Semanas Depois

Scorpius passou dias tentando se convencer que tinha tomado a decisão certa. Ele e Rose não dariam certo. Os dois sempre tiveram um prazo de validade, eram diferentes demais, gostavam de coisas distintas, as famílias eram rivais há séculos... não valia a pena.

Mesmo assim ele não conseguia parar de pensar nela, no sorriso, no rosto, na forma como os dedos dela se entrelaçavam nos dele... mesmo assim ele não conseguia parar de pensar que cometera um erro, os dois claramente se gostavam e faziam bem um para o outro.

Além disso, não conseguia esquecer as coisas que Rose havia dito... sobre gostar dele, sobre ter visto ele saindo da festa com Cecile, sobre ter chorado a noite toda no ano novo, sobre passar todo o tempo treinando para tentar esquecê-lo... ele fez praticamente a mesma coisa.

Ele não conseguia esquecê-la e ela também não conseguia esquecê-lo, então por que não evitar dois sofrimentos? Por que não se darem uma nova chance.

...

Julho de 2017

—Preciso da sua coruja.

Rose pediu quando entrou na casa de Judith.

—Bom dia para você também.

Retrucou a morena ainda sonolenta.

—Cadê a Bang?

Rose perguntou sem dar muito atenção para amiga.

—Rose, cadê a sua coruja?

—Em casa. Preciso mandar uma carta para Scorpius, mas não posso mandar pela Sparkles, ele a conhece.

—Scorpius? – Judith falou despertando – Scorpius? Rose, você me prometeu que não ia mais continuar com essa história de ir atrás dele. Ele deixou bem claro que não quer mais nada.

—Eu prometi que não ia mais te meter nesse assunto e ele falou que não confiava em mim para arriscar entrar em uma relação novamente, é bem diferente.

Desde a última conversa com Scorpius, Rose estava determinada a reconquistá-lo.

—Rose, ele não quer mais nada. Merlim, eu sei que términos são difíceis, mas você precisa deixar isso para trás

—Você não entende.

Respondeu a ruiva indo em direção ao piado na varanda.

—Ok. Vamos fazer assim... eu deixo você usar minha coruja se, apenas se, sair comigo e as meninas hoje.

—Tudo bem. Eu saio com vocês hoje.

...

Agosto de 2017

Zabine e Scorpius jogavam uma partida de videogame quando mais uma das cartas de Rose chegaram. Desde que tentara voltar com Scorpius em junho, ela mandava uma carta por mês. Apesar das bicadas que levou da coruja dela Scorpius deixou a carta em cima da mesa e colocou a coruja para fora.

“Não vai abrir?”

Perguntou Zabine já sabendo a resposta.

“Não”.

Declarou Scorpius secamente. Não queria abrir as cartas de Rose, não queria saber o que ela tinha a dizer, não queria dar uma nova chance aos dois, porque seu coração não se recuperaria se desse errado novamente.

“Deixa eu ver se entendi. Rose Weasley, uma das mulheres mais lindas do mundo está correndo atrás de ti e você está se fazendo de difícil? Sabe o 90% da população masculina e parte da feminina dariam para ela pelo menos saber da existência deles?”

“Não estou me fazendo de nada. Simplesmente não quero manter nenhum tipo de contato com ela, só isso”.

“Não quer contato com a mulher por quem está apaixonado e nem pela mulher por quem deveria estar apaixonado?”

Scorpius revirou os olhos.

O loiro estava disposto a esquecer Rose a todo custo. Era surpreendente o quão fácil tinha sido se apaixonar por ela e o quão difícil era esquecê-la. Mas, seu coração não podia se dar ao luxo de tentar novamente com a ruiva. As diferenças eram gritantes demais. No fim, pensou ela, infelizmente ela tinha razão: a relação dos dois estava fadada ao fracasso.

Zabine balançou a cabeça contrariado. Para alguém tão inteligente era difícil acreditar o quanto Scorpius poderia ser burro para algumas coisas, principalmente coisas sentimentais.

....

Setembro

Scorpius não ficou surpreso sobre o quão fácil era conversar com Cecille. Ele não precisava pensar muito sobre o que falar, o assunto simplesmente fluía.

—Sinto muito que tenha me convidado para sair.

Comentou ela enquanto cortava a sobremesa.

—O que quer dizer com isso?

Ele perguntou sem compreendê-la.

—Bom... Se está aqui comigo é porque não deu certo com a mulher misteriosa.

