Vila Baunilha escrita por Metal_Will


Capítulo 45
Algemados


Notas iniciais do capítulo

E vamos rir, vamos rir nesse domingo. XD

Mais um capítulo na mão. Boa leitura! :)



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—Ema! Tira logo essas algemas! - falou Anne, já perdendo a paciência. A situação, caso você não se lembre, é que Ema organizou uma festa do pijama em sua casa para suas amigas, mas, como quem não quer nada, também contratou os serviços de Luciano (com a ajuda do próprio pai dele) para tentar juntá-lo com Anne. E, pelo que parecia, ela queria fazer essa união do modo mais radical possível: algemando os dois.

—Você tem algemas de verdade na sua casa? - perguntou Kelly.

—Você não? - perguntou Ema.

—Você não é Ave Maria, mas tá cheia de graça, né? Vai! Dá logo a chave e me tira dessa! - esbravejou Anne.

—Tenho que concordar com ela - disse Luciano - Sério mesmo? Quer me algemar com essa chata? Você não tem pena de mim?

—Relaxem - continuou Ema - É só uma brincadeira.

—Brincadeira sem graça, né? Kelly, você não vai falar nada? - disse Anne.

—Eu estou entendendo tanto quanto você, amiga - falou Kelly.

—Não estou tentando juntar ninguém - disse Ema - Só tive a ideia dessa brincadeira agora. Vamos fazer um jogo, tá bem?

—Não quero jogar nada - reclamou Anne.

—Vai ser divertido! - falou Ema - Vou esconder a chave e tudo que vocês precisam fazer é procurá-la juntos.

—Como? - mas antes que Anne terminasse essa pergunta, Ema já saiu correndo para o andar de cima.

—Vou esconder lá no andar de cima - disse a dona da casa - Segura eles, Kelly!

—Kelly, você não se atreva - disse Anne.

—Como eu falei, não tinha a menor ideia do que ela iria fazer - respondeu Kelly, surpresa, mas também achando a situação divertida.

—O que vocês andaram bebendo? - perguntou Luciano - Não acho que o pai dela deixaria vocês tomarem álcool.

—Não bebemos nada! - reclamou Anne - Essa é a Ema, sóbria e maluca como sempre. Sabia que ela iria tentar alguma coisa.

—Sabia? Ah, então você já estava esperando ela me juntar com você, é isso? - retrucou Luciano.

—Claro que não! Quer dizer, sabia que ela estava pensando em alguma coisa, mas não achei que fosse fazer isso aqui - respondeu Anne.

—Mesmo?

—C-Claro! - gaguejou Anne - Acha que eu gosto de ficar aqui algemada com você?

—E eu gosto menos ainda! - respondeu Luciano - Preferia ficar algemado com o professor Otávio do que com você!

—Gente, gente, não briguem - Kelly tentou apaziguar - Eu ajudo vocês a procurar a chave, tá bom?

—É verdade - disse Luciano - Tudo que precisamos fazer é encontrar a chave das algemas que a Ema escondeu. É só procurar em todos os cantos do andar de cima e pronto.

—Pronto, gente - falou Ema, aparecendo no andar de cima - Podem começar a procurar quando quiserem.

—Pelo visto não tem jeito, né? - suspirou Anne - Ema, você sabe que nunca mais vou confiar em você depois disso, não sabe?

—Mas o que estou fazendo de errado? - perguntou Ema - Anne, você sabe o que está sentindo, não sabe?

—Sei. Raiva - respondeu ela.

—Estou falando do seus sentimentos pelo Luciano. Está nos seus olhos que você gosta dele. Vocês foram feitos um para o outro.

—Volta pra casinha que você tá fora dela, menina - disse Anne - Por que eu estaria interessada em um cara ridículo como o Luciano?

—E você, Luciano? - disse Ema - Vai negar que não sente nada pela Anne?

—Vou - disse ele - Não sinto nada por essa chata.

—E você é um grosso! - rebateu Anne.

—Ô, Ema - chamou Kelly - Você não acha que está indo longe demais, não?

