Vila Baunilha escrita por Metal_Will


Capítulo 149
Hora de acordar




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Amadeu, o urso de estimação da cidade, simplesmente estava dormindo na frente do portão da casa de Samanta. Inconformada com a impossibilidade de entrar em seu lar pela porta da frente, a garota estabeleceu a meta de acordar o animal. Infelizmente, as tentativas que Cíntia e ela empreenderam até agora não tiveram sucesso.

—O que faz um urso acordar? - disse Samanta, pensativa, com a mão no queixo.

—Só o despertador não é o bastante - falou Cíntia - Precisamos de alguma coisa que faça um som mais alto.

—É, seria bom ter algum som bem insuportável - concordou Samanta.

—Sim - continuou Cíntia - Um som que ninguém aguentasse ouvir.

—Onde vamos achar uma coisa tão conveniente agora? - comentou Samanta, voltando a colocar sua mão no queixo em postura pensativa. Eis que, por puro acaso, Luciano apareceu em cena tentando tirar algumas notas do seu violão. É, ele estava dando uma volta para conseguir mais ideias de composição. E sim, ele ainda não desistiu da ideia de se tornar um cantor famoso. Cíntia e Samanta se entreolharam com um sorriso maroto assim que notaram Luciano portando seu instrumento por ali.

—Luciano - disse Samanta se aproximando - Como você tá?

—Ah, oi. Nossa, acabei vindo bem longe na minha caminhada - disse ele - Já estou aqui perto da casa do prefeito.

—Pois é - disse ela - Estou vendo que você está com seu violão.

—Sim - disse ele - Preciso praticar. Você sabe que eu quero me tornar um cantor famoso, né?

—Sei sim - falou Samanta - Então, você já tem alguma música nova?

—Tenho sim - disse Luciano, todo empolgado - É uma criação minha. Chamo de “chapadão de amor”!

—Chapadão de quê? - perguntou Cíntia.

—Chapadão de amor - repetiu Luciano.

—Chapadão de amor… - repetiu Samanta com uma expressão nada confiante.

—É, chapadão de amor - voltou a falar Luciano - Vocês querem ouvir?

—Claro - falou Samanta, no tom mais falso que conseguiu - Mas...vem mais pra cá. Assim a gente te ouve melhor.

Samanta fez Luciano se aproximar de Amadeu. O garoto estranhou o urso ali.

—O que o Amadeu tá fazendo aqui? - perguntou Luciano.

—Ah, não liga pra isso - disse Samanta - Só canta, vai. Pode cantar bem alto.

—Amiga - falou Cíntia, bem baixinho, perto do ouvido de Samanta - Tem certeza que isso é uma boa ideia? Acho que meus ouvidos não estão preparados para isso, não.

—Aguenta - disse Samanta - É por uma boa causa.

—O que vocês estão cochichando aí? - perguntou Luciano.

—Naaadaa… - falou Samanta com voz manhosa - Vai, Luciano. Solta a voz.

—É pra já! - disse Luciano, começando a cantar em seguida - Tô chapadãããão de amooorr...de amor, de amor, de amoooor…

Cíntia e Samanta se entreolharam com expressões claras de desgosto. Infelizmente, a canção de Luciano não estava surtindo efeito algum no sono de Amadeu. Após cantar por mais algum tempo, tudo que aconteceu foi Amadeu virar para outro lado.

—E aí, meninas? O que acharam? - perguntou Luciano.

—Acho que...você devia continuar praticando - falou Cíntia.

—É, a prática leva à perfeição - falou Luciano - Tenho certeza de que essa música vai ser o maior sucesso nas paradas.

Samanta e Cíntia apenas se olharam com cara de quem chupou limão. Depois disso, Luciano continuou andando e tocando seu violão, enquanto as meninas não tiveram progresso algum em acordar o urso.

—Nada. Nadinha de nada - falou Samanta - Para não acordar nem com aquela cantoria horrível do Luciano é porque o sono do bicho é pesado mesmo!

—Já sei! - exclamou Cíntia, com um sorriso - Tive uma super ideia!

—Você? Uma ideia? Sério mesmo? - disse Samanta.

—Sim - falou Cíntia - Lembra daquela peça da Bela Adormecida? A princesa não acordou com um beijo?

—Não tô gostando do rumo dessa conversa… - comentou Samanta.

—Então - Cíntia prosseguiu - Por que você não dá um beijinho no Amadeu?

—Eu?! - exclamou Samanta com uma expressão enojada - Beijar o urso?