O loiro forçou um sorriso com a menção de Rose. Cecille notou a mudança nele, de repente a expressão de Scorpius tornou-se mais forçada e sua postura corporal mais tensa.

—Isso é passado. Acho que acabei confundido as coisas. Pensei que era uma história de amor e era só uma tragédia grega, um Romeu e Julieta, bom pelo pouco tempo que durou, mas sem final feliz porque os dois personagens estavam tão preocupados com suas próprias presunções que esqueceram de conversar um com o outro.

  -Uau. A maioria dos homens não comparariam sua relação anterior com uma das maiores histórias de amor da humanidade, eles diriam “ela é louca” e mudariam de assunto.

—Não foi uma história. Quer dizer... no início pareceu, mas no fim era só uma tragédia.

—Pelo modo como você fala não acho que a tenha esquecido.

Cecille gostava de Scorpius, o achava inteligente, bondoso, divertido, mas temia que o coração dele ainda tivesse dona e ela não queria ser a segunda opção de ninguém.

Os dois se encararam por alguns segundos. Ele pensou em mentir, em dizer que tinha esquecido Rose há eras e que estava completamente disposto e aberto para entrar em outra relação, mas não parecia ser justo. Seus pais sempre foram muito abertos e sinceros um com o outro e se ele queria uma relação verdadeira deveria ser antes de tudo – verdadeiro.

—Estou em um processo de esquecimento. Infelizmente, como você deve entender, saber que não combina com alguém não é suficiente para expulsá-la do seu coração.

—Posso perguntar qual foi o motivo do término?

Scorpius deu um sorriso de canto de boca.

—Você.

Cecille o encarou sem entender.

—No dia que nos conhecemos, depois de deixar você em casa eu a encontrei e eu testava muito bêbado e acabei comentando que tinha conhecido a mulher perfeita para mim e falei as características que tínhamos parecidos. Eu expliquei que você era a mulher perfeita antes de conhecer ela, porque depois dela não haveria outra. Mas, eu associei a posição de mulher perfeita a características que ela não possui e isso mexeu com as inseguranças que sempre tivemos sobre termos personalidades diferentes. Ela presumiu que ao ficar com ela eu estaria jogando fora algo duradouro por algo passageiro e achou que o melhor era me afastar.

Cecille ficou triste em ter razão... o coração dele já tinha dona.

—Seus sentimentos por ela, nesse momento, são menos ou mais intensos do que o que sentia no ano novo?

Scorpius demorou um tempo para responder.

—Eu não sei. Gostaria de dizer que menos, mas eu acho permanecem o mesmo tanto com a diferença de que eu não me permito senti-los.

—Você é um homem legal, Scorpius. E como. E Merlim sabe o quanto eu preciso conhecer homens legais como você, mas seu coração... por melhor que você seja eu não estou disposta a ser segunda opção de ninguém.

—Entendo. Quando eu te chamei para sair achei que estava pronto para tentar, mas quando você a mencionou... eu percebi que ainda não estava. Sinto que eu tenha te feito perder tempo.

—Nós tivemos um ótimo jantar, uma conversa agradável e eu percebi que há homens bons por aí, só preciso encontrar algum que ainda não tenha sido fisgado.

—Quando eu a esquecer e eu vou esquecê-la prometo tentar outra vez com você, se ainda estiver solteira.

Cecille sorriu.

—Nós trocamos correspondência as vezes, nos damos bem, temos várias coisas em comum, acho que podemos nos considerar amigos, certo? – O loiro assentiu – Então como amigos eu acho que você deveria procurar essa garota. Acho que se ela ainda gostar de você com a mesma intensidade que você gosta dela deveriam tentar mais uma vez. Eu acredito do fundo do meu coração que você vai ter mais chances de sucesso se der mais uma chance para ela do que em tentar esquecê-la. No máximo você vai aprender como fingir não se importar, vai encontrar alguém que não se importe em ser sua primeira opção e ter uma vida amorosa mais ou menos. Talvez ela faça o mesmo e vocês vão passar o resto da vida vendo um ao outro tendo vidas amorosas mais ou menos se perguntando onde estariam se tivessem se dado uma chance.

—Ela me procurou... – confessou Scorpius – pediu desculpas, me pediu pra voltar, me mandou cartas, que eu nunca abri... acho que se nós tentarmos de novo e não der certo... não se se meu coração se recuperaria de um novo término.

—Vocês podem terminar, é um risco, mas vocês também podem passar o resto da vida juntos. Eu acho que você deveria arriscar. Se eu sentisse o que você sente por ela certamente não desistira tão fácil.