—Minha intuição não falha - disse ela - Essa é uma oportunidade de vocês trabalharem juntos. Podem subir aqui e procurar a chave. Relaxem, não está em um lugar difícil.

—Pelo visto, vamos ter que fazer isso juntos - disse Anne - Vem, vamos logo.

—É cada uma que me aparece - disse Luciano - Eu só estava fazendo meu trabalho.

E assim, nosso casal pouco provável subiu as escadas na companhia de Kelly para procurar a chave. Geralmente, em situações como essa é esperado um pouco de maturidade e colaboração, mesmo que os envolvidos não se deem muito bem. É, geralmente, mas não absolutamente. Ema abriu espaço para eles e desejou boa sorte.

—Vai lá, casal - disse ela - Mandem ver nessa prova!

—Para que lado do corredor a gente procurar primeiro? - perguntou Kelly.

—Por ali! - Luciano e Anne apontaram para lados opostos falando isso ao mesmo tempo.

—Vamos, facilitar, vai - disse Kelly - Eu procuro por esse lado e vocês pelo outro.

E assim foi. Anne e Luciano começaram a andar juntos. Luciano fazia uma cara de entediado e Anne apenas uma cara de brava.

—Eu não sei quanto a você, mas eu falei a verdade aquela hora, tá ouvindo? - disse Anne - Não tenho nenhum sentimento por você além de...coleguismo, se é que posso dizer isso.

—Acho que sim. Somos colegas de classe, no final - disse Luciano - Digo o mesmo. Só quero viver minha vida sossegado e pronto.

—Falou tudo. Pelo menos em uma coisa concordamos - disse a garota.

—Agora chega de papo furado, vai - comentou Luciano - Precisamos achar logo aquela chave e...ah, fala sério.

—O que foi? - Anne olhou para onde Luciano estava encarando e viu um pedestal com a chave e uma plaquinha em cima dizendo “chaves da algema”.

—Fácil demais, não acha? - disse Luciano.

—É - concordou Anne - É só chegar e tirar a chave?

Era o que parecia, mas, conforme chegaram mais perto, viram que a chave estava dentro de uma redoma de vidro e havia uma espécie de dispositivo estranho ligado à redoma.

—Parabéns, pombinhos! Acharam a chave! - disse Ema.

—Quando você teve tempo de preparar essa coisa? - perguntou Anne.

—Ah, não se apegue aos detalhes - disse Ema - O dispositivo é simples. Ele vai abrir a redoma com a chave se vocês ficarem os dois juntos, na frente dos sensores, olharem um para o outro e dizer a senha. Se a senha for correta, o dispositivo abre a redoma. Ah, e não adianta tentar derrubar no chão. Está tudo bem conectado.

—Como você tem um sistema que parece ter sido feito só para isso? - perguntou Luciano.

—Gosto de testar equipamentos que tentam aproximar as pessoas - disse ela.

—Deixa eu adivinhar...foi o Luís que inventou isso aí, né? - disse Anne.

—É. Pedi para ele fazer uma dessas para testar jogos de casais - falou Ema - Custou caro, mas ele fez. Mas aposto que ele ficaria bravo se soubesse que usei em vocês dois. Como você sabia?

—Intuição - ironizou Anne.

—Vai, vamos fazer logo isso - disse Luciano.

E assim, Anne e Luciano se posicionaram na frente da câmera do sistema, olhando um para o outro.

—Ah, achei vocês - disse Kelly - Ué? O que está acontecendo?

—Parece que precisamos ficar assim, de frente para o outro, e dizermos a senha juntos - disse Anne.

—E qual é a senha? - perguntou Kelly.

—Vai, repitam comigo - disse Ema - “Eu…”

—Eu - repetiram os dois.

— “Prometo” - continuou a garota

—Prometo - eles repetiram novamente.

— “Amar e cuidar de você pelo resto da minha vida. Eu te amo” - completou Ema.

—Cê tá zoando, né? - perguntou Anne.

