A primeira corrida de casais, evento feito para reforçar os laços entre Vila Baunilha e Campo Encantado (pelo menos essa foi a justificativa dada ao público) finalmente teria início. Ian, porém, não estava muito empolgado com isso.

—Pronto, Ianzinho? - disse Tamires para ele, antes de sair para a corrida.

—Pode deixar esses caras me liberarem? - perguntou ele - Não gosto da cara desse segurança aí, não.

—Eles só estão aqui para você acompanhar a corrida com tranquilidade - falou Tamires, com o tom mais simpático do mundo.

—Como assim acompanhar? Eu não vou correr também? - disse ele.

—Ah, não precisa - disse ela, colocando um colete em Ian.

—Espera, não estou entendendo…

—Não precisa correr, querido - disse ela - Desde que você esteja usando esse colete, você ganha se eu vencer. Nem precisa se dar ao trabalho de largar.

—Mas isso não vai diminuir suas chances? - perguntou ele.

Todos os presentes riram bastante.

—Você é tão inocente - disse ela - Ai, ai. Deixa eu ir, vai.

“Não estou com um bom pressentimento”, pensou Ian. Ele até pensou em escapar, mas com todos os homens trabalhando para Tamires impedindo sua passagem, mudou de ideia.

Enquanto a garota saía, os pais de Ian, prefeito e primeira-dama de Vila Baunilha, se encontram com Tamires.

—Ah, é você a filha do prefeito de Campo Encantado, não é? - disse Vera, a primeira-dama, sempre com sua cachorrinha poodle Fifi no colo - É uma mocinha linda.

—Muito obrigada - disse Tamires - Espero ser uma boa companheira para o seu filho.

—Como? - estranhou Vera - Meu filho sempre diz que é apaixonado pela filha dos donos do restaurante mais movimentado da cidade e…

—Ah, mas ela não é apaixonada por ele como eu sou - falou Tamires - Não se preocupe. Serei uma ótima nora.

Depois de fazer uma saudação para o prefeito e sua esposa, Tamires segue para a largada.

—Você entendeu alguma coisa? - perguntou Vera.

—Seja lá o que for...espero que seja brincadeira - falou o prefeito - Deus me livre ter o Bóris na família.

Enquanto isso, todos os casais que participariam da corrida estavam próximos à linha de largada, apenas esperando o início da corrida. Nessa hora, finalmente Luís resolveu dar as caras.

—E aí, pessoal? - disse ele, chegando com toda a confiança do mundo.

—Luís?- estranhou Anne - Achei que você tinha desistido de correr.

—Pois é - falou ele - Mas...mudei de ideia. Não posso deixar que você vá para a França com esse pintor de meia-tigela.

—Posso ser um pintor de meia-tigela, mas pelo menos tenho mais de um metro e sessenta de altura - reclamou Renan ao ouvir isso.

—Suas palavras não significam nada para mim - rebateu Luís.

—Deixa de besteira, Luís - falou Anne - Já disse que se ganhar, vendo minha passagem para outra pessoa.

—Duvido que ele deixe você fazer isso - reclamou o jovem gênio - De qualquer modo, vou fazer de tudo para vencer e impedir que isso aconteça!

—Ah, é? - Renan entrou na conversa de novo - E por acaso você tem uma parceira?

—Claro que tenho - falou Luís - Ela está…

Mas não tinha ninguém do lado dele.

—Ei, cadê ela? - estranhou Luís, ao não ver Samara por perto - Cadê aquela medrosa?

Samara estava escondida em um canto, meio atordoada com a quantidade de pessoas.

“É muita gente, muita gente”, pensou ela. “Não devia ter vindo. Vou travar desse jeito!”

—Samara? - disse Briana que, por acaso, tinha ido ao banheiro em um intervalo de seu trabalho ajudando os pais.

—Ah, é você… - balbuciou Samara ao ouvir a voz da garota - Você...lembra de mim?

—Claro que lembro! - falou Briana, sorridente - Não combinamos de sermos amigas?

“Ela lembra!”, os olhinhos de Samara brilhavam. “E ainda lembra que sou amiga dela!”

—O que está fazendo aqui escondidinha? - perguntou Briana - Esse colete...ei, você vai participar da corrida também?

—N-Não...quer dizer, eu ia, mas…

—A minha irmã também está participando - disse Briana, com seu sorriso fofo de sempre - Espero que vocês duas deem o melhor!

“Essa menina...parece um anjo…”, pensava Samara, ao ouvir a doce voz de Briana torcendo por ela.

