Vila Baunilha escrita por Metal_Will


Capítulo 34
Sorvete para todos os lados




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O encontro forçado entre Anne e Luciano continuava. Mas as coisas não estavam indo no fluxo que Ema esperava. Quando o atendente da sorveteria foi para os fundos verificar algumas coisas, eis que a filha do dono das indústrias de sorvete Fontes estava lá, sentado calmamente em um banquinho o aguardando.

—Ai, que susto! - exclamou o pobre rapaz - Você é...ah, é a dona Ema, filha do sr. Fontes, não é?

—Pode me chamar só de Ema, querido - disse ela - Então, preciso de um favorzinho seu.

—Como?

—É. Só quero que inclua uma coisinha na promoção dos pombinhos ali da mesa - disse Ema, falando malandramente com o braço esquerdo por trás do pobre atendente.

Após alguns instantes, finalmente um dos pedidos chega, ou melhor, não era bem um pedido.

—Aqui está - disse o atendente, oferecendo uma taça média de milk shake para Anne e Luciano. Sim, uma taça. Uma única taça com dois canudinhos.

—O que é isso? - perguntou Anne - Não lembro de ter pedido algo assim.

—É. Eu também não - disse Luciano - Isso aí não tampa nem a cárie do meu dente.

—É uma cortesia da promoção - disse o atendente - Vocês ganharam um milk shake especial de morango do amor.

—Morango do quê? - perguntou Anne.

—É um de nossos pedidos especiais para casais - explicou o atendente.

—E desde quando nós somos um casal? - perguntou Anne.

—É verdade - disse Ian (lembrando que ele estava logo ali atrás) - Eles não são um casal, mas posso formar um casal com ela. Se você não quiser, posso trocar de lugar com você, Luciano. Vamos, Anne, vamos tomar esse milk shake só nós dois e…

Mas Luciano só empurrou a cara de Ian para trás.

—Esse negócio aí é bom pelo menos? - perguntou Luciano.

—Tem a qualidade dos sorvetes Fontes - garantiu o atendente.

—Então eu tomo - disse Luciano - Se você não quiser, eu tomo sozinho, Anne.

—O problema…

—Ai, o que foi? - perguntou Anne para o atendente.

—É que a promoção só será válida se vocês dois tomarem juntos esse milk shake - disse ele.

—Quem inventou essas regras? Foi a Ema, não foi? - reclamou Anne.

—Só estou seguindo ordens - o atendente tentou se explicar.

—Que seja - disse Luciano - Vamos logo tomar isso.

—Tomar isso...juntos! - falou Anne - Eu não vou pagar esse mico.

—Qual é o problema, frescurenta? - reclamou Luciano.

—Você não tem sensibilidade nenhuma mesmo! - retrucou Anne - É um milk shake de casal...é como se...é como se…

—Como se o quê?

—Como se fôssemos namorados - falou Anne baixinho.

—Ah, qual é? É só um milk shake! - falou Luciano - Eu não ligo de dividir, mesmo que seja uma chata que nem você. Tá, preferia tomar tudo sozinho, mas já que esse é o único jeito de garantir meu sorvete de graça.

—Você é mesmo infantil, né?

De fato, para o olhar dos outros, era como se eles fossem um casal. Em Vila Baunilha era uma tradição muito clara: apenas casais tomam milk shake em uma taça só. Para os olhos dos nativos, sim, Anne e Luciano estariam agindo como um casal de namorados. Isso era o que Luís mais temia.

“Droga!”, pensou ele. “Não tem jeito, vou ter que agir!”

Luís tinha um plano, claro, mais um plano de sua mente brilhante para invenções tecnológicas...mas talvez não tão brilhante para relações humanas.

“É isso. Vou agir agora”, Luís pensava. “Só preciso me aproximar e pegar a taça deles. Sem milk shake de casal, a Anne estará livre para fugir. Sim, posso ver nos olhos dela o quanto ela quer sair dessa situação. Não se preocupe, Anne, minha linda. Tirarei você dessa!”

Difícil dizer se o raciocínio de Luís tinha mesmo alguma lógica, mas ele imaginava que sem a taça, a promoção estaria cancelada (claro que outra taça poderia ser providenciada, mas isso já seria outra história). É, era isso. Esse era o plano de Luís. Disfarçado com seus óculos escuros, Luís se agachou e procurava se arrastar até a mesa de Anne e Luciano.

