O Lobo-homem e o Feiticeiro Mestiço escrita por Melvin


Capítulo 23
23: Os Peregrinos.


Notas iniciais do capítulo

Hey! Estou bem. E como está você? Espero que bem também.
Eu consegui trazer mais um capítulo esse mês! Yup! Mas tem um motivo para isso. Veja nas notas finais ^^.

No capitulo anterior:
Agatha se separou de Luahn e Mejem para procurar pelo feiticeiro negro sozinha, enquanto o Mestiço e seu mestre seguem para impedir uma rebelião na alcatéia de lobos, na esperança de salvar o lobo alfa pai e o seu filhote. Porém, a dupla é misteriosamente abordada por desconhecidos.
Boa leitura.



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[Luahn]

— Como você pôde bater em uma mulher? — resmungou alguém com desgosto quando eu estava voltando à minha consciência.

— Batendo, oras! O que tem de complicado? Mulheres também podem ser perigosas. E você viu o que aconteceu com essa durante a noite!

— Hm. Eu sei que você cresceu com sete mulheres dentro da mesma casa desde que se entende por gente, mas não sente remorso por essa aqui estar passando por isso?... Nadinha?

— Não sei. Agora ela é um homem, então... Sei lá. Nada mudou.

Homem? Pensei e abri os olhos devagar, me sentia confuso e curioso de saber de quem eram as vozes que se calaram quando resmunguei pela dor do galo na minha cabeça. Desorientado, rolei e notei que estava no chão e minhas mãos estavam amarradas. Então um vulto surgiu agachando-se e olhando para mim, escondendo o céu que estava alaranjado e clareando.

— Antes de qualquer coisa, tenho alguns avisos para você. Pode entender o que falo?

Apesar do sotaque, compreendia as palavras do homem de rosto anguloso e com barba crescida, então assenti. Ele tinha cabelos pretos bagunçados e roupas de tons marrons, bem parecida com as dos homens que surgiram na floresta na noite anterior.

— Bom — continuou ele. — Nós estamos com seu tio e é ele que será punido se você não se comportar muito bem. Outra coisa é que a maioria do meu grupo é de homens que estão a muitas milhas de casa e estão um pouco sem paciência, por isso peço que não faça nada que os provoque a saírem da linha ou pessoalmente terei que me livrar de você. — Estranhei seu tom despreocupado em, possivelmente, tirar minha vida. Ele coçou o queixo, escondido entre os pelos, então notei seu cordão com um pingente vermelho rústico e sem brilho. — Agora, preciso saber se vai colaborar conosco também?

Ele me puxou do chão, me fazendo sentar. Olhei em volta e não estávamos no mesmo local, mas as árvores ainda nos cercavam e havia quinze ou mais pessoas espalhados, todos com roupas parecidas.

— Luahn, você está bem? — Ouvi a voz do mestre e o encontrei são e salvo de pé e livre, porém vigiando e longe de mim.

— Vocês não podem ficar juntos ainda, Mejem. É uma medida de segurança para não fugirem, você entende. Mas pode respondê-lo se quiser e ‘se’ realmente conhecê-lo — o homem me encarou.

— Minha cabeça dói... — lacrimejei com as dores de ter que falar. — Mas estou bem.

O mestre deu um sorriso esperançoso com a minha reposta, o que meu deixou mais confuso que antes. Porque ele estaria feliz e bem naquela situação? Porque ele não se aproximava ou fazia algum feitiço rápido para a gente sair da posse daquele grupo? Ele estava com as mãos livres, podia fazer!

— Você parece bem confuso — o homem perto riu de leve, observando-me.

— É claro! — reclamei e o galo deu uma pontada de dor. Com minha expressão, logo outro homem tirou minha mão e apoiou um pano úmido e agradavelmente frio no local, aparentemente ele era gentil ao sorrir com pesar, mas eu me recusava a confiar neles! E, de repente, me dei conta... Eu não vestia mais um vestido! Nem tinha cabelos loiros compridos e nem havia os volumes dos meus peitos ao olhar para baixo! E aquela roupa não era a minha! — O que vocês fizeram?!

O homem ao meu lado riu, sendo acompanhado pelo rapaz que apoiava o pano na minha cabeça.

