Vila Baunilha escrita por Metal_Will


Capítulo 140
Fim de festa




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/775280/chapter/140

—Aquele moleque… - Abílio reclamava de Luciano, apoiado em seus cotovelos enquanto esperava algum cliente em sua barraquinha - Foi lá se divertir enquanto eu fico aqui trabalhando. Se bem que não tive nenhum cliente até agora.

—E aí, seu Abílio? - disse Carioca, acenando para o pai de Luciano.

—Você, garoto! - falou ele - Vai querer comer alguma coisa?

—Puxa, é que eu já comi bastante, sabe?

—Comeu em todos os outros lugares menos aqui! - retrucou Abílio - Que falta de consideração…

—Foi mal, é que a sua barraca tá bem afastada das outras, né? - disse Carioca - Mas, aí, acho que vou pegar um refri.

—Ah, sim, claro, claro - falou Abílio, já mudando seu humor - Bom saber que ainda tem bons jovens por aí. Por falar nisso, você viu onde está o Luciano?

—Acho que ele tava participando do concurso de dança - falou Carioca.

—Dança? Eu aqui trabalhando duro e ele lá, dançando? - reclamou Abílio - Ei, espere...com quem ele está dançando?

—Aí eu já não sei…

“Aquele moleque”, pensou Abílio. “Espero que pelo menos esteja dançando com a filha dos Montecarlo. É uma ótima oportunidade para eles ficarem juntos!”

De volta ao baile, onde toda a ação estava acontecendo, encontramos nossos amigos se preparando para iniciar outra sequência de músicas. Nesse instante, Ema não perdeu tempo.

—Vem, soldado! - falou ela, puxando o pobre soldado Caxias para perto de Márcia - É a sua chance!

—Minha o quê?

—Amigos - disse Ema, chegando amigavelmente perto de Luciano e Márcia - Que tal trocarmos nossos pares?

—Não tô muito a fim - falou Márcia.

—É, já dançamos bastante - falou Luciano - Fica para…
Mas Ema foi mais rápida e agarrou no braço de Luciano.

—Não precisam ser tímidos - falou Ema - Estamos só nos divertindo, né?

—Mas é que… - Luciano tentava falar, mas Ema não dava tempo para desculpas.

—Foi divertido dançar, não foi? Por que não dançamos mais um pouco? - disse ela - O soldado Caxias quase não tira folga, coitado. Vamos deixar ele se divertir um pouco, né?

—B-bem, eu… - o soldado gaguejou, mas a próxima música já ia começar e não daria tempo de convencer Ema do contrário. Enquanto isso, outro par também estava tendo seus impasses.

—Finalmente - disse Luís para Samara - Agora é a hora de chegar na Anne e tirar ela para dançar!

—T-Tá - falou Samara.

Luís tentou procurar Anne em todo lugar do patio, mas, para sua infelicidade, não a encontrou.

—Ei - falou ele - Cadê a Anne?

—E eu vou saber? - respondeu Samara.

—Ela estava aqui até agora! Como é que ela pode ter sumido?

—Vai ver ela não quer dançar mais - disse Samara.

—Anne! Anne! - chamava Luís - Ah, droga. Ela não tá mais aqui.

—E então? O que você vai fazer agora? - disse Samara.

—Ah, se a Anne não está aqui não tenho mais motivos para continuar nisso. Vou procurar ela em outro lugar.

—E eu? O que eu faço? - perguntou Samara.

—Ué? Vai atrás do Luciano - disse Luís.

—M-mas…

Olhando para o pátio, Samara viu Luciano se preparando para dançar com Ema. Parece que não dava para trocar de pares agora.

—Ele tá dançando com outra pessoa - disse Samara.

—Parece que sim - concordou Luís, olhando para onde Luciano estava - Bem, isso não é mais problema meu. Vou indo nessa.

—B-Bom - gaguejou Samara - Acho que também vou.

—Ué? Não quer esperar para dançar com o Luciano?

