Vila Baunilha escrita por Metal_Will


Capítulo 94
Lembranças


Notas iniciais do capítulo

Mais um domingo, mais um capítulo. Boa leitura.



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Márcia era a nova aluna da escola e nova moradora da cidade. Enquanto Kelly acompanhava a recém-chegada no intervalo, Ema ficou na sala para conversar alguma coisa com Anne.

—O que eu tenho para dizer...é que você precisa arranjar sua situação com o Luciano o quanto antes! - falou Ema, em tom sério. Anne arregalou os olhos.

—Era isso que você tinha pra falar? E eu achando que era uma coisa mais séria. Nos poupe, né, Ema? - disse Anne, já levantando, mas Ema a segurou pelo braço.

—Você não está entendendo - disse Ema - Estou falando sério.

Pelo olhar da garota, Anne percebeu que ela realmente queria levar isso para frente.

—A Márcia - continuou Ema - A Márcia pode tirar o Luciano de você. Isso é sério.

Anne apenas olhou para Ema com um olhar de estranhamento.

—Tirar ele de mim? Mas, Ema, eu não tenho nada com ele - falou Anne - Escuta, eu sei que você gosta de arranjar companhia para os outros, mas essa brincadeira já tá indo longe demais. Você não pode controlar com quem os outros ficam ou deixam de ficar. Você precisa colocar isso na sua cabeça!

—Brincadeira - repetiu Ema - Já fui casamenteira de muita gente e pode apostar que eu sei quando duas pessoas nasceram para ficar juntas. E eu nunca senti isso tão forte quanto senti com você e o Luciano.

—Sentiu? Sentimentos são falhos, Ema. Você só tá enganada.

—Anne, tem certeza que quem não está levando a sério sou eu? - disse Ema - Olha no meu olho e fala que você não sente nada pelo Luciano. Fala. Se você me convencer, deixo vocês em paz.

Anne tentou, mas não conseguiu encarar Ema sem vacilar. Inevitavelmente, a lembrança do Lago do Coqueiro invadia as memórias de Anne sempre que esse assunto vinha à tona. Ela desviou o olhar.

—Desviou. Desviou o olhar. Viu? - disse Ema - O Luciano mexe com você de algum jeito, não mexe? Eu sei disso.

—Ai, nada a ver - mas Anne não conseguia falar isso olhando para Ema.

—Tá, tá, não precisa confessar pra mim o que eu já sei - disse ela - Só escuta o que eu vou falar. Se é verdade que você sente alguma coisa pelo Luciano e eu sei que sente, você precisa começar a se mexer, porque se a Márcia for mais rápida...aí eu já não posso mais ter certeza de como vai ser a sua vida amorosa.

—Essa sua certeza de quem os outros vão ou não ficar é o que me deixa mais irritada! - desabafou Anne - Amor não é uma coisa que dá pra controlar.

—Não controlo ninguém, só ajudo a crescer o que já existe - disse Ema - E eu já percebi, só de olhar, que a Márcia não mudou nada desde aquela época.

—Ah, é, vocês já se conheceram, né? - perguntou Anne.

—Sim, foi há uns seis anos. Éramos crianças.

Vamos voltar seis anos atrás para ver como Márcia e o resto da turma da sala 10 conviviam. 

*Início de flashback*

Uma pequena Márcia, com seus nove anos, andava pela pracinha da cidade colhendo trevos.

—Nossa, não tem mesmo - dizia ela - Nenhum trevo de quatro folhas.

Quando foi pegar o próximo trevo, acabou encostando sem querer na mão de Luciano em seus nove anos também, acompanhado de Luís.

—Opa, desculpa - disse a pequena Márcia.

—Não foi nada - falou o garoto (que já tinha o cabelo até bem comprido para a idade) - Eu estava procurando um trevo de quatro folhas pra dar sorte.

—Você também? - disse Márcia, animada.

—Vai me dizer que acredita nisso também? - comentou um pequeno Luís ajeitando os óculos - Isso é só superstição.

—Supersti...o quê? - perguntou Márcia.

—Superstição, menina - falou Luís - Não tem base científica nenhuma de que um trevo de quatro folhas aumenta sua sorte. 

—Bom, eles são tão difíceis de achar que se você encontra um já é sinal de que tem sorte, né? - falou Luciano, rindo.

—Que sorriso bonito! - falou Márcia.

—Hã? Você acha? - perguntou Luciano - Ah, eu sou o Luciano e esse metido a inteligente aqui é o Luís. Nunca te vi por aqui. 

—Ah, é que eu não sou daqui. Só estou passando as férias na casa da minha bisavó.

Ela fala mais ou menos onde era e os meninos reconheceram.

—Ah, então você é parente da dona Cleide - disse Luciano.

—É. Meu nome é Márcia - falou ela.

Nisso, as meninas, Kelly e Ema, se aproximaram.

—Oi, gente - disse Kelly - Do que vocês estão brincando?

