O Lobo-homem e o Feiticeiro Mestiço escrita por Melvin


Capítulo 22
22: Rebeldes


Notas iniciais do capítulo

Olá! Sejam bem vindos os novos leitores, e aos antigos: uma saudade enorme!
Ah! Aniversário de 4 meses sem postar novo capítulo! Surpresa!
Brincadeira, mas senti falta daqui...

Nos capítulos anteriores: Luahn descobriu sua origem e a verdadeira razão de o Lobo-homem estar ao seu lado. Porém, quando parecia que o jovem feiticeiro mestiço seguiria sua aventura com Fiel, seu homem-lobo, eles são atacado por um feiticeiro maligno, em forma de espectro e de outra era. Esse feiticeiro, chamado de Okumanuai, possuiu o corpo de Fiel e desapareceu. Agora, na companhia de seu Mestre de feiticeira e Ágata (um alma Atroes que já caçava o feiticeiro e que emprestou o corpo da fazendeira Carlyne,) Luahn quer recuperar Fiel são e salvo e evitar que seu mundo seja dominado por esse ser maligno. Contudo, o destino dele ainda tem outros obstáculos antes que ele possa desfrutar do reencontro e dos sentimentos que um lobo poderia ter por ele.



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[Luahn]

Na manhã seguinte encarei desconfiado para o cavalo de cabeça baixa, sem animo e lento que Ágata segurava por uma guia gasta. O único animal de porte grande que havia na fazenda de Carlyne era, definitivamente, bem velho! Dava para ver isso por sua cara esbranquiçada, sua postura caída, seu pelo sem brilho e até seu olho opaco e cego. E eu até apostaria que lhe faltava de alguns dentes.

— Só preciso de algumas horas — disse ela ao ver minha expressão descrente, se referindo ao encanto que rejuvenesceria o animal por um tempo e que, por alguma razão, não quis explicar ou ensinar, dizendo simplesmente que para dominá-lo era questão de anos e não de conhecimento e aplicação.

—... Por um lado, ele vai ganhar uma ultima aventura, não é Luahn? — comentou Mejen, já montado em seu cavalo e pronto para viajar. O velho sempre gostava de cavalos.

Logo depois os dois decidiram partir na nova aventura de procurar pelo feiticeiro malvado. Entretanto, eu ainda me sentia desconfortável ao me lembrar do outro único animal de Carlyne: o porco havia fugido do celeiro e estava desaparecido, nem meu mestre ou a Atroes me deixou ir procurá-lo, só me restou desejar ao bicho boa sorte naquela floresta e iniciar logo a minha busca por Fiel.

Por um dia completo avançamos através das trilhas na floresta. Ágata, com seu rosto e pele exposto de um jeito que Carlyne não teria coragem, acreditava que podia seguir sua intuição e achar pistas do Feiticeiro Negro, então apenas a seguíamos. Apesar de eu ter dito no começo que Mejen podia ir para casa e se recuperar, ele argumentou que tinha que ficar para nos proteger, quase ri, mas tentei convencê-lo com os encantos naturais femininos, que agora estavam em mim e favoráveis com o vestido de Carlyne que peguei emprestado, contudo não adiantou e até mesmo fez o homem ficar mais decidido por, na aparência, sermos duas mulheres viajantes.

...

Muito, muito distante um uivo soou baixo em meio à noite que se instalava. Ouvi-lo me despertou de meu cochilo em meio à floresta, coberto por uma capa vinho que também emprestei. Por um momento, fiquei apenas confuso e sem entender as palavras da voz do lobo. Ágata e Mejen não pareceram ter notado então apenas esperei que o vento trouxesse algo mais claro.

De repente, Canela relinchou onde estava amarrado, agitando a cabeça para cima e para baixo. Naquele momento, o velho cavalo já parecia ter seus quinze anos, com uma pelagem dourada saudável, musculatura torneada, atenção constante e reflexos incríveis, e só por sua cor e agilidade é que eu lhe dei esse lindo nome. Ele sapateou, girando as orelhas e observando ao redor cauteloso. Analisei a floresta atentamente e desconfiado, como todos ali fizeram ao ver suas reações. E, de repente, das sombras escuras vi olhos brilhando muito próximos e me assustei. O grito agudo pareceu ser de outra moça ali, mas era meu, e Mejen e Ágata me encararam. Depois disse o lobo escuro avançou hesitante do meio do arbusto, encarando-me e olhando uma ou outra vez para os outros dois humanos.

