ao mesmo tempo, cobrindo os lábios com as pontas dos dedos.

Mas foi a reação da segunda cópia, aquela que estava trabalhando na máscara, aquela que mais alarmou Ryosuke e Ofuyo:

—Oh querida, que esplendido que está aqui, eu preciso do seu rosto!

Exclamou voando em direção a eles com as mãos estendidas, mas o dragão interpôs-se entre elas.

—Meu rosto? — Ofuyu sussurrou com um fio de voz. — O que quer com meu rosto?

—Okuro-youko-sama explique-se! — o dragão exigiu.

Rindo e flutuando no ar, a cópia de feiticeira encolheu as pernas enquanto abraçava a máscara recém terminada contra o peito antes de começar a explicar:

—Eu sou uma artesã de máscaras mágicas nas horas vagas, porém para fazer minhas máscaras de metamorfose eu preciso de espécimes frescas, mas infelizmente a maioria dos youkais é tão tímida e retraída que se recusam a colaborar com minha arte… e meu atencioso marido sempre tem que cortar suas cabeças para que eu a consiga.

Ryosuke podia sentir Ofuyu tremendo atrás de si, e fazer uma mulher de gelo tremer não era uma tarefa simples.

—Mas infelizmente conseguir a cooperação de uma tsurara-onna não é tão simples. — a cópia de raposa suspirou deitando-se de costas no ar e deixando a cabeça pender para trás, ainda com as pernas encolhidas e abraçando a mascara junto ao peito — São tão retraídas… e quando morrem derretem imediatamente e se transformam em água, por isso cortar suas cabeças está fora de questão.

Para ela cortar cabeças parecia ter o mesmo peso de colher flores.

—Então senhora, como exatamente pretende usar a cooperação de Ofuyu? — Ryosuke perguntou cuidadosamente.

A feiticeira sorriu-lhe, e sua voz respondeu por de trás deles:

—É algo muito simples, na verdade, só preciso de um pouco de energia residual e ninguém sairá ferido, eu prometo…

Espere! Por trás?!

Mas antes que Ryosuke pudesse se virar, Ofuyo gritou sendo puxada para longe do amo, uma terceira cópia da raposa negra a havia capturado, abraçando-a por trás e colocando em seu rosto a máscara que até então estivera nas mãos da segunda cópia.

—Calma querida, eu só preciso de um pouco de sua energia residual, só vai levar alguns minutos. — murmurou calmamente para uma aterrorizada Ofuyu — Não precisa ficar nervosa, não queremos que seu medo fique impregnado na máscara também…

Ryosuke suspirou relaxando, por que ela sempre precisava agir de forma tão extrema e suspeita quando queria algum favor?

Um pouco mais além deles, a primeira cópia de raposa chorava e lamentava-se com os dois garotos amarrados que eles por pouco não estragaram todo o trabalho duro dela, enquanto a feiticeira original lhes mostrava alegremente as roupas que havia separado para todos usarem na cerimônia.

Ter que perder várias horas lavando e secando os cabelos durante um dia de inverno e sem o privilégio de poder secá-los ao sol certamente não estava nos planos de Mayu, e mesmo com a ajuda de Oma, Botan e três ame-onnas que atuavam como criadas de banho, e até alguns truques de magia de Ryosuke-sama, o trabalho ainda foi longo e cansativo, levando assim todo o resto do dia e parte da noite até finalmente acabarem, de forma que ela mal teve duas horas de sono antes de ser despertada para começar a se arrumar para a cerimônia de Furin.

—E estes são os trajes que Furin-sama pediu-me para usar? — questionou diante do espelho — Estou parecendo uma noiva… ou um sacrifício.

Qualquer que fosse a conclusão a qual chegassem, era certo que Satoshi e os meninos teriam um ataque do coração quando a vissem.

—É chegada a hora, senhora. — Oma a avisou.

Mayu estendeu seus braços para pegar Akio, sentia-se melhor com o peso reconfortante do bebê do que segurando um leque cerimonial.

