Vila Baunilha escrita por Metal_Will


Capítulo 143
Duas cabeças duras




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Abílio insistiu para que Anne se sentasse na mesa da lanchonete para ajudar Luciano com seus estudos, algo que ela fez por livre e espontânea pressão.

—E então? Posso servir alguma coisa? - perguntou ele - Fica por conta da casa.

—Não. Obrigada - Anne disse imediatamente - Não precisa se preocupar. Comi bem antes de sair do restaurante. Não estou com a menor fome.

—Mesmo? - disse Abílio - Nem uma água ou suco?

—Bom, uma água até aceito - falou Anne.

—Perfeito. Vou trazer agora mesmo - disse ele - Aproveito e trago os livros do Luciano.

—Mas, pai - reclamou Luciano - Preciso terminar de varrer a lanchonete e…

—Deixa isso comigo - falou ele - Só se concentra nos seus estudos. É como eu sempre digo: a escola em primeiro lugar.

—Você nunca disse isso - retrucou Luciano.

—Mas eu acabei de dizer! - reclamou Abílio.

Anne apenas observava pensando em como acabou se metendo naquela situação. Os dois permaneceram em silêncio até Abílio voltar com a água de Anne e a mochila de Luciano.

—Aproveita bem, heim? - disse ele - Essa oportunidade não aparece sempre.

“Claro que ele não está falando dos estudos!”, pensou Luciano.

Abílio foi para o depósito para deixar os dois sozinhos. Luciano, então, abriu seu livro de matemática para fazer a lição do dia e, de fato, tinha sérios problemas com aquela matéria.

—Calcule a área da figura hachurada - lia ele - Como é que eu vou fazer isso? Ele nem dá todos os dados!

—Você consegue deduzir com as informações do enunciado - falou Anne.

—Ah, é? - disse Luciano - Isso é bem complicado. Mas, olhando agora, até que é bem irônico, não é?

—O quê?

—Você acabar aqui me ajudando quando me deu um tapa hoje só por eu ter pedido para copiar sua lição - falou ele - É a lei do retorno.

—Que lei do retorno o quê! - exclamou Anne - Não foi por isso que eu te bati.

—Ah, não? E por que foi?

Anne acabou notando que Luciano realmente não sabia que ela sabia do beijo entre ele e Márcia. Será que devia mesmo entrar nesse assunto?

—Não foi nada - disse ela.

—Nada - repetiu Luciano - Quando uma mulher fala que não foi nada é porque foi tudo. Vai, diz logo o que eu fiz.

Anne mordeu os lábios, hesitando entrar no assunto, mas preferiu colocar as cartas na mesa logo.

—É que...para você qualquer uma serve, não é?

—Como assim?

—No festival - falou Anne - Eu vi você e a Márcia no festival.

—O que tem? Você também não estava dançando com aquele carinha lá.

—Não é disso que eu tô falando - prosseguiu Anne - Estou falando do beijo.

—O...beijo?

—Sim - confirmou Anne.

"Então ela viu ou ficou sabendo por alguém?", pensou Luciano. Disso, ele só conseguiu concluir que Anne estava enciumada.

—Ah, agora entendi - disse Luciano, rindo - Você ficou com ciúmes.

—Ciúmes? Eu? - respondeu a garota - Não viaja.

—Ah, é? E aquele tapa foi por qual motivo?

—Por você ser um safado que sai beijando qualquer uma! - retrucou Anne.

—Eu? Para começo de conversa, foi ela que me beijou!

—Foi...ela? - perguntou Anne.

—Sim - confirmou Luciano - Foi bem de repente, aliás.

“É verdade. A Márcia já me disse com todas as letras que gosta do Luciano, mas será que ele também gosta dela?”, pensou Anne.

—O que foi? - perguntou Luciano - Por que tá me olhando com essa cara?

—Mas você gostou? - indagou Anne - Você tá a fim dela?

—O mundo inteiro resolveu me perguntar isso hoje, é?

—Como assim?

—A Márcia e a Ema também me perguntaram a mesma coisa - falou Luciano - E minha resposta é que estou pensando.

—Pensando? Ah, então você gosta dela. É, já devia imaginar.

—Bom, é uma amiga e uma menina legal - disse Luciano em tom provocativo - Quem sabe…

—É, faz sentido - continuou Anne - Até porque nosso beijo não significou nada, né?

Luciano corou nitidamente, mas Anne também estava meio corada ao lembrar disso.

—Ah, vai desenterrar isso agora? - reclamou Luciano - Não combinamos de fingir que isso nunca aconteceu? A menos…

—A menos o quê?

—A menor que você não queira esquecer - disse Luciano - Vai, admite. Não conseguiu esquecer meu beijo, não é?

