Vila Baunilha escrita por Metal_Will


Capítulo 98
O amor nem sempre é o melhor tempero


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo, amores. Boa leitura! :)



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—Anne… - Gustavo se aproximava de Anne enquanto os dois arrumavam as cadeiras do restaurante.

—Chora, Gustavo - respondeu a garota.

—Você acha que a Kelly vai mesmo fazer um jantar? Mesmo com apenas...umas poucas aulas de culinária? - perguntou ele.

—Eu falei com ela hoje na escola e, olha, ela tá bem animada - disse Anne - Então, vai, vai sim.

—Tudo bem - disse o rapaz - Isso também faz parte do treinamento. Se não posso aguentar a comida dela, não estou pronto para me casar.

—Sabe, hoje em dia esse papo de que é a mulher que cuida da comida já tá mais que ultrapassado. Olha o meu pai. Ele cozinha bem melhor que a minha mãe - falou Anne, tentando animar o colega - Se você aprender a cozinhar, não vai precisar se preocupar com isso.

—O problema é que a Kelly está tão animada. Acho que ela gosta mesmo de cozinhar - falou Gustavo - Só que…

—Fala, pode falar.

—A comida dela está muito ruim…

—Sim, está. Ela vai precisar de apoio e de críticas construtivas.

—Críticas construtivas?

—Isso mesmo, Gustavo. Ninguém cresce só com carinho, não, viu? Você vai ter que ser sincero com ela se quiser que ela melhore.

Nisso, Kelly apareceu no restaurante para falar com Gustavo.

—Gu, amor! - disse ela - Ai, tô tão feliz! Falei com os meus pais e eles deixaram você jantar lá em casa na sexta.

—Deixaram, é?

—Sim - falou Kelly, toda contente - Vou me esforçar para preparar algo bem gostoso. Ah, Anne, muito obrigada mesmo pelas aulas. Sinto que estou melhorando bem!

—Mesmo? - foi tudo que Anne disse, tentando não lembrar que a amiga quase trocou sal por açúcar no outro dia.

—E você, amor. Fico te esperando na sexta, tá?

—C-claro - gaguejou Gustavo - Posso apostar que sua comida estará deliciosa.

Depois que Kelly saiu, Anne só olhou para o colega com um sorriso sarcástico.

—Achei que tinha sido clara na parte da “crítica construtiva”.

—O que eu podia fazer? Você viu a carinha dela? Como eu poderia falar alguma coisa que estragasse aquele sorriso?

Anne apenas suspirou.

—Você que sabe - disse ela - Não sou que vou comer mesmo.

—Isso...faz parte do treinamento - disse Gustavo para si mesmo em busca de conforto. 

Como todos vocês sabem, marcou data, ela chega. Finalmente a sexta à noite chegou e Gustavo estava na frente da casa de Kelly, vestindo sua melhor roupa, pronto para enfrentar seu destino.

—Espero que ela tenha melhorado desde a última vez - falou Gustavo para si mesmo antes de tocar a campainha. Kelly atendeu empolgada com um belo vestido preto.

—Amor. Que bom. Você veio - disse Kelly.

—Ah, garoto. Então você veio mesmo - disse doutor Renato, pai de Kelly, todo sorridente - Você realmente é um rapaz de ouro. Preciso parabenizá-lo.

—P-Parabenizar? - gaguejou Gustavo.

—Claro - disse doutor Renato, cochichando logo em seguida - Não é todo mundo que suportaria comer a comida da Kelly.

—Querido! - reclamou Edna, já adivinhando o que o marido deve ter falado - Para de falar bobagens para o garoto! Gustavo, estamos muito felizes por estar apoiando nossa filha nesse novo interesse dela.

—Não é nada - disse ele.

—Já está tudo pronto - falou ela - É só se sentar.

A mesa da sala de jantar estava com apenas duas cadeiras.

—Só duas cadeiras? - estranhou Gustavo.

—Sabe, quando a Kelly disse que gostaria de preparar um jantar para você, eu disse na hora: “Filha, você merece um jantar romântico a sós com o seu namorado! Eu e sua mãe não vamos atrapalhar em nada!” - explicou doutor Renato - Até jantamos mais cedo para não atrapalhar.