Satoshi e os garotos estavam esperando-a no fim do corredor, Satoshi e Akihiko ostentavam os longos cabelos soltos nas costas e todos os três usavam trajes cerimônias de monges guerreiros e seguravam leques de folha.

—… de vento é quase tão natural para os tengus quanto o fogo é para as raposas. — Satoshi estava dizendo aos filhos.

—Então por que nunca vimos o senhor fazer nada disso? — Akihiko questionou virando o leque de um lado para o outro nas mãos.

Satoshi riu.

—É que eu sempre fui um aluno terrí…! — e então ele a viu e perdeu a fala.

Mayu esperou que ele dissesse algo, trocando o peso do corpo de um pé para o outro e balançando Akio nos braços, inclusive os garotos estavam olhando o pai, parecendo à espera de algum tipo de reação dele, mas os segundos continuaram a correr e se transformar em minutos, e Satoshi permaneceu em silêncio, sem reação alguma.

—Com licença, honoráveis convidados. — Botan pigarreou por fim — Mas precisamos nos apressar.

—Ah, sim, claro. — Satoshi piscou saindo de seu transe — É só que… Mayu… — e aí vinha, Mayu se preparou, ele teria um ataque porque parecia que ela estava servindo de oferenda ou de noiva em alguma cerimônia… Satoshi a beijou. — Você está tão linda que acho que acabei de me apaixonar cem vezes mais por você!

Exclamou fascinado.

—Ah… obrigada. — Mayu sorriu-lhe — Você também está lindo, devia soltar o cabelo mais vezes.

E fingiu não ver os filhos disfarçando suas caretas pondo as máscaras metálicas em forma de bico.

Encontraram Tennyo Hikari vindo pelo caminho oposto, carregando uma peça de tecido que devia ser aquela que se ocupara tecendo nos últimos dias e escoltada por seu pai e a pequena Yuri-chan, vestindo roupas cerimoniais brancas tal como Mayu — embora tenha arrancado as mangas novamente.

—Eu geralmente uso roupas vindas do continente do outro lado do mar, mas essas aqui também são interessantes! — exclamou vindo saltitando na direção deles, antes de rodopiar e voltar-se para o jardim: — Vamos! Estou ansiosa por meus presentes!

—Que presentes? — perguntou Akira.

—Eu os previ!

Furin os esperava vestida como uma sacerdotisa e, pela primeira vez não portava sua máscara de raposa branca, o jardim de apreciação ao luar havia sido meticulosamente limpo de toda a neve e arrumado, esferas de fogo azul flutuavam delimitando o perímetro, — embora ainda fosse de manhã — pedras com símbolos estranhos circundavam o espelho d’água, com sete almofadas dispostas diante dele, — pois aparentemente Botan e Yuri-chan, sendo meras criadas, não estavam convidadas — e mais ao fundo, Tamaki segurava Anko no colo.

Mas a diferença do resto, o pai e o irmãozinho de Gintsune não estavam elaboradamente arrumados, porém Mayu supôs que o fato de Tamaki não estar desalinhado e coberto de sangue já indicava um esforço extra por parte dele.

—Sejam bem-vindos queridos, por favor, fiquem a vontade para se sentarem onde quiserem! — Furin os recepcionou alegremente, indicando os assentos com um movimento de sua manga esvoaçante.

Hikari fez questão de sentar-se à direita de Mayu, então Satoshi apressou-se em sentar-se logo á esquerda dela, Ryota ajeitou-se ao lado da filha, e os garotos ao lado do pai.

—Me desculpem pelo atraso. — Ryosuke-Sama pediu sentando-se no único lugar vago, ao lado de Ryota.

Ele também não estava arrumado formalmente, o pobre Kanji-san devia estar realmente esgotado.