...

Scorpius não conseguia tirar a conversa com Cecille da cabeça. Ela tinha razão? Ele deveria arriscar dar mais uma chance para o relacionamento com Rose? Quando se deu conta tinha aparatado perto do apartamento de Rose. Aparentemente estava rolando uma super festa na cobertura dela e vários jornalista estavam nas calçadas aguardando algum furo de fofoca. Ele ficou algum tempo na frente do prédio, escondido dos paparazzi ainda tentando assimilar os conselhos de Cecille.

Ao chegar em casa finalmente resolveu abri as cartas de Rose.

....

Junho

Scorpius,

Ok, você tem toda razão, eu estraguei tudo.

Presumi coisas demais e não te ouvi quando deveria. Baguncei tudo.

Mas, escrevo essa carta com a esperança de que entenda meu lado.

As coisas entre nós dois foram acontecendo muito rápido e com muita intensidade. Nós dois tínhamos certos receios sobre nossas diferenças, inseguranças sobre aquela relação que estava surgindo.

Se coloque no meu lugar... se eu tivesse chegado para você e dissesse que tinha conhecido o homem perfeito... e se eu falasse que essa perfeição era justamente porque ele tinha uma personalidade completamente oposta à sua... você não surtaria também?

Eu sei o que você está pensando. Sei que pensa que se eu falasse “ele seria perfeito antes de te conhecer” você prestaria muito mais atenção nesse detalhe. E, ficaria feliz com por ser o meu novo modelo de homem perfeito. Assim, como eu fiquei nos primeiros minutos, após a sua declaração.

Mas, você esquece das nossas inseguranças, dos nossos medos, dos receios que tínhamos desde o início.

Eu fiquei quando ouvi que depois de mim ela não seria perfeita. Mas, depois eu tive medo. Medo. Medo que sua percepção estivesse sendo ofuscada por aquela relação que embora intensa, ainda estava no início.

E se nós estivéssemos certos sobre tudo? E se fossemos realmente diferentes de mais? Seria justo eu permanecer contigo e você perdesse a oportunidade de ficar com “a mulher perfeita”?

Quando eu vi vocês dois juntos no ano novo... vocês realmente pareciam perfeitos. Eu sei que você disse que estava falando de mim (e acredito nisso), mas de longe, Scorpius, de longe vocês pareciam perfeitos. E eu fiquei realmente com medo.

Vocês pareciam perfeitos juntos e eu percebi que não estava pronta para deixar você ir..., mas que chances eu tinha contra a mulher perfeita?

Logo eu... que era o oposto total.

Vai me dizer que sabendo de tudo isso se fosse o contrário você também não surtaria? Duvido muito.

Sei que continuo não sendo a mulher perfeita e tem grandes chances de vocês estarem juntos agora ou pelo menos tentando, mas eu não me importo em ser egoísta e pensar só em mim, não mais.

Esses meses longe de você foram os mais difíceis. Eu tive que preencher todos os momentos dos meus dias com tarefas, porque qualquer momento livre era um momento de pensar em você... e era doloroso demais pensar em você, pensar em todos os nossos momentos juntos e que eu tina estragado tudo.

Eu cometi um erro ao me deixar dominar pelas minhas inseguranças, mas você está fazendo o mesmo nesse momento. Se nosso sentimento é recíproco então porque não tentarmos novamente

Com amor, Rose. 

 

Agosto

Scorpius,

Espero que não tenha queimado a carta anterior sem ler.  Na verdade, para ser sincera, espero exatamente isso. Prefiro que tenha se negado a ler qualquer coisa minha do que ter lido e me ignorado. Quão ridículo é isso?

Eu odeio estar nessa posição de implorar, mas, aqui estou, porque eu tenho a esperança de que leia essa carta e perceba que está sendo tão tolo quanto eu fui. Já perdemos tempo de mais sofrendo pela ausência um do outro pelos meus erros, então porque insiste em repeti-los?

Sei que ainda gosta de mim tanto quanto eu gosto de você...

Só quero que nos dê mais uma chance?

Setembro

Você venceu Scorpius. Essa á última carta que eu mando. É a última vez que peço, é a última vez que imploro que deixe sua insegurança de lado e nos dê uma chance. Eu errei. Nós erramos, mas ainda gostamos um do outro, ainda não conseguimos nos esquecer.

...

Odeio você.

Odeio que não me responda.

Odeio não saber se me lê e ignora o que eu digo ou se simplesmente sequer se importa com o que eu tenho a dizer.

