Vila Baunilha escrita por Metal_Will


Capítulo 147
Inundação sem água




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—Isso não pode estar acontecendo! - exclamou Anne ao ver que seu cabelo tinha parado de se mexer sozinho como o antídoto de Luís prometeu, mas o efeito colateral por ter comido jujubas ao usar o mesmo antídoto fez o cabelo dela crescer descontroladamente.

—Como pode um cabelo crescer tão rápido assim? - perguntou Briana - Parece a Rapunzel.

—Quieta, Briana! Droga! - Anne correu para fora do restaurante, pegou seu celular e ligou imediatamente para Luís. O garoto, ao ver seu celular com uma ligação de Anne, já se encheu de esperança.

“A Anne? Ligando pra mim?”, pensou ele. “Será que…”

*Imaginação do Luís*

—Alô - falou Luís atendendo o telefone.

—Alô? Luís?

—Eu mesmo. É você, Anne?

—Sim - disse ela - Só estou ligando para agradecer pelo seu antídoto. Ele não só fez meu cabelo para de se mexer como deixou ele mais brilhante e forte ainda.

—Ah, não foi nada. Desculpa pelo erro.

—Ah, imagina - disse ela - Quem não erra? Se você errou, foi tentando acertar.

—Exatamente.

—Por isso, gostaria de deixar as coisas bem com a gente. Vamos sair um dia desses?

—Quando você quiser, gata.

—Ai, Luís. Você é incrível!

*Fim da imaginação*

Mas na vida real o celular continuava tocando e Luís finalmente atendeu.

—Alô - disse ele.

—Luís! Vem aqui para o restaurante agora! - gritou Anne claramente furiosa e desligando a ligação na hora.

—É, acho que é um pouquinho diferente do que eu imaginava - falou Luís.

Enquanto isso, o cabelo de Anne continuava crescendo. Briana olhava para isso espantada.

—Anne. Isso já tá ficando um pouco demais, né? - falou ela,, com uma tesoura na mão - Não adianta nem cortar. Ele continua crescendo.

Anne olhou para o seu próprio cabelo se espalhando pela rua.

—Eu quero sumir! - exclamou a moça, com o rosto em prantos.

E, de fato, não demorou muito tempo para uma verdadeira enchente de cabelo começar a encher a cidade toda. Sim, foi isso mesmo que aconteceu.

—Ei, você viu isso, amiga? - falou Cíntia, enquanto voltava de um passeio com Samanta.

—O que foi? Outra bobagem da internet?

—Tem um lugar aí que parece estar sendo invadido por cabelo - explicou ela.

—Cabelo? Que absurdo! Deve ser fake. Hoje em dia fazem tudo para aparecer - retrucou Samanta.

—É o que tá todo mundo falando, mas se for montagem é bem feita - disse Cíntia.

—E onde é isso? - perguntou Samanta.

—É num lugar chamado...Vila Baunilha - disse Cíntia sorrindo.

Um segundo depois.

—Vila Baunilha?! - exclamaram as duas juntas e ao olharem para frente se deparam com um monte de cabelo vindo na direção delas.

Bem, se fosse um lugar mais populoso, a imprensa já estaria em peso avaliando o caso, mas como estamos falando de Vila Baunilha, até o repórter mais próximo chegar, muita coisa já teria acontecido. O fato é que o cabelo de Anne estava crescendo em proporções que desafiavam qualquer senso comum. Luís percebeu isso rapidamente assim que se aproximava do restaurante, atingido em cheio pelo mar de cabelo. Carros, pessoas, animais todos estavam emaranhados naquele cenário semi-apocalíptico.

“Não esperava que uma reação de aplicação do meu antídoto no couro cabeludo de alguém que comeu jujubas resultasse nisso. A ciência é mesmo cheia de surpresas”, pensou Luís, enquanto praticamente nadava em meio ao cabelo.

—Ai, que nojo - falou Samanta - Não quero morrer afogada em cabelo!

—Olha pelo lado bom, amiga - disse Cíntia - Pelo menos o cabelo parece bem hidratado.

“Bem, pelo menos o xampu ajuda com isso”, pensou Luís ao ouvir isso.

Outras pessoas, vendo a situação, decidiram ficar em casa mesmo.

—Bisa! Não sai de casa por nada! - disse Márcia, olhando a situação na rua.

—Por quê? O que aconteceu? - perguntou dona Cleide, vendo a cara de espanto de Márcia.

—A cidade está inundada por cabelo - falou ela.

—Como? Cabelo? - disse dona Cleide, olhando pela janela - E não é que é verdade? Esse povo inventa cada coisa…

Mas enquanto muita gente não entendia o fenômeno e beatas rezavam em suas casas, a fonte de todo o problema estava cada vez mais desesperada.

—Cadê o Luís? - perguntava Anne - Ele vai ter que dar um jeito nisso!

—Espero que sim - falou Briana - Afinal, se seu cabelo continuar crescendo assim…o mundo inteiro pode ficar coberto de cabelo.

A cena da Terra inteira coberta por um cabelo descontrolado é um apocalipse ridículo até mesmo para essa história, mas havia uma esperança: Luís conseguir um antídoto.

—Cheguei! - falou Luís, praticamente nadando para chegar até Anne.

—Até que enfim! - exclamou ela - Como é que você vai resolver isso?

—Bem, o efeito da jujuba no seu corpo é temporário - falou ele - Em algum momento, o seu cabelo vai parar de crescer.