Samara estava um tanto confuso com seu próprio coração. Por algum motivo, ela não estava tão determinada para tirar Luciano para dançar.

—Bem, eu...eu...não acho que eu vá me dar bem dançando com ele.

—Você que sabe - falou Luís.

—M-mas...até que foi divertido dançar - disse ela, em voz baixa, mas Luís acabou nem ouvindo.

—Bom, preciso procurar a Anne. Até mais - falou ele.

—Ah...então, tá… - foi tudo que Samara disse.

“O que está acontecendo comigo? Eu deveria estar preocupada com o Luciano, não deveria? Afinal, ainda gosto dele, não gosto? Gosto? Ou já mudei de ideia de novo?”, pensava ela, com vários conflitos internos que certamente vão deixar a cabecinha da pobre garota ainda mais confuso. Mas vamos ver como as coisas estavam indo para o lado de Anne. Ela havia saído do pátio com Renan assim que a competição acabou.

—Não vai mesmo querer dançar mais? - perguntou Renan.

—Ah, nenhum de nós dança bem - falou ela - Só vamos ficar pisando no pé um do outro.

—É, tem razão. Dança não é meu forte. Se fosse uma competição de pintura, até faria mais questão - disse ele.

—Mas obrigada - disse ela - Se não fosse você, teria que ficar com o Luís me enchendo a paciência para dançar com ele.

—Ué? Mas então não seria melhor ficar até o baile acabar? - perguntou Renan.

—Ah, não tem problema - falou ela - Agora eu volto para a barraca dos meus pais e continuo trabalhando até o fim do festival. Só queria relaxar um pouquinho. Apesar de não curtir muito essa cidade, até que o clima da festa é bem legal.

—Tem todo ano - disse Renan - Eu quase nunca faço questão de vir, mas esse ano acabei vindo…

—Por quê?

—É, sei lá. Só deu vontade de vir mesmo.

—Sei.

—É que...imaginei que esse ano seria diferente.

—E foi?

—É, acho que sim. Nunca dancei antes.

Os dois riram.

—Você é um cara bem legal, sabe?

—S-Sério? - gaguejou Renan, claramente vermelho - Você também é uma garota bem legal...

—Bom - disse Anne - Agora preciso voltar para o trabalho. Chega de moleza!

—Escuta, Anne.

—Sim?

—A gente podia fazer alguma coisa um dia desses…

—Tipo o quê?

—Ah, boa pergunta - falou ele - Não tem nada pra fazer nessa cidade. Ah, podíamos só sair e conversar mesmo.

—É - falou ela - É, quem sabe? O problema é que eu trabalho todo dia, tô sempre cansada quando saio do serviço e ainda tenho que estudar. Mas vamos ver quando eu pegar um folga.

—T-Tá.

—Até mais.

—Até - falou Renan.

“Ela é tão linda”, pensava ele ao vê-la voltando para a barraca dos pais. “Aquele sorriso...aquele sorriso acaba comigo. Será que isso é estar apaixonado?”

—Bonita, não é? - disse Luís, que havia chegado e se aproximado de modo sorrateiro de Renan.

—Sim, muito e...Ah, de onde você veio?

—Eu é que pergunto. Quais suas intenções com a minha Anne?

—Que eu saiba ela não é sua namorada.

—Isso é só uma questão de tempo. Anne eu nascemos para ficar juntos! - falou Luís.

—Será que ela sabe disso também?

Luís e Renan trocavam faíscas com seus olhares, até um terceiro componente se aproximar também rindo.

—Como são tolos - disse Ian, em um estado deplorável com roupas amassadas, cabelo desarrumado e alguns machucados na pele resultantes de sua fuga de Tamires - Não percam seu tempo! O coração de Anne só tem lugar para uma pessoa e estão olhando para ela! Sou bonito e rico, tudo que Anne pode querer.

“Competir com beleza e dinheiro é mesmo difícil”, pensou Renan.