—Eu agradeço, mas...acho que não sirvo para isso, não - balbuciou Samara - Acho que vou desistir.

—Desistir? Não, não desiste - falou Briana - Vem. Eu vou com você até a largada. A corrida já vai começar. Você não pode perder o começo.

—Mas…

Antes que Samara protestasse mais, Briana pegou a garota pela mão e a levou até a largada. Finalmente, Luís avistou a pobre Samara.

—Ah, ali está ela! - disse Luís - Ei, o que você está fazendo? Vem logo pra cá!

—Ah, seu parceiro de corrida é o Luís? - perguntou Briana - Não sabia que vocês estavam juntos!

—Não, não é isso! - disse Samara - É que...só estamos colaborando temporariamente…

—Entendi - falou Briana - Mesmo porque o Luís é caidinho pela minha irmã.

“E eu não sei?”, pensou Samara.

—Onde você estava? - reclamou Luís - Obrigado, Briana. Essa menina quase me deixou na mão.

—Disponha - falou Briana - Bem, vou indo. Boa sorte para vocês!

—Vem logo. A corrida já vai começar! - reclamou Luís.

—M-Mas...você ouviu as regras, não? - falou Samara - É só você ganhar que eu também venço se estiver usando o colete com o número 5.

—A questão não é essa, a questão...é mostrar para os outros que não estou mentindo! - falou Luís.

O garoto finalmente trouxe Samara para perto de todos e anunciou sua participação.

—Aqui está. Minha parceira é ela! - disse Luís.

—O-oi - gaguejou Samara.

—Ah, você estuda na nossa escola, não estuda? - perguntou Anne.

—Acho que já vi essa menina por lá uma vez - falou Renan - Ou será que foi impressão?

—Luís! - reclamou Anne - Espero que você não esteja forçando essa pobre menina a correr com você.

—Claro que não - disse ele - Somos uma dupla com interesses em comum. Se ela vencer, entrego a minha passagem para ela chamar quem quiser para a França. Só não quero que você vá viajar com esse...esse pintor de meia-tigela!

—Esse garoto já tá me irritando - balbuciou Renan.

—Não liga pra ele - disse Anne - E você...err...desculpa, qual é o seu nome mesmo?

—Samara - falou Samara, enquanto pensava como as duas irmãs a viam de forma diferente.

—Então, não precisa se forçar a fazer isso se não quiser, tá? - disse Anne.

—N-não. Tudo bem - disse Samara - Eu quero correr.

—Bom, se é assim - foram as últimas palavras de Anne, antes dos alto-falantes anunciarem que a corrida estava prestes a começar. Todos os participantes, cerca de uns trezes casais, estavam a postos, prontos para a largada.

—Um, dois, três e...LARGAR! - disse uma mocinha que agitou a bandeira anunciando o início da corrida. O percurso passava pela cidade toda. Como Vila Baunilha é um ovo, isso não era lá muita coisa, mas ainda assim eles tinham que correr bastante. Para surpresa de todos, Luís parte na liderança. Gustavo e Ema estavam logo atrás.

—Nossa, não sabia que o Luís corria tão rápido - comentou Márcia com Luciano, que corria ao lado dela.

—E não é - disse ele - Aquele maldito. Deve estar usando alguma invenção.

De fato, ele tinha colocado um mecanismos em seus tênis que ajudavam a dar mais impulso quando tocava o solo. Algo assim não era muito difícil para uma mente científico como a de Luís. Ele só se esqueceu de uma coisa...quem preparou o percurso foi Tamires.

—Tá no papo - disse ele - É só continuar com os meus tênis de aumento de impulso que levo essa corrida numa…

Sua fala foi interrompida por uma armadilha de corda. Luís não viu que, assim que pisou em uma corda estirada no chão, um dos capangas de Tamires puxou a corda e fez com que Luís ficasse pendurado pelo pé de cabeça para baixo em uma árvore. Bem, qualquer um que assistiu Pica-Pau ou Pernalonga sabe do que estamos falando aqui.

—O quê?! - estranhou ele.

Os outros competidores apenas continuaram.

—É, devia olhar mais por onde anda - disse Tamires, quando passou por ele - Não basta ser rápido para ganhar essa corrida, amiguinho.

—Ora, sua… - Luís grunhiu com raiva - Isso não é justo!

“Chore o quanto quiser”, pensou Tamires. “Essa é só uma das armadilhas que estão pelo percurso. E eu, claro, conheço todas. A única que vai ganhar aquela viagem sou eu!”

Você esperava mesmo uma corrida normal?