Vila Baunilha escrita por Metal_Will
—Tá legal - disse Samanta - Vamos tentar nos dar bem...é o mais racional, não é?
—Que bom que entendeu - falou Márcia, a babá que ficaria com Samanta e Cíntia naquela noite, com um sorriso de satisfação. Samanta ainda estava incomodada por dentro.
—Agora que tudo está em paz - disse Cíntia - Vamos fazer aquela pipoca, vamos?
—Ainda está cedo para comer, não acham?
—Se a comida é gostosa nunca está cedo demais para comer - falou Cíntia.
—Podemos brincar de alguma coisa - falou Márcia - Gastar energia dá mais fome e quanto mais fome, mais gostosa a comida fica.
—Espera, “podemos”? - falou Samanta - Nós três vamos brincar?
—Isso mesmo - disse Márcia - Sua mãe foi bem clara em me dizer para ficar de olho em vocês duas.
—É uma pena - disse Samanta - Sabe, já somos pré-adolescentes. Não fazemos mais brincadeiras de criança. Não precisa se preocupar com a gente.
—Ah, é? E o que vocês fazem para passar o tempo? - indagou Márcia.
—Somos meninas do século 21, querida - respondeu Samanta - Cuidamos da nossa aparência.
—É isso que meninas do século 21 fazem?
—Sim - insistiu Samanta - No mundo atual, aparência é o que conta. É isso que dá seguidores.
—Não acha isso muito superficial? - perguntou Márcia.
—Acho - disse Samanta - Mas quem se importa? Eu sou rica, posso ser superficial.
Márcia apenas virou os olhos.
—Além disso, se você não fosse superficial, não seria uma vilã tão boa - disse Cíntia.
—É verdade - concordou Samanta - Tenho que manter meu papel de vilã. Não posso fazer nada. As regras são essas.
—Que regras, criatura? - perguntou Márcia.
—As regras dos filmes de romance - falou Samanta - Eu sou a menina rica. Preciso ser má com a menina nova. Por isso tenho que humilhar a Briana sempre que posso.
“Ela consegue ser mais fora da casinha do que o Beni. Impressionante”, pensou Márcia.
—Mas até vilãs descansam, não acha? - disse Márcia.
—Como assim? - estranhou Samanta.
—Não precisa agir como vilã o tempo todo - falou a babá - Vamos relaxar um pouco hoje e amanhã você volta para suas...coisas de vilã ou algo assim.
Samanta pensou por alguns instante.
—É, você tem razão - disse ela, sorrindo - Vamos jogar alguma coisa!
“Até que foi fácil”, pensou Márcia.
Assim, as três pegaram um baralho de Uno e começaram a jogar. No entanto, Samanta não estava com a melhor sorte naquele dia.
—Mais quatro, amiga - disse Cíntia - Compra mais quatro cartas.
—De novo? - reclamou Samanta - Eu já estou com mais de quinhentas cartas na mão!
—Deixa de ser exagerada - falou Márcia - O baralho não tem nem cem cartas.
—E por que você só tem duas cartas na mão, heim? - perguntou Samanta.
—Por que tive mais sorte, ué? - disse Márcia - Jogos são assim.
—Esse jogo depende só da sorte. Não tem graça! - reclamou Samanta.
—Não depende só de sorte - falou Márcia - Você também precisa saber jogar as cartas certas. Por exemplo, se você tiver uma carta que me faça comprar mais quatro eu compro mais.
—Será que tenho? - disse Samanta - Droga. Não tenho!
—Mesmo? Bom saber - disse Márcia, rindo.
—Assim não dá! - reclamou Samanta - Desse jeito eu vou perder.
—É um jogo, amiga - disse Cíntia - Alguém ganha e alguém perde.
—E por que você não perde, Cíntia? - perguntou Samanta.
—Bem - disse ela - Para eu perder, alguém precisa ficar sem cartas na mão primeiro, amiga.
—Como se fosse fácil… - a filha do prefeito continuava resmungando - Tá legal. Jogo essa carta de inversão. Agora a rodada volta para você, Cíntia.
—Tá bem - disse ela - Jogo essa outra de inversão. Volta para você, amiga.