—Grande coisa - falou Luís - O nerd de hoje é o cara rico de amanhã! Assim que patentear algumas invenções serei tão rico quanto a sua família inteira!

“É verdade. Agora eu me lembrei. Esse baixinho aí é o garoto gênio do primeiro ano. Competir com inteligência também vai ser difícil”, pensou Renan.

—E você, cara que chegou agora? - perguntou Luís para Renan - O que você tem?

—Eu sei pintar! - falou ele. Após uma breve pausa, Ian e Luís caíram na gargalhada.

—Imagina a Anne se casando com um pintor - falou Luís, rindo.

—Vai sustentar um casamento como? - Ian também ria - Vendendo sua arte na praia?

—Não importa - falou Renan - A única coisa que importa é o coração. A Anne vai ficar com quem ela gostar mais. No fim, é isso que importa.

—Tem razão. Que vença o melhor - disse Luís - Se bem que um de nós já está em desvantagem.

—É? Quem? - perguntou Ian.

—Ianzinho - era a voz de Tamires - Ian, querido, eu sei que você tá aí!

—Ai, caramba - disse Ian - O papo tá bom, mas tenho que ir nessa. Fui!

Só que, se dependesse de uma outra pessoa, Anne não ficaria com nenhum desses três. Voltemos ao pátio com aqueles que continuaram dançando.

—E aí, molengão? - disse Ema, enquanto dançava com Luciano.

—Como assim? - reclamou ele.

—Vai ficar nesse chove e não molha até quando? - continuou Ema - Você não viu a Anne dançando com o Renan do terceiro ano?

—Ah, ele é da nossa escola? Bem que achei familiar…

—Então você reparou? E o que vai fazer se ele começar a dar em cima dela? Aquele cara não é um maluco que nem o Luís e o Ian. Dessa vez, não vai ser tão fácil.

—Isso não me importa nem um pouco - falou Luciano - Ela que fique com quem quiser e…

—Está desviando o olhar - disse Ema - Sinal de que tá mentindo.

—Ah, me deixa! - reclamou o garoto (mas continuava desviando o olhar).

Enquanto isso, Márcia e Caxias dançavam e conversavam.

—E então? Progresso? - perguntou ela.

—Nada - reclamou o soldado - Não deu tempo de falar…

—Ah, que pena. Era uma oportunidade e tanto.

—Bem, pelo menos não fui rejeitado.

—Não seja tão pessimista - falou Márcia - Se ela souber dos seus sentimentos pode começar a repensar essa bobagem de não querer ficar com ninguém.

—Mas é tão difícil.

—É, eu entendo - concordou a garota.

Finalmente, a música acabou. Era outra oportunidade de trocar de par.

—Muito bem - falou Ema - Agora é sua chance de ir atrás da Anne, dançar com ela e selar esse amor de vez e…

—Mas cadê a Anne? - perguntou Luciano.

Ema olhou para o pátio e viu que, de fato, Anne já tinha ido embora.

—Ai, não. Droga. Fiquei focada em você e perdi ela de vista. Culpa sua, Luciano!

—Deixa de ser surtada.

—Bom - falou Márcia, chegando perto dos dois - Acho que agora já chega de dança, né? Você não precisa ajudar seu pai na barraca dele, Luciano?

—Não, ele pode se virar bem se mim - falou o garoto.

—Que é isso? Deixa de ser insensível. Vem, eu vou com você até lá. Tchau, pessoal.

E Márcia puxou Luciano pela mão, saindo rapidamente de cena.

—Senhorita Ema? Quer continuar dançando?

—Soldado! Isso é ruim! - falou ela.

—Como assim?

—A Márcia! Vai deixar ela escapar assim?

—Não ligo! - disse o soldado - Não ligo porque...eu não gosto da Márcia!

—Não? Mas vocês estavam se dando tão bem e…

—Quer dizer, não gosto do jeito como a senhorita está imaginando. Ela é uma ótima pessoa e uma ótima amiga, mas não posso dizer que gosto dela mais do que isso.