—Seja bem vindo mestre dragão! — a raposa curvou-se — Muito bem, então primeiro de tudo eu gostaria de lhes agradecer por sua cooperação com alguns presentes! — quando Furin bateu palmas, seus assistentes depositaram um baú diante de Tennyo Hikari e uma pequena caixa diante de Mayu — E antes de começarmos, querida deusa oni, você trouxe o que eu lhe pedi?

—Perfeitamente, e ninguém mais o tocou assim como à senhora instruiu.

A deusazinha confirmou estendendo a peça de tapeçaria, mas Furin afastou-se dobrando as pernas e flutuando no ar.

—Tamaki, meu amor, ajude-a a queimar, mas não use as suas chamas. — Furin acenou com a mão por cima do ombro para o marido que colocou o filhote no chão e aproximou-se tirando dois pedaços de bambu da manga — Como vocês sabem meus queridos, todos nós, de humanos a youkais a deuses, somos feitos de energia, embora alguns a possuam e sejam influenciados em maior grau que outros. — ela começou a explicar, tocando os pés no chão novamente — E os objetos têm a capacidade de armazenar energias residuais, é assim, por exemplo, que artefatos feitos por humanos se tornam youkais e artefatos feitos por youkais duram sem se desgastar por séculos, por isso pensei que algo tecido pessoalmente pelas mãos de Hikari-chan, com toda a sua dedicação seria a melhor maneira de coletar um pouco da energia divina de nossa deusa oni, necessária para que eu pudesse abrir um portal entre os mundos, afinal os deuses estão entre um dos poucos seres capazes de atravessar entre os mundos. — Furin lhes deu as costas — Tudo seria tão mais simples se eu pudesse apenas abrir o portal e então puxar aqueles meus dois filhotes desgarrados de seja lá onde estiverem naquele outro mundo…! — suspirou — Mas infelizmente não tenho como rastrear aquelas duas crianças assim de tão longe! — bateu o pé no chão — Por isso será necessário que alguém o atravesse e vá buscá-los pessoalmente… eu mesma iria, mas já tivemos muita discussão a respeito disso por aqui. — ela olhou brevemente por cima do ombro para o marido, e depois virou o rosto novamente com ar indignado — Primeiro de tudo que essa é minha primeira vez tentando esse encantamento então ele provavelmente será muito instável, de forma que nem posso garantir a segurança de quem o atravessar ou tão pouco se realmente irá funcionar, e também devido a essa instabilidade seria muito mais fácil puxar algo de volta ao seu próprio mundo do que empurrá-lo a outro, por isso, devido à minha grande quantidade de energia espiritual, sou uma candidata completamente inadequada ao experimento. Portanto, Mayu-chan, o que quero dizer é: — Furin girou novamente, virando-se para eles com as palmas das mãos unidas — Seus filhos, que possuem uma energia espiritual de quantidade apenas razoável e que são pertencentes aos dois mundos, são aqueles mais adequados para a viagem! — Mayu enrijeceu agarrando Akio e sentindo os olhos enchendo-se de lágrimas, seus filhos não…! — Mas é completamente contra os meus princípios separar uma mãe de seus filhotes.

Furin continuou, após quase ter feito Mayu ter um ataque do coração.

—E-então o que fará-á Furin-sama. — forçou-se a falar, mesmo que estivesse engasgada com seu coração na garganta.

—Ah sim, Satoshi, poderiam segurar o bebê para Mayu-chan por um momento?

—O que pretende fazer com ela?!

Satoshi eriçou-se no mesmo instante, atraindo um olhar perigoso de Tamaki, mas Furin manteve-se tranquila e sorridente:

—Eu só quero um pequeno favor dela. — afirmou retirando uma máscara branca de dentro da manga — É claro que eu não poderia pedir a Mayu-chan que fizesse esse sacrifício, pois ela pertence àquele mundo e não possuo qualquer garantia de que seria capaz de trazê-la de volta, então Mayu-chan, você pode colocar isso para mim por alguns minutos?

—É… é claro. — Mayu colocou a mascara com mãos tremulas — Mas então quem irá…?

