Vila Baunilha escrita por Metal_Will


Capítulo 146
Quando a emenda é pior que o soneto


Notas iniciais do capítulo

Bem-vindo de volta e boa leitura! :)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/775280/chapter/146

Quando finalmente Anne soltou seus cabelos, eles começaram a se mover como tentáculos na mesma hora, para surpresa geral de todos os presentes da sala. Especialmente Luciano que, ao colocar os olhos nos cabelos da garota, não conseguiu segurar suas gargalhadas.

—Que coisa ridícula! - gargalhava ele, chorando de rir com as mãos na cabeça - Como é que isso foi acontecer?

“Alguém me mate! Por favor, alguém me mate!”, pensava Anne, colocando as mãos no rosto de vergonha e raiva ao mesmo tempo.

—Anne do céu - disse Kelly - O que aconteceu com o seu cabelo? Ele tá se mexendo sozinho…

—Pergunta isso para o Luís - foi tudo que Anne conseguiu dizer, apontando para o culpado.

—Calma, eu posso explicar - falou Luís, depois que todos os olhares se voltaram para ele.

O garoto inventor explicou toda a situação e a maioria da sala se compadeceu do problema de Anne.

—Coitada - disse Márcia - Eu também não estaria nada feliz se isso tivesse acontecido comigo.

—Querida Anne - disse Ian, correndo até Anne e segurando nas mãos dela - Não precisa se preocupar. Eu vou continuar te amando até se você ficar careca!

—Por que isso não me consola nem um pouco? - foram as palavras dela.

—Para provar meu amor, também vou me sacrificar - falou Ian - Onde está o xampu? Eu também vou aplicar o xampu em mim mesmo e nós dois compartilharemos do mesmo destino!

—Eu não quero ficar assim para sempre! - rebateu Anne - Só quero meu cabelo normal de volta!

—Ai, ai - Luciano já tinha terminado de rir, pelo que parecia. Ele enxugou as lágrimas de riso que soltou e se dirigiu até Anne - Mas você também, heim, Anne? Como é que você vai colocando qualquer coisa assim no cabelo?

O cabelo de Anne simplesmente bateu na cara de Luciano e o jogou para longe.

—Ei, também não precisa apelar para a violência! - reclamou Luciano.

—Não fui eu. Foi o meu cabelo - disse ela - Mas você mereceu.
—Isso é o que eu chamo de fortificar o cabelo - comentou Kelly.

—Maneiro, aí - disse Carioca - Agora seu cabelo tem poderes. Tu é tipo da Sindel do Mortal Kombat.

—Não quero poder nenhum. Só quero que meu cabelo volte a ser inanimado como sempre foi! - lembrou Anne.

—Já ouvi falar de cabelo rebelde, mas isso é ridículo - disse Ema - Anne, você precisa resolver essa situação logo. Se você não conseguir controlar o seu cabelo, ele pode se tornar uma ameaça para a vida das pessoas. E se ele começar a bater em quem chegar perto de você?

—Empatia por mim nem pensar, né? - retrucou Anne.

—Relaxe, Ema. Isso só acontece com trogloditas como o Luciano - disse Ian - Vejam, eu estou perto da Anne e não sofri nada…

Mas foi só ele terminar de dizer isso que o cabelo de Anne jogou o garoto para longe.

—O cabelo...é mais forte do que eu pensava - foi tudo que Ian comentou, após ser jogado perto do cesto de lixo.

—Viu só? Isso é perigoso! - insistiu Ema.

—Eu sei, mas não sou eu a pessoa que precisa resolver isso - falou Anne - Alguém assumiu a responsabilidade por isso.

E ela disse isso olhando para Luís.

—Sim, eu sou o responsável - falou Luís - Não se preocupe, Anne. Vou agora mesmo para casa preparar um antídoto. Espere por mim.

E Luís saiu correndo.

—Ei, a aula não acabou ainda e...ah, dane-se. O inspetor vai mandar ele de volta daqui a pouco - falou o professor Otávio - E você, Anne. Controle esse cabelo até o fim da aula.

—E eu tenho escolha?

Infelizmente, nenhuma das meninas tinha um prendedor de cabelo extra para emprestar para Anne e mesmo que tivessem, poderia acontecer o mesmo de antes. O cabelo dela estava cada vez mais adaptado. Tão adaptado que até estava sendo útil em sala de aula.

—Anne, empresta a borracha? - pediu Carioca.

O cabelo de Anne simplesmente agarrou a borracha e passou para Carioca.

—Valeu! - disse ele - Seu cabelo é bem maneiro. Você devia deixar ele assim para sempre.

—Não abusa da minha paciência - ralhou a garota.

Finalmente o sinal tocou e a aula acabou. Bem ou mal, ela conseguiu segurar o cabelo nas mãos enquanto estava no intervalo e fez o mesmo na saída. Dava para enganar as pessoas de fora da sala, mas ela não sabia por quanto tempo.

—Não se preocupe, Anne - falou Luís - Agora que a aula acabou, posso voltar para casa sem o inspetor me agarrar pela camiseta e me trazer de volta.

É, isso foi bem específico.

—Vou agora mesmo para o laboratório. Espere por mim - disse ele.

—Um dia ainda mato esse menino - falou Anne para Kelly.

—E agora? Vai trabalhar? - perguntou Kelly.

—Vou, né? Se minha mãe me mandou para a escola nessa situação, não é no trabalho, onde posso trabalhar usando uma touca, que ela vai me deixar faltar - explicou ela - Tchau, amiga. Espero que esse dia acabe logo.