—Ai, como você se acha - respondeu Anne - Escuta aqui, alecrim dourado. Não é nada disso. Só não acho que seja legal você namorar com a Márcia se não gosta realmente dela. Se aquele beijo significou alguma coisa, então fala logo.

—Eu é que me acho, né? - provocou Luciano - Você está dizendo com todas as letras que eu é que preciso admitir o quanto aquele beijo foi importante, não está?

—Afinal, foi ou não foi?

Luciano não conseguiu responder nada.

—Se está demorando para responder é porque foi, não é?

—Já não conversamos sobre isso? - falou Luciano - Foi algo de momento, foi bom, mas…
     -Epa, epa, o que você disse? - notou Anne - “Foi bom?”. Então você admite!

—E você? Vai dizer que foi ruim?

—Bem, eu… - Anne desviou o olhar.

—Uma coisa é um beijo, outra coisa são sentimentos - falou Luciano - Uma coisa é beijar no calor do momento, outra é beijar porque gosta.

—Então é assim que você pensa?

—Sim - falou Luciano.

—É a mesma coisa com a Márcia, então?

—No caso dela é diferente - disse o garoto - Ela confessou que gosta de mim.

“Então ela já chegou nesse ponto?”, pensou Anne.

—É diferente do nosso caso - prosseguiu Luciano - Nenhum de nós tinha sentimentos.

—É, é verdade - concordou Anne - Só aconteceu. Coisa de hormônios, né?

—Sim, isso mesmo, hormônios - falou Luciano.

Os dois riram.

—Mas, você namoraria com a Márcia?

—Já disse que não sei - respondeu ele - Ainda vejo ela muito como amiga.

—Entendo - falou Anne - Na real, não acho que vocês combinem.

—E você? Qual é a sua com aquele carinha lá? Aquele que dançou com você no festival…

—Ah, o Renan - disse Anne - Ele é gente boa, mas somos só amigos.

—Será?

—O que você tá insinuando?

—Não sei. Será que ele quer ser só seu amigo.

—Bom, eu diria que ele tem mais chance do que os malucos do Luís e do Ian.

—Tá falando sério?! - exclamou Luciano.

—Epa, será que isso é ciúme? - perguntou Anne.

—Claro que não! - rebateu Luciano - Mas aquele cara é meio esquisito, não é? Ele não é aluno do terceiro ano? Ele logo se forma e deixa você para trás.

—Que argumento mais fraco - disse Anne - O Gustavo também se formou ano passado e namora com a Kelly até hoje.

—Então você já tá pensando em namorar com ele?

—Se isso te incomoda tanto, fica sossegado - disse Anne - Quero me dedicar à escola primeiro. Depois eu penso em namoro.

—Não estou incomodado - resmungou Luciano.

—Espero que não - falou a garota - Não é como se seus ciúmes fossem mudar alguma coisa caso eu quisesse namorar com o Renan.

—Claro - Luciano aceitou a provocação - Por que eu namoraria com uma chata como você quando posso namorar uma pessoa tão legal como a Márcia?

—Tá com calor, Luciano?

—Um pouco, por quê?

Anne pegou a água que estava em seu copo e jogou na cara de Luciano.

—Quem sabe isso te refresca um pouco - falou ela, em tom de deboche - Chato é você! Namora com quem quiser. Não tô nem aí!

—Você é uma doida mesmo! - reclamou o garoto.

—E se quiser tirar dúvidas de matemática, tira com a Márcia. Já que você é bem mais sua amiga do que eu. Tchau.

E Anne sai de cena. Luciano nem mesmo se despediu.

—E então? Como foi? - perguntou Abílio, chegando ali alguns instantes depois.

—Não aprendi muita coisa - falou Luciano.

—Quem liga para a matéria? - disse Abílio - Estou perguntando se você conseguiu conquistar a Anne?

—Tira essa ideia louca da cabeça, pai! - reclamou Luciano - A Anne e eu nunca vamos nos dar bem! Nunca!

—Você quer mesmo me fazer morrer na pobreza, não é? - reclamou Abílio - Imagina o restaurante de sucesso que os Montecarlo vão ter daqui alguns anos e você tem a chance de herdar tudo. Por que está fazendo isso com o seu pobre pai?

—Deixa de drama - retrucou Luciano.

Enquanto isso, Anne subiu rapidamente para o seu quarto, fechou a porta e suspirou fundo.

“Será que ele ficou com ciúmes do Renan?”, pensou ela. “E será que eu estou com ciúmes da Márcia? Droga...por que aquele beijo no lago teve que ser tão booom?”

É, será uma longa temporada.


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Notas finais do capítulo

A maturidade emocional desses dois é uma droga, né? Kkkk.

No próximo capítulo, começamos um arco com mais comédia e menos enrolação. Até lá!



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