Ian ficou extremamente abalado com a notícia que recebeu de Tamires, sua admiradora nada secreta. Sua preocupação estava visível até para sua irmã Samanta, que passava despretensiosamente na frente do quarto.

—Que cara é essa, irmão? - disse ela, aproximando-se do quarto - Tá com prisão de ventre?

—Antes fosse - falou ele - Minha amada Anne foi raptada!

—Raptada? - estranhou Samanta.

Ian mostrou o vídeo em desolação. Samanta também ficou admirada.

—Caraca. Ela é uma vilã pior do que eu - comentou Samanta - Nunca cheguei nesse ponto.

—É sério, Samanta! - disse o rapaz - Preciso fazer alguma coisa. Tenho que salvá-la e…

—Já tentou falar com os pais dela? - perguntou Samanta.  

—É verdade! Como futuro genro preciso dar todo o apoio que preciso! - falou Ian - Vou agora mesmo para o restaurante!

Ian pulou a janela (ainda que seu quarto ficasse no segundo andar). Por sorte, ele caiu nos arbustos e sua queda foi amortecida.

—Eu...eu tô bem - falou ele para Samanta, que olhava de cima como se tivesse sentido a dor - Não posso perder tempo!

Ian correu até o restaurante, onde tudo estava na mais perfeita paz. Imediatamente, ele correu até Carla para mostrar sua prontidão.

—Não se preocupe, dona Carla - disse ele - Estou pronto para resolver essa situação o quanto antes.

—Do que você tá falando, garoto? - perguntou ela.

—Sua filha, Anne, ela não foi raptada?

—Raptada? Ela só está fora por um tempo para trabalhar como modelo! - explicou Carla.

—Foi um golpe! - disse Ian - Veja esse vídeo aqui!

Carla olhou o vídeo, mas não se surpreendeu.

—Não tenho a menor ideia de quem seja essa menina - disse Carla - Anne saiu com dois agentes de uma agência de modelos real. Acho que quem está caindo em um golpe é você.

—M-Mas - gaguejou Ian.

—Não precisa se preocupar - falou Carla - Fora que a própria Anne acabou de me mandar uma mensagem e disse que está ótima. Mandou foto e tudo mais.

De fato, foi o que aconteceu. Anne mandou uma foto do local em que estava e parecia ótima. Podemos confirmar isso vendo o que aconteceu com a própria Anne assim que chegou no local.

—Chegamos - disse Tamires, acompanhando Anne para o quarto onde ela ficaria em cativeiro.

A garçonete ficou admirada com o luxo do lugar.

—O que é esse lugar?

—É aqui que você vai ficar enquanto o Ian não se entregar a mim - explicou Tamires, com um olhar malvado - Você só vai sair desse quarto quando eu mandar!

O quarto era uma suíte maior do que a sala de estar da casa de Anne. A cama era enorme, tinha televisão full-HD conectada a todos os serviços de streaming, wi-fi liberado, frigobar e ar condicionado.

—Agora você é a minha refém, queridinha - disse Tamires, em tom de deboche.

—Puxa, acho que vou ter que me acostumar com isso - falou Anne em tom ainda mais debochado - Não vou arriscar minha vida. Tudo bem. Eu fico aqui.

—Boa menina - disse Tamires - Ah, sim. Se precisar de serviço de quarto é só ligar.

Voltando o restaurante, Ian estava confuso.

—Mas é estranho - falou ele - A Tamires me ligou dizendo que tinha raptado a Anne e…

—Raptada como? A Anne está podendo usar celular à vontade.

—Então, então...

—Olha, rapaz. Tem muita coisa pra fazer aqui, tá? Sem a Anne, eu e o Gustavo precisamos dar conta do restaurante, então se não vai consumir nada, pode sair?

Ian saiu do restaurante confuso. Afinal, Anne foi raptada ou não? Após sair, ele recebeu outra chamada de vídeo de Tamires.

—Você… - atendeu ele.

—E então? Já se decidiu? Vai ser meu namorado?

—Acabei de falar com a mãe da Anne. Ela disse que a Anne está fazendo um serviço de modelo. Afinal, quem está mentindo nessa história?

