Vila Baunilha escrita por Metal_Will


Capítulo 83
A honra de um guerreiro


Notas iniciais do capítulo

Como falei, capítulo normal no domingo. Boa leitura!



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É, Luciano não teve muita escapatória dessa vez. Seu destino de enfrentar Igor estava traçado. Aquele monte de músculos teria que ser encarado para seu pai ganhar as apostas que fariam contra Luciano. A plateia ia ao delírio.

—É o Luciano da lanchonete! - gritou um aleatório de fora.

—Caraca, ele vai mesmo lutar com o cara? - disse outro, espantado - Não tem a menor chance!

—Senhores, apostas comigo! - falou Abílio, chamando todos para apostarem suas fichas no lutador que preferiam. Não demorou muito para que várias apostas em Igor fossem computadas.

“Isso, isso”, pensava Abílio. “Agora é só o Igor perder de propósito e eu ganho uma bolada!”

—Err...precisamos mesmo fazer isso? - perguntou Luciano - Mesmo?

Igor parecia pensativo e as palavras de Luciano o fizeram suspirar.

—Você tem razão - disse Igor.

—Tenho? - Luciano já estava com uma pontada de esperança.

—Sei que combinamos aquilo com nossos pais - falou Igor, em voz baixa - Mas...a última luta me fez refletir sobre meu papel como lutador.

—Do que está falando, Igor? - disse Asdrubal, o pai e juiz da luta - Já tínhamos conversado sobre isso antes.

—Ei, você! - Igor correu até as cordas do ringue e chamou por Gustavo - Como era mesmo o seu nome?

—Hã? Está falando comigo? - disse Gustavo, que, a essa altura, já estava na barraquinha novamente servindo quentinhas. Todos pararam para ouvir o que Igor tinha a dizer.

—Sim. Você me fez abrir os olhos. Há muito tempo não experimentava uma luta tão emocionante!  - falou ele - Você me fez reacender minha chama de guerreiro!

Ninguém estava entendendo a conversa muito bem, nem mesmo Gustavo.

—Puxa - Gustavo pareceu meio sem graça - Fico feliz em ter ajudado...seja lá com o que for…

—Tá. Agora ajuda a gente e continua a servir esses marmitex. Anda - disse Carla.

—Sim, senhora - falou Gustavo.

De volta ao centro do ringue, Igor olhou para Luciano e disse:

—Escute. Vamos lutar honestamente.

Luciano quase caiu para trás.

—O que disse?

—Isso mesmo. Vamos lutar honestamente. Lutarei sério com você. Percebi que minha honra de guerreiro vale mais do que todo o dinheiro do mundo.

—Igor, o que está fazendo? - disse Asdrubal.

—É isso mesmo - disse Igor, tomando o microfone do pai e gritando a todos - Eu, Igor, serei um guerreiro honrado a partir de agora. Lutarei com todas as minhas forças!

—Todas? - disse Luciano - E-espera, não precisa fazer isso!

—Sei como está se sentindo, Luciano - falou Igor, em voz baixa, depois de entregar o microfone para o pai - Sei que deve estar se sentindo desonrado em sua alma de guerreiro por lutar de um jeito armado. Mas agora você não precisa se preocupar. Teremos uma luta honesta!

“Que luta honesta o quê!”, pensou Luciano. “Eu só queria salvar a minha pele! Isso é hora pra decidir virar honesto?”

Abílio ouviu tudo aquilo desolado.

“Maldito! Agora minhas chances de ficar rico vão por água abaixo. Todo mundo apostou no Igor. Vou ter que dividir com todos, de novo!”

—Vamos, pai - disse Igor - Pode começar!

—Ora, seu...vamos ter uma conversa muito séria depois disso e…

—Depois é depois - Igor insistiu para Asdrubal - Agora, quero apenas ter uma luta séria com meu adversário.

—Que seja. Comecem logo! - anunciou o juiz.

Luciano, assim que ouviu o anúncio, correu imediatamente em uma tentativa de sair do ringue, mas Igor se jogou em cima dele. Agarrado, depois Luciano foi arremessado e jogado nas cordas. Depois, voltou para o meio e foi empurrado de novo. Ao ser jogado de volta pelas cordas, Luciano foi agarrado por Igor pelos braços e começou a girar como um carrossel. Não demorou muito para Luciano ser lançado para fora do ringue no meio dos arbustos. O pobre garoto já estava desacordado, mas pelo menos estava vivo.

—O vencedor é Igor! - disse Asdrubal.

—Sabia - disseram os apostadores.

—Vamos pegar nossa grana - disse outro - Mas, será que alguém apostou no Luciano? Acho que não ganhamos nada nessa.

—Igor! - falou Asdrubal - O que deu em você? Lutar honestamente? E nosso estilo de ganhar a vida?

—Acho que...vamos precisar buscar outra coisa para fazer - falou Igor.

—Igor, seu… - Asdrubal parecia furioso - Eu...eu...

—Incrível! - disse um homem estranho que subiu no ringue para conversar com Igor - Você é um lutador incrivelmente forte. Estava passando pela cidade por acaso e acabei vendo sua luta. Sou um empresário no meio UFC. Gostaria de contratá-lo! Você vai ganhar muito dinheiro!

