Vila Baunilha escrita por Metal_Will


Capítulo 68
Inconveniência


Notas iniciais do capítulo

Estamos de volta em mais um capítulo. Tenha uma boa leitura! :)



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Por conta de uma série de eventos, Anne acabou concordando (relutantemente) em ajudar Luciano em seus estudos. As notas do rapaz não eram das melhores (bom, eram péssimas mesmo) e a ajuda de uma garota inteligente e de boas notas como Anne certamente seria bem-vinda. Principalmente para aqueles que desejavam uma aproximação dos dois, como Ema e o próprio pai de Luciano, Abílio, vislumbrando um casamento de seu filho com Anne como uma ótima oportunidade de tirar o pé da lama. E assim, depois da aula, os dois estavam ali, na biblioteca da escola, prontos para iniciarem uma hora de estudos.

—Tudo bem ficar na biblioteca? - perguntou Anne - Estudo em grupo pode ser barulhento.

—Relaxa - falou Luciano, já pegando uma mesa - Só tem a gente aqui.

De fato, a única outra pessoa ali era a bibliotecária, uma mulher por volta de seus 50 e poucos anos, que apenas jogava paciência no computador velho do atendimento.

—Se você diz… - balbuciou Anne - Vamos logo, então.

Enquanto pegavam seus cadernos e livros, procurando a matéria que iriam estudar, alguém além da bibliotecária também estava nas proximidades e viu os dois sentando juntos. Era uma pessoa pequena, com olheiras, uma semblante cabisbaixo e um cabelo preto oleoso. Talvez você se lembre da Samara, a garota praticamente invisível.

“É-É o Luciano”, pensou Samara, gaguejando mesmo em pensamento. “O Luciano e a Anne. O que eles estão fazendo aqui?”

Samara era uma frequentadora assídua da biblioteca da escola. Gostava do silêncio e de procurar livros novos para fantasiar e imaginar os personagens com uma vida mais emocionante do que a sua. Porém, não esperava que fosse encontrar Luciano ali, o garoto que, por algum motivo, chamava a atenção dela.

“Só vim à biblioteca pegar mais um livro e agora dou de cara com eles aqui”, a pobre garota continuava pensando. “O que eles vieram fazer? Estão tão próximos...será que…”

Samara não entendia bem seus próprios sentimentos e acabou deixando se levar demais pela imaginação, enquanto suas magras mãozinhas tremiam com as hipóteses que conjecturava em sua mente.

“Não pode ser...eles vieram aqui, nesse lugar vazio que é a biblioteca, para se encontrarem. Será que eles se encontraram outras vezes além daquela na sorveteria? Sim, foi um desastre, saí toda suja de sorvete, mas...pode ser que eles tenham achado divertido e começaram a namorar. Tá, tudo bem, eu não sou nada do Luciano e nem gosto dele. Não gosto, não é? Claro, por que deveria estar preocupada…”

Mas a cabeça dela era uma turbulência maior do que uma tempestade em alto mar.

“Ah, é claro que estou preocupada! Quer dizer, não acho que aqueles dois combinam”, pensava Samara, continuando a observá-los escondida. “Não quero que eles namorem. Não que eu goste do Luciano, mas...ou gosto? Ah, só sei que estou tensa. Ai, meu coração!”

Só que a situação daqueles dois não era bem um namoro e sim algo mais profissional. Bem, pelo menos Anne estava tentando levar a sério.

—Você entendeu? - indagou Anne, após explicar uma equação de segundo grau para Luciano.

—De onde você tirou esse triangulozinho aqui? - perguntou Luciano.

—É o delta da fórmula de Bhaskara - explicou Anne - Pelo menos isso você sabe, não sabe?

—Acho que lembro vagamente - disse Luciano.

—Essa fórmula aqui - apontou Anne no livro.

—Espera...não era para achar um x? De onde tiraram esse “a”, esse “b” e esse “c”?

—São letras para representar os números que aparecem em uma equação de segundo grau - continuou Anne.

—Tudo começou a complicar quando misturaram letras com números - lamentou Luciano - Matemática é complicado demais.

—Para de reclamar - ralhou Anne - Se eu gostasse de mimimi eu comprava um gato gago. Vai, vamos ver isso de novo.

—Já passou uma hora? - perguntou Luciano.

—Só estamos aqui há dez minutos - disse Anne.

—Ainda? O tempo passa muito devagar quando não queremos - Luciano continuou lamentando, enquanto tentava girar sua caneta com as mãos.

—Se quiser desistir, por mim tudo bem - disse a garota - Não sou que vou repetir de ano mesmo.

—Tá bom, vai. Vamos ver esse negócio de novo.

Nessa hora, uma terceira pessoa acabou chegando na biblioteca e se junto à mesa.

—Ah, querida Anne - disse Ian, simplesmente chegando e se sentando entre os dois - Fiquei sabendo que abriram um grupo de estudos. Também gostaria de participar.

—Ei, e você lá precisa de aulas? - perguntou Luciano.