— Nada demais. Você era uma moça adorável antes de se transformar em um garoto. Então achamos que o vestido extremamente justo seria desconfortável e lhe demos estas vestes.

O rapaz do pano concordou e me encarou:

— É verdade. Foi só isso. Mas assustou todo mundo quando aconteceu de noite.

— De qualquer forma, o que importa é que Mejem é um senhor esperto e fez um acordo conosco. Disse que você também podia nos ajudar e que não é alguém que sente vergonha fácil.

Olhei para o velho distante de mim. Aquilo não era algo que ele podia sair falando para homens esquisitos! Talvez, por isso, tiveram coragem de trocar minhas roupas!

— Porque fez um acordo com eles?! — perguntei gritando para meu mestre, mas quem respondeu foi o homem perto.

— Ah, ele só quer isso — e pegou o pingente de seu colar. Uma feia pedra vermelha escura, sem graça, sem brilho, nem valor ou mesmo uma beleza mínima para ser digna de ser chamado pingente. Que escolha horrível do Mejem! O mestre entendeu meu olhar repudiando a troca.

— Só acredite em mim, Luahn — disse o feiticeiro meio nervoso. Certamente sabia que eu não estava convencido e ia agir para nos tirar daquela situação o quanto antes, já que não tínhamos muito tempo com o futuro ataque dos lobos. — Chefe Mercel, eu posso falar com ele de mais perto?

— Venha.

O Mejem agachou-se do meu outro lado e olhou diretamente nos meus olhos, falando um pouco mais baixo:

— Escute-me, garoto. O que o chefe Marcel carrega é um Pingente de Verlonga. Algo que para mim era um mito até ouvir a historia desses homens e vê-lo. — Com estranheza encarei o homem confiante próximo que tinha o colar. — O pingente é capaz fortalecer a consciência racional humana, ampliando sua capacidade de foco mental. Pelo que já li, era exclusivamente usado pelos melhores videntes para criarem as profecias.

— Você não pode ter certeza disso, Mejem! Quero que me soltem! — agitei os pulsos presos. Então o mestre segurou meu rosto, ficando sério:

— Luahn, preste atenção! É inacreditável a sua sorte de achar isso justamente agora! A lenda diz que o pingente é uma parte de um coração humano. A pessoa dona dele o amaldiçoou para que todos que o possuírem tivesse sua mente ancorada no consciente do presente, apenas na voz da razão lógica, excluindo sentimentalismo e imaginações sem fundamento. Isso pode significar que quem o tiver perde seus medos irracionais e têm uma melhor capacidade de analise da situação, desvendando mais facilmente todas as variáveis e consequentemente as possibilidades de futuro. Com isso, podemos ver os caminhos seguros e reais em meio ao que está acontecendo. Também, através desse efeito, pode-se vislumbrar o futuro mais plausível que chamamos de profecia, mas não é uma visão. Entendendo isso Luahn, você vai compreender que quando esse pingente for seu e o estiver usando, terá uma chance de manter sua consciência humana nas noites de lua cheia! Pois a maldição do pingente vai obrigar que sua mente humana fique no controle, independente de seu corpo.

Eu entendi e fiquei um pouco sem reação, mas... Ainda estava desconfiado de tudo:

— Ainda assim, Mestre. Isso pode ser apenas uma medíocre pedra vermelha! Eles nos golpearam e seqüestraram! Eles só fizeram sua cabeça! Ah e eu achava que você fosse inteligente ontem mesmo... Bateram tão forte em você que seus miolos amoleceram?

— Eu tirei prova, Luahn! — ele me calou. — Também não confiei neles quando acordei, mas o Chefe Mercel me deixou experimentar. Existe uma concentração antes e um pouco de uso de mana para ativar, mas, realmente, as coisas ficaram diferentes, mais nítidas, e ao analisar a historia que eles me contaram pareceu sincera, sem pontas soltas, eu não consegui achar a lógica deles apostarem suas vidas numa missão que foi mostrada por esse mesmo pingente. Não seja relutante e concorde logo!

Tudo que ouvi parecia interessante. Tão interessante que:

—... Também posso provar?