—Não, é sério. A senha é essa - disse Ema - E aí, Luciano? Vai continuar? Luciano?

—Ai… 

—O que foi? - perguntou Anne.

—Então...é que eu estou morrendo de vontade de ir ao banheiro, sabe? Bebi um pouco de água antes de vir para cá e parece que a bexiga já encheu - disse ele - Eu vou tirar a água do joelho e já volto...

 

Mas antes que Luciano conseguisse se mexer, Anne já o puxou de volta.

—Ei, o que foi?

 

—Como pode ser tão sem noção? Vai para o banheiro junto comigo? - ralhou a garota.

—Ah, é. Pode crer. Isso acabaria com a minha privacidade - ponderou Luciano - Mas eu tô muito apertado!

—Olha, só. Mais uma motivo para andarem logo e pegarem essa chave de uma vez. Vai, Luciano, cumpre o desafio que a redoma abre - falou Ema.

—Falar aquilo lá mesmo? - perguntou Luciano.

—É. Exatamente - disse Ema.

—Eu também tô com vergonha - disse Anne - É só falar. Palavras não significam nada.

—Ah, significam - comentou Ema - E como significam.

—Ema! Não provoca mais! - alertou Kelly.

—Tá bom - disse Luciano - É só fingir, não é?

—É.

Os dois tentaram mais uma vez.

—E aí, gente? Vocês sabem qual é a senha, não sabem? É só falar.

—Tá bem - disse Luciano - Vamos nessa!

—Aah...droga! - falou Anne - “Eu prometo amar e cuidar de você pelo resto da vida. Eu te amo!”

Luciano disse as mesmas palavras ao mesmo tempo, na mesma velocidade de Anne: bem rápido. Os dois desviaram o olhar na mesma hora envergonhados, mas a redoma se abriu. Apesar de terem dito a senha rápido e de má vontade, funcionou.

—Tá feliz agora? - ralhou o garoto.

—Olha, só. Se fosse um casamento, vocês já poderiam ser marido e mulher - disse Ema.

—Vai dizer que tem algum padre escondido aí - falou Anne.

—Claro que não!  - disse Ema - Faço questão de organizar todos os detalhes do casamento de vocês. Só estou dando o primeiro passo.

—Dane-se! Só quero pegar logo a chave e ir ao banheiro - disse Luciano. O problema é que, assim que colocou as mãos na chave, um senhor não muito feliz se aproximou do grupo.

—O que está acontecendo aqui? - disse Henrique, mantendo uma certa distância e segurando uma espingarda.

—Q-Quê?! - disse Luciano, arregalando os olhos com aquela arma bem diante dele.

—Papai! - exclamou Ema - Achei que o senhor já estivesse dormindo.

—Só levantei porque queria buscar um remédio para gripe.

—O senhor está gripado? - perguntou Ema.

—Não. Mas espirrei duas vezes em menos de três horas. É melhor prevenir.

Os jovens se entreolharam. Ema apenas sorriu amarelo.

—E aí, quando levantei e ouvi outra voz além das suas amigas e vim aqui correndo achando que algum ladrão tinha entrado em casa - disse Henrique - Não é um ladrão, mas..parece que é algo pior.

—C-como assim? - gaguejou Luciano, ao ver a espingarda quase enfiada em sua cara.

—Sim! Desde quando um rapaz vem encontrar três moças no meio da noite? - interrogou Henrique.

—Eu só vim entregar um pedido - disse Luciano - Estava trabalhando.

—Pedido?

—Sim. Três sanduíches de queijo - respondeu ele - Sua filha que pediu.

—É verdade isso, Ema?

—Sim, papai - respondeu a garota - Era só uma brincadeira.

—Pelo amor de Deus, não faça mais isso. Levei um susto - disse Henrique - Além disso, não pega bem mocinhas como vocês receberem um marmanjo desses de pijama.

—Relaxa, pai. São pijamas compridos - disse Ema.

—Mesmo assim! - insistiu Henrique - E você, garoto. Se já fez sua entrega, pode voltar. As meninas vão dormir agora, não vão?

