Vila Baunilha escrita por Metal_Will


Capítulo 120
Anne e Márcia




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Márcia decidiu acompanhar Anne de bicicleta em sua volta ao restaurante. O bom humor de Márcia era bem evidente.

—Tem certeza de que quer me acompanhar? - falou Anne, logo nos primeiros metros de pedalada - Você sabe que o restaurante não é muito longe, né?

—Tudo bem - falou Márcia - É bom sentir esse ar puro. Acho que me mudar para essa cidade foi a melhor coisa que fiz.

—Cada um é cada um, né? - resmungou Anne.

—Você não gosta mesmo daqui?

Anne apenas suspirou.

—É que eu sempre fui acostumada a viver na cidade - disse ela - Nunca pensei que um dia meus pais quisessem mudar de vida e vir morar num lugar tão afastado.

—Mas tem umas cidades grandes aqui perto - disse Márcia - Aqui tem até carro por aplicativo e a Internet pega tão bem. É o melhor dos dois mundos.

—É que não é só isso - continuou Anne - Não acha esse lugar esquisito?

—Sério? Você acha? - indagou Márcia.

—Um urso faz compras no mercado! UM URSO! - disse Anne, apontando para Amadeu, o urso da cidade, saindo do mercado com sacolas - Pior que isso. O urso trabalha no posto de saúde. Por que ninguém fala nada?

—Ah, mas é um urso muito inteligente - disse Márcia - E fofo, não acha?

—Se fosse só isso, mas também tem…

—Anne! Anne, meu amor! Olha só, minha nova invenção, um turbo para bicicleta. Vai te fazer andar mais rápido! - dizia Luís, tentando alcançar Anne com seus patins com turbo. Infelizmente (ou felizmente, para Anne), ele perdeu o controle de novo e acabou batendo com tudo em uma árvore (sim, doeu). As meninas simplesmente continuaram pedalando, embora Márcia tenha olhado para trás com um mínimo de empatia pela dor do garoto.

—Também tem esse monte de gente maluca - suspirou ela - É difícil ter um dia de paz.

—Sério? Eu acho o pessoal daqui bem gente boa - falou Márcia.

—Acho que somos bem diferentes - comentou Anne - Espero acabar logo o ensino médio e dar o fora daqui.

—Acho que é cedo para você falar isso - continuou Márcia - Vai que coisas acontecem.

—Que tipo de coisa?

—Sei lá. Estamos só começando o ensino médio. Vai que você comece a namorar alguém daqui.

—Namorar alguém daqui? Eu? Duvido muito! - falou Anne, rapidamente.

—Por que tanta dúvida? - perguntou Márcia - Você é tão bonita e tem todos esses meninos doidinhos por você. Vai que rola.

—Doidinhos literalmente, né? - respondeu Anne - Não, não vai rolar.

—Sério mesmo? Não tem ninguém que você goste na cidade? É uma cidade pequena, já deve ter dado para conhecer os meninos daqui.

—Eu só trabalho e estudo - disse Anne - Não tenho tempo pra ficar de namorico.

—Essa desculpa não cola - falou Márcia - A gente sempre arranja tempo para essas coisas.

—Mas não tenho ninguém especial em mente - disse Anne, com um tom de voz impaciente - Olha para os meninos da nossa sala. São todos uns bocós.

—Mesmo? Eu acho o Luciano bem legal - comentou Márcia, inocentemente.

—Luciano? - repetiu Anne - Ele é o pior de todos!

—Por quê?

—Porque...porque… - Anne estava com certa dificuldade em encontrar as palavras, principalmente por ter lembrado de algo que não gostaria (sim, aquele beijo que rolou capítulos atrás) - Porque ele é um grosso e vive implicando comigo.

—Você não dá motivos para isso?

—Claro que não! - falou a garota, rapidamente - Eu vivo de boa, mas ele está sempre me enchendo.

—Que esquisito - disse Márcia - Outro dia ele me disse algo bem parecido.

—O que ele disse?

—Disse que é você quem vive implicando com ele.

—Aquele mentiroso! - retrucou Anne - Aposto que quer me queimar com todo mundo.

—Não acho que seja isso - falou Márcia, rindo - O que eu acho é que vocês nunca pararam e conversaram de verdade.

