Vila Baunilha escrita por Metal_Will


Capítulo 66
Reforço


Notas iniciais do capítulo

Mais um domingo, mais um capítulo. Boa leitura! :)



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Quando os pais de Vila Baunilha estavam em reunião com os professores, Abílio, pai de Luciano, foi o último a chegar na sala do primeiro ano. Antenor, pai de Anne, cumprimenta seu vizinho.

—Opa, Abílio. Como vai? - disse Antenor - Não sabia que também viria para a reunião, senão te daríamos uma carona.

Abílio parecia cansado, como se tivesse vindo correndo. Para alguém um pouco acima do peso como ele, qualquer corrida já era motivo de cansaço.

—Tudo bem - disse Abílio, tentando recuperar seu fôlego - Eu tinha que terminar umas coisas na lanchonete. Ainda bem que consegui chegar a tempo.

—É a primeira vez que vem na reunião, não é? - perguntou Otávio.

—Sim? O senhor é pai de qual aluno? - perguntou Abílio.

—Sou o professor, idiota! - respondeu Otávio, sem muita paciência (ele já estava aposentado e Abílio não pagava o salário dele, então não precisava ter nenhum tato para falar com pais de alunos).

—Oh, mesmo? Desculpe - disse Abílio - É verdade, agora estou me lembrando.

—Não é o dono da lanchonete? - comentou doutor Renato com sua esposa.

—Até onde me lembro, sim - respondeu ela.

—Fiz bem em vir de máscara - disse Henrique para sua filha - Olha como esse senhor chegou, deve estar cheio de germes.

—Bom, acho que só falta o senhor mesmo ver as notas do seu filho - disse Otávio, procurando em sua pasta a ficha de Luciano - Aqui está...ah, sim, o senhor é o pai do Luciano, não é?

—Isso mesmo - disse Abílio.

—As notas do seu filho estão péssimas - disse o professor, entregando o boletim de Luciano em mãos - Vai ter que fazer as provas de recuperação de meio de ano e ralar muito para passar de ano no segundo semestre.

—Aquele idiota - balbuciou Abílio - Como consegue tirar notas tão baixas? 

—Err...com licença? - Ema se aproximou educadamente - Não pude deixar de ouvir.

—O que foi? - perguntou Otávio.

—Pelo que entendi, as notas de Luciano não estão muito boas, não é? - comentou ela.

—Você é uma mocinha muito educada - disse Abílio - Elas estão péssimas mesmo!

Ema olhou para o boletim de Luciano e viu a coloração vermelha predominando na relação de notas.

—Bem, eu sei que Luciano não é um dos melhores alunos, mas… - ela fez uma pequena pausa, olhando de canto de olho para os pais de Anne - ...acho que ele pode melhorar se receber ajuda nos estudos.

—Seria bom. É uma pena que não tenho dinheiro para pagar professores particulares - disse Abílio, mudando sua expressão para uma feição mais lamentosa.

—Bem, acho que não precisamos pensar em dinheiro quando se tem amigos, não é verdade? - disse Ema.

—Mesmo? Você poderia ensinar o meu filho? - perguntou Abílio.

—Oh, eu adoraria, mas acho que seria mais produtivo se alguém mais próximo o ensinasse - disse Ema.

—Ah, talvez nosso filho possa ajudar - disse o pai de Luís, se aproximando - Ele é um excelente aluno em ciências e…

—Sim, entendo - interrompeu Ema - Luís é mesmo um garoto inteligente, mas não parece uma pessoa muito boa para ensinar. Ele é do tipo que sabe muito, mas está em um nível muito alto para um aluno iniciante.

—É verdade - comentou Abílio - Meu filho é um imbecil completo. Precisa de alguém realmente didático para ensinar a matéria.

—Por isso...acho que a pessoa perfeita seria a Anne - disse Ema, olhando para Antenor e Carla, que acompanhavam toda a conversa em silêncio.

—Nossa filha? - perguntou Carla.

—Oh, é mesmo - a primeira-dama, que também acompanhava toda a cena como quem acompanhava uma cena de filme ou novela - Sua filha é uma garota amável.

—As notas delas são ótimas que eu sei - disse Ema, animada.

—Ah, lembrei - disse doutor Renato - Anne comentou comigo que quer se tornar médica. Pode ser uma oportunidade para ela reforçar o conteúdo estudado.

—É verdade - disse a mãe de Luís - Ouvi dizer que quem ensina também aprende.

—Sim, também ouvi falar sobre isso - o prefeito entrou na conversa - Como disse a poetisa Cora Coralina, feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina. Ah, o ensino, o magistério, quão nobre é a profissão do docente, do mestre, daquele que cultiva as sementes das futuras gerações regando-os com as águas do saber!