—Alguém sem nenhuma energia própria e também perfeitamente descartável! — respondeu alegremente.

Quando ela estalou os dedos, um grupo de kudagitsunes derrubou aos seus pés um corpo todo desmantelado que usava as roupas de viagem de um monge guerreiro, o corpo estremeceu e começou a erguer-se com uma série de estalos e movimentos estranhos e antinaturais, mas quando afastou o capuz branco, foi Ryosuke quem enrijeceu e se espantou por um momento, pois a face completamente lisa o fez confundir a estranha criatura com uma de suas nopperas-bo, mas então ele percebeu também a ausência de cabelos e orelhas e, o mais importante: aquele ser era feito de madeira.

—Oh, fazia tempo que eu não criava um shikigami tão especial!— Furin comemorou dando pulinhos enquanto sua criatura recebia das raposas tubo uma grande mochila de madeira — Eu o chamei “Mokujin” e o vesti como um monge itinerante para que não chame atenção no mundo humano enquanto procura meus filhotes!

—É espantoso… — admirou-se Ryosuke.

Hikari também bateu palminhas.

—O que preciso fazer para também conseguir um brinquedo desses?

—Podemos falar sobre isso mais tarde querida. — garantiu. — Ah, Mayu-chan, assim já está bom!

Afirmou pegando de volta a máscara com Mayu, e quando a colocou no rosto do boneco sua aparência automaticamente transformou-se para um rosto humano, um rosto bonito, é verdade, mas de alguma forma impossível de definir entre o feminino e o masculino.

—Furin, está pronto. — Tamaki avisou-a, lhe entregando um porte de cerâmica.

—Muito obrigada meu amor, e bem a tempo: já estamos prestes a começar! — ela agradeceu tirando do pode um punhado de cinzas, certamente tudo o que restara da trama tecida pela deusa oni, e as atirando no espelho d’água — O mais provável é que o portal vá se abrir onde primeiro meu querido filhote caiu, pois lá o tecido será mais frágil, mas ainda assim duvido que ele tenha permanecido no mesmo lugar por muito tempo. — Seu riso foi alegre e tilintante quando as raposas tubo tiraram o pote de cerâmica de suas mãos e o guardaram na mochila de madeira de Mokujin. — É claro que eu sozinha não teria forças para um feitiço de tal magnitude, então eu precisaria de algo para formar uma ligação entre esse mundo e o outro, foi quando pensei: o céu que vemos aqui ainda deve ser o mesmo que vemos naquele mundo! — A penumbra caiu sobre eles, rapidamente tudo começou a escurecer, Satoshi e Mayu deram-se as mãos, o que estava acontecendo?! — Está começando! — Furin exclamou erguendo os braços, de frente ao espelho d’água — Ah sim, eu não sei exatamente o porquê, mas aja o que houver, não olhe para o céu Mayu-chan!

Quando Furin-sama começou a entoar seu cântico, uma forte corrente de ar começou a erguer-se e rodopiar aos seus pés espalhando-se e fazendo as chamas azuis tremeluzirem, um a um os símbolos mágicos gravados nas rochas começaram a brilhar, até que a água no espelho d’água também estivesse brilhando e rodopiando, o som do vento e do cântico de Furin era ensurdecedor, a pressão e a eletricidade no ar fizeram os ouvidos de Mayu estalarem, e ela encolheu-se, abraçada por Satoshi.

Mokujin, impassível a tudo se cobriu novamente com seu capuz e deu um passo à frente, e outro e mais outro, até que estivesse lentamente entrando e submergindo no espelho d’água, mais do que seria logicamente possível e, por fim, desaparecesse ali.

Algo negro, pequeno e felpudo pulou ao encalço do shikigami e desapareceu na água.

—Não! — Furin gritou agudamente, interrompendo seu cântico — Não! — ela tentou chorando em desespero lançar-se na água, mas Tamaki a puxou de volta e segurou-a — Meu bebê não! Não! — gritou agudamente, conseguindo libertar um de seus braços e estendê-lo a direção à água — Solte-me! Solte-me! Meu raio de sol…!

