Vila Baunilha escrita por Metal_Will


Capítulo 91
Mais Bela Adormecida


Notas iniciais do capítulo

Vamos ver como essa peça termina



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Anne entrou em cena em seu vestido de princesa acompanhada da clássica valsa da Bela Adormecida de Tchaikovsky (*). Sim, Ema fez questão de caprichar na equipe de sonoplastia.

—Que linda manhã para um passeio - disse Anne, tentando fazer o melhor que podia com suas falas - Oh, o que é isso? Essa é uma parte do palácio que não conheço.

—Aurora, curiosa como era, resolveu entrar naquela parte mais afastada do palácio para ver o que encontrava lá - prosseguia a narração - Acabou achando a entrada para uma torre que nunca tinha visitado em seus quinze anos de vida morando ali. Cada vez mais curiosa, Aurora subiu a torre e…

As cortinas se fecham por alguns instantes e, pouco tempo depois, se abrem, mostrando Anne (no papel de Aurora) e Ema (com uma capa disfarçando sua identidade de Malévola). A bruxa, disfarçada, trabalhava em uma roca de fiar.

—Oh, quem está aí? - disse Ema, imitando uma voz idosa.

—Com licença? - falou Anne - Quem é a senhora? Acho que nunca a vi aqui no palácio…

—Ah, não ligue para mim. Sou apenas uma velha a fiar - falou Ema.

—Fiar?

—Sim, não está vendo minha roca de fiar? - respondeu Ema, girando o aparelho.

—Sinto muito - respondeu Anne educadamente - Nunca vi algo como isso antes.

—Acontece que, por prevenção, o rei mandou queimar todas as rocas de fiar do reino. Mas Malévola não se esqueceu de sua vingança e estava determinada a fazer Aurora pagar pela ofensa de seus pais - seguiu a narração.

—Oh, mesmo? Gostaria de ver como ela funciona? - perguntou Ema.

—Posso?

—Claro. Chegue mais perto, minha querida…

Anne se aproximou e tocou a roca, mas a tocou bem na agulha, espantando o dedo. Anne finge um desmaio e cai no chão adormecida. Ema tirou seu disfarce e gargalhou maldosamente.

—Finalmente! Finalmente minha vingança se cumpriu! É uma pena que aquela fada intrometida tenha reduzido minha maldição, mas agora você ficará aí, dormindo para sempre!

E ela sai de cena. Sua interpretação faz Samanta se empolgar novamente.

—Gente! Que vilã! - falou ela.

—Você gostou mesmo, né? - comentou Briana.

—Ah, é...é uma excelente atriz - concordou ela.

Depois disso, a próxima cena mostra os demais habitantes do palácio caindo no sono também. A maldição duraria enquanto a princesa permanecesse dormindo, com anos e anos se passando.

—É, acho que não tem mais nada para fazer agora - disse Luís, preferindo deixar o local para não ter que ver qualquer cena de beijo. Antes que pudesse fazê-lo, alguém o puxou com força para um canto do camarim improvisado que a equipe tinha feito atrás do cenário.

—Lu-Lu-Luís - gaguejou Samara.

—Você? - estranhou o garoto.

—Você vai mesmo deixar isso acontecer? - falou ela.

—Isso o quê, menina? Tá maluca, é?

—O beijo! O Luciano é o príncipe, não é? Pelo que eu lembro dessa história, a princesa é despertada com um beijo!

—Isso não me agrada nem um pouco - disse ele - Mas não tem nada que eu possa fazer. Pelo menos eles nunca se beijaram nos ensaios.

—E se isso for o estopim para os dois se gostarem? Quer mesmo que a sua Anne fique com o Luciano?

—Isso nunca! - ralhou Luís - Mas...o que nós podemos fazer? A peça já tá rolando!

—Só se…- Samara observou que havia algumas peças de figurino por ali - Acho que podemos mudar o rumo dessa peça.

A próxima cena se iniciou com a narração mostrando o príncipe vindo de um local distante. 

—Muitos e muitos anos se passaram, quando um príncipe viajante apareceu no horizonte, montado em seu cavalo.

Na verdade, era só Luciano, com a fantasia de príncipe que arranjaram, montado em um cavalo de brinquedo.

—Essa missão de reconhecimento sempre me traz aos piores lugares - disse ele - O que é isso agora? 

Luciano colocou a mão na testa como se estivesse observando algo de longe e falou:

—É um castelo ali ao longe? Nunca ouvi falar de um reino por essas bandas…

E continuou cavalgando até se aproximar do vilarejo.

—O príncipe entrou na cidade e viu todos dormindo. Em todo lugar que entrava, só havia pessoas adormecidas - essa foi a narração.

—Isso é estranho...todos estão dormindo. E o castelo? Será que alguém de lá poderia me dizer alguma coisa?

Ele se aproximou do palácio e após uma transição de cena, encontrou a entrada coberta de plantas espinhentas gigantes.