Enquanto isso, Ian, Briana e Samanta aguardavam seus pedidos. Nessa hora, o garçom estava vindo com os pedidos deles.

“É agora!”, pensou Samanta. “Quando Briana receber o sorvete, vou me levantar e “acidentalmente” derrubar sorvete nela! É esse tipo de humilhação que falta em uma garota nova na escola e eu, como a garota malvada, preciso fazer isso!”

Era o que Samanta pensava, mas o garçom (que, de fato, estava se aproximando com os sorvetes das meninas) acabou sofrendo um pequeno acidente. Como ele não viu Luís se esgueirando no chão, acabou tropeçando e a tigelinha de sorvete acabou voando e caindo bem em cima da....é, da Samanta.

—Isso...não pode estar acontecendo - balbuciou a garota.

—Irmã! - falou Ian - De onde veio esse sorvete?

—Mil perdões! - falou o garçom - Não foi minha intenção.

O atendente voltou-se para trás, furioso. Não teve como os olhos se voltarem para Luís.

—Você! Quem é você, seu retardado? - gritou o funcionário - O que está fazendo aí, jogado no chão?

—Oh, sorry, eu...não falar português - disse Luís, tentando disfarçar.

—Luís? É você? - perguntou Luciano.

—Tá, tudo bem! Já vi que não tem como me esconder mais! - gritou Luís - Sim, sou eu. Vim aqui para salvar você, Anne.

—Fazer o quê? - perguntou a garota.

—Você não precisa fazer isso, Anne - disse Luís - Não precisa formar um casal com o Luciano.

—Não somos um casal! - reclamou Luciano.

—É, mas...se tomarmos esse milk shake... - disse Anne com hesitação.

—Sim, isso mesmo. Quantos casais já não se formaram com um milk shake de morango do amor? Só Deus sabe o que vai acontecer se vocês tomarem isso...é o que eu diria se não fosse ateu! - disse Luís, claramente desesperado.

—Para um cara científico, você é bem supersticioso, heim? - reparou Luciano.

—Luciano, seu maldito. Você tá adorando isso, né? - disse Luís.

—Eu só quero tomar sorvete - falou Luciano.

Mas, enquanto todas as atenções estavam voltadas para Luís, Samara tinha se esgueirado e, se aproveitando de sua pouca presença, tinha conseguido pegar a taça enquanto ninguém estava olhando. Só que Luciano resolveu se virar bem na hora que a garota tinha chegado ali.

—Ei, o que está fazendo? - estranhou Luciano.

—E-E-Eu? - gaguejou Samara - É que...é que…

—Você também veio roubar meu milk shake? - reclamou o garoto.

“Droga! Não posso dizer que vim aqui apenas para evitar que eles se tornassem um casal. Aliás, por que estou fazendo isso? Eu nem mesmo estou a fim dele, estou? Estou?”

—É que...é que..estou morrendo de vontade de tomar milk shake de morango do amor! - disse Samara  - É um desejo incontrolável!

—Incontrolável? - perguntou Anne - Você...quer tomar milk shake com alguém?

—Oh, o desejo de uma garota apaixonada - disse Ian, ouvindo toda a situação - Quem poderia culpá-la?

—Como? - Samara estranhou.

—Sinto muito, minha jovem - disse Ian - Sei que deseja ardentemente tomar esse milk shake de casal comigo, mas meu coração já pertence a Anne.

“Do que esse idiota tá falando?”, pensou Samara.

—Sinto muito, não posso corresponder seus sentimentos - disse Ian.

—N-Não, não é isso - gaguejava a menina - Eu só...só…

—Boa, garota que já vi na escola, mas não lembro o nome - falou Luís - Passa o milk shake para mim. Deixe o resto comigo!

—Meu nome é Samara e...espere..

Luís tentava tirar o milk shake das mãos dela, mas isso só fez a bebida ser derramada e jogada em cima de Ian.

—Ops - expressou Samara.

—Oh, meu pobre cabelo - disse Ian - O néctar do amor desperdiçado, meu cabelo arruinado. Isso é mesmo uma tragédia.

—Nem me fale, meu irmão - disse Samanta - A humilhação de ser suja com sorvete é mesmo terrível.