—Não tenho nada pra falar com aquele grosso!

—O Luciano é muito legal, pode acreditar. Assim como você também parece ser.

—Pareço ser?

—É, falo isso porque não te conheço tão bem assim, mas já visitei Vila Baunilha quando era criança e brinquei muito com o Luciano. E olha, ele não mudou muita coisa.

—Claro que não. Continua um crianção, né?

—Olha, falando a verdade…

—O que foi? - perguntou Anne, vendo que Márcia meio que interrompeu sua fala do nada.

—Não é que, não sei se vale a pena falar.

—Começou, termina, filhota. Manda aí.

—É que...estou pensando em namorar o Luciano.

Anne freou sua bicicleta na mesma hora.

—Como é que é? - perguntou ela - Tá falando sério?

—Ficou incomodada?

—Não, digo, fiquei surpresa - falou Anne, não sabendo se seu rosto estava vermelho ou algo assim - Não sabia que a relação de vocês já estava assim.

—Por enquanto somos só amigos, mas, acho que gosto mesmo do Luciano - falou Márcia, sem tirar seu sorriso do rosto.

—Ele te falou alguma coisa? - perguntou Anne.

—Não, nadinha - falou Márcia - Por enquanto, acho que o sentimento só está em mim mesmo.

—E você pretende se declarar? - perguntou ela.

—Calma, a gente nem saiu, nem nada disso - falou ela - Vou continuar conversando com ele e dando umas indiretas. Aí quem sabe, né?

—Quando você começou a gostar dele? - insistiu Anne. Naquela hora, as duas já pararam de pedalar e simplesmente estavam conversando paradas.

—Acho que gosto desde criança - explicou Márcia - Mas só agora, mais velha, estou começando a entender isso melhor. Acho que tenho chance, não tenho?

Nisso, Anne lembrou das palavras de Ema sobre Márcia ser a pessoa que poderia ficar com Luciano.

—Escuta, você tem certeza de que é isso mesmo que está sentindo? - indagou Anne.

—Como assim?

—É que isso pode ser só uma paixãozinha de infância. Sabe, rever seu crush de quando era criança pode ter te despertado isso, mas talvez isso aí seja só coisa do momento.

—Você acha, Anne?

—Minha mãe fez psicologia. Já ouvi ela falar sobre isso - explicou Anne.

—Ou será que você tá me falando isso...porque não me quer ver namorando o Luciano? - provocou Márcia.

—O QUÊ?! - gritou Anne - Por que eu teria ciúmes daquele babaca? Não viaja! Só estou falando isso porque estava preocupada com você, tá bom? Se quiser namorar com ele, problema é seu. Tô nem aí! Cada um no seu quadrado!

—Calma, não precisa ficar nervosa - riu Márcia.

—Quem tá nervosa aqui? - retrucou Anne.

—Então...você não tem que ir para o restaurante?

—Tenho. Por quê?

—É que...a gente tá aqui parada conversando. Tudo bem mesmo?

—Ai, meu Jesus. Tenho que ir - falou Anne, percebendo que estava atrasada - Mas vê lá o que vai fazer, heim?

—Tudo bem - disse Márcia - Até mais, então.

—Falou - disse Anne, pegando sua bicicleta e pensando no que acabou de ouvir.

“Sou uma tonta mesmo!”, pensou Anne. “Por que falei daquele jeito? Ele vai achar que eu tô com ciúme ou algo assim. E por que eu fiquei com nervosa? Só porque não consigo esquecer aquele beijo? Foi só um. Por quê? Por que é tão difícil de esquecer?”

Já Márcia pegou sua bicicleta para dar mais uma volta.

“Ainda não tô com fome. Vou pedalar mais um pouco”, pensou ela. Enquanto passeava pela cidade, viu mais uma de suas colegas, Ema, andando próxima à praça com um vestido branco e chapéu também branco.

—Ei, Ema - falou Márcia, acenando.

—Ah, Márcia - disse ela - Boa tarde.

“É isso”, pensou Márcia. “Tenho a sensação de que ela vai poder me dizer o que a Anne sente!”

Hoje está sendo um dia de muitas conversas interessantes, não é?


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Notas finais do capítulo

Sim, espero ter um mínimo de desenvolvimento neste arco.

Até a próxima! :)



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