— “És... o feiticeiro do mestre?” — disse Carvão, incerto e pronto para fugir numa corrida.

— Sou eu, sim! Apesar de ser uma garota agora. É meio longo de explicar.  — Ri, estendendo uma mão amiga. Era claro que minha aparência tinha mudado, mas o faro dele devia informar quem eu realmente era. Confiou em mim ao farejar meus dedos e dar uma rápida lambidinha que o relaxou, abanando a cauda.

— “O rastro de Fiel sumiu, feiticeiro. Não pudemos achá-lo. Temos noticias!” — o lobo apenas me encarava com alguns sutis movimentos da cabeça.

— Onde está sua irmã? — perguntei, preocupado.

— “Aqui” — e ela saiu de outro arbusto do meu outro lado, me dando um novo sobressalto por estar tão próxima sem eu nem notar.

—... Luahn? — o tom de voz do mestre era aflito. — O que está havendo com esses lobos?

Notei que sua postura indicava que poderia pegar o cajado rapidamente para me defender, se necessário.

— Estão procurando por Fiel — expliquei. — Acho que estão nervosos por não achá-lo.

— “Precisamos contar-lhe algo logo!” — Nevoa deitou-se. — “Os lobos da alcatéia que te seguiam irão se rebelar contra o alfa deles! Depois perderem tantos membros e do aparecimento da energia maligna ma região, eles recuaram e decidiram estabelecer uma nova linhagem no comando...”

— “Isso mesmo! Assim eles irão deixar de perseguir o Mestre e de você! Não são mais a caça deles!” — Carvão animou-se momentaneamente.

— Mas... O que isso quer dizer? — perguntei incerto e sério para Nevoa.

— “Que vão matar o líder e definir o novo alfa... Provavelmente o que está comandando essa rebelião assumira o controle.”

Levantei-me:

— Espere! Se eles estavam determinados a matar um filho mestiço como eu, eles não irão parar só no alfa! Meu meio irmão também será morto!

— Luahn? — Mejen olhava-me com confusão. Eu me esquecia que eles não entendiam os lobos, expliquei de novo a conversa. — E o que você está pensando?

— Porque seu tom é desconfiado, Mejen?! É claro que nós temos que ir ajudar o alfa a controlar esses rebeldes! E vamos salvar o filhote também!

— Mas e o feiticeiro negro? Você não queria recuperar seu amigo acima de qualquer coisa? — disse a Ágata.

— É claro! Também vamos fazer isso!

— Não se os lobos te matarem antes — ela disse inabalável. — Além disso, a cada dia que passa o feiticeiro pode estar causando mortes e pondo em pratica seu plano para conquistar esse mundo. Eu não irei com você se insistir em fazer isso, Luahn. Vou continuar procurando ele.

Encarei-a, incerto do que fazer e preocupado. Ela tinha razão ao dizer que os lobos podiam me matar antes que eu conseguisse salvar meu meio irmão e o alfa, ou mesmo Fiel...

— Luahn, você vai mesmo abandonar seu amigo e o destino do mundo para brigar com lobos que não te queriam vivo?

— Mas não vou abandonar, Mejen! — insisti e suspirei. — Vou só adiar... Eu acho... Bom! Se vocês dois me ajudarem podemos conseguir sair vivos e será rápido. Os lobos têm medo de feiticeiros e somos três, só nossa presença pode fazer eles não atacarem o alfa e tudo se resolverá rápido.

— Eu já disse. Eu vou atrás do feiticeiro negro. — Ágata disse convicta. Encarei-a perplexo. — Não veja isto de forma má, Luahn. Seria uma perda de tempo para mim me envolver nessa historia. E, enquanto isso, estando sozinha posso reunir as pistas mais rapidamente e, se nós encontramos novamente, terei uma direção e um plano.