—O que é isso? - falou o príncipe - Não dá para entrar com esses espinhos. Como é que isso cresceu tanto? Faz muito tempo que não dão uma aparada nesse jardim...

O público riu.

—Isso estava no roteiro? - comentou Ema consigo mesma, olhando para o script - Não exagera no improviso, vai. Só segue logo para a cena do beijo.

Nisso, um rugido alto é dado. Uma figura desengonçada aparece diante de Luciano.

—Ei, o que é isso?! - estranhou ele, meio que caindo para trás.

Seja lá quem for que estivesse dentro da fantasia, era uma fantasia que lembrava um dragão. E parecia um dragão falante.

—Você não vai passar daqui! - disse o dragão - Sou o dragão protetor do castelo. Todos os invasores devem morrer!

—Dragão? Isso tava no roteiro? - perguntou Luciano.

—A peça vai terminar aqui! - falou o "dragão". Aparentemente, a ideia era dar um fim mais trágico ao conto.

Nisso, atrás das cortinas, Anne estava confusa.

—Ema! O que tá acontecendo? - perguntou ela.

—E eu sei lá? Não tinha dragão nenhum nessa história! - falou ela - Quem é que tá estragando a peça, heim?

—Parece divertido - comentou Ian - Alguém não quer deixar o Luciano entrar. 

—Maneiro, aí - falou Carioca.

—Gente, cadê o Luís? - perguntou Kelly.

—Ah, só pode ser ele - disse Anne - Pela voz…

—Ah, não! Não vou deixar que estraguem a minha peça! - disse Ema, furiosa.

—Nossa peça, Ema - corrigiu Anne.

—Que seja! 

Enquanto isso, o dragão continuava apavorando Luciano (pelo menos, era a imagem passada para a plateia).

—Você não é muito leve, não - disse Samara, baixinho.

—Se você não fosse um bicho do mato, poderia ficar em cima - disse Luís, no mesmo tom - Quer trocar?

—Nunca. Não aguentaria isso - disse ela, ficando vermelha só de imaginar atuando.

—E agora? O que eu faço? - perguntou Luciano.

—Parem! - disse Ema, entrando em cena - Parem tudo!

—Ah, finalmente. Diz aí o que eu devo fazer? - perguntou Luciano.

—Eu...encontrei o convite! Encontrei o convite para a festa da princesa! - falou Ema, improvisando - O correio jogou por baixo da porta e acabou entrando embaixo do meu tapete. Encontrei hoje quando fui fazer a faxina. Minha vingança não faz mais sentido! Príncipe, entre nessa torre, dê um beijo na princesa e se case com ela!

—O quê?! - indagou Luciano - Isso tava no roteiro…

—Já foi tudo para o vinagre mesmo - falou Ema, baixinho - Só colabora, vai?

—Nada disso! - disse Luís, interpretando o dragão - Para entrar, você ainda precisa passar por mim.

—Eu, como a poderosa bruxa que controla todas as criaturas do mal, jogo meu poder mágico no dragão e desapareço com ele! - disse Ema.

—Só que...eu sou um dragão mágico de outro planeta que é imune aos seus poderes mágicos! - falou Luís.

—Quer mesmo entrar numa briga de interpretação comigo? - falou Ema, baixinho - Tá legal! Eu invoco todos os poderes mágicos do universo de todos os planetas, de todos os universos e sumo com você daqui.

—Eu...eu… - Luís estava sem resposta.

—Acho que agora ela te pegou, Luís - falou Samara, lutando para manter Luís em cima dos seus ombros ali dentro da fantasia.

—Fica quieta! - disse Luís.

—Quieta? Então tem mais alguém com você? - perguntou Ema - Vamos ver logo quem está por trás disso!

—Corre! - falou Luís, iniciando uma perseguição da bruxa atrás do dragão. Não demorou muito para Samanta tropeçar e, com isso, a dupla cair no chão, revelando quem estava por trás do monstro.

O público caiu na risada.

—Que peça divertida! - comentou Vera, a primeira-dama - Por que não falaram que era uma versão de comédia da Bela Adormecida.

—Sim, muito divertida mesmo - disse o prefeito.

—O que aconteceu com a vilã? - lamentou Samanta.

—O que será que vai acontecer agora? - perguntava Briana, do lado.

—Ei, cadê a Fifi? - disse Vera, estranhando que sua cachorrinha tinha sumido - Fifi!

—Então são vocês que vieram aqui se intrometer na peça? - falou Ema, nervosa.

—Pelo menos o público gostou! - disse Luís - Mas, sim, é isso mesmo. Queríamos mudar o roteiro para a Aurora não ser despertada!

—Mas, gente, ele não era a fada? - perguntou Cíntia para Samanta e Briana.

—Não tô entendendo mais nada.

De volta ao palco...

—D-D-D-Desculpe - foi tudo que Samara conseguiu dizer.

