Vila Baunilha escrita por Metal_Will


Capítulo 92
As novas moradoras


Notas iniciais do capítulo

Boa tarde e feliz ano novo!

Estamos de volta! Desculpem o tempo de sumiço, mas precisava pensar no resto do roteiro (aproveitei para descansar um pouquinho também, é claro).

A terceira temporada da fic começa agora. Espero que gostem. Boa leitura! :)



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Embora Vila Baunilha seja uma cidade tipicamente interiorana e pequena (muito pequena), ela tem a vantagem de estar próxima de centros urbanos mais populosos e com mais recursos. É a perfeita fronteira entre o campo e a cidade. Muitos motoristas de aplicativos acabam circulando entre as cidades, embora os habitantes de Vila Baunilha dificilmente usassem esse serviço para se deslocar de um local para outro. Dava facilmente para ir a qualquer lugar a pé. Se alguém aparecia usando esse tipo de serviço era porque tinha que ir para alguma cidade vizinha ou porque veio de lá. Era o caso daquelas duas figuras que acabavam de chegar a uma casinha no canto da cidade.

—Chegamos - disse o motorista.

—Já não era sem tempo - disse uma velhinha no banco da frente. Era bem velhinha mesmo, cabelos brancos, baixa estatura e óculos. No entanto, parecia bem lúcida e ativa - Você dirige devagar demais!

—Mas tenho que respeitar o limite de velocidade - disse o motorista.

—Limite de velocidade, ora pois - reclamou a senhorinha - Esse mundo tá cada vez mais chato. Na minha época não tinha essas bobagens!

—Na sua época tinha tantos carros como hoje? - perguntou o motorista.

—Tá me chamando de velha? - respondeu a senhorinha, sem economizar uma bengalada na cabeça do pobre motorista - Tá dizendo que vivi numa época que andavam de carroça?

—Não, não, não foi o que eu quis dizer e… - falou o motorista, tentando se justificar.

—Bisa, por favor - disse a mocinha do banco de trás - Desculpa, moço. Quanto deu a corrida mesmo?

Quem falava era uma garota na faixa dos seus quinze anos. Tinha olhos verdes e cabelos castanhos lisos e curtos até os ombros. Sua voz também era bem gentil. Depois de pagar a corrida, o motorista ajudou a descer as malas das duas. Pena que ele quase deixou cair uma delas.

—Cuidado, menino! - disse a velhinha, já mandando outra bordoada com a bengala nele - Você não tá descarregando saco de areia, não!

—S-Sinto muito - gaguejou o motorista.

—Desculpa, moço. Desculpa mesmo - disse a garota - É que a minha bisavó está estressada com a viagem.

—Não estaria tão estressada se ele além de andar devagar ele ainda passasse por tantos buracos. Não deu nem pra tirar um cochilo na viagem - reclamou a velhinha.

—Bisa, foram só dez minutos da rodoviária da outra cidade até aqui - falou a garota.

—Tudo bem - disse o motorista - Entendo que ela deve se sentir cansada e…

—Tá dizendo que sou uma velha que não aguenta ficar acordada? - reclamou a senhorinha mais uma vez.

—Não, não, jamais - disse ele - Bem, já vou indo e…

—Espera! - disse a senhora - Ainda falta pegar o Tadeu.

A velhinha abriu a porta do carro e pegou uma gaiola com um periquito dentro.

—Já estava querendo levar meu pobre Tadeu embora, moleque? - reclamou a velhinha.

—Claro que não, eu…

—Você não disse que já estava indo? Por que tá aqui ainda? Não vamos pagar mais pela companhia, não, viu? - retrucou a senhora.

—Agora mesmo. Tchau! - o pobre motorista se apressou em sair logo dali.

—Bisa, a senhora está muito mal-humorada - disse a garota.

—Que mal-humorada o quê, menina? - disse a velhinha - Estou é animada! Finalmente estou de volta à minha cidade do coração! Pode fazer as honras, Marcinha.

Márcia era o nome da gentil bisneta. A bisavó se chamava Cleide. A saúde dela era invejável para alguém da idade dela de…(dona Cleide pareceu olhar irritada para algum lugar em que o narrador estava)...bem, não precisamos entrar nesses detalhes.

—Estamos aqui - falou Márcia, abrindo a porta.

—Finalmente! Minha amada casinha! Por que fiquei tão longe de você? - perguntou dona Cleide.

—A senhora sabe, bisa - disse Márcia - A vovó estava preocupada com a sua saúde e achou que não devia morar sozinha. Mas não precisa se preocupar, agora eu estou aqui.

—Como se eu precisasse me preocupar. Consigo me virar muito bem sozinha! - reclamou dona Cleide.

—Claro que sim, dona Cleide. Mas é sempre bom ter alguém por perto pra ajudar, né? - disse Márcia - Nossa, tá tudo bem arrumadinho. Nem parece que a casa ficou vazia tanto tempo.

—Claro - disse a bisavó - Sempre mandava alguém ver como estavam as coisas por aqui. O pessoal dessa cidade é bem confiável, não é que nem na cidade grande que só tem malandro. Ah, como é bom estar de volta!

