Vila Baunilha escrita por Metal_Will


Capítulo 142
Conversas do coração




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—D-Desculpe - gaguejou Ema ao ouvir aquelas palavras da boca de Márcia - Acho que não ouvi direito. Você disse que beijou o Luciano?

—Sim - confirmou Márcia - Foi isso mesmo que você ouviu.

Ema meio que sentiu uma pontada no próprio peito.

—E-Espera. Como assim? Como isso aconteceu?

—Bem, aproximei meus lábios dos lábios dele e…

—Não se faça de engraçadinha! - reclamou Ema - Estou perguntando o que te motivou a fazer isso!

—Como o quê? - estranhou Márcia - Eu gosto do Luciano, mais do que como amigo.

—Mas isso não está certo!

—Posso saber por que não? - perguntou Márcia.

—O Luciano é o amor da vida da Anne. Vai talaricar ela assim? Na cara dura mesmo?

—Não estou talaricando ninguém - disse Márcia - Luciano e Anne nem estão namorando.

—Não estão namorando agora - lembrou Ema - Mas isso é só uma questão de tempo.

—Na sua cabeça, não é?

—Não é óbvio que eles foram feitos um para o outro?! - exclamou Ema.

—Não, não é! - respondeu Márcia no mesmo tom.

Ema respirou fundo e tentou recuperar sua calma.

—Tá, deixa eu entender melhor. Você disse que beijou o Luciano?

—Sim. Isso mesmo. Achei que você já tinha entendido.

—Você beijou ele? Não foi ele que te beijou?

—Exato.

—E ele correspondeu?

—Bem - Márcia fez uma pausa - Ele ainda não se decidiu…

—Ah, então vocês não estão namorando, não é?

—N-não - agora Márcia é quem estava gaguejando - Ainda não…

—Ainda não - repetiu Ema - Isso é um sinal de que o Luciano não corresponde aos seus sentimentos. Ele gosta da Anne e você está atrapalhando o romance dos dois. Fim de papo.

—Fim de papo nada! - reclamou Márcia - Que raio de lógica é essa? Só porque ele ainda não quer namorar comigo não implica ele gostar da Anne!

—Tá, e que outra garota você acha que ele gosta?

—Eu não sei - falou Márcia - Apenas deixei claro para ele o que eu sinto…

—E se ele ainda não decidiu é sinal de que não gosta de você desse jeito - lembrou Ema - Isso é um indício de que você não é garota para ele.

“Essa menina devia ser advogada. Caramba”, pensou Márcia, não conseguindo dar uma resposta melhor.

—E outra coisa - prosseguiu Ema - Você não pensa nos sentimentos do pobre soldado Caxias?

—Como é que é? - estranhou Márcia.

—Ele ainda não admite, mas está claro que ele gosta de você - falou Ema - Como ficam os sentimentos dele, heim?

“Ela é uma cega quando se trata dela mesma. Impressionante”, pensou Márcia.

—Escuta - disse Márcia - O soldado Caxias e eu somos apenas amigos.

—O que seria de vocês sem mim? Não conseguem nem perceber seus próprios sentimentos.

“Que vontade de dar uns sopapos na cara dela!”, pensou Márcia, mas apenas respirou fundo e decidiu se controlar.

—Olha, não diz mais nada - disse Ema antes que Márcia pudesse falar qualquer coisa - Só estou fazendo o melhor para vocês não sofrerem. Confiem em mim.

“Pelo jeito não vai ser fácil ela largar do meu pé”, pensou Márcia.

Enquanto isso, Anne caminhava pelo pátio no intervalo, ainda contrariada com o beijo que viu entre Luciano e Márcia.

“Ah, que droga!”, pensava ela, chacoalhando a cabeça. “Na escola é pior ainda. Por que não consigo esquecer aqueles dois?”

—Ei, bom dia - disse Renan, o único aluno do terceiro ano que, em um rara ocasião, havia decidido sair da sala no intervalo.

—Ah, oi - respondeu Anne - Nossa, é raro te encontrar aqui, heim?

—É que aproveitei o intervalo para ir ao banheiro - falou ele - Tive sorte de te encontrar.

—Sorte?

—Ah, é que não tem ninguém na minha sala e não conheço muita gente e…

—Entendi - disse Anne, rindo - Ah, é só me procurar no intervalo. Em uma escola tão pequena não deve ser tão difícil.

—É, é verdade - falou Renan, sorrindo.

“O problema…”, pensou ele. “É que deve ser meio difícil falar com ela sozinha no intervalo. Tive sorte hoje”

—Então…como estão as coisas? - perguntou Anne.

—Ah, tudo na mesma - respondeu Renan - Se bem que não tenho tido muita inspiração para pintar…

—Sério? Bem, eu também ando meio sem ânimo ultimamente.

—Como assim? Tá tudo bem com você? - disse Renan, preocupado.

—Ah, sim, tá tudo bem - falou ela - É uma coisa da minha cabeça. Com o tempo passa. Não precisa se preocupar.

—Mesmo? Se quiser desabafar…

—Não é nada para se preocupar - insistiu Anne - Não precisa esquentar a cabeça.