—Sério? - disse Igor.

—Como eu estava dizendo! - disse Asdrubal e agora parecia bem contente - Ser um grande e honrado guerreiro está no seu sangue. Seja um lutador de verdade a partir de hoje, filho. Eu vou apoiá-lo em tudo!

—Como o senhor muda de ideia rápido…

—Acho que o Luciano apanhou bem mais do que a gente - disse Ian para Luís.

—É. Ele teve azar - concordou Luís, arrumando os óculos.

Ninguém mais quis lutar com Igor e o evento terminou naquilo mesmo. Abílio finalmente encontrou Luciano no meio dos arbustos e o acordou com um balde de água fria.

—Ai, ai. Onde eu tô? Já acabou a luta? - disse Luciano, totalmente desnorteado.

—Infelizmente, você perdeu - falou Abílio - Não acredito! Podia ter pelo menos se esforçado para tentar ganhar. Não ganhamos nem um centavo sequer!

—O que importa? - disse Luciano - Só me leva para o médico. Acho que preciso de uns dias de repouso.

—Vou chamar o Doutor Renato - falou Abílio - Ai, ai, você só me dá trabalho!

E assim Luciano teve que ficar internado alguns dias no hospital da cidade vizinha. Pelo menos, recebeu uma visita dos amigos.

—Fala, Luciano! - disse Carioca, chegando acompanhado de Luís.

—E aí? - disse Luciano, deitado na cama se recuperando de seus machucados - Finalmente recebi alguma visita. Até gosto de ter o quarto só pra mim, mas é meio solitário às vezes. Só passa coisa chata nessa TV!

—Nem teu pai apareceu aqui? - perguntou Carioca.

—Ele disse que vem me buscar se não esquecer - falou Luciano.

—Relaxa - falou Luís - Trouxemos até um presente para você.

—Sério? O que é? - disse Luciano animado.

—Trouxe uns DVDs de luta livre. Não sabíamos que você gostava tanto desse esporte.

Luciano só foi capaz de se derramar em lágrimas.

—Olha só, o cara gostou tanto que até chorou! - falou Carioca.

Eram lágrimas de desgosto. Bem, pelo menos sua visita no outro dia foi menos sem noção.

—Oi, Luciano! - falou Briana, acompanhada de Anne, Kelly e Gustavo.

—E aí, Luciano? Beleza? - falou Kelly.

—Vocês? - exclamou Luciano - Não esperava…

—Não sabia que você gostava tanto de luta, Luciano - disse Gustavo - Se você tivesse me falado, poderíamos treinar juntos!

—Isso aí foi tudo conversa do meu pai! - reclamou o garoto - Mas não quero falar nisso agora!

—A mamãe mandou uns bolinhos e umas frutas também - disse Briana - Vou deixar aqui com você.

—Valeu - disse Luciano.

—Acho que comer bolinhos combina com café ou pelo menos alguma bebida - disse Gustavo - Vou lá buscar.

—Espera. Eu vou com você - disse Kelly.

—Eu ajudo vocês - disse Briana, toda solícita.

—Ei, esperem aí… - mas antes que Anne pudesse falar alguma coisa, foi deixada ali, sozinha com Luciano. Os dois ainda não tinham se recuperado muito bem da última vez que ficaram a sós.

—Não esperava que você viesse - disse Luciano, desviando o olhar para o lado.

—Bom, você me visitou quando fiquei gripada - disse Anne - Achei que devia esse favor.

—Ah, claro, é só um favor. Saquei.

—Ué? Você queria mais o quê? Não vai me dizer que…

—O quê? Você lembrou de alguma coisa?

—Nada. Não lembrei de nada - falou Anne, também desviando o olhar para o lado - Como vou lembrar de algo que nunca aconteceu?

—Então você conseguiu? - perguntou Luciano.

—Consegui o quê?

—Esquecer aquilo - falou Luciano - Porque...eu, sinceramente, ainda não consegui…

Anne ficou vermelha. Os dois ficaram em silêncio por um tempo e, quando decidiram falar, os dois viraram o rosto um para o outro ao mesmo tempo e seus olhares se cruzaram.

—Com o tempo...a gente esquece - falou Anne - Não vale a pena ficar esquentando a cabeça com uma coisa tá boba como aquele...

—É. Também acho - concordou Luciano, antes que Anne completasse a frase com a palavra “beijo”. 

Mas os dois não conseguiam parar de se olhar. Nisso, Briana voltou com as bebidas.

—Voltamos - disse ela, abrindo a porta - Que sorte. A cafeteria estava bem vazia! 

“Sorte mesmo”, pensou Anne.

—O que foi, gente? - perguntou Briana - Vocês estão com calor? Estão meio vermelhos...

—É, é verdade. Tá quente. Vou abrir a janela - disse Anne.

Pelo jeito, ainda vai demorar para “aquilo” ser esquecido.


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Notas finais do capítulo

Acreditem ou não, na minha ideia original desse arco não teria essa cena final do hospital. Pensei nela quando estava escrevendo o capítulo agora. Kkk.

No próximo capítulo, começamos outro arco. Até lá! :)



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