—Você não disse que se considera uma princesa? Então, vai lá e tasca um beijão nele. Aliás, será que o Amadeu não pode ser um príncipe disfarçado?

—Agora você tá viajando, menina.

—Pensa só. Ele é um urso, mas consegue fazer um monte de coisas. Acho que ele é um humano que foi enfeitiçado.

—Você não tá confundindo Bela Adormecida com a bela e a fera? - perguntou Samanta.

—Só tem um jeito de saber, né? Tenta. O máximo que pode acontecer é não acontecer nada - disse Cíntia.

—M-Mas, eu não sou uma princesa de verdade, né? Meu pai é só o prefeito, não o rei…

—Ah, dever servir - disse Cíntia - Na falta de rei, a gente considera o prefeito mesmo.

—Por que você não tenta beijar o urso, Cíntia? - perguntou Samanta.

—Eu? Mas eu não sou princesa, nem filha de prefeito, nem nada - disse Cíntia, sorrindo.

—E se o Amadeu for mesmo um príncipe? Se ele se casar com você, aí você vira princesa!

—Mas eu me tornaria princesa, ainda não sou - falou Cíntia.

—M-Mas…

—Amiga - falou Cíntia, colocando as mãos nos ombros de Samanta - Isso é uma coisa que só você pode fazer!

—Só eu?

—Só você. Agora vai lá e dá um beijinho no Amadeu. Pode ser só no focinho dele.

Samanta tentou se aproximar do urso, enquanto Cíntia torcia à distância. No entanto, Samanta não era uma das pessoas mais corajosas para isso. Assim que se aproximou mais e viu Amadeu mudar de posição, ela saiu correndo para perto de Cíntia.

—Não dá. Não consigo! - reclamou Samanta - Beijar o urso já é pedir demais!

—Então como é que a gente vai acordar ele, amiga? - perguntou Cíntia.

—Eu não tenho ideia! - exclamou Samanta - Que droga! Só quero que ele saia logo daí!

Nisso, doutor Renato, o médico da cidade, passava de carro por ali e viu as meninas junto com Amadeu. Ele parou e desceu.

—Olá, meninas - disse o médico, bem-humorado como sempre - O que está acontecendo aqui?

—Ah, doutor - disse Samanta - O Amadeu dormiu bem na frente da minha garagem. Agora não consigo entrar em casa.

—Não sabemos como acordá-lo - complementou Cíntia.

—Ah, isso costuma acontecer - disse o médico - Mas é fácil acordar o Amadeu.

—Como? A gente já tentou fazer barulho e nada! - falou Samanta.

—Não, não é pelo barulho, é pelo cheiro - disse doutor Renato, abrindo o porta-mala e pegando um saco com peixes comprados no mercado - Bem, vocês sabem que o Amadeu faz uns bicos lá no posto de saúde. Costumamos pagar o salário dele com peixe.

—Peixe? - estranhou Cíntia.

—É. Olha só.

Doutor Renato aproximou o peixe do focinho de Amadeu e não demorou muito para o urso acordar animado com o cheiro de um possível almoço.

—Aqui, Amadeu. Seu almoço - falou o médico.

O urso pegou o peixe satisfeito. Ele acordou e levantou tão rápido que deixou as meninas boquiabertas.

—Era só esse o problema? - perguntou doutor Renato.

—Sim - disse Samanta.

—Que bom. Fico feliz em ter ajudado. Ei, Amadeu quer um carona para o posto?

Amadeu confirmou que sim com a cabeça e os dois foram embora. A situação foi resolvida mais rápido do que elas pensavam.

—Peixe, Cíntia. Peixe. Tanto trabalho para no final o bicho acordar só com cheiro de peixe! - Samanta estava indignada.

—Sabe, amiga. Eu aprendi uma coisa hoje - falou Cíntia - Os animais possuem tanta personalidade quanto os humanos.

—Tá, que seja - falou Samanta - O importante é que agora posso entrar pela porta da frente, como eu mereço.

Samanta e Cíntia estavam adentrando a mansão, quando foram barradas pelo mordomo.

—Senhorita Samanta - disse ele - Sinto muito, mas os marceneiros estão iniciando a reforma da entrada e estão consertando a porta da frente. Poderia entrar pelos fundos, por gentileza.

—Falei que a gente devia ter entrado pelos fundos, amiga - disse Cíntia.

—Não fala nada, Cíntia - disse Samanta - Não fala nada!

É, essas coisas acontecem.


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Notas finais do capítulo

"Chapadão de amor". Fãs de Hermes e Renato pegarão a referência. Kkkk.

No próximo capítulo começamos um novo arco. Até! :)



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