Não tive argumentos. Se eu dissesse que queria ela comigo, seria dizer que eu talvez estivesse com medo de não ser forte o suficiente e acabar morrendo, afinal esse tempo todo Fiel me ajudou, como seria enfrentar lobos sem ele?

— Ei, Luahn?

— Eu sei Mejen. Obrigado por não estar falando os pontos negativos e vir comigo tão tranquilamente.

— Não, menino. É que os lobos estão mexendo nas suas coisas — apontou e ao olhar os irmãos recuaram, deixando minha bolsa em paz.

— “Estamos com fome... só nos perdoe” — Carvão disse olhando-me meio arrependido. — “Tem algo para nós, feiticeiro?”

Dei-lhes o pão que procuraram. Ter eles comigo, deitados próximos, fazia-me lembrar de quando tinha Fiel, porém ele era maior que os dois e eu gostava de seu olhar neutro e vigilante, facilmente quebrados quando me pegava o olhando.

Quando o dia seguinte raiou com o sol, tínhamos um pequeno plano. Separamo-nos da Atroe, Ágata partiu em Canela dizendo que enviaria mensagens, porém ao falar isso na ultima hora não pude saber como ela iria fazer isso, apenas seguiu seu próprio destino com determinação.

— Está realmente preparado para isso, Luahn? Enfrentar lobos que nem conhece... — Mejen perguntou ao me ajudar a subir no lombo de seu cavalo, o que foi difícil com vestido, mas com a saia levantada eu consegui com sucesso.

— Não de verdade... Mas algo diz que preciso fazer alguma coisa por eles.

O cavalo se agitou, querendo se afastar dos dois lobos que estavam ao nosso redor e acabei agarrando a cintura do mestre para não cair.

— Será que esse ‘algo’ seria seus instintos lupinos? Afinal você é meio animal, não?

— Não gosto que diga isso assim! — e dei um leve murro na barriga dele, mas ele só riu. — Vamos logo! Temos que chegar ao território da alcatéia o quanto antes.

Carvão e Nevoa seguiram o cavalo assim que ele iniciou a corrida, logo liderando e nos mostrando a direção da alcatéia, que era conveniente em direção a nossa vila.

***

Na parada do fim do dia, um campina se estendia sem arvores, próxima de onde meu mestre e eu achamos que era um bom lugar para acampar. Parado na borda dela me distrai observando Carvão saltar do meio de arbustos ralos e começar uma corrida atrás de uma lebre. Ele estava feliz em perseguir o bicho desesperado, mas não tinha habilidade suficiente para alcançá-la e derrubá-la, por isso Nevoa surgiu de seu esconderijo, surpreendendo o bicho pela frente e o fazendo-o saltar para os dentes de seu irmão logo atrás, pegando-o como um cão pega uma bola no ar. Ao menos naquela noite eles teriam um bom jantar, pensei.

— Eles até que são bons caçadores, Luahn. Porque não pede alguma carne para eles?

— Sério Mejen? — o encarei. — Eles são apenas crianças sobrevivendo. Eu não posso fazer isso... Com Fiel era diferente porque ele trazia porque queria e já devia saber todos os macetes para caçar qualquer coisa... Além disso, eu prefiro esses dois lobos de barriga cheia do que tirar comida deles.

O velho apenas concordou e fomos juntos apreciar o nem tão magnífico jantar de sanduíche que forraria nossos estômagos.

Depois de um tempo encarando as chamas da pequenina fogueira, me levantei:

— Acho que vou até o riacho agora.

— Para quê? Não pode ficar andando assim durante a noite e em um lugar como esse, Luahn — disse o homem preocupado.

— Ah, mestre! Não seja assim. Eu quero fazer coisas que não dá para fazer na sua frente! — dei um sorriso travesso. — Deixe-me ir e não demorarei tanto — dei uma piscada de um olho para ele e ele só reagiu com um leve sorriso forçado.

— Luahn, é melhor ficar aqui — disse insistente e baixando o olhar por um momento, então estranhei.

—... Olha, Mestre, sou uma incrível garota agora, mas não tenho interesse em você...

