A rotina básica pela manhã das filhas da família Montecarlo é ir para a escola a pé em uma longa caminhada de sete minutos. Briana sempre bem-humorada e cantarolando, Anne sempre entediada e esperando mais um dia inusitado naquela cidade. Qual seria a esquisitice da vez? Ela não iria demorar muito para descobrir, pois parecia haver uma movimentação fora do comum no meio da cidade. Briana ficou curiosa ao ver uns homens carregando várias caixas e alguns caminhões parados no meio da praça.

—Nossa, o que será isso? - perguntou Briana.

—Sei lá - disse Anne, também estranhando ao ver toda a movimentação - Mas não é algo que se vê todo dia por aqui.

—Eu vou descobrir! - falou a irmãzinha.

—Briana! - mas Anne não conseguiu impedir Briana de correr até o homem mais próximo para perguntar.

—Moço! Moço! - disse ela - Vai acontecer alguma coisa aqui?

—Vocês não são daqui? - perguntou o homem - Logo, logo chega o Festival da Primavera. Já estamos começando os preparativos.

—Festival da Colheita? - indagou Briana.

—É uma festa que acontece todo ano na cidade - explicou ele - Já é tradição começar toda primavera com esse evento.

—É verdade! - disse Briana sorrindo - Já estamos em setembro. A primavera começa esse mês!

(Este capítulo foi postado em maio, mas no tempo da história é setembro. Só para explicar)

—Briana! Deixa o moço trabalhar! - bronqueou Anne - Desculpa.

—Imagina - falou o homem - Mas para não conhecerem o Festival da Primavera vocês devem ser novas aqui, não é?

—Mudamos esse ano - disse Anne.

—Ah, isso explica tudo - falou o homem - É, também não moro aqui, sou da cidade vizinha, mas faço da parte da empresa que ajuda nos preparativos. É incrível que o prefeito paga todos os custos do evento do próprio bolso!

“Estou começando a entender porque o prefeito da cidade é sempre o mesmo”, pensou Anne.

—E o que tem nesse festival? - perguntou Briana.

—Muitas coisas - explicou o homem - Tem várias barracas de comida e o pessoal da cidade faz várias apresentações. É bem divertido.

“Apresentações?”, pensou Anne. “Já posso até ouvir algo que vai ter nesse festival…”

—Eu mal vejo a hora de chegar o dia do festival! É minha chance de mostrar como melhorei no violão! - exclamou Luciano na sala de aula enquanto conversava com Luís e Carioca, na hora em que Anne chegou na sala.

“Eu sabia”, pensou a garota, nada surpresa, enquanto sentava em sua carteira.

—Você tem certeza? - perguntou Luís - Tem certeza de que melhorou?

—É claro! - falou Luciano - Saca só esse Raul...Eu prefiro seeeer, essa metamorfooose ambulaaante!

—Tá, tá, já pode para - falou Luís, antes que Luciano continuasse.

—E aí? - perguntou Luciano.

—Você não disse que tinha melhorado? - perguntou Luís.

—E desde quando você entende de música? - reclamou Luciano.

—Bom, por mim tanto faz - comentou Carioca - Vai ter muita comida nesse festival e é isso que interessa. Também mal vejo a hora de chegar.

Enquanto isso, Anne comentava sobre o evento com Kelly.

—Tá todo mundo comentando desse festival - falou Anne - Deve ser mesmo uma festança, né?

—Bom, é o evento mais esperado do ano aqui em Vila Baunilha - disse Kelly - Esse ano eu vou participar em um dos concursos de bolo.

—Você...vai preparar um bolo? - perguntou Anne, sentindo um leve frio na espinha.

—Sim! Estou ansiosa para mostrar como melhorei na cozinha!

“Espero que ela não tenha melhorado na cozinha do mesmo jeito que o Luciano melhorou no violão”, pensou Anne, lembrando das habilidades culinárias muito questionáveis de Kelly.

—E você, Anne? Vai participar de alguma coisa? - perguntou Kelly, mantendo a animação.

—Olha, eu não sou muito de festas, mas acho que minha família deve querer participar vendendo alguma coisa - falou ela - Provavelmente vou ter que trabalhar.

—Ah, mas dá um jeito de curtir a festa - disse Kelly - É divertido. Se bem que para quem veio da cidade grande não deve ser grande coisa.

—Estão falando do Festival da Primavera? - perguntou Márcia, a próxima pessoa a chegar na sala.

—Sim. Você vai participar de alguma coisa? - perguntou Kelly.

—Estava a fim de participar do concurso de dança - falou ela - Minha bisavó falou muito sobre ele.

—É verdade, sua bisavó mora aqui há um bom tempo - disse Kelly.

—Sim - confirmou Márcia - Foi dançando com meu bisavô nesse festival que ela começou a namorar com ele.

“Estou com medo de perguntar em que época isso aconteceu”, pensou Anne.

—Mas para participar do concurso de dança você precisa ter um par, não? - lembrou Kelly - São danças em casal.

—Sim - disse Márcia - Vou dar um jeito de arranjar meu par. Quero muito participar!

E foi tudo que ela disse antes de ir se sentar ao fundo com um sorrisinho maroto no rosto. Anne captou rapidamente quem ela pretendia chamar para dançar no festival.

—É… - falou Anne para Kelly - Aposto que ela vai chamar o Luciano.

—É verdade, você comentou comigo que ela disse para você com todas as letras que está gostando do Luciano - cochichou Kelly - Tá tudo bem?

—Por que está perguntando isso?

—A Márcia é bem bonitinha, né? O Luciano pode mesmo ficar com ela…

“Aqueles dois...ficarem juntos?”, pensou Anne por alguns segundos, mas logo seu orgulho falou mais alto.

—E daí? - falou Anne - Não ligo nem um pouco para isso.

—Mesmo? - provocou Kelly.

—Claro. Por mim, eles podem ficar juntos hoje mesmo. Não tô nem aí!

—Não, não diga isso nem brincando! - falou Ema, acabando de chegar na sala.

—Credo, de onde você veio, criatura? - perguntou Anne, assustada.

—Anne, você realmente precisa ser sincera com seus sentimentos! Esse festival pode ser muito perigoso! - falou Ema, em tom realmente assustada.

—Você falando isso? - comentou Kelly - A pessoa mais animada para o Festival da Primavera é você, Ema.

—E você sabe bem o motivo disso, né? - lembrou Ema, com uma expressão realmente preocupada.

—Ai, aquela história de novo - disse Kelly, virando os olhos.

—Que história? - indagou Anne.

—A lenda da árvore central - falou Ema - Pode ser uma bênção, mas também pode ser uma maldição!

O que seria essa lenda da árvore central?