—O senhor é mesmo muito gentil - falou Gustavo.

—Ah, mas pode deixar que eu guardo um pouquinho para vocês - falou Kelly.

—Não precisa! - disse Edna rapidamente.

—É verdade - concordou Renato - Dê as sobras para o Gustavo. Vai ser útil para as viagens que ele faz a treino, certo?

—É mesmo, né? - entendeu Kelly - Pode sentar, amor. Já vou servir.

—Boa noite. Estaremos na sala se precisarem - disse doutor Renato.

—T-Tudo bem - gaguejou Gustavo.

Gustavo se sentou à mesa e começou a rezar. Kelly finalmente chegou com uma travessa de arroz, outra de salada e, enfim, o prato principal, um tipo de lombo assado.

—Não sabia que você rezava antes de comer - falou Kelly.

—É, acho que preciso estar espiritualmente em dia - disse o garoto.

—Pode servir.

—Obrigado - falou ele, pegando um pouco da salada. 

—Só vai pegar a salada? - perguntou Kelly.

—É que eu gosto de comer a salada antes do prato principal, sabe?

—Ah, entendi. Também vou fazer isso.

Os dois foram conversando e Gustavo comia o mais devagar que podia. A salada, pelo menos, estava comestível, já que o tempero foi a gosto dele. Kelly já havia terminado o seu prato há um tempo.

—Nossa, você come devagar, né?

—É que a gente precisa mastigar muito bem, sabe? Todos os médicos dizem isso. Pergunte ao seu pai.

—É, é verdade. Mas você leva isso bem a sério - disse Kelly - Vai, falta só esse tomatinho cereja.

“Um tomate cereja”, pensou Gustavo, suando frio ao olhar para o tomate cereja em seu garfo. “Esse tomatinho é o que pode estar me separando da minha morte. Só resta torcer para que Kelly tenha melhorado um pouco na cozinha. Já sei. E se ela comer primeiro? Se ela experimentar e ver que está horrível, não vou precisar comer!”

Gustavo comeu o último tomate. Kelly bateu palmas e começou a servir o prato principal.

—Vai, quero ver o que você acha - falou Kelly, olhando com olhos brilhantes para o namorado.

—V-Você não vai comer também?

—Come primeiro. Quero ver sua cara - disse ela.

“Parece que não tem jeito”, pensou Gustavo, fechando os olhos e encarando a primeira garfada. Foi a coisa mais…

“Horrível”, pensou Gustavo. “Acho que é a coisa mais horrível que comi na minha vida. Horrível, horrível, horrível, horroroso!”

—E então? O que achou? - perguntou Kelly.

—M-Maravilhoso - disse Gustavo com lágrimas nos olhos - Divino, delicioso.

—Mesmo? Deixa eu experimentar, então! - falou Kelly, correndo para pegar uma porção. Mas, ao colocar a primeira garfada na boca, sentiu um gosto pavoroso.

—Aff...acho que exagerei no sal e acho que não combina tanto colocar vinagre no arroz - falou Kelly - Que coisa horrorosa. Nossa, amor, seu paladar deve ser bem diferenciado para aguentar comer um troço desses.

—Bem, é que..

—Mas gosto é gosto, cada um tem o seu, né? - falou Kelly - Já que gostou tanto, vou preparar uma quentinha para você levar para casa.

—C-Claro - gaguejou Gustavo.

No canto da sala de jantar, Renato e Edna apenas viram tudo, balançando a cabeça negativamente em sinal de pena (por Gustavo, é claro).

No dia seguinte, Anne encontrou Gustavo no restaurante, terminando de comer sua marmita com lágrimas nos olhos.

—Não conseguiu falar, né? - perguntou Anne.

—Não! - exclamou Gustavo, abraçando Anne enquanto se derramava em lágrimas. Anne batia nas costas do amigo para consolá-lo.

É, aprendam, crianças: é melhor magoar sendo sincero do que não magoar fingindo. Vamos torcer para que Kelly melhore suas habilidades culinárias.


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Notas finais do capítulo

No próximo capítulo, começamos um novo arco. Até lá! :)



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