— Não, Idiota! Você não entendeu que hoje é noite de lua cheia?

— O que? Sério?

Olhei para o céu e, ao encarar a enorme bola brilhante, um arrepio surgiu em meu corpo, fazendo algo mover-se lentamente dentro de mim. Só então entendi a preocupação dele e fiquei nervoso ao lembrar-se de como as coisas foram da ultima vez.

— AH! Nós não pensamos em nada ainda! — gritei nervoso, e agarrei as roupas dele. — Porque não me avisou antes, Mejen?! E se acontecer justo hoje?! Não posso passar as noites como uma estátua só com as runas de Carlyne! Meu corpo não descansa e eu não conseguiria chegar até a alcatéia capaz de fazer algo!

Ele tirou minhas mãos tranqüilamente.

— Mantenha a calma, primeiro. Eu estive pensando em tudo nesses dias.

— Mesmo?! — fiquei um pouco emocionado de ele estar se dedicando a me ajudar, mas sua face séria e reflexiva fez a emoção ir embora. — E quais suas conclusões?

— Hm... Sobre sua transformação, podemos acreditar que sua parte animal precisa de um momento para ser expressa fisicamente nesse mundo. Um momento marcado pela lua e inadiável. Isso nos leva às aventuras e escolhas de sua mãe, onde por causa dela toda sua magia e vida tem uma relação com a lua. Assim, quando ela está no céu plenamente, com todo seu corpo mandando sua energia para terra, é quando essa expressão animalesca tem força para acontecer no mundo físico e seu lado animal vem à tona, mas você não tem controle sobre isso. Ao menos, não sozinho.

— Caramba Mestre Mejem! Você é realmente inteligente por ter pensado essas coisas, mesmo estando de cabelos brancos. Desde que tudo isso começou eu não parei para analisar nada assim... Eu devo estar cansado depois dessa violência de informações que ando recebendo... — suspirei com a saudade dos bons tempos, onde eu provocava Fiel e era feliz vivendo normalmente.

— De fato, foram muitas novidade para alguém agitado e inconseqüente como você absorver de forma rápida. Mas também não gostaria que tanta preocupação tirasse seu jeito jovem, Luahn... Então... — me encarou suspirando, com um ar nostálgico, mas de aceitação de algo — vou te ajudar a pensar em soluções para os problemas que sua mãe lhe trouxe.

— Oh... Por um momento você pareceu tão adorável, Mestre, que me convenceu! — o abracei apertado e ele riu um pouco.

Assim que o soltei, a moita onde Carvão e Nevoa estavam escondido se agitou de repente, e só pude supor que os dois saíram correndo, mas tive certeza que estavam fugindo. Um segundo depois, pessoas surgiram à nossa frente, correndo aos gritos e diretos para nós dois com expressões raivosas. Super assustado e surpreso, eu também quis fugir igual aos lobos, mas eles já tinham nos cercados, e um homem todo coberto já estava atrás de mim, me segurando e nocauteando facilmente. Mejen também foi pego e não conseguiu reagir.


CONTINUA...


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Notas finais do capítulo

Hello! Siiim! Eu consegui terminar mais um capitulo e vir mostrá-lo depois de meses (talvez anos)... Alias, Feliz 2021!

Devo informar que eu me perdi nessa vida esquisita que fomos obrigados a mergulhar. Acho que meio que fui perdendo o jeito de escrever e dando prioridade a uma ou outra coisa e me distanciando. Porém, eu sempre pensava que eu não posso deixar essa historia sem fim...
Mesmo passando meses e que você pode ter me esquecido completamente...

Estou enferrujado nos passos que tenho que dar nessa historia e como narrar, mas vou continuando. Tenho o começo do próximo e umas idéias para chegarmos ao ápice que imaginei há muito tempo!

Não desistam de mim! Tentarei trazer o fim o quanto antes.

Obrigado por voltar a ler. Qualquer duvida, manda mensagem por aqui, ou só conta-me como foi seu dia.

Fique bem, fique seguro.
Até o próximo!

Obs.: deixe algum comentário para incentivar que continue. Seria bom saber que alguém ainda lê essa antiguidade kkk. ^^



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