Vila Baunilha escrita por Metal_Will


Capítulo 65
Reunião de pais


Notas iniciais do capítulo

Estamos de volta com mais um capítulo. Boa leitura! :)



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Eventualmente, é comum que as escolas organizem uma reunião entre pais e professores. Com a escola municipal de Vila Baunilha isso não é diferente. Ao final do primeiro trimestre, o colégio abriu suas portas durante uma noite para que os pais pudessem conversar com os professores para entenderem de primeira mão o desempenho dos filhos. Na sala de Briana, a mãe de Beni parecia satisfeita com as notas de seu filho.

—Seu filho é um ótimo aluno - disse uma das professoras da sala - Mas…

—Mas? - repetiu a mãe, percebendo a hesitação da docente.

—Acho que ele tem uma imaginação um pouco além do normal, sabe?

—Ah, sei, sim - reconheceu a mãe - Acredito que seja só uma fase. Sabe como são as crianças. Vivem imaginando um monte de coisas.

—Acredito que seja só isso mesmo.

“Espero que seja só isso mesmo”, pensou a mãe.

Os próximos pais que chegam são ninguém menos que o prefeito da cidade Venâncio e sua esposa Vera.

—Muitíssimo boa noite, cara professora - disse o prefeito - Espero que nossa pequena jóia Samanta não esteja dando muito trabalho.

A primeira dama acompanhava sorrindo enquanto segurava sua poodle de estimação, Fifi. A professora tentou disfarçar seu estranhamento com a excentricidade do casal e foi o mais profissional possível.

—Sua filha é uma ótima aluna com excelentes notas - disse a professora - Não temos do que reclamar dela.

—É um prazer ouvir isso - disse o prefeito - E também uma satisfação saber que o investimento de nossa prefeitura no colégio esteja contribuindo com a formação de nossos jovens. Não poderia ser diferente. Como eu, o prefeito, poderia deixar minha filha nas mãos de uma educação que não confio, não é verdade? É nessa hora que vemos quando os votos valem a pena.

“Mas eu nem moro nessa cidade”, pensava a professora, enquanto ouvia o discurso com um sorriso amarelo. Lembramos que Vila Baunilha é uma cidade minúscula e muitos dos trabalhadores que fazem a economia girar eram moradores de cidades vizinhas. Mas, enquanto o prefeito discursava, a esposa dele viu Antenor e Carla se aproximando.

—Ah, olha, querido - disse Vera - É o pai das meninas que nos visitaram outro dia.

—Boa noite - disse Antenor - Essa é a minha esposa, Carla.

—Oh, finalmente tenho a honra de conhecer o prefeito e a primeira-dama da cidade? - disse Carla - Boa noite.

—Muitíssimo boa noite - disse o prefeito - A honra é toda nossa.

—Então também vieram para a reunião de pais, é?

—Sim - disse o prefeito - Como prefeito, sinto que tenho o dever de acompanhar de perto a educação dos meus filhos.

—Mas tenho certeza de que aquele anjinho da Briana não deve dar trabalho nenhum, não é? - disse a primeira-dama.

—Exatamente - disse a professora, que acompanhava toda a conversa - A filha de vocês também é uma boa aluna. As notas delas estão na média ou superior à média.

—Sua filha parece mesmo uma boa menina - disse o prefeito - Tenho certeza que será uma ótima influência para nossa filha.

—Com certeza, sim - disse Carla.

Bem, parece que nenhum dos pais tinha muita noção de como Samanta, a filha do prefeito, tinha como missão de vida se tornar a rival de Briana. Bem, na verdade, nem a Briana parecia entender direito a relação entre elas.

De qualquer maneira, os pais conversaram mais um pouco com os professores e decidiram ir juntos para a sala do primeiro ano do Ensino Médio. Ali, encontraram com o delegado da cidade.

—Delegado Fonseca - disse o prefeito - Como está?

—Olá, prefeito - disse o delegado - Não precisa me chamar de delegado aqui. Estou à paisana. Vim conversar com o professor junto com o meu filho, o Rodrigo.

