Vila Baunilha escrita por Metal_Will


Capítulo 119
Perspectivas diferentes




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Enquanto Gustavo passava seus dias de folga na floresta, a família Montecarlo se virava para manter a produtividade no restaurante. Anne, por exemplo, ficou responsável por fazer eventuais entregas. Não era um trabalho muito comum, já que poucas pessoas pediam entrega na cidade, mas vez ou outra aparecia alguma. Para cumprir suas tarefas, Anne pegou a bicicleta de Gustavo emprestada e estava terminando sua primeira entrega do dia na casa de Beni.

—Obrigada - disse a mãe dele, depois de fazer o pagamento - Hoje foi um dia corrido demais para cozinhar.

—Imagino - falou Anne - Hoje em dia tá difícil para todo mundo.

—Ah, você é a irmã da Briana, não é? - falou Beni, por acaso, passando ali por perto.

—Sou sim - disse Anne, sorrindo.

—Você tem alguma mensagem? - perguntou ele.

—Como é? - estranhou Anne.

—Não ligue - disse a mãe - Meu filho tem muita imaginação, sabe?

—Ah, vai saber se Briana descobriu alguma coisa sobre o fim da humanidade.

—Beni, pare de falar essas coisas. Vai deixar os outros assustados! - ralhou a mãe.

“Pouca coisa tem me assustado desde que me mudei pra cá”, pensou Anne.

Depois dessa, Anne olha em seu celular o endereço da próxima entrega e parte para lá. Era um dia ensolarado e tranquilo. Por mais que Anne não fosse muito fã de sua nova cidade, precisava admitir que era bem mais agradável andar de bicicleta lá do que onde morava antes. Finalmente, ela chegou em seu destino e tocou a campainha.

—Oi - disse uma garota saindo pela porta - Ah, é você, Anne?

—E aí? - Anne cumprimentou Márcia - Então é aqui que você mora?

—Muito longe da sua casa?

—Nada nessa cidade é longe, minha filha - falou Anne.

—É verdade. Comparado com cidade grande isso aqui não deve dar nem o bairro onde eu morava.

—Por aí - falou Anne - Bem, está aqui seu pedido.

—Ah, sim. Foi minha bisavó quem pediu. Obrigada.

—São 50 reais - falou Anne.

—Ai, minha bisavó pediu por telefone e não por aplicativo, né? Eu já vou pegar o dinheiro. Ei, você não quer entrar? - perguntou Márcia.

—Bom, preciso voltar para o restaurante e…

—Não quer nem tomar uma água? - perguntou Márcia.

Vendo que a garrafa de água que carregava na bicicleta estava vazia, Anne acabou aceitando o convite.

—Tá bom, vai? Só uma água não vai ter problema…

Assim, Anne entrou na casa de sua colega. Dona Cleide, a bisavó de Márcia, estava na sala assistindo alguma coisa na televisão.

—Bisa. Cadê o dinheiro da entrega? - perguntou Márcia.

—Tá na mesa da cozinha - falou Dona Cleide - Vê se não me interrompe na melhor parte do filme!

Anne reparou que dona Cleide estava assistindo algum filme de super-herói em um volume absurdamente alto. Apesar disso, ela é educada e cumprimenta.

—Boa tarde - falou ela.

Sem resposta.

—Boa tarde! - gritou Anne.

—Não grita! - devolveu dona Cleide - Não precisa gritar que eu não sou surda!

—D-Desculpe - falou Anne, meio sem jeito.

—Ah, deixa eu pausar - falou dona Cleide - Vocês não vão me deixar ver meu filme mesmo! Ainda bem que hoje em dia tem essas coisas de streaming e tal. Dá pra assistir a hora que quiser. Na minha época de menina não tinha essas coisas. Precisava ir no cinema mesmo.

—Vila Baunilha tinha cinema? - perguntou Anne.

—O quê?! - dona Cleide riu - Claro que não. A gente ia na cidade vizinha mesmo.

—Imaginei - balbuciou Anne, suspirando e lembrando de todos os recursos que tinha na sua antiga cidade.

—Aliás, quem é você? - perguntou dona Cleide.

—Sou…

—Claro. Você é a garçonete do restaurante. Por que não falou logo?

“Eu ia falar”, pensou ela.

—E o que está fazendo aqui? - perguntou a senhorinha.