—Ah, que bom! - disse Briana - Você não precisa se preocupar com o mundo ficar cheio de cabelo, Anne.

—E quanto tempo isso vai demorar? - indagou Anne.

—Boa pergunta - falou ele - Não tenho a menor ideia.

—Luís, não abusa da minha paciência! - Anne estava realmente furiosa.

—Mas, calma, calma. Você está falando com um gênio - disse ele - Sabendo qual é o efeito colateral, posso fazer rapidamente uma fórmula que retarde o crescimento. Já tenho até as reações na cabeça e…

—Não quero saber de teoria, só faz logo essa coisa - disse ela - A responsabilidade é toda sua!

—T-Tá. Já volto!

Luís voltou a “nadar” no cabelo até seu laboratório. Enquanto isso, a crise na cidade continuava.

—O que está acontecendo aí fora? - perguntou Carla, ao olhar para o mar de cabelo fora do restaurante.

—Olha, mãe. É melhor continuar aí dentro - falou Briana.

—Anne. O que você andou tomando, cheirando ou fumando para ficar com o cabelo assim? Achei que tivesse dito para ficar longe de drogas!

—A culpa não é minha! - reclamou a garota.

Após uma hora, mais ou menos, Luís voltou até o restaurante, lutando para chegar até Anne no meio de tanto cabelo e, enfim, entregou a fórmula para ela.

—Voltei! - disse ele.

—Finalmente! - disse Anne - Passa logo isso! Ei, espera..

—O que foi?

—Não tem nenhum efeito colateral dessa vez, tem?

—Pelas minhas pesquisas, só teria se você tivesse comido camarão - falou Luís - Você não comeu camarão, né?

—Ainda bem que o papai não compra camarão faz tempo - comentou Briana.

—Ótimo. Então passa logo! - falou ela. Luís obedeceu e, enfim, parece que o crescimento parou.

—Será que deu certo? - perguntou Briana.

—Com certeza - disse ele, confiante - Estão falando com um gênio.

—Bom, senhor gênio - disse Carla - E como fica esse monte de cabelo na cidade inteira?

—É - concordou Luís - Vamos ter que dar um jeito nisso aí.

—Não se preocupem! - falou Antenor - Eu tenho um amigo que trabalha em uma fábrica de perucas. Ele vai ficar feliz em ter tanto cabelo natural disponível.

—E ele paga por isso? - perguntou Carla.

—Sim. Vai ser um ótimo investimento para ele - disse Antenor.

—Então o que está esperando? Liga logo para ele!

Pouco tempo depois, Anne já estava com seu cabelo cortado na altura de sempre e o amigo de Antenor chegou descendo de um helicóptero no restaurante. Ele ficou tão feliz que ofereceu uma quantia extremamente generosa de dinheiro por todo aquele cabelo. Em poucas horas, caminhões chegaram e levaram todo o cabelo que ainda estava ocupando espaço na cidade. Como isso aconteceu tão rápido? Bem, quando se tem dinheiro, tudo acontece bem rápido.

No final, tudo havia voltado ao normal finalmente. Anne estava com seu cabelo de sempre e Carla estava mais feliz do que nunca com o prêmio recebido.

—Com isso aqui vai dar para melhorar bastante o nosso restaurante - disse ela na manhã seguinte, olhando para o cheque dado pelo dono da fábrica de perucas- Anne, agradeça o seu amigo cientista por ter criado aquele tônico capilar milagroso.

—Milagroso o escambau! - retrucou Anne - Aquilo só aconteceu porque comi uma jujuba.

—Então foi por causa da jujuba que eu te ofereci - disse Briana - Como a gente ia saber, né?

—Ah, santa jujuba - disse Carla, abraçando Briana - Coisa linda da mamãe!

—Bom, que seja - disse Anne - Agora é ir para a escola e encarar a gozação de todo mundo por quase ter causado um “acabelipse”.

Apesar das preocupações de Anne, ninguém ligou muito para isso no dia seguinte (o que esperar de uma cidade que não se importa de ter um urso fazendo compras no mercado?). No entanto, Luís ainda lembrava da história.

—Anne! Anne! - disse ele na sala, chegando para a garota no início da aula - Você não tá brava comigo, né?

—A sua sorte é que tudo acabou bem no final - falou ela.

—Ah, que bom. É que...esqueci de falar uma coisa…

—O que foi? - Anne arregalou os olhos - Não vai me dizer que é outro efeito colateral?

—Bem, é que...você não tomou leite hoje de manhã, tomou?

Assim que ele disse essas palavras, o cabelo de Anne ficou verde.

—Luís… - Anne estava contando até dez para não surtar.

—Mas não se preocupe - disse ele - Esse efeito dura só um dia. Já fiz todas as previsões. Não precisa nem de antídoto.

Luciano chegou na sala naquela mesma hora e não resistiu em cair na gargalhada.

—Isso é ridículo demais! - disse ele, chorando de rir - Anne, você não tem pena do seu cabelo? Parece que você fez uma peruca de couve refogada!

“Um dia...só um dia…”, pensou Anne. “E só mais alguns anos para sair dessa cidade...”

Paciência é uma virtude.


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Notas finais do capítulo

Moral da história: não confie em nenhum produto que não tenha sido rigorosamente testado.

Maltratar protagonistas de vez em quando não faz mal para ninguém, né? Kkkk

No próximo capítulo, começamos um novo arco. Até lá! :)



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