Vila Baunilha escrita por Metal_Will


Capítulo 150
O creme




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Doutor Renato, médico-chefe do posto de saúde de Vila Baunilha, chegou em casa no final daquela tarde acompanhado de sua esposa enfermeira Edna após mais um dia de serviço. No entanto, assim que colocou a chave na porta de casa, teve um pressentimento não muito agradável.

—O que foi, amor? - perguntou Edna, olhando a expressão preocupada de seu marido.

—Não sei - disse ele - Sabe quando você sente que algo terrível está para acontecer?

—Que horror - falou Edna - O que de ruim pode ter acontecido?

Os dois abriram a porta e, assim que colocaram os pés em casa, ouviram a voz de Kelly vindo da cozinha.

—Pai? Mãe? Vocês chegaram? - falou ela.

—A Kelly tá na cozinha - falou Renato.

—Esquece o que eu disse - completou Edna - Acho que algo muito ruim aconteceu mesmo.

Kelly veio da cozinha usando seu avental, toda suja de chantilly ou algo parecido.

—Filha do céu, o que aconteceu com você? - perguntou Edna.

—Ah, estava esperando vocês chegarem - disse a filha, toda animada - Acabei de fazer um mousse de morango maravilhoso.

—Sério? - disse a mãe, olhando para o marido - Que demais. Vejo que continua se esforçando.

—Queria que vocês provassem - falou a garota.

—Adoraríamos, filha, mas nós já comemos lá no posto - falou Renato - Podemos experimentar na hora da sobremesa?

—Ah, tá bom - disse Kelly - Já sei. Vou levar para o Gustavo. Nessa altura, o restaurante está mais vazio. Vou ver se o pai da Anne também aprova.

—Isso. Vai lá, filhona - disse Renato, dando todo seu apoio moral à filha.

Kelly saiu cantarolando para se trocar. Edna e Renato se entreolharam.

—Acho que não vamos sobreviver à sobremesa - disse Edna.

—Pelo menos ganhei um pouco de tempo para nós - falou Renato.

Enquanto isso, o restaurante estava quase fechando no final da tarde, mas uma freguesa não parecia muito a fim de ir embora. Anne tentou ser delicada.

—Dona Cleide - disse ela - Já, já estamos fechando. A senhora ainda não decidiu se vai comer ou não?

—Ora, não me apresse - reclamou a senhorinha - Eu quase nunca venho aqui e quando venho ainda tenho que sofrer essa pressão. Vou reclamar com o seu pai, heim?

—Mas a senhora está aqui desde a hora do almoço só batendo papo e sem pedir nada - reclamou Anne.

—O problema de vocês jovens é querer tudo para ontem - retrucou dona Cleide - A pressa é inimiga da perfeição! Quero apreciar o momento e olhar o movimento da cidade. Ficar o tempo todo dentro de casa é um saco. Fica tranquila que já, já eu faço meu pedido.

—Tá bom - falou Anne, evitando discutir mais.

Nisso, professor Otávio entrou no restaurante.

—Professor? - estranhou Anne - O senhor por aqui?

—Sim - disse ele - Estava passando e resolvi tomar um cafezinho.

—Bom, já estamos quase fechando, mas fique à vontade. Ainda temos clientes, como pode ver.

Otávio olhou para as mesas ao redor. O restaurante estava vazio apenas com dona Cleide sentada em uma das mesas centrais.

—Ah, Otavinho - falou dona Cleide, acenando para o professor - Sente-se aqui. Vamos bater um papo.

—Só vim tomar um cafezinho mesmo - disse ele, sentando-se com ela - Já estão fechando, não estão?

—Ah, ainda tem algum tempo! - falou dona Cleide. Anne apenas suspirou ao ouvir isso - E aí? O que conta de novo?

—Nada de especial - disse Otávio - Dando aulas, aguentando alunos, coisas de professor.

—Incrível como você ainda está firme para trabalhar, mesmo estando aposentado.

—Fazer o quê? - disse o professor - Não tem muita gente querendo ser professor e muito menos professor aqui em Vila Baunilha.

—Bem, mas você está bem para a sua idade - disse dona Cleide - Acho que posso falar isso olhando por mim também, não acha?

—É, pelo que lembro você era bem bonita…

—”Era”. Tempo pretérito? - perguntou Cleide.

—Não - respondeu Otávio - Tempo pré-histórico.

—Ora, seu! - reclamou a senhorinha - Do que está falando? Temos praticamente a mesma idade!

—Não leve a mal - disse ele - A verdade é que o tempo passa para todos.

—Mas isso não é desculpa para não aproveitar a vida - disse dona Cleide - Ainda acho que podemos fazer muita coisa.

—Que seja. Só quero um cafézinho mesmo

—Aqui está - disse Anne, entregando o cafézinho para o professor naquele exato momento - E a senhora, dona Cleide? Já decidiu se vai consumir alguma coisa ou não?

—Acho que vou querer um cafézinho também - disse ela - E talvez um docinho.

—Qual doce? - perguntou Anne.

—Boa pergunta - disse Cleide - Vou precisar tirar um tempinho para me decidir…

“Por que, meu Pai amado”, pensou Anne, tentando disfarçar sua frustração. Nesse momento, Kelly chegou no estabelecimento.

—Oi, gente - disse ela - Trouxe novidades.

—Amor - falou Gustavo, o namorado dela e companheiro de trabalho de Anne - Faz tempo que você não passa aqui.

—Vim trazer um doce que fiz - disse ela.

Gustavo ficou praticamente branco.

—Algo...que você fez? - disse Gustavo, após ter engolido seco só de imaginar o que estava por vir.

—Sei que ainda estou praticando - disse a garota - Mas, modéstia à parte, dessa vez acho que saiu bom.

—Você...experimentou antes, né? - perguntou Gustavo.

—Ai, esqueci - disse Kelly - Mas tenho certeza que dessa vez está gostoso. A cara ficou ótima. Devia ter tirado um foto.

“Pobre Gustavo”, pensava Anne, ao olhar o garoto sofrendo diante da insistência da namorada em fazê-lo experimentar seus quitutes (embora ela mesma esquecesse de experimentar).

Kelly tirou um pote de sua bolsa com vários potinhos com o mousse que ela havia preparado. Gustavo estava tenso, mas precisava concordar que, pelo menos no visual, a primeira impressão não era ruim.

—É, tem cara de mousse de morango mesmo - disse Gustavo.

—Testei algumas coisas no creme e saiu com esse jeito rosa bem bonito - falou Kelly - Vai, amor. Experimenta.

“Isso também faz parte do treinamento”, pensou Gustavo, fechando os olhos e colocando uma primeira colherada na boca. Ele teve uma sensação indescritível.

—E então, amor? O que achou? - disse Kelly.

“Como é possível?”, pensou Gustavo. “Isso...isso...isso ESTÁ ÓTIMO!”

Sim, o creme do mousse de morango de Kelly saiu bom. O que, afinal, aconteceu?


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Notas finais do capítulo

"Não - respondeu Otávio - Tempo pré-histórico"

Sim, copiei de Chaves na cara dura. Desculpem, não resisti. Kkkk

Veremos o que aconteceu no próximo capítulo. Até lá! :)



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