Vila Baunilha escrita por Metal_Will


Capítulo 67
Só pelas notas


Notas iniciais do capítulo

Olá, amigos. Bom domingo e boa leitura! :)



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—Eu não vou negar que sou louco por você, estou maluco pra te ver, eu não vou negaaar! - isso era Luciano tentando tirar mais uma música sertaneja em seu violão, um início de capítulo que provavelmente vocês já estão acostumados, mas Abílio nunca se acostuma.

—Aí, moleque! - disse Abílio, praticamente arrombando a porta do quarto de Luciano.

—Pai? Aconteceu alguma coisa? - perguntou o garoto, notando que seu pai parecia mais irritado do que o hábito.

—Acabei de voltar da escola e recebi o seu boletim - disse ele, mostrando as notas de Luciano.

—Ah, sim. Minhas notas - falou Luciano, nada surpreso.

—É tudo que você tem para me dizer?

—Mas você nunca ligou para as minhas notas. Na verdade, você nunca foi às reuniões.

—Não fale como se eu fosse um pai irresponsável!

“Mas você é”, pensou Luciano.

—Bem - Abílio tentou se recompor - Estou preocupado com o nosso futuro, filho.

—Ah, entendi. Começou a se preocupar com os meus estudos.

—Sim. Porque são os seus estudos que vão melhorar nossa vida.

—Puxa, pai - Luciano estava quase se comovendo - Então, o senhor está mesmo colocando esperança em mim? Acha que se me esforçar poderei me tornar um grande músico no futuro?

—Que músico o quê? - ralhou Abílio - Estou falando de você estudar com a Anne. É sua chance de aproximar dela e garantir um casamento!

—Como é?! - agora Luciano é quem ficou abalado.

—Você sabe! Não conseguimos expulsar aqueles Montecarlo da cidade! Se não podemos, vencê-los, o jeito é se juntar a eles. Por favor, filho, pense no seu velho pai! Case com a Anne e garanta um bom futuro para nós dois. Ouvi dizer que ela quer se tornar médica. Todo médico ganha bem. É a sua chance!

—E por que a Anne iria querer estudar comigo?

—Os pais dela concordaram - disse Abílio - É só vocês combinarem o dia.

—E quem disse que eu quero estudar com aquela insuportável?

—Suas notas - Abílio esfregou o boletim na cara de Luciano mais uma vez - É isso, ou correr o risco de repetir de ano.

—Posso estudar sozinho, sabia?

—Luciano. Você e eu sabemos que isso não vai funcionar.

—É verdade - reconheceu Luciano, mais rápido do que seu orgulho permitiu.

—Está decidido. Amanhã, na escola, você conversa com a Anne e marca um horário para estudarem juntos. Entre uma aula e outra, vê se joga o seu charme pra cima dela!

“Charme?”, pensou Luciano, tentando entender a ideia. Bem, ele nunca foi muito ligado nessa coisa de jogar charme, apesar de seu visual largado até atrair alguns olhares (que ele não percebia).

—Err...Anne - esse era Luciano se aproximando de sua vizinha no dia seguinte, um pouco antes da aula começar, já na sala.

—Fala - disse a garota.

—Então, o meu pai me falou que você estava querendo me ajudar a estudar.

—Eu? Querendo te ajudar a estudar? Na verdade, os meus pais que praticamente me forçaram a te dar essa mão - falou Anne.

—Custa ser um pouco mais gentil?

—E você é gentil comigo por acaso? É sempre grosso!

A troca de faíscas entre os olhares deles era perceptível, até uma certa pessoa chegar e quebrar o clima pesado.

—Bom dia, meu casal preferido - disse Ema, mais animada do que de costume.

—Como é que é? - falou Anne.

—Ouvi dizer que vocês vão estudar juntos, né? Seus pais seguiram mesmo meu conselho! - falou Ema, sem a mínima cerimônia.

—Então foi ideia sua? - falou Luciano - Eu já devia saber.

—Ah, a culpa é de vocês por serem tão lerdos. Eu juro que estava apenas esperando a aproximação de vocês, mas não me contive. Já estava na hora de dar um empurrãozinho nessa relação. Esperei tempo demais - explicou Ema.