—Tchau - falou Kelly.

—Ai, ai. Não consigo lembrar da Anne sem rir - disse Luciano para Márcia (longe de Anne, claro).

—Deixa de ser insensível - falou Márcia - Seu cabelo também é meio comprido. E se fosse você no lugar dela?

—Tá bom, tá bom. Foi mal. Mas que foi uma cena engraçada, foi.

Enquanto isso, Luís voltou para o seu laboratório e iniciou sua análise do xampu. A princípio, ele não via nada de errado, mas seu computador apontou um elemento estranho na fórmula original.

—Deixa eu ver...essa molécula é...saliva humana - disse Luís - Será que?

Luís lembrou que havia babado um pouquinho antes de fechar o pote de xampu. Ao refazer os cálculos, percebeu que os componentes do xampu eram sensíveis a certos compostos da saliva humana. Não foi difícil concluir o problema.

—Ah, então foi isso - disse ele - Mas a Anne não precisa saber disso, né?


E assim, ele começou a trabalhar em um antídoto.

No restaurante, Anne conseguiu colocar seu cabelo na touca e, pelo que parecia, conseguiu controlar sua cabeleira rebelde. Nesse ponto, pelo menos, o problema parecia resolvido.

—Ah, já sei - falou Briana, também percebendo que o cabelo da irmã aquietou com a touca - É só você usar a touca o dia inteiro.

—Mas eu quero meu cabelo de volta ao normal! - insistia a garota.

—Relaxa, o Luís vai dar um jeito - disse Briana - Toma. Pega um pouco de jujuba.

—Tá bom - Anne aceitou.

Pouco tempo depois disso, Luís chegou no restaurante com um olhar triunfante. Seu antídoto estava pronto.

—Anne! Anne! - falou ele - Aqui está o antídoto!

—Já ficou pronto? - estranhou a garota.

—Esqueceu que você está falando com um gênio? - disse Luís - Já encontrei o problema e reverti a fórmula. É só colocar no seu cabelo que tudo estará resolvido.

—Finalmente! - falou Anne - Você arranja o problema, mas pelo menos encontra uma solução. É só colocar no cabelo?

—Sim - disse Luís.

—Vou fazer isso agora! - falou ela toda contente, já pegando o pote e indo usá-lo nos fundos do restaurante.

—Ah, sim. Só uma ressalva - falou Luís, seguindo a garota - Essa fórmula só pode dar efeitos colaterais se estiver algum componente muito específico no seu corpo.

—É? Qual? - perguntou Anne.

—Ah, é uma coisa específica. Ela pode dar alguma reação se você comer jujuba. Mas quais as chances de você ter comido jujuba hoje? - disse Luís, todo sorridente.

Anne arregalou os olhos ao ouvir isso depois de já ter passado o produto no cabelo.

—Você disse...jujuba? - repetiu Anne, praticamente com lágrimas nos olhos, lembrando das jujubas oferecidas por Briana que ela comeu.

—É. Você não comeu jujuba hoje, né? - Luís voltou a falar, mas o olhar de Anne não estava dos melhores - Ai, não vai me dizer que…

—Por que justo jujuba? - falou Anne, quase chorando.

—Não posso controlar a bioquímica, né? Jujubas possuem efeitos no seu corpo que ressoam de modo anômalo com a fórmula agindo no couro cabeludo. É algo muito delicado, mas acontece, né?

—Que efeito vai ter, Luís? - disse Anne, sem nem mesmo abrir os olhos - Fala, fala logo.

—C-Calma. Eu disse que pode dar reações. Não quer dizer que vai acontecer alguma, né?

Quais as chances de acontecer alguma reação esquisita, não é mesmo?

—Então você não sabe?

—Bem, a ciência depende de experimentos, você sabe. Mas por que ficar pensando no pior? Seu cabelo parou de se mexer, não parou?

—Como não pensar no pior e...ei, é, é verdade, ele parou de se mexer.

—Viu só? Gênio é gênio, né? - gabou-se Luís.

—Ah, menos mal. Só espero que não tenha nenhuma reação.

—É, eu também não - disse Luís.

De fato, no restante do dia, Anne não percebeu reações e seu cabelo tinha voltado ao normal. É, parece que tudo tinha ocorrido bem. No entanto, assim que deu o horário da saída do serviço, Briana reparou algo diferente em Anne quando ela já havia se trocado para ir embora.

—Nossa - disse Briana - Não tinha reparado que seu cabelo era tão grande.

—Como assim? Tá do mesmo tamanho, não tá? - estranhou Anne.

—Não tá, não - insistiu Briana - Seu cabelo nunca bateu na cintura.

—Ai, não - falou Anne, fechando os olhos de desgosto.

Sim, o efeito colateral de usar o antídoto com jujubas era o crescimento do cabelo.

—Tá, tudo bem - disse ela - Cabelo grande não é uma reação tão ruim assim. Podia ser pior.

Mas assim que Anne deu alguns passos para ir embora do restaurante, ela quase tropeçou nos próprios cabelos. Sim, os cabelos tinham crescido até baterem no chão.

—Anne...seu cabelo...tá crescendo muito - falou Briana, agora mais séria.

—Retiro o que disse. É ruim, sim - falou Anne, olhando para o próprio cabelo, crescendo desgovernadamente - Eu devo ter feito pole dance na cruz pra merecer isso…

É, parece que Luís vai precisar agir de novo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

No próximo capítulo, vamos ver como essa confusão toda acaba. Até lá! :)



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Vila Baunilha" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.