—S-Sim, senhor - gaguejou Luciano.

E então, Henrique saiu de cena. Luciano e Anne se libertaram das algemas usando as chaves. Finalmente, a confusão terminou.

—Você não ia ao banheiro, não, Luciano? - perguntou Kelly.

—Deixa. Não precisa mais - respondeu ele. O susto com a arma acabou a necessidade de ir ao banheiro. Kelly e Anne se olharam com certo nojo.

Acabado tudo, com Luciano voltando para casa, as meninas foram para o quarto e retomaram a festa.

—Tô muito brava com você - falou Anne - Já falei mil vezes que não quero nada com aquele idiota.

—Ah, não fica brava comigo, não - disse Ema, abraçando Anne - Tudo que faço é com a melhor das intenções.

“De boa intenção o inferno tá cheio”, pensou Anne.

—Mas vai dizer que não foi divertido? - perguntou Kelly.

—Bom...agora que já passou tudo...até que conseguiu me deixar entretida - confessou a garota - Mas o que eu falei naquela hora foi mentira, tá? Só falei aquilo para pegar a chave.

—Vai, não ficou nem um pouquinho mexida? - perguntou Ema - Confessa, vai? Como foi olhar no olho do Luciano.

—N-Não foi nada demais - Anne tratou de desviar o olhar logo - E vamos mudar de assunto. Ou melhor, vamos dormir logo? Acho que a noite foi muito cheia por hoje.

—Tá. Vou só escovar os dentes - disse Ema - Fiquem à vontade.

—Ah, falando nisso…

Anne pegou as algemas (que ainda estavam ali por perto) e correu para o banheiro, prendendo Ema no cano da torneira da pia.

—O que você tá fazendo?! - disse Ema espantada.

—É só o troco - disse Anne - Relaxa, miga. Tiro você daí daqui a pouco.

—Não tem graça, Anne. Vai, me solta!

—Só sofre um pouquinho antes, tá? - falou Anne, sorrindo - Daí ficamos zeradinhas.

Kelly apenas riu.

—O que a gente colhe, a gente planta, né? - comentou Kelly.

Ema só suspirou.

—Tá, acho que mereci essa - foi o que ela disse. É, não teve jeito, Ema teve que ficar presa na torneira por algumas horas.

Enquanto isso, Luciano chegou em casa nada satisfeito. Seu pai o recebeu com um olhar empolgado.

—E então, meu garoto? - disse Abílio - Como foi? Heim? Heim?

—Foi horrível. Só quero tomar um banho e dormir - disse Luciano.

—Não tem nada para me contar, não? - perguntou Abílio, mexendo as sobrancelhas.

—Não, nada...ah, putz…

—O que foi?

—Esqueci de pegar a grana com a Ema - disse Luciano - Foi mal, pai. Depois eu falo com ela na escola.

—Só isso?

—É.

—Tá bom. Vai dormir logo, vai! - disse Abílio, notando que seu filho não teve progresso nenhum em sua vida amorosa.

Depois que Luciano se retirou, Abílio apenas colocou as mãos atrás da cabeça e suspirou.

“Com Ema ou sem Ema esse moleque vai casar com a filha dos Montecarlo. Nem que seja a última coisa que eu faça!”, pensava ele.

É, parece que isso ainda vai dar muito pano pra manga...


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Notas finais do capítulo

E assim termina mais um capítulo e também a primeira temporada da fic.

Como comentei, vou fazer uma pausa para as festas de fim de ano e usar janeiro para pensar na continuação do enredo. Espero ter ideias novas para o próximo ano. Como foi dito ali no final, ainda tem muito pano pra manga. A intenção é avançar o romance deles aos poucos, em várias situações de comédia.

Pretendo voltar em fevereiro. Um mês e meio passa rapidinho. E você também pode ler outras fics minhas nesse tempo (recomendo Casa dos Jogos, This is my Gang! e Pesadelo do Real, são minhas três melhores).

Até! :)



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