Filho? Antenor e Carla olharam para o lado e deram de cara com o filho do delegado, um garoto com boné para trás e um ar de serenidade no rosto, Rodrigo, vulgo Carioca. Isso mesmo que você leu, Carioca era o filho do delegado.

—E aí? - disse ele.

Surpreso? Como pode, né? Eles nem tem o mesmo sotaque! Mas não é tão surpreendente assim. De fato, o delegado não nasceu no Rio de Janeiro, ao contrário de Rodrigo, mas conheceu a mãe dele lá. No entanto, eles acabaram se divorciando e, quando Fonseca ganhou a oportunidade de trabalhar em uma cidade tranquila, a mãe concordou que era melhor Rodrigo morar com ele, afinal, a violência do Rio não era brincadeira.

—Acho que não conhecíamos o seu filho ainda - disse Carla.

—É um bom menino, mas ainda precisa se dedicar mais aos estudos - falou o delegado, tirando o boné do filho e bagunçando (mais ainda) o cabelo dele.

—Eu me dedico, só que as matérias são difíceis, né? - Carioca tentou se justificar.

Antenor sorriu com a relação amigável entre eles.

—Vocês parecem se dar bem - disse ele.

—É, moramos só nós dois, temos que nos aturar - disse o delegado.

Terminada essa conversa, os pais entraram na sala e encontraram o professor Otávio, atendendo os pais.

—Então, viemos aqui ver se a nossa filha tem aprontado muito - disse doutor Renato,  médico da cidade e pai de Kelly, rindo alto para um certo constrangimento de sua esposa ao lado.

—Não tem com o que se preocupar. Sua filha é uma boa aluna - disse o professor, já entediado - Podem ficar tranquilos.

—Bem, ela é um doce de menina mesmo - disse a mãe de Kelly - Bom saber que ela se comporta tão bem na escola quanto em casa.

—Boa noite - disse Antenor, chegando acompanhado de sua esposa e dos outros pais.

—Ora, se não é meu bom amigo, Antenor. O cara que faz o melhor rango da região! - disse Renato - E aí? Aquele garoto tem aprontado muito no restaurante?

—O Gustavo? Imagina. É um ótimo garoto - disse Carla.

—Bom saber. Mas ele ainda tem que ralar muito se quiser levar minha filha para o altar. Hahaha - disse Renato, rindo mais alto do que deveria.

—Amor. Dá pra se comportar, por favor? - disse a esposa dele - Se você fosse aluno, aposto que devia levar bronca direto na aula.

—Pior que é verdade. Hahaha - Renato continuou rindo. Sem dúvida, essa deve ser a pessoa mais bem-humorada da cidade.

—Com licença… - disse um homem baixinho de óculos acompanhado de uma mulher também baixinha e com óculos provavelmente de mesmo grau - Aqui é a sala do primeiro ano, não é?

—Sim. É aqui mesmo - disse doutor Renato - Como estão?

—B-Bem - disse o tímido homem de óculos - Viemos ver como está a situação do Luisinho.

Esses eram os pais do Luís. Ao contrário do filho, pareciam bem mais silenciosos e discretos. Porém, pareciam ter uma mesma aura intelectual. Só que a estatura pequena devia ser de família mesmo.

—Ah, nem precisavam vir - falou Renato - O filho de vocês não é um gênio?

—Bom, é o que dizem - disse o pai de Luís - Mas queria ver se ele não tem nenhum outro problema.

—Não, não tem - disse o professor Otávio, entrando na conversa - Podem ficar sossegados. O filho de vocês é o segundo da classe. Não tem o que se preocupar.

—Segundo? Então tem alguém mais inteligente ainda do que aquele garoto? - perguntou Antenor, lembrando que Luís era um mestre de invenções científicas quando o avaliou no processo seletivo para garçom em seu restaurante.

—Bom - disse o professor - O Luís vai bem em todas as matérias, mas não tem muito bom desempenho em Educação Física.

—Ah, tá - disse doutor Renato - Mas quem liga para Educação Física? 