—Se você tá dizendo…

Nisso, o sinal tocou alertando o fim do intervalo.

—Ah, já acabou o intervalo - disse ela - Bem, a gente se vê por aí.

—C-claro. Espero que a gente se fale de novo - disse Renan.

—Eu também - concordou Anne - Vê se sai mais da sala.

—T-Tá

Anne se despediu com um sorriso, acelerando os batimentos cardíacos de Renan consideravelmente.

“Ai, o sorriso. Aquele sorriso”, pensava ele.

Voltando para a sala, as próximas aulas seguiram normalmente. Ao término delas, Ema correu até Luciano para confirmar a história de Márcia.

—Luciano! - disse a garota, puxando Luciano pelo braço - Vem comigo.

—O que foi? - reclamou ele - Aconteceu alguma coisa?

—Só vem comigo - disse Ema, puxando Luciano sem olhar para trás.

“Ela é mesmo insistente”, pensou Márcia, observando toda a ação. “Pode até ser que o Luciano goste mesmo da Anne, mas enquanto ele não admitir isso, eu continuo no páreo. Não quero nem saber!”

Luciano e Ema, enfim, pararam em um canto do pátio.

—Vou ser rápida - disse ela - É verdade o que eu ouvi de você e a Márcia se beijando?

“Que droga. Já chegou na orelha dela”, pensou Luciano.

—É verdade ou não? - insistiu Ema.

—Calma lá - advertiu Luciano - Em primeiro lugar, foi ela que me beijou.

—Ah, então é verdade.

—Bom, é…

—E você quer namorar com ela?

—Eu não sei!

—Não sabe? Como assim não sabe? Você não sabe o que está sentindo?

—Não, não sei - retrucou ele - A Márcia é uma boa amiga, mas não sei se quero namorar com ela. Não sei se vejo ela assim…

—Ah, então você não quer - falou Ema, já sorrindo.

—Peraí - interrompeu Luciano - É estranho, mas talvez não seja uma má ideia.

—Como assim, “talvez”?

—Ela deu um bom argumento. Eu e a Márcia temos gostos em comum e somos bons amigos. Já é meio caminho andado para nos darmos bem como casal, não é?

—Tá, então você está disposto a aceitar?

—Mais ou menos. Ainda não sei se é uma boa ideia.

—Eu sei porque você está indeciso - falou Ema - É porque você gosta da Anne! Confessa!

—Por que você insiste em me juntar com aquela garota? Não tá na cara que ela me detesta?

—Não, não tá! - retrucou Ema - Eu consigo ler vocês como um livro. Por mais que vocês neguem, nada me tira da cabeça que vocês foram feitos um para o outro.

—A gente só briga o tempo todo!

—Eu diria que vocês são tipos conflitantes, mas complementares. Tipo yin e yang, pingue e pongue, cura e veneno, chocolate e pimenta, ah, você entendeu.

—Não, não entendo - falou Luciano, já virando as costas para ir embora - De qualquer forma, falei para a Márcia que ia pensar no assunto. Nada está decidido ainda.

—Pode mentir para mim à vontade, Luciano - falou Ema - Mas no fundo você sabe. Você sabe muito bem porque não quer namorar com a Márcia.

—Ah, me deixa em paz - reclamou ele.

Na cabeça de Luciano, ele só não queria ficar com Márcia por achar que seria estranho misturar uma amizade com namoro. Só que o destino não ia deixar as coisas tão simples assim.

Mais tarde, naquele dia, Luciano estava limpando a entrada da lanchonete, quando seu pai se aproximou já delegando a próxima tarefa.

—Acabando aí, não esquece de limpar o balcão - lembrou Abílio.

—Eu já sei - reclamou Luciano.

—Ai, ai, que vida sofrida - disse Abílio (apesar de não estar fazendo nada a não ser reclamar) - Quando será que nossa situação vai melhorar?

Nesse instante, Anne, que havia terminado seu expediente no restaurante um pouco mais cedo novamente e estava retornando para casa, estava passando por ali. Sem muita escolha, ela apenas cumprimentou pai e filho.

—Boa tarde - disse a mocinha, já apertando o passo para andar mais rápido.

“Que oportunidade!”, pensou Abílio, ainda mantendo sua ideia de juntar Luciano com Anne para tirar o pé da lama.

—Ah, Anne - disse Abílio - Chegou em uma boa hora.

—Como? - estranhou a garota.

—Lembra que você ajudou meu filho em matemática outro dia? Então, as notas dele estão piorando de novo. Não poderia dar uma mãozinha, de novo?

—Pai. O que você tá fazendo? - reclamou Luciano.

—Claro. Se não for muito incômodo - falou Abílio.

—É que eu…- Anne estava tentando dar uma desculpa.

—Veja só. Você voltou mais cedo para casa hoje, não voltou? - reparou Abílio - Deve ter um tempinho só para colocar o básico na cabeça do idiota do meu filho, não tem?

—Eu adoraria, mas…

—Adoraria? Então você não se importa - interrompeu Abílio - Podem usar a mesa aqui da lanchonete mesmo. Fiquem à vontade.

Anne e Luciano apenas suspiram. É, pelo jeito, não tinha jeito...


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