Vila Baunilha escrita por Metal_Will


Capítulo 136
A lenda da árvore




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A festa da primavera continuava e no momento em que Márcia queria aproveitar o momento em que estava sob a árvore central para, digamos, estreitar suas relações com Luciano, Ema chegou.

—Vocês...se importam de eu sentar aqui com vocês? - perguntou Ema, já se sentando ao lado de Márcia.

—Por mim - disse Luciano, que estava em pé na frente do banco o tempo todo. Márcia não disse nada, mas sua expressão demonstrava claramente insatisfação.

—E aí, amigos? O que contam de novo? Não digam que estavam só admirando a árvore - comentou Ema.

—Essa aí é a tal árvore central da praça que todo mundo fala? - comentou Luciano - É bem grande mesmo.

—Será que as lendas são verdadeiras? - perguntou Ema - Ainda bem que vocês não estão apaixonados para se declarar aqui, não é?

“Maldita!”, pensou Márcia. “Ela não vai mesmo deixar eu me aproximar do Luciano!”

—Que história doida é essa? Somos só parceiros, não é? - disse Luciano.

—Vamos mudar de assunto! - falou Márcia - O que estão achando do festival?

—Amo esse festival - disse Ema - A alegria, as pessoas, as iluminação. É tudo lindo!

—Alguém da sua família veio com você? - perguntou Márcia.

—Ah, essa é a única parte chata - comentou Ema - Meu pai odeia essas aglomerações. Ele é meio surtado com doenças, sabe? Nem a comida daqui ele aceita que eu leve com medo de estar infectada com alguma coisa.

“Lembro bem disso”, pensou Luciano, lembrando que já conheceu o pai de Ema e a hipocondria dele.

—Que pena você estar sozinha - comentou Márcia - Bem que você podia aproveitar a festa e conhecer algum gatinho, né?

—Ah, não, não penso em namorar ninguém - disse Ema - Preciso cuidar do meu pai, além de estudar e ajudar nos negócios da família. Não tenho tempo para isso.

—Mas como você tem tempo para cuidar do relacionamento dos outros? - indagou Márcia.

—Porque não sou egoísta e penso mais no próximo do que em mim mesma - retrucou ela.

“Por que...parece que elas estão trocando farpas?”, pensou Luciano.

Nisso, soldado Caxias, enquanto patrulhava aquela área, encontrou o grupo debaixo da árvore. Se as lendas fossem verdadeiras, aquela poderia ser sua oportunidade.

—Ah, senhorita Ema, senhorita Márcia, Luciano, como vão? - disse ele, se aproximando.

—E aí? - cumprimentou Luciano.

—Soldado Caxias! - disse Ema - Muito boa noite.

—Vejo que estão sob a árvore central e…

A intenção do soldado era dar um jeito de se aproximar de Ema naquela situação, mas Ema foi mas rápida com seus próprios planos.

—Sim, você conhece as lendas sobre ela, não conhece? - perguntou Ema.

—Ah, sobre os casais que…

—Isso mesmo! - disse ela - Oh, que coisa. Acabei de lembrar. O pessoal da fazenda queria comer uns lanchinhos da lanchonete do seu pai, Luciano. Ele pode aproveitar o festival para dar uns descontos, não pode?

—Mas o pessoal da sua fazenda tá no festival e…

—Mas eu quero comprar para eles. Sou uma patroa generosa! - falou Ema - Vai, me mostra onde seu pai está?

E Ema puxou Luciano para longe.

—S-senhorita Ema? - falou o pobre soldado, sem nem ter tempo de tentar testar a veracidade da lenda.

—Essa Ema é ligeira demais. Incrível - falou Márcia.

—Não foi dessa vez - lamentou o soldado.

Quando já estavam um pouco mais longe, Luciano se soltou de Ema e finalmente perguntou.

—O que deu em você? Tá na cara que era tudo mentira.

—Claro! - ralhou ela - Só queria deixar a Márcia e o soldado Caxias sozinhos.

—Por quê? - indagou Luciano.

—A Márcia ainda não se deu conta de que o soldado é a paixão da vida dela.

—Como é?

—O soldado Caxias é um ótimo partido - comentou Ema - Tenho certeza que ele será um excelente namorado para a Márcia.

—Mas...como você sabe que o soldado gosta dela?

—Tenho uma forte intuição para essas coisas, você sabe.

“Menos quando se trata dela mesma”, pensou Luciano. “A cidade inteira sabe que o soldado Caxias é amarradão na Ema”

Enquanto isso, Márcia e o soldado conversavam sobre outra coisa.

—Esse festival é uma ótima oportunidade para você e a Ema ficarem juntos - disse Márcia. Ela estava sentada com as mãos no rosto e cotovelos apoiados nas pernas, falando para ele enquanto olhava para cima, para a copa da árvore, com um olhar sonhador. Como ainda estava em serviço, o soldado não se sentou, mas continuou a conversar com a garota.

—Queria aproveitar a lenda da árvore para me declarar.

—Você acredita mesmo nisso? - perguntou Márcia.

—Bem, não custa tentar, né?

Márcia sorriu.

—Acho que é só uma crendice - falou Márcia - Mas aqui embaixo da árvore é um lugar agradável e o ambiente do festival é bem propício para casais se formarem. Daí acabaram acreditando que ela tinha poderes ou coisa assim. Tenho inveja dessa fé do pessoal do interior.

—Está interessada em alguém, senhorita Márcia?

