—E, no fim, é tudo culpa dos Illuminati - encerrou professor Otávio, acendendo mais um cigarro em plena sala de aula, algo que os alunos do primeiro ano já estavam acostumados.

—Professor… - disse Anne que, naquela altura, já nem mais levantava a mão para falar - ...nada disso está escrito no livro.

—Eu sei. Não ensinam essas coisas na escola. Devia se sentir privilegiada por saber a verdade - disse o professor, não dando a mínima para a inquietação da aluna.

—Mas...não é isso que vai cair no vestibular - protestou a menina.

—Quem liga para o vestibular? - falou o professor - No fim, vamos todos morrer mesmo.

“Mas eu quero ser médica antes disso”, pensou Anne, mordendo os lábios para não descarregar sua raiva.

—Calma, calma. No fim, ele sempre termina a matéria - disse Kelly para acalmar a amiga.

—Professor - Ema se levantou para falar - Já que a aula terminou um pouco mais cedo, podemos conversar sobre algo importante?

—Tipo o quê? - perguntou o professor, nem um pouco animado.

—Daqui a um mês e meio é o festival cultural da escola - disse a herdeira da fazenda Fontes com um ar responsável - E ainda não decidimos o que nossa sala vai fazer.

—Vamos montar uma barraquinha de sorvete como todo ano - falou Luciano, que finalmente tinha acordado de seu sono ao ouvir um som diferente da voz do professor - Já virou uma tradição.

—De fato - concordou Ian, aparentemente feliz em ouvir a palavra “tradição” - É sempre bom respeitar as tradições.

—Mas agora não somos mais alunos do fundamental! - lembrou Ema - Já que estamos no Ensino Médio, devíamos tentar algo diferente.

—Festival cultural? - Anne perguntou para Kelly.

—É - disse Kelly animada - Todas as salas fazem algum projeto para apresentar em grupo. Como ninguém se animava a fazer nada, no fim só montávamos uma barraquinha para vender os sorvetes que a Ema arranjava.

—Que sem graça - reclamou Anne.

—Exato! - disse Ema, ao ouvir isso de Anne - Tem toda razão, Anne. Muito sem graça. Por isso quero fazer algo diferente esse ano.

—Eu tenho uma ideia! - falou Luís - Vamos construir um robô com uma inteligência artificial poderosíssima e…

—Precisamos de um projeto em que a sala inteira participe - falou Ema - Isso aí seria só você ganhando os créditos por tudo. Não entendemos nada de robótica.

—Ah, mas vocês poderiam fazer a parte promocional - falou Luís - Com a Anne de modelo para fazer a promoção, nosso estande seria sucesso garantido e...não, espera, não, não, se ela for modelo vai ter um monte de marmanjo dando em cima dela. Ah, não, isso não. Não posso admitir e…

—Bom, como eu ia dizendo - prosseguiu Ema, ignorando o que Luís falava como todo o resto da sala estava fazendo naquele momento - Seria legal tentarmos algo que não fizemos. Os outros alunos já bolaram alguma coisa, professor?

—Não que eu saiba - disse Otávio - Acho que vocês são os primeiros a tocar nesse assunto.

—Ótimo. Então não teremos projetos concorrentes - falou Ema, animada - Eu tenho uma ideia para fazer algo incrível nesse ano.

—Que ideia? - perguntou Anne.

—Isso! - exclamou Ema, tirando um monte de páginas impressas de sua bolsa - Uma peça!

—Peça? - estranhou Kelly - Você fala...uma peça de teatro? Mas só temos um mês e duas semanas. Como é que vamos produzir algo bom nesse tempo?

—Relaxe. Já tenho o roteiro e o figurino também consigo arranjar com os meus contatos - falou Ema - Só precisamos ensaiar mesmo, mas acho que não vai ser muito complicado. É uma história simples.

—E que peça você está pensando em fazer? - perguntou Ian.