—É sempre bom revisar o conteúdo, sabe? - justificou Ian - Além disso, soube que Anne é uma excelente professora. Não é, querida Anne?

Ian falava isso segurando as mãos da garota que, apesar de seu olhar de “sério mesmo” já parecia estar se acostumando com as loucuras daquele lugar.

—Bem, se quiser participar - disse Anne, largando nada sutilmente as mãos de Ian - É só chegar e entrar.

“Ah, que bom! Não é um encontro!”, pensou Samara, suspirando aliviada. “Por que estou aliviada? Ah, preciso decidir logo o que estou sentindo!”

Seja como for, apesar de toda sua dificuldade de auto-conhecimento, Samara foi à secretaria, cadastrou o empréstimo do livro e saiu sem que ninguém a percebesse. Só que, na saída, não conseguia tirar os olhos de Luciano e, ao abrir a porta, acabou batendo-a na cara do pobre Luís.

—Ai! - reclamou ele.

—Err...d-de-de… - Samara só podia gaguejar.

—Desculpas? - perguntou Luís, massageando seu pobre nariz.

—Isso! - confirmou a garota, finalmente ganhando fluência na fala - Não vi você aí.

—Tudo bem. Só estava tentando olhar o que estava acontecendo ali dentro. Aquele Luciano! Ganhou a atenção da minha Anne só para ele. E agora o Ian entrou no meio. Não tenho nem desculpa para entra ali e estudar junto, já que minhas notas já estão boas.

—Ah, então eles estão só estudando mesmo - disse Samara - Espera, você disse “sua Anne”. Então...ela é sua namorada?

—Sim! - disse Luís, orgulhoso - Ela só não sabe disso ainda.

“Mas que idiota”, pensou Samara, mas Luís logo continuou a falar.

—Ei, você não estava na sorveteria no outro dia? - perguntou Luís.

—S-Sim. Acabei me envolvendo sem querer naquela guerra de sorvete - disse Samara, tentando esconder o olhar.

—Aquilo foi um desastre. Mas pelo menos aquele encontro não deu em nada - falou Luís, orgulhoso - Estou tentando conquistar a Anne, mas não quero que o Luciano fique no meu caminho. Pelo menos sei que ela não gosta do Ian. Hehe.

—Então, você gosta mesmo daquela Anne? - perguntou Samara.

—Sim. Ela é a mulher da minha vida! - disse Luís - Ela só precisa saber disso...

—T-T-Tem…

—O que foi? Desculpe, nunca conheci uma gaga antes, então não sei como lidar com isso.

—Não sou gaga! - reclamou Samara - Só queria dizer que você tem o meu apoio.

—Sério? - disse Luís, olhando para Samara firmemente - Então, você percebeu que fomos feitos um para o outro?

—S-Sim - gaguejou a pobre garota, apesar de envergonhada.

—Finalmente alguém que entende os meus sentimentos! - disse Luís, empolgado - Muito obrigado,err... garota que não sei o nome?

—M-M-Meu nome é Samara - respondeu ela.

—Tudo bem, Samara - disse Luís - Obrigado por sua confiança. Tenho certeza de que conseguirei conquistar o coração de Anne mais cedo ou mais tarde.

“Se ele ficar com a Anne, então o Luciano também ficaria livre, não é? Ei, espere, por que estou pensando essas coisas?”, pensava Samara.

—Aliás, você é do fundamental? - perguntou Luís.

—Já estou no ensino médio. Sou do segundo ano - respondeu Samara.

—Quê? Você é mais velha do que eu? Mas é tão pequenininha - disse Luís.

“O sujo falando do mal lavado!”, pensou Samara, furiosa mentalmente, mas sem coragem de expressar isso.

Enquanto isso, dentro da sala de estudos, Anne voltava a explicar matemática.

—E então? Entenderam agora? - perguntou ela.

—Não entendi nada - falou Ian.

—O que você não entendeu? 

—Nada mesmo - disse Ian - Só fiquei prestando atenção nos seus olhos.

Anne apenas suspirou.

—Pai, dá-me paciência, porque se me der força eu mato - disse ela, olhando para os céus - E você, Luciano? Entendeu alguma coisa?

—Ah, acho que agora sim - disse ele - Tem que usar uma fórmula quando aparece x ao quadrado, né? 

—Isso - disse Anne, tendo um lampejo de esperança.

—Foi só isso que entendi. Pode explicar o resto de novo.

Novamente, a garota suspirou. 

—Claro que posso - disse Anne, tentando manter a plenitude.

—Realmente, você é um poço de paciência, querida Anne - disse Ian - Ensinar algo para uma mente simplista como a de Luciano é uma virtude.

—Você também não entendeu nada, manézão - ralhou Luciano.

—Mas se eu me esforçar, certamente vou entender - disse Ian.

—Ian. Você realmente não precisa estar aqui, precisa? - perguntou Anne.

—Como disse, sempre é bom revisar, não é, querida Anne? - falou Ian, se aproximando cada vez mais da garota.