—Furin, pare! — Tamaki rugiu puxando-a para trás, enquanto ela se contorcia, chorava e gritava.

Ela não o escutava, raios estouraram no ar, as asas de Satoshi surgiram de suas costas, estendendo-se para proteger sua esposa e filhos, enquanto Ryosuke ergueu um escudo para proteger a si mesmo e a seus hóspedes.

—Você tem que devolver meu bebê! — gritou agudamente, arranhando-se e rasgando as próprias roupas em desespero — Solte-me Tamaki eu tenho que buscar meu raio de sol…! Kazuki!

Mas mesmo que ela o eletrocutasse e ferisse, Tamaki não a soltou, até que todas as pedras com símbolos mágicos explodissem, e o portal na água se fechasse.

Furin caiu de joelhos no chão, curvando-se e chorando em desespero.

—Tamaki! — chamou tremula e furiosa, sem erguer-se, eletricidade estalava violentamente no ar — Como pôde?! Eu…! — ela ergueu-se, baixando as mãos e olhando com o mais profundo ódio para o marido de pé ao seu lado — Eu odeio-te!

A penumbra foi se desvanecendo e a luz do dia reassumindo lentamente seu lugar de direito, mas luz alguma poderia alcançar o coração obscuro de uma mãe que perdera seu pequeno bebê.


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Notas finais do capítulo

Pensei em terminar o capítulo após o encontro entre Gintsune e Arisu, mas é que a cena do ritual do eclipse solar ficou tão boa que seria um desperdício não usá-la como uma cena final!!!
Embora eu deva admitir que até eu fiquei um pouquiiiiinho nervosa com o final desse capítulo! O.O
Então só para descontrair aqui vai uma curiosidade aleatória: "Mokujin" foi uma pequena referência minha a um personagem da série de jogos de luta Tekken. XD

Curiosidades do Japão:

Choya Umeshu Ltd.: é uma empresa japonesa sediada em Habikino, Osaka, Japão, especializada na produção e venda de licor de ameixa umeshu.

Jardim Botânico de Nagai (Osaka Nagai Shiritsu Shokubutsuen): é um jardim botânico no canto sudeste de Nagai Park, Higashisumiyoshi-ku, Osaka, Japão. Uma taxa de admissão é cobrado. O jardim contém o Museu de História Natural de Osaka, assim como uma coleção de espécies 1.000 de flores e árvores ao redor de uma lagoa central.

Momotaro: Momotarō, é um popular herói do folclore japonês.

Praia com grãos em forma de estrela: Okinawa é uma ilha conhecida por suas incríveis praias, e uma delas é Hoshizuna. O mais fascinante desse local é a areia estelar. Se você olhar com bastante atenção para a areia dessa praia, poderá ver que ela possui grãos que são do formato de uma estrela. Os pequenos grãos em forma de estrela não são realmente areia. E sim os exoesqueletos de minúsculos protistas chamados Baclogypsina sphaerulata. Se você quiser encontrar muitas dessas criaturas estelares e seus exoesqueletos, é melhor vê-los se acumulando após um tufão. E, normalmente, esses tufões acontecem durante o período do verão.

Yakudoshi: O Yakudoshi refere-se à idade importante de uma pessoa tanto do ponto de vista social quanto do próprio corpo.

Bestiário:

Kejoro: É um youkai com longos cabelos esvoaçantes que tem a aparência de uma prostituta e pode ser visto em distritos da luz vermelha. Apesar de sua aparência horrível para os humanos, o kejōrō é bastante popular entre os yokai. Tão popular, de fato, que os yokai machos frequentemente brigam entre si por ela, competindo por seu afeto. Kejōrō parece retornar essa devoção também; em algumas histórias, um kejōrō corta seu cabelo e o envia para seu amante (humano ou yokai), ou tatua seu nome em sua pele para provar sua devoção eterna a ele.



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