—Vermelha, né? Tá, eu tenho vermelha, tenho vermelha. NÃO TENHO! Compro um monte de cartas e não tenho uma vermelha! Droga! Eu passo!
—Bom saber - disse Márcia, a próxima a jogar - Eu jogo essa. Uno!
Márcia jogou um 3 vermelho. Cíntia jogou um 2 vermelho na próxima. Agora, Samanta comemorou.
—Finalmente. Tenho um 2 azul! - disse ela, contente.
—Azul? - perguntou Márcia.
—Sim
—Ótimo. Tenho um 3 azul. Bati e venci! - disse ela.
—Ah, droga! - reclamou Samanta - Não dá pra jogar com você!
—Foi só sorte - disse Márcia.
—Você não disse que não é só um jogo de sorte? - retrucou Samanta.
—É, eu sei - falou Márcia - Mas foi só uma partida. Querem jogar outra?
—Não, obrigada - disse Samanta - Jogos não são minha praia. Vamos fazer outra coisa.
—Que tal se a gente assistisse um filme? - disse Cíntia - A Márcia aproveita e faz a pipoca.
—Tá, tudo bem. Vamos fazer isso - disse Márcia.
E assim as três escolheram algum filme tranquilo no catálogo enquanto comeram pipoca e mais algumas coisas de lanche que Márcia preparou. Por volta das dez da noite, o filme terminou e Márcia comunicou que era hora de dormir.
—Tá legal, meninas - disse Márcia - Hora de ir para a cama.
—Ah, vamos assistir mais um - disse Samanta - Amanhã não tem aula mesmo.
—Desculpem - disse Márcia - A mãe da Cíntia falou para mandar vocês para a cama às dez.
—Mas a mãe da Cíntia não tá aqui, né? - disse Samanta - Ela não precisa saber…
—Boa tentativa - disse Márcia - Mas não. Vão dormir. As duas.
—Tá bom - Samanta e Cíntia disseram juntas.
Depois de escovarem os dentes, Samanta parece ter tido um ideia.
—Cíntia - disse ela, com um olhar maldoso - Não precisamos dormir agora.
—Como assim? A Márcia acabou de mandar a gente para a cama e…
—Não precisamos dormir agora se a Márcia não estiver aqui - explicou Samanta.
—Não entendi, amiga - estranhou Cíntia.
—Só confia em mim - disse a filha do prefeito.
O quarto de Cíntia ficava no segundo andar da casa. Samanta foi até lá e jogou sua escova de cabelo no quintal pela janela do quarto da amiga.
—Por que você fez isso? - indagou Cíntia.
—Faz parte do plano - disse Samanta - Agora vem a melhor parte.
Samanta desceu as escadas para falar com Márcia.
—Ei, babá - disse Samanta.
—Pode me chamar de Márcia - falou a garota.
—Que seja - disse Samanta - Posso sair?
—Por que você quer sair? - retrucou Márcia - Não tem nada que te interesse lá fora nesse horário, mocinha.
—É que eu estava escovando o cabelo perto da janela e...minha escova caiu lá no quintal - disse Samanta - Quero ir lá pegar.
—Ah, por que não falou logo? - disse Márcia - Eu pego pra você.
—Mesmo? Ah, obrigada, serviçal, digo, Márcia - falou Samanta.
“Essa menina”, pensou Márcia, achando graça. Mas isso duraria pouco. Assim que Márcia saiu pela porta para procurar a escova no quintal, Samanta trancou a porta.
—Como eu planejei - disse Samanta, rindo maldosamente.
—Ei, o que é isso? - retrucou Márcia - O que está acontecendo? Abram a porta!
Márcia batia na porta, mas Samanta não estava disposta a abrir. A babá não podia nem mesmo comunicar os pais ou outra pessoa por ter deixado o celular dentro de casa.
“Não acredito que caí nesse truque de sessão da tarde!”, pensou Márcia, com mais raiva dela mesma do que da menina.
—Agora sim podemos curtir a noite - falou Samanta.
—Você é má, amiga - disse Cíntia.
—É, eu sei. Ai, como eu tô bandida! - falou Samanta, gargalhando logo em seguida.
Parece que a noite não seria tão tranquila assim...
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
No próximo capítulo veremos como isso acaba. Até lá! :)