“Bem que o salário desse jardineiro aí podia ser maior”, pensou professor Otávio.

—Viram só? Pode ser uma ótima oportunidade para a Anne reforçar o conteúdo que aprendeu - disse Ema, sem esconder sua empolgação.

Antenor e Carla se entreolharam.

—Bom, não vejo como isso poderia ser ruim - disse Antenor - Só precisamos perguntar à ela.

—É, acho que vai ser bom para a Anne. Ela tem andado muito egoísta nessa fase de adolescência. Vai ser bom ajudar o próximo para variar - concordou Carla.

—Sabia que vocês entenderiam - disse Ema.

—Sempre pensando nos outros, não é, filha? - disse Henrique, embora evitasse se aproximar de Abílio por medo dos germes.

Ema sorriu em resposta. Bem, na verdade, essa sugestão não surgiu tão de repente assim. Para entendermos isso, precisamos voltar alguns dias atrás, quando Abílio estava tranquilamente sentado em sua lanchonete contando as moscas durante uma tarde. Eis que o luxuoso carro de Ema para na frente do estabelecimento.

—Boa tarde, senhor Abílio - disse a animada Ema, saindo de seu automóvel.

—Ah, é você - disse ele - Veio comprar alguma coisa?

Ema não conseguiu disfarçar um sorriso amarelo diante daquela proposta.

—Infelizmente, eu já almocei - respondeu ela - Vim aqui por outro motivo.

—Qual motivo? - indagou Abílio.

—Vi o Luciano andando pela cidade agora pouco - prosseguiu ela - E achei que era uma boa oportunidade de passar aqui e conversar.

—Ah, você tem mais alguma ideia para juntar o inútil do meu filho com a filha dos Montecarlo?

—Sim - respondeu Ema, animada - E a resposta está nas notas do Luciano.

—O que tem as notas dele?

—São muito baixas - falou Ema - Ele realmente precisa estudar.

—E daí? O que isso tem a ver com juntar o casal? - estranhou Abílio.

—Teremos uma reunião entre pais e professores na semana que vem - falou Ema - Certamente, os pais da Anne estarão lá.

—E daí? - Abílio continuava sem entender.

Ema apenas suspirou, manteve seu sorriso e prosseguiu.

—E se a Anne ajudasse o Luciano a estudar? - sugeriu a garota - Seria um pretexto perfeito!

—Estudo? Não sei como isso pode ajudar.

—Um menino e uma menina, estudando juntos, juntos...sozinhos.

—Aaah! - disse Abílio, entendendo onde a menina queria chegar - É, agora estou começando a entender a sua ideia.

—Não se preocupe. Estarei lá junto com o meu pai e jogarei a ideia para a família dela. 

—Será que eles vão topar?

—Relaxa. Posso ser convincente - disse a garota.

—Ai, ai. Nunca fui em uma reunião dessas, afinal já sei que meu filho só tira nota baixa, mas, tudo bem, vai? - disse Abílio, coçando a cabeça - Se é pelo futuro dele casado com a Anne, vale a pena.

E isso explicava a sugestão tão imediata de Ema para Anne ajudar Luciano em seus estudos. Não precisamos ir muito longe em nossa imaginação para imaginar a reação de Anne ao ouvir essa notícia de seus pais assim que chegaram em casa.

—Como é que é? - disse ela - Vocês querem que eu faça o quê?

—Você quer medicina, não quer? - falou a mãe dela - Se conseguir ensinar alguém é sinal de que aprendeu a matéria.

—Mas o Luciano? - insistia Anne - Vocês sabem que eu não suporto aquele garoto!

—Ótima oportunidade para evoluir, minha filha! - disse Carla - Quer mesmo decepcionar o pobre seu Abílio? Demos carona para ele quando voltamos e o pobre homem não cabia de alegria ao ouvir que você poderia ensinar o filho dele. Não acha que devia pensar mais no próximo, não? 

—É verdade - Briana estava ouvindo a conversa ali na sala - Compaixão por aqueles que não gostamos é virtuoso, Anne

—Onde você aprendeu isso? - indagou Anne.

—Li em um texto da escola - falou a irmã mais nova.

—Vai mesmo decepcionar nossos vizinhos, filha? - disse Antenor, se aproximando de Anne com um tom mais afetuoso.

A garota apenas suspirou.

—Tá bom, vai - disse ela, já massageando a cabeça - Mas ele também vai ter que se esforçar!

Antenor e Carla sorriem. Como será esse encontro de estudo?


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Notas finais do capítulo

No próximo capítulo, veremos como esses dois vão se comportar estudando juntos.

Até lá! :)



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