—Ninguém, querido - falou Tamires - Anne, de fato, está trabalhando de modelo para mim!

—Como assim?

—É simples. Comprei uma agência de modelos e contratei Anne.

O prefeito de Campo Encantado (e pai de Tamires) era ainda mais rico que Venâncio de Vila Baunilha. Não foi problema para a garota fazer isso.

Agora ela está comigo e eu não vou liberá-la até você vir aqui assumir seu namoro comigo.

—E o que você vai fazer com a Anne?

—Isso só depende de você, querido - falou ela - E como Anne está aqui por contrato, chamar a polícia não vai resolver nada. O único que pode resolver essa situação é você. Vou te passar o endereço onde estamos aqui em Campo Encantado.

E foi o que ela fez. Ian estava realmente tenso.

“O que eu faço?”, pensava ele. “Se for até lá, terei forçado a namorar ou até me casar com a doida da Tamires. Não, isso não. Mas e a Anne? Não posso deixá-la á mercê dela!”

Enquanto caminhava, Ian acabou trombando com Luís e Luciano.

—Ei, olha por onde anda! - reclamou Luís.

—Vocês?

—O que foi? Cê tá bem, cara? - perguntou Luciano.

Ian explicou toda a situação para os dois. Luís também ficou desesperado.

—A Anne está mantida refém por uma maluca?! - exclamou Luís.

—Foi o que eu disse - retrucou Ian - Não sei o que fazer…

—É simples - disse Luís, ainda em tom de revolta - Vá até lá e namore com a Tamires.

—Mas eu não amo a Tamires. Meu coração é só da Anne - disse Ian, em tom apaixonado.

—E vai deixar a Anne numa situação dessas? Apenas finja que vá namorar a maluca até a Anne ser liberada. Depois é só dar um pé na bunda dela! - falou Luís, indignado.

—Isso seria muito desrespeitoso…

—Do jeito que a Anne é, aposto que ela vai dar um jeito de escapar sozinha - comentou Luciano - Ou então a sequestradora não vai aguentar e vai liberar ela antes. Ou melhor ainda, é capaz de pagarem para pegarmos a Anne de volta.

—Isso não é hora para piadas! - disse Ian 

—Mas isso não parece sério - falou Luciano - A Anne só está trabalhando de modelo. Eu realmente não duvido que ela saia de lá sozinha.

— Estou perdendo tempo aqui. Vou até lá e trazer a Anne à força mesmo.

—E como você pretende fazer isso? - perguntou Luciano.

—Não sei! - exclamou Ian - Sozinho vai ser difícil. E ela manipulou a situação de um jeito que tornaria a polícia inútil.

Considerando a polícia de Vila Baunilha, é difícil dizer se eles seriam de alguma ajuda.

—Tudo bem, eu vou com você - falou Luís - Se é para salvar a Anne, aceito essa missão.

—Mesmo sendo um rival no amor, você me ajudaria? - disse Ian, com lágrimas de felicidade nos olhos.

—Estou fazendo isso pela Anne e não por você - falou Luís, orgulhosamente - Tenho algumas invenções que podem ser úteis e não tem sistema de segurança que eu não possa hackear.

—E você, Luciano? - perguntou Ian.

—Bem, só preciso trampar na lanchonete à noite hoje - disse ele - Já que não tenho nada para fazer, vou também, vai…

—Maldito - falou Luís - Se você estiver indo só para ter uma chance com a Anne…

—Qual é? Já falei que não quero nada com aquela insuportável!

—Por que não confio quando você diz isso? - perguntou Luís.

—Não enche! - retrucou Luciano.

“Mas”, pensou Luciano. “Estou um pouco preocupado, sim. Aquela Tamires é maluca mesmo”

—Vamos logo! - disse Ian - Vai saber que tipo de sofrimentos minha amada Anne está passando!

Os sofrimentos da amada Anne:

—Puxa, essa cama tem até massageador automático - disse Anne, deitada na cama em seu novo quarto, de roupão após uma hidromassagem e assistindo um filme em alta qualidade enquanto comia um chocolate importado - É, acho que dá para me acostumar com esse cativeiro.