Desde que Márcia chegou à Vila Baunilha ela não desgrudou de Luciano. Os dois realmente se davam bem e tinham um humor parecido. Era nítido como Márcia ria com mais entusiasmo quando conversava com Luciano.

—Sério? Você já entregou panfleto fantasiado de raposa? - disse ela, em mais uma dessas conversas com Luciano na hora do intervalo. Os dois estavam sentados em um dos bancos do pátio e pareciam se divertir a valer.

—Pois é - falou o garoto - Quase morri de calor. Preciso te contar a confusão que isso deu.

—Nossa, quero saber - disse Márcia, sorrindo - Segura aí. Vou ao banheiro e já volto.

—Vai lá - disse Luciano, puxando seu violão para ensaiar mais alguma coisa. Luís, porém, se aproximou.

—E aí, Luciano? - falou ele.

—E aí, Luís? - cumprimentou o rapaz, sem tirar os olhos do violão - Quer que eu toque alguma coisa em especial?

—Não, obrigado - disse Luís - Vou aproveitar que finalmente a Márcia saiu de perto para trocar uma ideia contigo.

—O que foi? Vai dizer que tá com ciúme? O que é isso? Você ainda é um dos meus melhores amigos! - disse Luciano, com um sorriso.

—Não, não, não é ciúme. Longe disso - falou Luís, enquanto ajeitava os óculos - Só queria saber se está rolando alguma coisa entre você e a Márcia.

Luciano caiu na gargalhada ao ouvir isso.

—Tá de brincadeira, Luís? - perguntou Luciano - A Márcia não chegou na cidade não faz nem um mês.

—Mas vocês se dão muito bem!

—A gente curte as mesmas coisas, ué? Mas não quer dizer que eu vá ter alguma coisa com ela por causa disso.

—Você pensa assim, mas e ela?

—Como é que eu vou saber? 

—Vamos supor, por hipótese, que ela goste de você...mais do que como amigo - falou Luís em voz baixa - Como você reagiria?

Luciano ficou um pouco mais encabulado depois dessa.

—Ah, não tô a fim de me amarrar com ninguém agora.

—Espero sinceramente que não seja por estar a fim da Anne! - reclamou Luís.

—A Anne?! - exclamou Luciano - Já falei mil vezes que não quero nada com aquela insuportável!

—Calma, Luciano. Não precisa ficar tão vermelho - reparou Luís.

“Insuportável...mas com um beijo tão bom”, pensou Luciano, não conseguindo esquecer aquele dia do lago.

—Sabe - continuou Luís - Só achei que você e a Márcia poderiam ser bons namorados.

—É cedo demais para falar isso - disse ele - Por enquanto, somos apenas bons amigos.

—Não poderia pensar melhor nisso? - falou Luís - Se você namorar com a Márcia, pode finalmente esquecer a Anne!

—Você não ouviu nada do que eu falei? - perguntou Luciano, já ficando mais furioso - Já disse que não suporto aquele garota!

—O problema é que não consigo acreditar nisso - falou Luís - E a Ema forçando vocês o tempo todo não ajuda.

—A Ema é louca, você já devia saber disso!

—Mas todos os casais que ela forçou...ficaram juntos. O corpo de evidências é considerável - falou Luís.

—Bem, para tudo tem uma primeira vez - disse Luciano - Pode ficar sossegado. Por que não vai atazanar o Ian? Ele sim puxa um caminhão pela Anne.

—Ah, eu sei que ela não suporta o Ian, mas você...ainda tenho minhas dúvidas - disse Luís, olhando fixamente para Luciano.

—Ah, a Márcia tá voltando - disse Luciano, acenando para a garota.

—Oi - disse ela, cumprimentando Luís - Como vai essa força, Luís?

—Muito bem - disse ele - Eu...lembrei que preciso fazer uma coisa. Vou deixar vocês dois conversando.

—Não foi só porque eu cheguei, não, né? - brincou Márcia.

—Claro que não - respondeu Luís com um sorriso - A gente se vê na sala.

Assim, Luís se afastou dos dois. Ainda olhando eles de longe, o garoto suspirou.

—Cara, se esses dois ficarem juntos vai ser ótimo para mim!

Nisso, Luís é puxado por alguém para trás de um arbusto do pátio. Ser puxado foi assustador, mas ver o rosto tenebroso de quem o puxou foi mais assustador ainda.

—Que é isso? Sai desse corpo aí, ô! - disse ele para sua “puxadora”, Samara.

—D-D-De…

—Tá, desculpas aceitas - falou Luís, já adivinhando o que Samara ia dizer - O que você quer comigo?

Samara respirou fundo e desabafou.

—Você tava falando daquela menina nova, não tava?

—Quem? Ah, a Márcia? É, ela faz um bom par com o Luciano e…

Samara estava quase chorando (mais de raiva do que qualquer outra coisa).

—Ah, é...você gosta do Luciano também, né? Foi mal. Esqueci.

—Q-quem é aquela menina? - disse ela (depois que engrena, Samara consegue falar bem fluentemente com Luís) - Como ela chega assim e já vai dando em cima do Luciano?

—É a Márcia - respondeu Luís - Não sei se ela tá dando em cima, mas que os dois se dão bem, ah, isso sim, viu?

Samara já estava começando a chorar.

—Calma, calma - disse ele - Ainda não é nada certo. O Luciano disse que não sente nada por ela.

—Verdade? - perguntou Samara.

—Pelo menos não por enquanto - completou Luís.

—Oh, droga - disse a garota, mordendo a própria camiseta de ansiedade - O meu primeiro amor vai ser perdido assim?

—Mas você já tá desistindo? - perguntou Luís.

—Olha para ela. A menina é uma gata e eu sou só uma caipira sem graça - desabafou Samara - Não consigo nem falar com uma pessoa direito.

—É, você precisa mudar esse seu jeito.

—Ele nunca vai olhar pra mim! - reclamou Samara.

—Não precisa ser tão dramática. Até que você é bonitinha - disse Luís.

Samara voltou seu olhar para Luís.

—S-Sério? - perguntou ela, encabulada - Puxa, é a primeira vez que alguém me elogia.

—É, se você mudar o cabelo, escovar mais os dentes, dar um jeito nessa olheiras, mudar o jeito de vestir, o jeito de andar, treinar como falar com as pessoas e fazer uns exercícios pra ganhar mais corpo que você fica mais atraente - falou Luís.

—Ou seja, teria que me mudar toda! - reclamou Samara.

—Tá, tá bom, acho que exagerei - falou Luís - Mas não sou contra você ficar com o Luciano.

Samara voltou a olhar para ele.

—Sim - continuou Luís - Por mim, quanto mais rápido o Luciano arranjar outra pessoa que não seja a Anne, melhor para mim. Pode ser você ou a Márcia.

—Bom, eu também não me importo com quem a Anne fique. Desde que não seja o Luciano! - retrucou Samara.

—Se é assim, então acho que podemos nos ajudar - falou Luís - Acho que essa é uma boa oportunidade para testar uma invenção em que estou trabalhando.

—Hã? Como assim? Não estamos falando de amor? Agora você vem falar de invenções?

—Vem comigo depois da aula - disse Luís - Eu te explico tudo!

O que Luís estaria tramando?