—Mas depois dá para limpar - comentou Briana.

—Silêncio - interrompeu Samanta - Briana, isso tudo é culpa sua.

—Minha?

—Sim. Se você tivesse aceitado seu destino de ter sido atingida pelo sorvete no meu lugar, isso não teria acontecido - falou a dramática Samanta - Espero que esteja pronta para assumir sua responsabilidade e ser atingida por sorvete!

Lembramos que ainda tinha algumas bolas de sorvete do pedido que o garçom derramou em Samanta. A garota pegou uma delas e tentou mirar em Briana.

—E-espera, Samanta. Acho que não precisamos chegar nesse ponto.

—É apenas justiça, minha querida - disse Samanta. Só que Briana se abaixou e a bola de sorvete acabou atingindo a cabeça de Luciano. Anne não conseguiu segurar a risada.

—Ai, ai, muito bom! - aplaudiu Anne, mas Luciano não estava muito contente.

—Pronto, meninas. Trouxe mais sorvete para compensar - mas antes que o garçom terminasse de falar, Luciano pegou uma das tigelinhas e jogou o sorvete na cara de Anne. A garota ficou pasma.

—E aí? Quem está rindo agora? - disse Luciano.

—Agora você vai ver! - Anne pegou a outra tigelinha e jogou mais uma bola de sorvete em Luciano. Mas ele se esquivou e ela acabou pegando em Luís.

—Luciano, seu… - Luís parecia nervoso.

—Tá bravo por quê? Foi a Anne que jogou!

—Mas a culpa foi sua por ter se desviado - disse Luís, já pegando outra tigelinha ali perto e tentando atirar em Luciano. Nisso, Samara é atingida bem na cara.

—Desculpe, garota - disse Luís - A próxima vai ser em você, Luciano!

Não é preciso muito esforço para notar que, em poucos minutos, a sorveteria inteira se transformou em um verdadeiro campo de batalha de bolas de sorvete. O resultado foi que todo mundo acabou sendo expulso da sorveteria.

—Chega! - gritou o pobre atendente - Todo mundo pra fora! Agora! Não precisam pagar nada, apenas sumam!

E foi o que aconteceu. Ema tentou sair de fininho, enquanto o atendente (e único funcionário da sorveteria) ainda ofegava de raiva.

—Espera aí!

—S-Sim - gaguejou Ema, lamentando ter sido vista por ele.

—Toda essa promoção foi ideia sua - disse ele - Então...acho que é justo esse prejuízo todo ficar na sua conta, não?

—Tá, tudo bem. Eu pago tudo - falou Ema, suspirando. Parece que juntar os dois pombinhos Anne e Luciano com sorvete não foi uma boa ideia, afinal.

No final das contas, Luciano, Anne e Briana voltaram para sua rua, todos sujos de sorvete.

—Ah, até que foi divertido - disse Briana.

—Não é? Faz tempo que não zoava assim - falou Luciano.

—Essa foi a primeira e a última vez que saí com você, Luciano - disse Anne - Que desastre, heim?

—Ah, não reclama. E não precisa ser a última e..

—O que disse? - perguntou Anne.

—Não, nada - Luciano tratou de corrigir o que falou - Quer dizer...só porque não somos amigos, isso não significa que precisamos ser inimigos, não é?

—Tá. Pode ser que a gente ainda saia com outros amigos - falou Anne - No final, ainda temos que nos aturar na escola, não é?

—Bom, falou. Tenha uma boa noite.

—Igualmente - falou Anne.

—Tchau! - Briana se despediu.

As meninas entraram em casa e Anne suspirou.

—Bem, pelo menos estamos em casa. Não tem como esse dia ficar pior.

—Anne! - foi o que a mãe das meninas gritou furiosamente ao ver o estado que elas estavam assim que colocaram os pés em casa - O que aconteceu com vocês? É assim que você cuida da sua irmã? Sujaram toda essa roupa novinha! Olha aqui, é você que vai lavar e passar tudo isso, tá ouvindo?!

—Tem, tem sim - balbuciou Anne.

 Mas...até que foi divertido, não foi?


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Notas finais do capítulo

Comédia pastelão é sempre um clássico, né?

No próximo capítulo começamos um arco novo. Até! :)



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