— Não — respondeu o Chefe Mercel direto e claro.

— Confie em mim e aceite colaborar para saber o plano, Luahn. Quem sabe isso tudo acabe ainda hoje.

Suspirei em um momento de duvida, mas acabei concordando.

Depois de me soltar, Marcel contou a historia de seu grupo de peregrinos. A verdadeira terra deles era no extremo leste, uma aldeia unida e resistente que não tinha grandes ambições, apesar das terras férteis e preciosas, e que tinha orgulho de manter suas tradições. Mercel era um dos filhos do líder e guiava seu grupo de lutadores para recuperar um carregamento de coisas antigas e valiosas que foram roubadas de seu povo e estava a caminho de uma grande cidade. Tive empatia só depois de entendê-los. Era digno que quisessem roubar quem havia os roubados, mas, tão distantes de suas terras e sem saber dessa verdadeira historia, para qualquer pessoa eles pareceriam ladrões desonestos e capazes de tudo.

...

Os peregrinos estavam um dia na frente dos mercadores ladrões e a estrada por onde as carroças com o carregamentos roubados iam passar não era tão longe. Para meu desespero, o planejamento de ataque e seus preparativos só terminaram próximo do por do sol. O chefe sabia que Mejem era feiticeiro e eu seu aprendiz, apesar de não entenderem e nem ligarem de saber que na verdade eu sempre fui um homem.

— Como está sua cabeça? Ainda dói? — Will perguntou enquanto caminhava ao meu lado pela estrada. Ele é quem havia cuidado do meu galo com um pano fresco e nós acabamos juntos porque Mercel o encarregou de me vigiar e fazer companhia durante o ataque.

— Não mais. Está boa agora.

Nosso papel era seguir caminhando contra a direção das carroças e, quando a encontrássemos, tentar pará-los para tirar informações, principalmente descobrir a quantidade de guardas e se o chefe dos mercadores estava com eles.

— Mas a cada hora você está parecendo mais sério, Luh. Então está nervoso por ter que fazer isso sozinho e preocupado com seu mestre que ficou lá no outro ponto da estrada?

— Não, Will. Eu não tenho problemas em conversar com estranhos e tenho certeza que Mejem sabe o que fazer. Eu só... Tenho outras coisas para fazer depois disso. — Ele retardou um passo o que me fez olhá-lo a tempo de ver um desgosto rápido. — O que foi?

— Nada. — seguiu andando. — É que eu me acostumei com você rápido e com o que disse entendi que você vai seguir sua vida depois e nós a nossa.

— Acredite. Vocês não iriam querer ficar perto de mim mais que um dia. Nos meus dias bons, eu sou insuportável quando estou desocupado.

Ele riu, mas eu não consegui senti a diversão. Minha cabeça estava cheia e algo estava fazendo meu corpo ficar tenso, como uma incomoda vibração interna aumentando gradativamente de tom, e eu não conseguia calá-la ou impedir, me deixando... Irritado. Foi minha vez de retardar um passo, eu tinha relembrado daquela sensação que me pressionava e que pré-vinha à mudança para minha forma feral. Will me olhou.

— Eles estão chegando — lhe disse, ouvindo os ruídos das rodas e dos cavalos que ele aparentemente não ouvia, pois olhou com estranheza a estrada à frente.

— Como você sabe?

— Eu sinto. — Não dava para contar que ouvia melhor porque naquele momento, com sol deixando o céu para a lua cheia, logo meu lado lobo poderia se mostrar

— Hm, coisa de feiticeiro. Entendo.

— Mas, Will, antes me escute: Se algo ficar fora do controle, você deve fugir e se encontrar com os outros, entendeu? Não se importe comigo. Apenas avise Mejem.

O rapaz deu um riso forçado, preocupado, mas concordou:

— Se você diz.

...

O comboio de duas carroças cobertas surgiu à meia velocidade, se aproximando enquanto o céu ia perdendo o brilho. Continuamos andando até que Will me olhou, ele estava pronto para que eu agisse, então parei e acenei para os estranhos, chamando a atenção deles e fingindo-me de andarilho simpático atrás de informações. Will apenas me seguiu quieto e continuou observando quando me aproximei de um dos dois homens montado em cavalo. O cavaleiro me notou, mas continuou no trote, me obrigando a segui-lo enquanto improvisava um historia de que queríamos chegar a um lugar e emendei com outros assuntos que o distraísse ou o fisgasse, como, por exemplo, como sua montaria era bonita e contando brevemente sobre um criador de cavalos que nunca existiu de verdade.