—Escuta. Essa é uma aula de reforço e não de complemento - disse ela - Se você já sabe a matéria, só ficar aqui é perda de tempo.

—Não importa - disse ele - Só de ficar aqui te olhando já vale qualquer tempo perdido.

—Acho que podemos terminar por hoje, né? - disse Anne - Isso aqui não vai avançar mesmo.

—Mas já? Oh, como um tempo de duro estudo parecem milésimos de segundo diante do esplendor da sua beleza - disse Ian, segurando nas mãos de Anne.

—Você ouve o que você fala? - disse a garota.

—Então é isso? Já acabou - disse Luciano - Bom, que seja. Não esperava que fosse sair alguma coisa disso mesmo. Só o imbecil do meu pai para pensar nessas coisas mesmo.

Luciano pegou suas coisas e saiu da biblioteca. Antes de sair, Samara e Luís se esconderam rapidamente.

—Ele parecia chateado - pensou Samara.

—Isso é bom - falou Luís - Talvez tenha se chateado com a Anne. Se eles brigarem, melhor para mim. Hehe.

“E para mim também”, pensou Samara. “E-Espera. Será que eu devia pensar assim?”

—Já que ele se foi, querida Anne. Gostaria de fazer alguma coisa?

—Não dá. Preciso trabalhar.

—Posso te dar uma carona com o meu motorista.

—Prefiro a pé. É meu momento de caminhada - disse ela - Tchau!

—Até mais, minha amada. Vamos estudar juntos outro dia também.

Anne apenas virou os olhos para cima e foi embora. Naquele mesmo dia, à noite, Luciano estava na lanchonete de seu pai, às moscas como sempre. Aproveitou o tempo para ler um pouco seus livros e cadernos de escola.

—O que está fazendo? - perguntou Abílio.

—Estudando - respondeu Luciano - Não tem ninguém aqui mesmo.

—Foi influenciado pela Anne, é? Bom ver que essa aproximação já está surtindo efeito.

—Ah, não é nada disso! - reclamou o garoto - Mas até que ela me fez perceber que vou ter muito trabalho se não começar a estudar mais a sério. Vou aproveitar que fico sem fazer nada aqui no trampo e ver se entra alguma coisa na minha cabeça.

—Então, vocês vão continuar estudando juntos?

—Duvido. Ela até tentou, mas sou burro demais. Melhor eu começar a me virar sozinho mesmo.

—Droga. Achei que poderia ser um bom meio de juntar vocês dois…

—Achou errado - foi o que Luciano disse antes de voltar os olhos para seus livros. No entanto, alguns minutos depois, ele vê Anne entrando na lanchonete com sua mochila.

—E aí? - cumprimentou ela.

—Ah, se não é nossa querida vizinha? - Abílio se apressou em atendê-la - Veio comer alguma coisa?

—Não, obrigada - disse ela - Eu...vim ajudar o Luciano a estudar.

—Como é? - perguntou Luciano.

—Pelo jeito, estudar na escola é impossível com malucos como o Ian nos enchendo o tempo todo - falou Anne - Mas acho que aqui, na lanchonete, podemos ter mais sossego. Afinal, vocês não tem muito movimento.

—Sim, estamos às moscas - disse Luciano.

—É, mas mesmo que estivéssemos, vocês podem estudar à vontade - disse Abílio - Pode deixar que eu tomo conta de tudo.

—V-Valeu - agradeceu Luciano.

—Relaxa - disse Anne, sentando na mesa de Luciano e tirando seu material.

—Mas, você deve estar cansada de ter trabalhado o dia todo no restaurante, não está? - disse o garoto - Vai querer mesmo me ensinar?

—Não gosto de não cumprir o que prometi - falou Anne - Se falei para os meus pais que iria te ajudar, então vou te ajudar. Além disso, quero ser médica e se conseguir ensinar a matéria, eu também aprendo. No fundo, é verdade que também ganho com isso.

—Bom, se é assim…

—Mas nada de fazer corpo mole! - disse Anne - Pode ir abrindo esses livros aí. E, como temos tempo, vamos estudar por duas horas, tá ouvindo?

—Duas horas? Ah, tá bom, vai…

Apesar disso, Anne estava de bom humor e os dois até trocaram um sorrisinho nisso tudo. Talvez a aproximação deles já estivesse menos forçada.

De longe, Abílio tirou uma foto de Anne e Luciano estudando juntos com seu celular velho, mas com uma disponibilidade de dados suficiente para enviar a foto para Ema. A rica garota quase explodiu de alegria.

—Ah, as coisas estão andando - disse ela - Eu tô falando. Esses dois não terminam o Ensino Médio sem ficarem juntos.

Será?


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Notas finais do capítulo

Ian gado gadoso como sempre. Kkk

Bem, uma hora essa relação tinha que andar, né? Quase 70 capítulos! XD

Mas, claro, aqui a gente vai devagar. Continue acompanhando. Até! :)



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