—Saudades de se meter na vida dos outros, né, minha filha? - comentou Anne.

—Ora, por favor - respondeu Ema - Vocês vão me agradecer. Trabalhar ou estudar com alguém é um ótimo jeito de conhecer alguém melhor.

—Não quero conhecer alguém melhor, só quero me livrar dessas notas vermelhas - falou Luciano, com seu boletim em mãos.

—Deixa eu ver isso - Anne pegou o boletim das mãos do garoto e arregalou os olhos em espanto - Minha nossa, é pior do que eu pensava.

—Viu só? O garoto precisa mesmo de ajuda - falou Ema - Vai deixar mesmo um pobre rapaz, tão desprovido de inteligência, correr o risco de repetir o ano?

—Ei, estou aqui ainda, viu? - ralhou Luciano.

—Tá, que seja - disse Anne - Já falei para os meus pais que iria ajudar mesmo. Você pode quando?

—A hora que você quiser - respondeu Luciano.

—Bom, eu trabalho no restaurante à tarde e você trabalha na lanchonete à noite. O jeito é combinarmos uma horinha depois da aula mesmo. Com o Gustavo trabalhando no restaurante, não vai ter problema - disse Anne.

—Por mim tá tranquilo - falou Luciano.

—Então, combinado - disse Anne.

—É, combinado - disse Luciano.

—Combinado! - falou Ema, mais empolgado do que os dois juntos, recebendo um olhar não muito amigável deles - Que foi, gente? Só confirmei.

Luciano voltou para o seu lugar, não muito animado por ter que ficar mais tempo na escola do que gostaria, mas, ao mesmo tempo, sentindo um certo instinto assassino logo ao seu lado.

—Luciano - Luís não parecia nada amistoso.

—Luís? Que é isso? Parece uma aura assassina…

—Quero mesmo te matar, seu maldito! - falou o garoto, quebrando um lápis de raiva - Vai mesmo estudar com a Anne? Estudar com a minha Anne?

—Desde quando ela virou sua? - perguntou Luciano.

—Você me entendeu! Como ousa se aproximar tanto assim dela? Não basta morar na frente da casa dela, quer passar mais tempo ainda com ela?

—Ei, eu não passo tempo com ela. Ainda bem.

—Mas vai estudar do ladinho dela...que inveja.

—Bem, é que minhas notas estão ruins.

—Como pode? Como o mundo pode ser tão injusto? Dedico minha vida à ciência e aos estudos para um ladrão de namoradas roubar minha garota por ter notas baixas. Essa é mais uma prova de que não existe Deus nenhum! - falou Luís, praticamente se derramando em lágrimas.

—Para de fazer drama. Primeiro, ela nem é sua namorada para eu roubar. Segundo, só vou estudar com ela uma horinha depois da aula. 

—Mesmo? - perguntou Luís.

—Mesmo - falou Luciano - E chega dessa conversa, vai.

O tempo passa e, finalmente, a aula terminou, com Luciano indo até Anne para ter sua tão falada “aula particular”.

—E então? Vamos acabar logo com isso? - falou Luciano.

—Ei, quem tá fazendo o favor aqui sou eu, tá? - ralhou Anne - Dá pra ser um pouco mais agradável.

—Você sabe que só estamos nessa porque nossos pais estão nos forçando - disse Luciano - Não minta! Você quer acabar com isso tanto quanto eu!

—É, isso é verdade - disse Anne - Então, vamos logo. Só temos uma hora. Não dá para estudar quase nada nesse tempo.

—Quase nada? É uma hora inteira! - exclamou Luciano.

Anne apenas suspirou.

—Logo se vê que você não tem muito hábito de estudar, né, Luciano? 

—Tá. E o que vamos estudar? - perguntou o garoto.

—Podemos começar pela matéria que você está com mais dificuldade. Matemática. Vai ser difícil recuperar esse seu 2.0.

—Tá bom. Vamos logo - disse Luciano, coçando a cabeça e já pensando na dor de cabeça que teria para entender todas aquelas contas. Bem, eles precisam começar de algum lugar. Vamos ver como essa dupla inesperada de estudos irá se sair.


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Notas finais do capítulo

No próximo capítulo vamos ver como esse casal incomum vai se sair estudando juntos. Até lá! :)



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