Mas antes que Ema pudesse dar uma bronca, Fifi, a poodle de Vera, invadiu o palco atrás de Luís (pelo visto, ela ainda lembrava dele como o invasor da casa do prefeito).

—Ah, não, você de novo, não! - falou Luís. O pobre garoto saiu correndo, deixando Samanta para trás.

—Fifi! Fifi, meu amor! - disse Vera - Cuidado para não se machucar! Fifi!

Não é bem a cachorrinha que corre risco de se machucar nisso, primeira-dama.

—Eu...eu...eu fui obrigada a fazer tudo isso! Perdão! - falou Samara que, a essa altura, já estava mais vermelha do que pimentão.

—Finalmente! Agora você está livre, príncipe - disse Ema. Ela fez um sinal para as cortinas de fecharem e chamou Anne.

—Agora é só vocês fazerem a última cena. O resto do roteiro continua igual. Boa sorte!

—Essa peça já não foi para o vinagre mesmo? - perguntou Anne.

—Só façam a cena logo! - Ema deu o sinal e a cortina se abriu. Anne apenas se jogou no chão, fingindo estar dormindo. Agora era só Luciano como personagem com falas na cena.

“Finalmente, chegou a hora”, pensava Abílio, louco para ver a cena do beijo.

—O príncipe finalmente chegou ao local em que a princesa estava - seguiu a narração - Ele tinha ouvido falar da lenda de uma princesa que só poderia ser despertada com um beijo e agora ela estava ali, bem diante dele. Só restava...beijá-la.

—Essa é a princesa? É mesmo uma bela donzela - disse Luciano, tentando se lembrar da cena.

—Agora é só beijar - falou Ema.

Nisso, Anne, ainda deitada, se vira de costas para a plateia e Luciano se aproxima dela. Ele faz como se desse um beijo nela e, assim, Anne desperta. “Como se desse”, pois Luciano não beijo de verdade. Só aproximou o rosto da garota, mas, como a plateia não podia ver, pois Anne estava virada de costas para o público, ficou parecendo com um. Abílio não se convenceu muito.

—Espera. Isso foi um beijo? Não deu para ver nada! - reclamou ele.

—Agora já é tarde - comentou Antenor. 

“Espero que ele tenha mesmo beijado!”, pensou Abílio.

Ema, por outro lado, estava boquiaberta. Mesmo assim, a peça continuou. A princesa acordou, se apaixonou pelo príncipe e, como disse a narração.

—Todos viveram felizes para sempre. Fim.

As cortinas se fecharam.

—O que vocês fizeram?! - ralhou Ema - Aquilo não foi um beijo de verdade! Deu pra ver tudo daqui!

—Mas nunca foi para ser um beijo de verdade - disse Anne - É só atuação, não?

—B-Bem, isso é, mas…

—Além disso, Ema, eu estava dormindo e não morta ou desmaiada. Eu era a Bela Adormecida, então dormi do jeito que eu durmo e, sabe, eu me mexo demais quando durmo. Só fui realista.  Em nenhum momento foi dito que a Bela Adormecida não podia se mexer enquanto dormia.

—Caraca, que plot twist fora do plot - comentou Carioca.

Isso foi o que Luciano e Anne combinaram antes da peça começar, mas não comentaram nada com Ema. Não foi dessa vez que o casal shippado pela casamenteira da cidade daria um beijo em público.

Assim também terminou a feira cultural da escola. Mais tarde, já em sua casa, Luciano fazia de tudo para escapar das perguntas do seu pai.

—E então? Quando vocês vão assumir o namoro? Heim? - insistia Abílio.

—Me erra, pai - disse Luciano, enquanto pegava um copo de suco na geladeira - Foi só um beijo de peça. Se fosse assim, todo ator se casaria com a atriz que beijasse na novela ou no filme.

—Deixa de ser lerdo, Luciano! - falava Abílio - Aproveita essa aproximação e leva esse romance para a frente.

—Não vou ouvir mais nada! - foi o que Luciano disse antes de subir para o quarto e fechar a porta.

“Se bem que...na hora que eu aproximei meu rosto do dela...bem que eu queria beijar de verdade”, pensou Luciano. 

Pelo visto, a relação entre Luciano e Anne está começando a mudar de rumo. O que o futuro reserva para esses dois?

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(*) A música é essa aqui:

https://www.youtube.com/watch?v=2Sb8WCPjPDs


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Notas finais do capítulo

Bem, isso é o que saberemos nos próximos capítulos, mas eles vão demorar um pouquinho para sair.

A razão é que preciso pensar nos rumos da história e elaborar o roteiro, então vou dar uma pausa nas publicações semanais. Já tenho coisas na cabeça, mas preciso organizar.

Sendo assim, encerro a segunda temporada da fic por aqui. Espero retornar logo com a terceira e, espero que continue acompanhando.

Até! :)



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