— “A Bela Adormecida” - falou Ema, orgulhosa - É um conto de fadas conhecido e ficou bem compacto na minha adaptação simplificada. Dá certinho para todo mundo participar.

—Maneiro, aí - comentou Carioca - É a história da menina com o cabelo gigante que dorme depois de comer a maçã, não é?

—Você misturou Bela Adormecida com Rapunzel e Branca de Neve - protestou Luís.

—É? Achei que era tudo a mesma coisa! - falou Carioca.

—Bom, minha peça é bem simples - disse Ema - Só temos a Bela Adormecida, o príncipe, os pais da Bela Adormecida, duas fadas boas e a bruxa. Dá certinho. Sete personagens para sete pessoas. Todo mundo da sala pode participar.

—Espera, ainda nem concordamos se vamos fazer essa peça! - protestou Luís.

—Tá bom. Alguém não quer participar? - perguntou Ema.

—Eu não tô muito a fim, não - falou Luciano.

—Eu muito menos - falou Luís - Sou um homem da ciência. Essas coisas de teatrinho não tem nada a ver comigo.

—E os outros? - perguntou Ema.

—Ah, eu acho legal - falou Anne.

—Eu também - concordou Kelly.

—Se a Anne não se importa, eu muito menos - falou Ian, já se aproximando de Anne para abraçá-la, mas a garota já o afasta com a mão como já estava acostumada a fazer.

—E você, Carioca? - perguntou Ema.

—Ah, parece maneiro. Tô dentro - disse ele.

—Ah, cara. Fala sério! - reclamou Luciano.

—Mas o roteiro já tá todo pronto, cara. Só vamos precisar interpretar - falou Carioca - Molinho, aí.

—Vocês são minoria, Luciano - disse Ema - Já era. Está decidido. A sala do primeiro ano vai fazer a peça da Bela Adormecida.

—E qual vai ser o papel de cada um? - perguntou Anne.

—Bem, vamos por partes. Primeiro, o papel da princesa - disse Ema, pegando uns pedaços de papel e escrevendo neles - Aqui estão os nomes das três meninas da sala. Agora vou colocar nesse saquinho e…

Ela sacudiu, sacudiu e tirou o nome.

—Perfeito. Anne, você será a Bela Adormecida - falou Ema, animada.

—Sério? Papel principal? Assim, logo de cara? - estranhou a garota.

—Não vai recusar, né? - ralhou Ema.

—Não, não, é que...nunca fui protagonista antes - explicou ela.

—Para tudo tem uma primeira vez - disse ela - Bem, e agora? Quem será seu príncipe?

—Espera - disse Luís, ficando em pé em cima de sua mesa - Acabei de lembrar! O príncipe desperta a Bela Adormecida com um beijo, não é?

—Exatamente - falou Ema.

—Então o papel do príncipe é meu! - falou Luís - Já tá decidido!

—Não me faça rir! - falou Ian, jogando seu cabelo para o lado - Só há uma pessoa nessa sala com classe o bastante para desempenhar o papel de príncipe e essa pessoa sou eu. Anne, serei seu príncipe e a despertarei com um beijo inesquecível! Aliás, por que não começamos a ensaiar agora mesmo e…

—Sai pra lá, jacaré! - ralhou Anne - Ainda nem foi decidido quem vai ser o príncipe!

—É isso mesmo - concordou Ema - Assim como fiz com a princesa, vou sortear um dos garotos para ser o príncipe. Aqui, coloquei os nomes de todos os meninos da sala. Vou sortear agora.

—Ei, espera aí, eu… - mas foi tarde demais, o sorteio foi feito antes que Luciano pudesse intervir e o nome que saiu foi…

—Está decidido - falou Ema - O príncipe será...você, Luciano!

—O QUÊ?! - Luciano e Anne gritaram juntos (e ruborizaram ao mesmo tempo também).

Parece que o destino está mesmo querendo aproximar esses dois...