—Vim trazer sua comida.

—Ah, é verdade. Hoje almoçamos mais tarde e achamos melhor pedir algo para comer. Não queria sair por causa do calor. Tá muito quente hoje.

—Ainda bem que a gente tem serviço de entregas, né?

—Anne! Você não vem pegar sua água? - disse Márcia, lá da cozinha.

—Ah, claro, claro - falou ela - Eu já vou.

Anne se dirigiu até a cozinha e tomou seu copo de água, aproveitando para encher sua garrafa.

—Então, a água dá um desconto no valor da entrega? - perguntou dona Cleide.

—Bisa! - ralhou Márcia - Isso é coisa que fale!

—Perguntar não ofende - disse ela - Tem sempre umas promoções malucas por aí.

—Bem, meu pai estava pensando em oferecer um pedido grátis para o cliente que pedir entrega 10 vezes seguidas - falou Anne - É uma das nossas promoções.

—É uma boa ideia - disse dona Cleide - O restaurante de vocês é o único lugar decente que se tem pra comer.

—Tem a lanchonete do pai do Luciano também, né? - lembrou Márcia.

Anne teve péssimas lembranças da comida daquele lugar (principalmente por ter sido sua primeira refeição na cidade), mas não falou nada.

—Lá não conta - disse dona Cleide - Desde que o preguiçoso do Abílio assumiu, aquele lugar só serve pra comprar tubaína ou cerveja. Ele devia mudar logo para uma mercearia ou algo assim. Aposto que daria mais lucro.

“Não é uma má ideia”, pensou Anne.

—A verdade é que essa cidade não tem muito futuro - disse dona Cleide - Não sei porque alguém insiste em se mudar pra cá, viu?

—Bisa, não fala assim. A família da Anne se mudou pra cá antes de mim.

—E o que você acha da cidade, minha filha? - perguntou dona Cleide.

—Sendo sincera? - perguntou Anne.

—Lança a braba! - disse dona Cleide.

—Aqui não tem praticamente nada e só me mudei pra cá por causa dos meus pais. Quero é fazer medicina em outro lugar e dar o fora daqui assim que puder.

—Sério? - disse a senhorinha - Vejo que é uma menina com ambição. Ao contrário da Márcia.

—É que eu prefiro uma vida mais sossegada - disse ela.

—Sossego demais é um saco - falou dona Cleide - Você é jovem, menina. Devia ter mais sonhos.

—Ter uma vida tranquila também é um sonho, não acha?

—Não entendo vocês jovens. Olha, eu passei boa parte da minha vida aqui e vou dizer, viu? Esse lugar nunca teve nada de interessante e acho que nunca vai ter.

—Que exagero, bisa - reclamou Márcia.

“Por que tenho a impressão de que ela estava aqui na fundação da cidade?”, pensou Anne. “Mas é melhor não perguntar…”

—Bem - falou Anne - O papo tá bom, mas preciso voltar para o trabalho.

—Ah, você vai voltar de bicicleta? - perguntou Márcia.

—Sim - disse Anne, por mais que tenha achado a pergunta imbecil, já que Márcia viu claramente que ela chegou na casa de bicicleta.

—Então vou voltar com você. Tem uma bicicleta aqui e eu estava louca para dar uma volta - disse Márcia.

—Sua comida vai esfriar - lembrou Anne.

—Depois eu esquento - disse Márcia - Comi umas bobagens antes, então não tô com fome.

—Ela é assim mesmo - disse dona Cleide - Já vi essa menina almoçando umas três da tarde na cidade dela.

—Ah, é rapidinho - falou Márcia - Essa cidade é pequena, lembra?

“E tem como esquecer?”, pensou Anne.

Márcia pegou a bicicleta que estava nos fundos, uma bike roxa bem velhinha, e acompanhou Anne com um sorriso no rosto. A garçonete não expressava o mesmo bom humor.

“Por que ela é tão feliz?”, pensava Anne, intrigada. Bem, pelo menos elas terão um tempinho para conversar durante o caminho.


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Notas finais do capítulo

Ou talvez a Anne que seja chata demais. Kkkk (mas me identifico mais com a Anne rabugenta do que com a Márcia felizona)

Capítulo parado? Pode ser, mas esses próximos capítulos terão algumas novidades. Espero que continue acompanhando.

Até mais! :)



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