—De nada - falou Luciano - A gente só tava procurando uns trevos de quatro folhas.

—Oi - falou Márcia, cumprimentando.

—Você. Não é daqui, né? - Ema já foi logo dizendo - Claro que não. Se fosse eu conhecia. Conheço todo mundo da cidade.

—É, isso é verdade - concordou Kelly.

Kelly e Ema se apresentaram. Márcia também. Depois disso, um pequeno Ian se aproximou do grupo com uma roupa bem limpa e arrumada.

—Vocês...sempre se sujando à toa - disse ele.

—Ah, oi, Ian - falou Kelly - Já conhece a Márcia? Ela é nova na cidade.

—Só estou passando as férias - falou ela, timidamente.

—Esse é o Ian, filho do prefeito da cidade - disse Ema - Ele é meio fresco mesmo.

—Não me chama de fresco. Você que se deixa levar demais, Ema. A filha do fazendeiro e empresário mais rico da cidade não devia ser tão desleixada - reclamou Ian.

—Que tal a gente fazer uma guerra de bola de lama? - falou Luciano.

—Não, não, tô fora! - disse Ian. É, ele era bem mais metido quando criança.

Márcia riu e passou o resto do dia com a turma. Continuou se encontrando com todos até finalmente chegar o dia de ir embora.

—Então, hoje à tarde já volto para a minha cidade - falou ela - Mas, ano que vem espero voltar de novo.

—A gente espera - falou Kelly, sorridente.

E, de fato, ela voltou no ano seguinte. Dessa vez, Márcia parecia cada vez mais interessada em Luciano. Os dois passavam boa parte do tempo juntos e tinham um senso de humor parecido. Márcia era bem moleca e não tinha frescuras com brincadeiras mais exigentes, como subir em árvores ou procurar frutinhas no mato. Ela até jogava futebol com Luciano e Luís tentando defender no gol. Estavam se dando muito bem, bem demais.

—Sabe, Kelly - disse Ema para Kelly, quando Márcia e Luciano estavam mais longe, jogando bola - Acho que a Márcia gosta do Luciano.

—Gosta? Como assim?

—Você sabe...tipo namorado. Essas coisas que a gente vê em filme e novela.

—Você acha? Ela parece mais uma amigo menino para ele - disse Kelly.

—Será?

Naquela época, Ema ainda não era uma shipper tão boa quanto é atualmente. Mais uma vez, chegou a hora de Márcia ir embora. Dessa vez, Luciano até passou na casa dela na hora que o carro da família já estava para sair.

—Oi, Márcia. Acabamos nos encontrando de novo, mesmo você já se despedindo ontem, né? - falou Luciano, montado em sua bicicleta.

—É, mas eu não sei se volto ano que vem - disse Márcia, baixinho - Sabe. Ouvi meus pais falarem que querem minha bisavó morando mais perto da gente. Acho que ela vai se mudar e aí não vou voltar mais.

—Sério? Que pena - lamentou Luciano - Queria uma revanche daquela nossa disputa de cuspe à distância…

—Mas a gente pode conversar pela Internet - disse Márcia - Você tem e-mail ou coisa assim?

—Eu não, mas o Luís tem - falou Luciano.

—Toma meu e-mail - disse Márcia, correndo para pegar um pedaço de papel no carro e uma caneta - Pede para o Luís me escrever.

—Tá - disse o garoto.

—E...é isso - disse Márcia - Valeu, Luciano.

Ela se despediu dando um beijinho na bochecha dele. Depois disso, saiu correndo para o carro envergonhada.

—Bom, tchau, então… - falou Luciano, colocando a mão na bochecha.

Infelizmente, Luciano perdeu o papel e não conseguiu se comunicar com Márcia depois disso. Só agora que eles se encontraram de novo.

*Fim do flashback*

—E é isso - disse Ema - Ela com certeza foi o primeiro amor do Luciano. Ele não parava de falar dela. Ficou assim por um tempo.

—Pelo amor, né, Ema? - disse Anne - Eles eram crianças! Quem leva namorico de criança a sério? Se é que dá pra chamar isso que você contou de namoro.

—Eu até concordaria - falou Ema - Mas o olhar dela diz muito. Por favor, Anne, eu sei que você gosta do Luciano. Não precisa admitir para mim, mas se você não fizer nada, a Márcia pode tirar ele de você. Pode contar comigo para não deixar isso acontecer, mas você também precisa colaborar.

Ema se levantou e saiu da sala para pegar alguns últimos momentos do intervalo. Anne ficou pensativa por alguns instantes.

—Não, não tem como ela ter guardado uma paixão dessas por tanto tempo…

Foi o que ela disse, antes de também sair da sala. Será que ela está certa? Bem, teremos que ver como Luciano e Márcia vão interagir depois de tanto tempo.


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Notas finais do capítulo

E isso é o que veremos no próximo capítulo. Até lá! :)



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