Ema ficou em silêncio.

—Não, não pode ser, isso está errado - falou Ema - Você, soldado, você também é outro que não está sendo sincero com os próprios sentimentos, não é?

—Não, não é isso. Estou sendo totalmente sincero, senhorita Ema. Eu, eu…

—Por favor, se acalme - interrompeu Ema - Sei que o Luciano gosta da Anne, ele não vai querer nada com a Márcia. Vou pensar direitinho em um jeito de fazer vocês dois ficarem juntos. Não precisa se preocupar.

—Mas, senhorita Ema…

—Acho que por hoje já chega - disse Ema - Toda essa dança me deixou cansada. Acho que vou para casa.

—Quer companhia? - falou o soldado, animado.

—Não precisa se preocupar - disse ela - Eu chamo um carro. Se eu fosse você, aproveitaria para ir atrás da Márcia enquanto dá tempo. Até mais.

—M-M-Mas…

Não adiantou. O pobre policial foi deixado ali falando sozinho.

Enquanto isso, Márcia puxou Luciano para uma região mais isolada da festa.

—Acho que aqui tá bom…

—O que foi? Achei que íamos para a barraca do meu pai e…

Márcia apenas puxou Luciano e deu um beijo nele. E quando falo beijo é mesmo um beijo na boca. Não apenas isso, Márcia e Luciano estavam aos beijos no mesmo instante em que Anne estava passando por aquele lugar enquanto voltava para a barraca dos seus pais.

“O quê?!”, pensou Anne ao ver a cena. Apesar disso, ela não foi vista pelos dois e tratou de passar rápido por ali.

—Ei, o que é isso? - estranhou Luciano.

—Para que esconder mais? - perguntou Márcia - Eu gosto de você, Luciano.

—Isso é sério?

—É sério - falou ela - Esse beijo é a prova disso. Mas não vou te obrigar a nada.

—Como assim?

—Não precisa me responder agora - continuou Márcia - Se você quiser namorar comigo, estou de braços abertos. Se não quiser, é só falar.

—Eu...eu...não sei o que dizer…

—Como eu falei, não precisa falar nada agora - disse ela, sem tirar seu sorriso do rosto - Só quero que você saiba disso mesmo.

—Isso foi de dez a cem rápido demais - balbuciou Luciano.

—Bom, acho que já tivemos ação demais para essa noite. Vou buscar minha bisavó e cair fora. A gente se vê na escola, Luciano. Até mais.

—Até? - Luciano não sabia muito bem como reagir, mas ele não era o único que estava desnorteado.

—Anne! - falou Briana, ao ver a irmã de volta - Já voltou?

—Já - disse ela - Tô pronta para outra. Pode deixar comigo, Bri, agora eu assumo. Gustavo, se quiser curtir o festival, pode ir e..

—Ah, filha, o Gustavo pediu para sair mais cedo. Parece que comeu alguma coisa que fez mal - disse Antenor.

É, aquele bolo lá…

—Que seja - disse Anne - Eu faço o trabalho dele também. Só quero ocupar minha cabeça.

—Nossa, nunca te vi tão animada para trabalhar - comentou Carla - Tô gostando de ver.

“Luciano, seu idiota. Idiota, idiota, idiota!”, pensava ela. Comportamento estranho para alguém que não se importa, não é?

De qualquer modo, o festival finalmente terminou após algumas horas. Agora só ano que vem, mas talvez muita coisa tenha mudado até lá. Vamos ver o que acontece.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

É, alguém tem que tomar atitude nessa bagaça, né?

Como isso mudará na relação dos nossos amigos? É o que veremos daqui algum tempo. Essa fic terá uma pausa de uma ou duas semanas para eu pensar nos próximos roteiros, então vocês terão que esperar um pouquinho. Em breve, voltamos com a quarta e provavelmente última temporada.

Até lá! :)



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Vila Baunilha" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.