Vila Baunilha escrita por Metal_Will


Capítulo 81
Dois contra um




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—Venham, venham todos! - gritava Asdrubal, o excêntrico visitante de Vila Baunilha que armou um verdadeiro ringue na praça central da cidade para que seu filho Igor fosse desafiado em uma luta - Nosso desafio está para começar!

Vila Baunilha é uma cidade pequena (acho que já deu para perceber isso desde o...primeiro capítulo?) e é óbvio que não demorou muito para uma grande parcela da cidade se reunir na praça. Eventos que reúnem muita gente eram raros na cidade, mas eram uma boa oportunidade para fazer negócios, algo que Carla, a mãe de Anne e Briana, sabia farejar muito bem. 

—Quentinhas! Quentinhas aqui! Não fiquem sem almoçar! - chamava ela para garantir uns clientes interessados em almoçar sem perder o evento, já que o restaurante estava vazio com toda aquela comoção.

—Vê uma pra mim! - disse um cidadão aleatório.

—Aqui está! - Briana disse gentilmente.

—Afinal de contas, por que tá todo mundo tão interessado nesse evento aí? - perguntou Anne, também ajudando no preparo das quentinhas em  - Parece óbvio que tem alguma maracutaia!

—O que importa? - falou Carla - A gente lucra mesmo assim. Se os clientes não vem para o restaurante, o restaurante vai até os clientes. Gustavo, querido, já de volta?

—Sim, senhora - disse Gustavo, trazendo mais algumas sacolas com ingredientes - Aproveitei e também trouxe mais umas panelas.

—Esse menino vale ouro - disse Carla - Vê se aprende com ele e deixa de ser preguiçosa, ouviu, Anne?

—Mas eu também tô trabalhando duro! - retrucou a garota.

—Então vê se trabalha mais. Até sua irmã que nem obrigação de estar aqui tem está se esforçando! - reclamou Carla.

“Nada como uma mãe totalmente imparcial com as filhas”, pensou Anne.

De fato, boa parte da cidade estava ali para apreciar o tal evento. Luciano, o desafiante, apesar de saber que participaria de uma armação, não estava lá muito confiante, especialmente ao ver Igor, a pessoa com quem ele iria lutar naquela exibição.

—Olha aquele cara! - reclamou Luciano para Abílio - Ele não é uma montanha humana!

—Exatamente - disse Abílio - Por isso tá na cara que todo mundo vai apostar nele. Vamos ganhar fácil!

Luciano estava usando uma roupa de luta livre ou algo parecido emprestada de um amigo de Abilio para encarar a disputa. A roupa deixava seu físico à mostra e, como podemos dizer, a academia dele não estava muito em dia.

—O problema é...se você ganhar muito fácil, vai ficar na cara que é armação - falou Abílio em voz baixa - Por isso, vocês vão ter que encenar um pouco antes de terminar tudo.

—E-Encenar? - Luciano gaguejou.

—É. Talvez você tenha que apanhar um pouquinho, mas é um sacrifício pequeno pela grana que nós vamos ganhar! - disse Abílio.

“Não tô gostando do rumo dessa história”, pensou Luciano. “Bem que um milagre podia acontecer agora!”

Não aconteceu bem um milagre, mas a polícia da cidade apareceu no momento em que Luciano concluiu esse pensamento.

—Muito bem, muito bem - disse o delegado Fonseca, acompanhado do soldado Caxias, chegando com toda a seriedade no local, enquanto Asdrubal estava em cima do ringue, ainda chamando todos para se aproximarem - É o senhor que está por trás disso?

Fonseca se dirigia a Asdrubal ao falar isso.

—S-Sim - gaguejou o visitante, um pouco tenso diante da presença da polícia.

—Por acaso, o senhor tem licença para fazer um evento desse porte? - perguntou o delegado.

—Licença? - falou Asdrubal, se fazendo de desentendido.

“Ferrou”, pensou Asdrubal. “Esqueci de combinar um esquema com a polícia para fazerem vista grossa com o evento”

—Senhor policial - continuou Asdrubal - Creio que...possamos conversar com calma sobre isso.

—Conheço bem o seu tipo - disse o delegado - Sou um policial honesto, ouviu bem? Sem licença da prefeitura, nada de espetáculo aqui.

“É isso aí!”, pensou Luciano comemorando. “Mandou bem, delegado!”

—E então? - soldado Caxias se aproximou do ringue - O senhor tem licença ou não?

—Não se preocupem! - o prefeito gritou, do outro lado do ringue - Isso parece um evento divertido, então eles têm a minha autorização! Depois eu resolvo a papelada!

—Ah, se é assim, está tudo certo - disse o delegado, mudando para uma expressão sorridente - Pode continuar, meu bom cavalheiro!

“Maldito prefeito”, pensou Luciano.

“Não entendi muito bem, mas acho que podemos continuar”, pensou Asdrubal.

E, com isso, Asdrubal deu prosseguimento ao evento.

—Muito bem, senhoras e senhores. Estamos prestes a iniciar um evento que mostrará todo o esplendor da luta livre. Meu filho aqui, Igor, desafia a qualquer um que desejar vencê-lo. As apostas estão abertas!

Abílio subiu ao ringue e mostrou dois tickets, um verde e um vermelho.

