—Ótimo! Mais um nível! - disse professor Otávio, conseguindo avançar mais um nível com seu personagem em Cambelot, um MMORPG que o fez abandonar seu trabalho como professor - Acho que agora já consigo acessar aquela área que estava tentando entrar fa um tempão.

Ele usou uma magia de teletransporte no jogo e se aproximou de um portão. Enquanto isso, um outro personagem chamado MegaArcher o chamou pelo chat.

—O que é isso? Ele quer falar comigo? - estranhou o professor, lendo a mensagem. “E aí?”, era o que dizia.

—Ah, não tô a fim de conversar - disse o professor - E ainda tem nível baixo. Se pelo menos tivesse uns itens melhores.

Otávio resolveu ignorar, mas o tal MegaArcher continuou insistindo. Ele perguntava se poderiam formar uma equipe para conseguir a Excalidrum.

—Com um nível desses e quer formar equipe? Ah, não tenho paciência pra isso! - reclamou o professor - Vai ficar mais forte se quiser formar equipe, vai.

E foi o que o professor disse. Do outro lado da tela do MegaArcher, Carioca ficou sem saber o que fazer.

—Caraca, não sabia que o professor tava tão avançado assim, bicho - disse ele - As meninas me colocam em cada uma.

Apenas relembrando, como o professor simplesmente abandonou a escola para ficar jogando, Anne e Kelly acharam que poderiam fazer Otávio voltar ao trabalho se ele realizasse seus objetivos no jogo. Como Carioca era o único que elas conheciam que também jogava, sobrou para ele tentar ajudar o professor a conseguir isso. A ideia era fazê-lo obter a Excalidrum, o item mais raro do jogo, mas essa não era uma tarefa para qualquer um conseguir. Seriam necessárias horas de jogo para ter uma chance de colocar as mãos virtuais em uma espada tão poderosa. Não seria uma tarefa fácil.

—O que aconteceu com você, cara? - perguntou Luciano, ao ver Carioca chegando com olheiras enormes na sala.

—Fiquei jogando a noite toda - explicou ele.

—Jogando? - perguntou Luciano - É bem a sua cara mesmo! Que jogo?

—Cambelot - falou ele.

—Ah, já ouvi falar. É um RPG online, não é? Não curto muito esses jogos. Prefiro mais um Fifa ou algo que dê para sair atirando.

—É que o professor Otávio tá jogando - explicou Carioca.

—Quê? O professor? Ah, conta outra!

—É sério. As meninas descobriram. Elas me pediram para ajudar o professor a voltar. Acho que ele se conseguir a espada mais rara, ele vai ser o jogador mais forte e o jogo não vai ter mais graça.

—Que viagem - disse Luciano - E você tá se ferrando todo por causa disso?

—Se o professor não voltar, pode ser que entre um professor mais casca grossa para dar todas as matérias de humanas. O Otávio, pelo menos, só dá uns trabalhinhos de vez em quando e passa todo mundo sempre.

—É, isso é verdade - ponderou Luciano - Cara, você tem que fazer ele voltar.

—Tô tentando, mas passar de nível naquele jogo é cansativo pacas! - explicou Carioca - Fora que encontrei um carinha forte pra caramba ontem que ficou me enfrentando.

—Como assim? - indagou Luciano.

—É, dá para ganhar mais pontos se você desafiar alguém para lutar dentro do jogo e subir de nível mais alto - ele continuava a falar entre um bocejo e outro - Não consegui ganhar dele, ele tava de Mago das Trevas, acho que era Dark_Master_552 o nick dele, algo assim.

—E aí, povo? O que tem “Dark Master” - falou Luís, chegando na sala e ouvindo a conversa nessa parte.

—É o nome do carinha que eu lutei ontem - Carioca continuava falando, enquanto Luís arrumava a cadeira para se sentar - Lá no Cambelot.

—Peraí, você joga Cambelot?! - exclamou Luís, levantando sem nem ter sentado direito.

—É. Eu tenho um char de Arqueiro, “Mega Archer”

—Ah, então era você! - disse Luís - Eu sou o Dark_Master_552!

—Tá de brincadeira! Então foi você que atrasou minha vida ontem.

—Como eu ia saber? - disse Luís - A gente não conversa muito sobre esse jogo. Achei que você nem conhecia.

—Claro que conhecia, mas voltei a jogar sério esses dias - falou Carioca.

—É? Por quê? - perguntou Luís.

Carioca contou toda a história e Luís parecia ter gostado da ideia.

—Ah, mas se é isso, você devia ter me contado antes - disse Luís.

—Vai ajudar a conseguir a Excalidrum? - perguntou Carioca.

—Claro que vou - falou Luís - Se é tão importante assim para a Anne ter o professor de volta, farei ele voltar para a vida real logo, logo. Ah, isso vai me dar muitos pontos com ela.

—Sabia que tinha um interesse por trás - disse Luciano.

—Carioca! Vamos montar uma equipe! Comigo no comando, vamos conseguir essa Excalidrum rapidinho.

—Por que tá tão confiante, Luís? - perguntou Carioca.

—Eu pesquiso tudo que posso sobre os games que jogo - disse Luís, arrumando os óculos com uma expressão de orgulho - Já sei todos os macetes e como ganhar mais experiência. Com o meu nível, não terá como o professor recusar parceria.

—Maneiro!

E assim os dois combinaram de se encontrar no jogo naquela noite. O professor Otávio continuava jogando sozinho, quando se depara com Luís e Carioca (em seus respectivos personagens, é claro), propondo uma equipe.

—Um deles é o carinha de ontem...que melhorou de nível. E o outro...bom, é um cara forte. Olha o nível, maior que o meu - reparou Otávio - Os caras querem montar uma equipe? É, acho que não vou avançar mais se não conseguir um apoio.

E assim os três começam a jogar juntos, sem que o professor Otávio desconfie que aqueles jogadores de alto nível eram seus alunos. O personagem de Luís parecia conhecer bem os segredos do jogo e a equipe conseguia acessar diversas áreas novas, encontrando novos itens e aumentando sua experiência. Isso aconteceu por vários dias seguidos até que encontraram uma terrível ameaça.

—Ah, não - disse Luís, assim que viu o personagem que os desafiava - Cuidado aí, pessoal.

Luís digitou uma mensagem de alerta. O personagem era um Cavaleiro Espadachim de nível absurdamente alto.

—Ei, quem é esse cara? - perguntou Carioca.

—Ele não parece ser brasileiro. Oh, não, não pode ser - disse Luís.

—É o que parece - falou Otávio, digitando incessantemente - É um...asiático.

—Putz! Ferrou - exclamou Carioca, digitando essas mesmas palavras no chat.

—Exato - disse Luís - Vamos cair fora. Não dá para ganhar desse cara.

Foi o que ele digitou, mas o tal jogador simplesmente lançou uma magia que causava dano.

—Ei, ele nos atacou e nem estamos lutando - reclamou o professor.

—Ele deve estar com um item especial que permite atacar - disse Luís - É, dessa a gente não vai escapar.

Parece que o jogo dos nossos amigos vai demorar mais um pouco para acabar...