O Mistério da Lua - Livro I escrita por salutetrangeer


Capítulo 5
El Parque de Atracciones


Notas iniciais do capítulo

O que acharam da lenda que assombra a cidade? Misteriosa não? O que acham que houve com o curandeiro?



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— Como eu disse, as lendas são famosas. – Pablo disse a respeito do velho senhor – Ele te machucou? – Segurou em meu braço esquerdo onde uma grande marca de mão vermelha anunciava que algo havia acontecido, suas mãos eram grossas e macias, ele tinha um grande cuidado para não me machucar.

— Não, está tudo bem. – Respondi olhando-o mais de perto, seus detalhes eram tão especiais, tão únicos.

     Seguimos em direção ao parque de diversões, minha cabeça um tanto quanto confusa por mais que eu tentasse esquecer, algo me remetia à todas as coisas que aconteceram nos últimos dias, a senhora da conveniência, o pesadelo bizarro, o corte na panturrilha, as lendas da cidade e agora o velho mendigo. É tudo coincidência, você só precisa de um psicólogo ou se distrair. Pensei.

https://www.youtube.com/watch?v=iMEhjsiHbwM 

   Chegamos no parque de diversões, a brisa arenosa com cheiro de maré do pacífico era como morfina em meu corpo. Estacionamos novamente no pequeno espaço ao lado, fomos direto para a bilheteria onde Pablo comprou diversos ingressos azuis e vermelhos. O cheiro de doces, adultos e crianças segurando balões coloridos de gás hélio e a música típica de parques de diversões me traziam certa nostalgia, quando mais nova eu e papai sempre íamos ao circo e havia um pequeno parque de diversões ao lado.

    Primeiro fomos no tiro ao alvo, onde posters com arcos de pontuações poderiam nos fazer ganhar ursinhos, bonecas ou mais ingressos, Pablo ganhou um grande ursinho marrom com coroa de flores e rosto de catrina.

— Aqui, um presente. – Disse com ar triunfante enquanto seguíamos para o próximo brinquedo.

     Fomos na grande montanha-russa, gritando enquanto as curvas íngremes e descidas assustadoras empurravam nossos corpos para os lados e para fora, com os braços para o alto e gritando anunciávamos a adrenalina altíssima presente em nossas células. Depois, fomos num grande Chapéu-Mexicano com luzes amarelas piscantes, as banquetas voavam e com os dois braços abertos eu podia sentir tanta liberdade quanto um grande pássaro levantando voo num campo florido ou num grande mar verde com folhas e montanhas, sorri para ele que retribuiu abrindo os braços musculosos. Em seguida, o brinquedo escolhido era um tipo de montanha-russa na água, onde saímos os três – eu, Pablo e o urso – completamente ensopados, rindo de todo o percurso realizado.

— A sua cara de assustado foi a melhor. – Ri relembrando quando ele segurava as barras de ferro com medo, antes de cairmos na água gelada.

— Eu tenho medo de altura, faz parte da vida. – Respondeu com gestos de obviedade – O que acha de pescarmos? – O olhei e sorri, indicando minha resposta.

     Chegamos na barraca de pescaria, uma garota com cerca de dezesseis anos pegou nosso último ingresso e me entregou uma comprida e fina vara de pescar. A pequena piscina infantil em minha frente com peixinhos e conchas ao redor fazia-me desconcentrar, cerrei os olhos procurando o peixinho certo que valia mais pontos, era o dourado com pintas vermelhas, primeira tentativa péssima, segunda uma calamidade, respirei fundo e calmamente enrosquei o anzol na argolinha vermelha do peixinho.

— Aaaaa! – Gritei e pulei abraçando Pablo que ficou surpreso por minha reação – Eu sou incrível, a melhor pescadora de peixinhos de plástico dourados. Onde está meu prêmio?

— Vocês ganharam dois tickets para o Castelo Mal-Assombrado 8D. – Esse era o ingresso mais caro e único que não compramos, primeiro porque não gosto de coisas mal-assombradas e segundo porque não queria ir, mas já que havíamos ganho os dois ingressos porque não tentar? – O castelo fica ao lado do carrossel, só seguir em frente. – A simpática moça sorriu e seguimos a procura do brinquedo.

     Não era tão grande quanto imaginávamos, haviam duas torres altas, grandes portas duplas e janelas com tinta escura o que impedia de vermos o que acontecia lá dentro, a música bizarra fez meus ossos congelarem.

— Tem certeza disso? – Pablo questionou vendo a expressão de pânico em meu rosto.

— Temos que enfrentar nossos medos. – Respondi imponente.

     Nos acomodamos no pequeno carrinho com quatro lugares já ocupado por outras duas pessoas, sentamos e o funcionário do brinquedo de camiseta vermelha nos entregou os óculos 8D e fechou as travas.

— São os últimos. – Anunciou para o colega de serviço. O carrinho começou a andar, e meu estomago revirou.

     A primeira sala era como uma tela preta com cheiro doce, caveiras tenebrosas surgiram rindo e gritando por todos os lados, vindo em nossa direção voando, nos abaixamos e passamos ilesos por ela, em seguida o carrinho parou num tranco e uma única luz branca se acendeu em nossa frente iluminando a próxima atração, referência de O Exorcista, a garota deitada na cama sendo invadida por legiões de demônios e o padre tentando exorcizá-la, o casal em nossa frente gritava o suficiente para ficarem roucos assim que saíssemos, depois ouvíamos barulhos de todos os cantos e a partir dai me arrependi amargamente de entrar num brinquedo desse, a última atração era a grande sala cheia de corpos mutilados pingando sangue falso e pedidos de socorro.

     O carrinho finalmente concluiu seu terrível trajeto, o mesmo funcionário de antes abriu as travas de segurança e saltei o mais rápido possível para fora fugindo do show de horror, devolvemos os óculos e passamos a caminhar pelo parque.

— Eu definitivamente odeio qualquer coisa relacionada à terror. – Suspirei e ele riu, uma bela risada sincera e gostosa como a nona sinfonia*. Vimos uma daquelas caixas antigas que cabiam até cinco pessoas tirando fotos instantâneas polaroids, o puxei pelo braço até lá.

     Em todas as fotos estávamos com caretas, línguas para fora, ou cara de tédio forçado, na penúltima no entanto o abracei pelo pescoço sentindo o cheiro de coco em seus cabelos macios desejando que não percebesse meu interesse, ele me olhou e na última foto estávamos tão próximos que pude sentir o hálito de doce de leite do churros que comemos minutos antes. Ele era lindo, incrível, estupidamente, lindo, gentil e carinhoso.

— Preciso ir ao banheiro. – Falei me afastando, saímos da caixa e segui para o banheiro a poucos metros sem olhar para trás.

     Entrei no ambiente com dez cabines intercaladas em cor rosa, vermelho e laranja, lavei o rosto e observei meu reflexo no espelho você se lembra do que houve da última vez, não deve se apaixonar por ninguém, não deve ousar fazer isso, pelo bem dele. Suspirei e um cheiro esquisito exalou, forte e intenso, era carniça talvez algum animal fora atingido por caçadores na floresta e correu para o banheiro onde achou seguro. Abri uma por uma das cabines e quanto mais próximo à ultima cabine mais forte o cheiro ficava, meu coração estava apreensivo e meu corpo se contraindo novamente um tanto quanto desconfiado, empurrei a porta alaranjada, meus ossos congelaram e um grito agudo escapou por minha garganta.

 


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Notas finais do capítulo

Nona Sinfonia*: Composição instrumental de Bethoveen.



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