—Faz muito tempo que não venho pra cá - disse Márcia - Fiz bem em aceitar a ideia dos meus pais de estudar em um lugar mais tranquilo, enquanto cuido da senhora.

—É verdade, você sempre vinha pra Vila Baunilha nas férias para brincar - disse dona Cleide - Achei que minha descendência tava perdida. Dos meus netos, nenhum gostava de ficar aqui. Das minhas bisnetas, só você gostava.

—Amava! - disse Márcia, com um sorriso nostálgico - Nossa, parece que foi ontem que eu estava com seis anos, de férias, brincando com as crianças daqui. Depois a senhora fazia aqueles bolinhos de chuva e a gente ficava assistindo aqueles programas engraçados na TV até a hora de dormir. Era tão bom.

—E hoje vocês só querem saber de ficar nessa droga de celular - disse Cleide - Esse mundo tá perdido.

—Não fala assim. Tem muita coisa boa. A gente só chegou aqui rápido porque eu chamei um carro - disse Márcia rindo.

—Tá, tá, que seja - falou dona Cleide - Só sei que já passou do meio-dia e ainda não almoçamos. O que a gente vai comer?

—Isso já tá planejado - falou Márcia - Minha mãe falou que abriram um restaurante novo aqui na cidade há pouco tempo. Vamos ver se a comida é boa.

—Restaurante, é? - disse Cleide - Lembro que tinha um ou outro lugar pra comer aqui, mas nenhum deles era grande coisa, principalmente aquela lanchonete do Abílio, ah, não quero nem lembrar pra não perder o apetite!

Márcia riu.

—Vamos lá. Dá pra ir a pé, é bem perto aqui de casa. Coloca um chapéu para não pegar sol e vem - falou a bisneta sorridente.

Não demorou muito para as duas chegarem ao restaurante. Por ser um sábado, Anne não tinha aula e foi a primeira a atender as duas.

—Boa tarde - disse Anne, sorrindo - Mesa para duas?

—Sim - disse Márcia, simpaticamente.

—Você era neta de quem mesmo? - perguntou dona Cleide.

—Não entendi - disse Anne, com um olhar de estranhamento.

—Faz tanto tempo que não venho pra cá que não lembro o rosto de todo mundo. Aquela criançada toda já cresceu - falou dona Cleide.

—Ah, a senhora deve estar me confundindo - falou Anne - Eu me mudei pra cá com a minha família não faz nem um ano.

—Sério? É bom ver que mais gente queira se mudar para cá! - falou dona Cleide, com um olhar sorridente.

“Na verdade, eu quero dar o fora daqui assim que passar na faculdade, mas acho que é melhor não falar isso”, pensou Anne.

—Quantos anos você tem, querida? - perguntou dona Cleide.

—Quinze - disse Anne.

—Como eu imaginava - disse a velhinha - Provavelmente ela vai ser sua colega de turma, Márcia.

—É, acho que sim. Você tá no primeiro ano? - perguntou Márcia.

—Sim - respondeu Anne sorridente.

—Ah, que demais. Já achei uma colega de turma. Vou começar a estudar aqui também - disse Márcia, alegre. 

—Que demais! Vai ser bom ter mais alguém pra conversar!

—Será que o pessoal daquela época ainda tá por aqui? Lembro da Kelly, da Ema…

—Sério? - Anne parecia animada - Todas elas estão na nossa sala.

—Ai, que demais. Faz tempo que não falo com elas, desde que me mudei para outra cidade, sabe? Só agora que decidi voltar para cuidar da minha bisavó. Vai ser bom matar a saudade. Amo essa cidade!

—Ama mesmo? - comentou Anne.

—Sim. Adoro a tranquilidade, o ar fresco, as pessoas. Tô a fim de morar por aqui mesmo.

“Já vi que somos diferentes”, pensou Anne.

—Márcia! Vai ficar aí de papo o tempo todo? Tô com fome! - reclamou dona Cleide, já se acomodando em uma das mesas - E você, mocinha. Traz um cardápio. Quero ver o que tem de bom hoje.

—Bom, é self-service - disse Anne - Vocês podem pegar à vontade ou por quilo.

—Acho que vamos pagar à vontade mesmo. Minha bisavó tem bastante apetite - disse Márcia, sorrindo - Nem parece ter a idade que tem e…

Mas, como se tivesse ouvido isso, dona Cleide lançou um olhar fulminante para Márcia.

—Deixa pra lá - disse Márcia, ainda sorrindo - Bom, vou deixar você trabalhar. A gente conversa mais na escola.

—Tchau - disse Anne, animada.

Não demorou muito para bisavó e bisneta fazerem bons pratos e almoçarem. Dona Cleide estava bem animada.

—Aquela garçonete parece um boa menina - disse ela - Acho que vocês serão boas amigas.

—Pois é - respondeu Márcia - Tô morrendo de saudade do resto do pessoal que conheci quando criança.

“E aquele menino, o Luciano?”, pensou Márcia com um sorrisinho meio bobo. “Será que ele ainda está por aqui?”


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Notas finais do capítulo

Está, está sim. E vamos ver como Luciano vai interagir com essas novas moradoras nos próximos capítulos. Hehe.

Espero que continue acompanhando. Até! :)



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