—No Luciano - disse ela, na lata.

—Mesmo? Parece um bom rapaz, mas só precisa de um norte na vida.

—Ele tem esse jeito largado, mas quando se interessa por alguma coisa é pra valer - comentou Márcia, sorrindo - Fora que temos muitas coisas em comum.

—Mesmo? Então seria muito bom se vocês ficassem juntos!

Márcia sorriu.

—Mas não é tão fácil assim. O Luciano ainda precisa me enxergar mais do que uma amiga.

—É, Luciano não parece ser um garoto muito atento a essas coisas.

—Como a Ema, né?

—A senhorita Ema, bem…

—A Ema disse que quer se dedicar ao pai, aos estudos e ao trabalho - falou Márcia - Mas, no fundo, acho que ela só tem medo de amar.

—Medo de amar? Por que…

—Acho que a Ema tem muito medo dos próprios sentimentos. Ela prefere olhar para os sentimentos dos outros. Enquanto ela pensa em como os outros se relacionam, ela não precisa olhar para como ela vai se relacionar. Pelo que entendi, o pai dela parece muito protetor e ouvi falar que a mãe morreu cedo. Acho que ela não quer ter problemas familiares e fica assim fugindo dos próprios sentimentos. E o pior de tudo é que ela nem se dá conta disso, ela nem se toca que ignora o próprio coração.

O soldado ficou admirado.

—I-Incrível. A senhorita é muito boa em ler pessoas!

—Ah, nem tanto - comentou Márcia modestamente - Mas, sinceramente, não acho que a Ema tenha dom para o celibato. Ela liga valoriza muito o amor e vai sofrer muito se não começar a prestar atenção no que quer. Você precisa ajudar ela com isso, soldado.

—É difícil falar de sentimentos com a senhorita Ema - desabafou Caxias - Como você falou, ela é bem blindada quando se trata dela mesma.

—Talvez o melhor jeito seja deixar isso claro sem necessariamente usar palavras - comentou Márcia.

—Como assim?

—Dança - falou Márcia - Por que não tenta dar um jeito de chamar a Ema para dançar em algum momento do festival? A conexão entre duas pessoas dançando costuma ser bem forte.

—D-Dançar? - gaguejou o soldado - Mas eu sou péssimo nisso…

—Não precisa saber dançar. Um passo lá e dois para cá já tá ótimo. Você não quer ganhar um concurso, só quer dançar com ela.

—Só que...estou trabalhando.

—Ah, é. Isso pode ser um problema - falou Márcia - Se conseguir ser dispensado a tempo, seria uma ótima oportunidade.

—Talvez eu possa...preciso falar com o delegado - disse Caxias.

—Se conseguir, pode ser uma chance e tanto! - falou Márcia.

—Vou agora mesmo falar com ele. Obrigado, senhorita Márcia.

—Vai lá! - falou Márcia, acenando.

Luciano e Ema observavam de longe, apesar de não ouvirem nada.

—Não parece que eles ficaram juntos - disse Ema.

—Claro que não - falou Luciano - Não acho que o soldado esteja interessado na Márcia.

—Ele é mesmo devagar - lamentou Ema - Tá legal. Vamos dar um jeito de você e a Anne se declararem debaixo da árvore.

—Tava demorando. Já falei que não quero nada com aquela garota.

—É, vocês ainda estão imaturos demais - disse Ema - Do jeito que são infantis, não vão se declarar só de pirraça.

Antes que Luciano respondesse, Tamires, a filha do prefeito da cidade vizinha, chegava correndo carregando Ian amarrado.

—Aquela é a...Tamires? - falou Luciano - Como se já não tivesse maluco o suficiente por aqui.

—Como é que você ficou tão forte?! - gritava Ian.

—O amor nos torna mais fortes - falou ela - Aqui. Chegamos na árvore.

Márcia viu os dois com estranhamento.

—Err...boa noite?

—Sai da frente, garota. Agora é nossa vez! - disse Tamires, praticamente chutando Márcia para longe.

—Você tá louca, garota? Que grossa! - reclamou Márcia, mas Tamires não estava nem aí. Ela colocou Ian no banco, olhou bem nos olhos dele e disse.

—Ian, querido, eu te amo!

Ela já fez um biquinho esperando que ele a beijasse, mas nada aconteceu.

—O que aconteceu? Árvore central, espírito da árvore central ou seja lá o que for, eu já me declarei.

—Isso é só uma lenda, bobona - falou Márcia.

—Você não sente nada por mim, Ian?

—Mas isso já não tá na cara, mulher?! - retrucou Ian.

—Tá. Árvores mágicas não funcionam - lamentou Tamires - Mas quem se importa? Se a árvore não vai me fazer ficar junto com você, eu faço. É como eu sempre digo. Se quer algo bem feito, faça você mesma.

—S..socorro! - Ian continuou gritando e, mesmo amarrado da cabeça aos pés, tentou escapar saltitando.

—Espera, Ianzinho. Espera aí! Vamos passar o festival juntos!

É, alguém poderia desamarrar o Ian, mas a maioria dos participantes do festival estava achando que era um tipo de performance (ou simplesmente não estavam se importando).

—De qualquer modo, é só uma lenda mesmo - disse Márcia para si mesma - A verdadeira batalha pelo amor vai ser no concurso de dança. Isso sim é que eu estou esperando!

E nós também. Como será esse concurso?


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Notas finais do capítulo

Essa festa ainda tem chão. Continue acompanhando.

Até! :)



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