Gustavo parecia empenhado em melhorar sua habilidade de passar despercebido com a ajuda de Samara, mas ela, por outro lado, não parecia compartilhar da mesma empolgação. Enquanto Gustavo permanecia parado e concentrado como uma estátua, Samara se levantou e decidiu ir embora. Gustavo estava com seu olhar fixo no horizonte, mas, de algum modo, sua visão periférica conseguiu perceber Samara se levantando.

—Mestra, onde está indo? - perguntou ele.

—B-Bem - gaguejou ela - Já está ficando tarde e eu preciso voltar para casa.

—Não tem mais nada para me ensinar?

“Eu tinha alguma coisa para ensinar pra começo de conversa?”, pensou ela.

—Nada mesmo? - insistiu Gustavo.

—A-acho que não - foi tudo que ela disse.

—Mas você é incrível mesmo! - disse o garoto - Eu mal percebi que você estava indo embora.

“Não fiz isso porque quis”, pensou a garota.

—Bem, se isso é tudo - disse Gustavo, também se levantando - Então vou me dedicar ao treinamento. Sinto que minhas chances de pegar a codorna rosa aumentaram agora!

—F-fico feliz por você - gaguejou Samara, voltando para a trilha.

Enquanto isso, as Abelhinhas Patrulheiras tinham mais uma missão para cumprir.

—Fazer trilha? - perguntou Briana para sua instrutora - Isso é muito difícil?

—É bem tranquilo - disse a instrutora - Vocês só precisam dar a volta pela floresta e voltarem para cá sem se perderem. Mas é praticamente impossível se perder seguindo a trilha.

—Suave, né, amiga? - comentou Cíntia.

—E conveniente - respondeu Samanta.

—Como assim? - estranhou Cíntia.

Samanta chamou Cíntia mais de perto para conversar sem que as outras meninas escutassem.

—É nossa chance de dar um susto na Briana - disse ela.

—E como vamos fazer isso? - indagou Cintia.

—Vamos fazer ela entrar na floresta e fingir que somos fantasmas - disse a nossa “vilã”.

—E se ela se perder de verdade? - perguntou Cintia.

—Deixa de ser boba - falou Samanta - Ela vai gritar tanto que todo mundo vai ouvir e vir atrás dela na hora. É só para fazer ela pagar um micão mesmo.

—Parece um plano malvado - observou Cintia.

—Eu sei - disse Samanta, rindo orgulhosamente - Ai como eu tô bandida.

E assim as meninas iniciaram sua caminhada pela trilha. Briana estava perguntando mais algumas coisas para a instrutora, de modo que Cintia e Samanta puderam ir na frente para se esconderem.

—Ai, como eu detesto esse monte de mosquito! - reclamou Samanta.

—Faz parte da vida na floresta, amiga - disse Cintia - Não passou seu repelente?

—Parece que eles já se adaptaram ao repelente. Ai, como é duro esse treinamento.

—Mas eu sempre faço as coisas para você, amiga. Você nem precisa se preocupar com a parte difícil.

—Deixemos esses detalhes para depois, tá bem? - disse Samanta - Como vamos assustar a Briana?

—Melhor pensar rápido - falou Cintia - Logo, logo, ela passa por aqui.

—Tá, seria bom se tivéssemos uma cara assustadora de fantasma - balbuciava Samanta.

Samanta e Cintia pensavam juntas quando Samara, seguindo sua trilha, se aproximou delas. Não tinha muito jeito, já que elas estavam bem no meio da trilha.

—Err...com licença… - balbuciou Samara.

—Ai, ai, sou bonita demais para fazer esse papel - lamentou Samanta - Melhor você fazer isso, Cintia...

—Mas eu também não sou boa nisso - falou ela.

As duas continuavam pensativas.

—Err...com licença - Samara insistiu.

Finalmente, as duas perceberam a presença dela e caíram para trás.

—Ai, amiga. É um fantasma de verdade - falou Cintia, com um olhar desesperado - O que a gente faz?

—E eu sei? Não ensinam nada para gente contra fantasma nesse curso de abelhinha, não?

—N-n-não sou fantasma nenhum! - reclamou Samara - Só estou querendo passar!

Samanta se aproximou e tocou Samara com o dedo. Ao sentir que ela era de carne e osso, perdeu o medo.

—Ah, que susto - disse ela - Você surgiu do nada que nem um fantasma.

—É só uma menina normal - falou Cintia - Que bom, né, amiga?

“Do nada? Eu estava aqui há um tempão!”, pensou Samara, indignada.

—Mas você quase matou a gente de susto! - falou Samanta - O que faria se a gente tivesse morrido?

—Mas não morreram! - respondeu Samara.

—É assim? Não vai nem pedir desculpa! - reclamou Samanta.

—Desculpa? Mas eu não fiz nada e…

—Tudo bem, tem um jeito de você se redimir - falou Samanta - Vai ter que nos ajudar.

—Ajudar no quê? - indagou Samara.

Precisamos da sua ajuda para assustar uma garota bobona - disse Samanta, com um olhar malvado.

—A-assustar? Por que eu faria isso?

—Porque você tem cara de fantasma. Vai ser fácil - disse Samanta.

—N-não quero - Samara tentou falar o mais alto que conseguiu.

—Ei, você sabe que está falando com a garota mais popular da escola, não sabe? - falou Samanta - Vai mesmo querer encrenca comigo?

—G-garota mais popular da escola? - gaguejou Samara - Espera. Vocês estudam na minha escola, não estudam?

—Hã? Você estuda na mesma escola que a gente? - perguntou Samanta - Nunca te vi. Você já viu ela por lá, Cintia?

Cintia apenas negou com a cabeça.

—Seja como for - prosseguiu Samanta - Sou a mais popular. Duvido que alguém tenha mais seguidores do que eu e olha que só estou no sexto ano. Então...vai colaborar ou vamos ter que tomar medidas mais drásticas?

—Melhor você não contrariar - falou Cintia - A Samanta é uma vilã de primeira.

—V-Vilã? - gaguejou Samara.

—Então é melhor obedecer, tá entendido? - falou Samanta.

—A-Acho que não tenho escolha.

—É bom mesmo - terminou Samanta.

“Estou no segundo ano do médio. Por que estou com medo de uma menina do sexto ano do fundamental?”, pensou Samara, mas como elas estavam praticamente na mesma altura, não tinha tanta diferença assim.

Enquanto isso, Gustavo continuava seu treinamento, mas seu estômago começou a roncar mais do que deveria.

—É, acho que já está na hora de comer alguma coisa - falou ele - Pegar minha própria comida também faz parte do treinamento!

Gustavo colocou sua camiseta regata e foi à caça de algum coelho ou animal parecido.É a dura vida de um homem disposto a conquistar o coração de sua amada.

De volta ao acampamento, finalmente Briana começou sua trilha. Ela acompanhava as meninas de longe, ficando mais afastada do grupo por se distrair com os passarinhos.

—Ah, os passarinhos são tão lindos! - comentou ela, sorrindo.

Samanta podia observar a garota de longe.

—Ótimo. Ela ficou para trás do grupo. Vai ser mais fácil de assustá-la! - falou Samanta - Muito bem, garota fantasma. Contamos com você.

—Já falei que sou só uma garota comum! - reclamou Samara.

—Garota comum com cara de fantasma - insistiu Samanta - Vai lá.

“Nunca fui tão humilhada assim”, pensou Samara, a garota que outra vez deliberadamente tentou assustar um entregador para garantir que fosse Luciano que entregasse sua comida. Será que ela vai ser bem-sucedida nisso?