—Aqueles que quiserem apostar no Igor, comprem um ticket verde - falou Abílio, assumindo o microfone - Aqueles que quiserem apostar no desafiante, comprem um ticket vermelho. Cada ticket custa dez reais. Podem comprar o quanto quiserem. No final, dividiremos o total do dinheiro entre aqueles que apostaram no vencedor!

—Isso aí é aposta na cara dura mesmo - disse Anne, acompanhando tudo da barraquinha do restaurante - Não é um mau exemplo para as crianças?

—Ninguém liga, Anne - disse Carla - Volta para o trabalho.

—Tá bom - disse a garota, voltando ao que estava fazendo.

—Daremos oportunidade a todos que quiserem participar - disse Asdrubal - Aqueles que quiserem desafiar meu filho Igor em uma luta, pode subir no ringue agora mesmo!

Igor exibia seus músculos sem a mínima cerimônia.

—Fala sério, quem vai enfrentar esse cara? - comentavam alguns.

—Olha o tamanho daqueles braços. Tu tá maluco - comentou outro.

—Eu encaro! - disse Ian, surgindo no horizonte de óculos escuros e um roupão cor de rosa - Eu, Ian Ferraz, enfrento esse desafio como um homem!

—É o nosso filho, querida - disse o prefeito para sua esposa que acompanhava tudo, também usando óculos escuros e segurando sua cachorrinha poodle.

—Ah, sabia que ele era corajoso - disse a mãe.

“Alguém foi doido o bastante de encarar?”, pensou Asdrubal.

—Ele vai mesmo lutar? - perguntou Igor em voz baixa para o seu pai.

—Parece que sim - disse Asdrubal.

—Ah, que ótimo - falou Luciano - Eu me livrei dessa. Bem, vou indo nessa.

Mas antes que Luciano desse as costas, Abílio foi atrás dele como um foguete e o puxou para trás.

—Onde pensa que vai? Você vai lutar de um jeito ou de outro! É até bom que essa luta aconteça, assim eles vão ter mais confiança ainda de apostar no Igor.

“Eu devia ter fugido enquanto ele estava no ringue explicando as apostas, droga”, pensou Luciano.

—Bem, meu rapaz - disse Asdrubal - Está certo disso?

—Certíssimo - falou Ian, subindo no ringue e pegando o microfone - Eu dedicarei essa vitória para minha amada, Anne Montecarlo!

—Ian, seu maldito! - gritou Luís que, estranhamente, estava com o corpo e as pernas amarrados, e andava saltitando até chegar próximo ao ringue - Por que me amarrou? Você aproveitou que eu estava distraído no vestiário e me deixou ali desse jeito!

—Quanto menos desafiantes, melhor! - disse ele - Achei que não devia se intrometer.

—Ora, seu...foi covardia sua ter me amarrado. Você sabe que eu também estou pronto para lutar pela Anne! - Luís, com muito esforço, chegou até o microfone para também gritar e expressar eu amor - Anne, minha deusa! Eu também vou lutar e dedicar minha vitória para você!

Enquanto isso, Anne apenas se escondia debaixo da barraca.

—Você tá bem, Anne? - perguntou Briana.

—Por favor, só me chama de volta quando aqueles palhaços pararem de gritar o meu nome - falou ela.

—Deixa de corpo mole, Anne! - bronqueou Carla - Acha que pode ficar sem trabalhar só porque faz sucesso com a macharada? Não criei filha minha para ser mimada, não!

—Eu já vou! - reclamou Anne, quase chorando de desgosto.

E essa era a situação, Ian e Luís estavam no palco para enfrentar a tal luta.

—Vão mesmo encarar? - disse Asdrubal.

—Ele eu não sei, mas eu vou - disse Ian.

—Ora, seu. Só me desamarra aqui que eu…

—Por que não lutam os dois? - falou Igor - Posso dar conta perfeitamente.

—É assim, é? - falou Ian - Então, que seja. Não que eu precise da ajuda do Luís, mas…

—Só me desamarra, seu idiota! - falou Luís - Eu posso muito bem enfrentar qualquer um!

Ian acabou suspirando e desamarrando o pobre garoto.

—E desde quando você luta, Luís? - perguntou Ian.

—Vi vários tutoriais de karatê ontem na Internet - explicou o garoto, ajeitando os óculos - E você? Duvido que saiba lutar qualquer coisa.

—Ora, que ultraje. Já fiz uma oficina de kung fu uma vez. Tenho mais experiência do que você.

—Muito bem, comecem! - gritou Asdrubal.

Em questão de segundos, Igor agarrou Ian com um braço, Luís com o outro e jogou os dois para fora do ringue.

—Igor é o vencedor! - gritou o pai dele - Palmas para nosso campeão!

—E-Espera. Já acabou? - perguntou Luís que, um instante atrás estava no ringue e agora estava fora dele.

—Alguém apostou nos dois? - perguntou alguém da plateia.

—Óbvio que não - disse outro - Na verdade, nem deu tempo de apostar.

“Perfeito”, pensou Abílio, com um olhar maquiavélico. “O Luciano não é mais forte do que esses dois imbecis. Todos vão confiar no Igor. Agora é nossa chance de ganhar uma grana preta!”

Será que as coisas vão mesmo sair como Abílio planeja?


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Notas finais do capítulo

Ian e Luís não podem ver uma vergonha que já querem passar. KKkk.

Bem, no próximo capítulo veremos o que vai sair disso. Até lá!



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