Todos riram (inclusive o professor).

—Mas...se o Luís não é o primeiro da sala, então quem é? - perguntou o pai dele.

—Bem, é uma pessoa que não só vai bem em todas as matérias, como também vai muito bem em Educação Física - disse o professor Otávio - Mas não sei se o pai dela virá e…

Assim que o professor termina essas palavras, a pessoa de quem ele falava entrou na sala praticamente puxando seu pai.

—Vem, pai. Entra logo - disse Ema, a tal garota prodígio da sala.

—Ora, ora, senhor Henrique - disse doutor Renato - Não imaginei que o senhor viesse mesmo.

Henrique era o pai de Ema e herdeiro da fazenda Fontes, propriedade de um dos fundadores da cidade. No entanto, ele tinha certos receios para sair de casa, já que seu medo de pegar alguma doença contagiosa. Embora o universo dessa história esteja livre de um certo vírus chinês que ameaça o mundo no momento em que ela foi escrita, Henrique estava ali presente com luvas e máscaras anti-contágio.

—Devagar, devagar - disse ele - Não dá para entrar sem cuidado em lugares com tanta gente.

—Ele está doente? - perguntou Carla.

—Nada - disse Ema - Está só com medo de ficar doente.

—Isso é hipocondria - disse Carla - Já é um tipo de prejuízo mental.

—O quê?! Isso é grave? - perguntou Henrique.

—Bem, sou psicóloga, embora não atue muito na área - disse a mãe de Anne - Mas medo excessivo de ficar doente pode ser um indício.

—Não acho que tenho um medo excessivo - falou Henrique - Só acho que as outras pessoas são descuidadas demais. Inclusive a minha filha. Aliás, por que me fez vir aqui? Suas notas estão boas como sempre, não estão?

—Sim, estão - disse o professor - Já pode até ir embora se quiser.

—Ah, deixa de ser chato, pai - falou Ema - É bom sair de casa um pouco, né?

—Até você quis vir? - reparou Antenor - Geralmente, os filhos querem é que os pais nem vão nessa reunião.

—Achei que seria bom para ele sair um pouco de casa, sabe? - disse Ema - Além disso, sempre gosto de conhecer pessoas novas. O senhor é o pai da Anne, não é? Ainda não tive a oportunidade de comer no seu restaurante. Ouvi falar muito bem da comida de lá.

—Por favor, apareça quando puder - disse Carla - As amigas da nossa filha, são nossas amigas também.

—Espero passar lá qualquer dia - respondeu Ema, com toda a simpatia e educação.

—Sempre encantadora, Ema - disse a primeira-dama - Sinto falta dos nossos jantares também. As músicas que você tocou no piano a última vez que nos visitou eram lindas.

—É sempre uma honra, primeira-dama.

Sim, ela ainda sabia tocar piano muito bem.

—Mas...ainda faltam alguns pais aqui, não faltam? - disse Ema.

—Acho que o pai de todo mundo já veio - disse Otávio - Já pode todo mundo ir para casa e…

—Não falta o pai do Luciano? - perguntou Ema.

—Ah, é. Tem ele ainda - disse Otávio, desanimado - Mas ele nunca vem.

Nisso, Abílio apareceu na porta da sala.

—Cheguei. Desculpem a demora - disse Abílio, meio cansado. Dessa vez, ele veio e, por algum motivo, olhou para Ema sorridente. Ela, por algum motivo, parece ter entendido isso como um sinal. O que, afinal, aqueles dois estavam aprontando?


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Notas finais do capítulo

Como assim o Carioca é filho do delegado? :O :O :O

Ué, vocês nunca perguntaram! XD

Mas, sim, eu já tinha pensado nisso antes. Só estava esperando a hora certa. Kkk

E a Ema tava sumida, né? Como eu pude me esquecer dela? Adoro essa menina (principalmente por ela por a lenha na fogueira. Kkk)

Vamos ver qual é o plano dela (e do Abílio) dessa vez.

Até a próxima! :)



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