Odeio que provavelmente tenha seguido em frente enquanto ainda estou dando voltas em torno daquilo que um dia fomos.

Odeio ter estragado tudo.

Odeio que se recuse a nos dar uma chance.

Odeio que você tenha estragado tudo aquilo que seriamos.

Odeio ter quebrado minha promessa de que não te escreveria mais.

Odeio você.

Odeio, Odeio e Odeio você.

E, odeio principalmente não conseguir te esquecer.

.....

Rose demorou um tempo para se localizar quando acordou na manhã seguinte. Na noite anterior tinha feito uma festa de comemoração com as colegas de time e as coisas tinham fugido um pouco de controle. Sorriu lembrando-se vagamente que a Judith tinha contratado cinco strippers.

A sala como esperado estava uma bagunça, tudo revirado. Melissa, Jo e Jud estavam no andar de baixo sorridentes.

—Como vocês três ainda estão vivas?

Questionou Rose com a cabeça estourando.

—Toma essa poção.

Disse Jo dando um copo com uma mistura laranja para a ruiva. Ela virou em um gole e arrependeu-se rapidamente. Era a uísque de fogo com suco de laranja.

—Odeio vocês!

Disse para as três amigas que gargalhavam.

—Nós também te amamos, mas infelizmente temos que ir. Mel e eu temos que tomar café com os meus pais.

Jo disse. E as três se despediram.

—Por que vocês dormiram aqui?

—Tive que pedi reforço para elas. Fiquei com medo que você desse a doida de novo e fosse parar na casa de você sabe quem bêbada.

—Obrigada. Definitivamente não é um hábito que eu quero adquirir. Principalmente em prol de alguém que não se dar o trabalho de me responder.

Disse Rose indo em direção a cozinha.

—Então... sobre isso. Meio que chegou uma carta dele essa manhã.

Comentou Jud receosa. O conteúdo daquela carta ou colocaria o fim as tentativas de reconciliação de Rose ou lhe daria esperança.

Rose virou-se rapidamente em direção a amiga.

—Tem certeza que é dele?

Jud deu o envelope para Rose.

—Quase certeza.

Rose segurou nervosamente o envelope em sua mão. Colocou delicadamente na bancada da cozinha e começou a preparar o café da manhã.

As duas tomaram o café da manhã em completo silêncio.

—E se ele não me quiser mais? Eu tinha criado uma teoria de que ele nunca iria me responder porque sequer estava lendo minhas cartas. Mas, ele respondeu. Isso significa que ele leu, não é? Ou será que só tem “nós terminamos, por favor não me escreva mais, pois estou noivo”.

—Só há uma forma de descobrir isso... lendo.

Rose,

Eu sempre fui apaixonado por você, desde Hogwarts. Eu ficava te admirando pelos corredores, nas salas de aulas, no campo de quadribol... Sempre fui seu admirador, mas nunca passou pela minha cabeça que eu tivesse a mínima chance de ficar contigo. Você é o sol. Você irradia luz, energia sobre as pessoas. E eu? Eu não sou nada disso. O completo oposto, alguns diriam.

Então nós nos reencontramos e houve uma química imediata. Nós dois fomos inseguros, nós dois presumimos demais, nós dois fomos medrosos demais... Eu não tive/tenho medo de nos dar uma segunda chance porque meus sentimentos por você mudaram ou porque tenho outra mulher na minha vida, eu tive medo porque não tem como superar você, e acredite, eu tentei. Tentei te esquecer e o máximo que consegui foi não pensar em você sempre.

Usei todas as minhas forças para não ler suas cartas, mas fui fraco de mais para queimá-las.

Eu odeio ter magoado você.

Odeio tentar te esquecer.

Mas, não sei odeio não conseguir te esquecer.

Porque de ter na minha vida foi um dos meus melhores momentos.

Eu quero arriscar. Quero nos dar mais uma chance. Porque prefiro não dar certo com você do que dar certo com outra pessoa. Mas, tenho medo.

E, odeio sentir esse medo.

Sinto que não tenha respondido antes.

Com amo, S.M.

—O que isso significa? Ele quer dar uma chance, mas tem medo. Isso é um sim ou um não?

Rose perguntou nervosa.

—Bom, não é um fora.

Judith comentou olhando pelo lado positivo.

—E ele também está apaixonado por mim.

Disse Rose sem conseguir conter a felicidade.

Aquilo era animador. Não era totalmente o que ela queria ouvir, mas estava no caminho. Eles tinham uma chance. Era tudo que ela precisava.