O homem seguia andando sem interesse até que perguntou quem éramos e eu lhe disse a verdade falsa de sermos jovens viajantes atrás de pistas de nossas famílias verdadeiras que nos perderam no porto quando éramos crianças. Felizmente, minha breve experiência numa cidade portuária com Mejem e todas as histórias que já ouvi de lugares assim, me ajudou a responder algumas perguntas dele. E o fato de interagirmos deu brecha para continuarmos em uma conversa e conquistá-los.

Alguns metros depois, andando juntos e falando historias, até os outros homens acomodados na guia das carroças e na traseira com algumas armas me davam ouvidos, também se distraindo com a conversa durante a viagem. Por fim, questionei curioso o que havia nas carroças.

— Uma entrega — disse o cavaleiro simplesmente.

— Hm, misterioso o senhor. E vão parar durante a noite? O sol já foi embora — me preocupei ao ver que o céu já se tornava azul escuro e uma lua redonda surgia, acelerando meus batimentos.

— É lua cheia, vamos continuar o máximo que der.

— Hey! Rapaz! — chamou um homem esquisito, na traseira da carroça que ia à frente, encarando-me com um sorriso torto. — Se quiser estar com a gente até a próxima vila, não teria problema. Talvez até se divirta — e riu depravado, olhando-me de cima a baixo.

— Sua mãe deve ter sido muito bonita. Tem certeza que ela não é uma cortesã? — disse-me o homem de capuz ao lado dele, divertindo-se também.

Subiu-me uma irritação instantaneamente, fervilhando por dentro, quando mais alguns riram.

— Isso é ofensivo, seu bastardo! — Will disse bravo e um vento soprou forte, levantando poeira da estrada.

— Há! Ha! Ha! Eu acho que são vocês que são os bastardos! — e o homem gargalhou mais. — Nenhum homem quis assumi-los e, assim que puderam, largaram vocês na esperança de que tivessem um fim logo!

Todos eles riram. O capuz do homem caiu para seus ombros, empurrado pela ventania sem que ele ligasse. Enraivecido, decidi avançar, mas o cavalo do cavaleiro com quem conversava se agitou no mesmo momento, galopando rápido e sozinho para fronte e Will me segurou:

— Luahn, já está bom. Vamos. — Ele me puxou para abandonar o comboio e seguir na direção contraria.

Quando eles ficaram distantes, Will entrou na margem da estrada e o segui. Encontramos um dos homens de Marcel com o cavalo de Mejem e, após passar as informações que obtivemos, ele se partiu para encontrar o segundo grupo bem à frente.

— Agora é minha vez. — Eu ainda estava bravo e foi fácil me concentrar na magia para criar a densa neblina que bloquearia o caminho caso o bando de mercadores ladrões decidissem recuar.

— Droga! Eu não vejo nada, Luahn. Onde está a estrada? — disse Will atrás de mim e olhando em volta, perdido.

— É naquela direção. Vamos, temos que encontrar todos para ajudá-los.

— “Ajudá-los”? Com essa sua cara sem humor, é apenas uma palavra de desculpa para irmos logo.

Não podia ceder à raiva, mas não conseguiria. Seria conveniente se me tornasse um monstro e aqueles homens estivessem no caminho.


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Notas finais do capítulo

Olá! Obrigado por ler!

Eu tive a ideia do pingente faz meses, mas “como” eu ia introduzir na historia era o problema e estava me bloqueando.
Mas recebi um comentário no Watpad de alguém que migrou do Nyah para lá e achou a historia novamente e tava feliz em poder lê-la e fez observações sobre a narrativa. Eu sinceramente agradeço pelas palavras! Porque me deu inspiração para todo o evento deste capitulo e do próximo, graças a esse incentivo. Eu me sinto libertado de um peso agora sabendo o próximo passo.

Comente, comente o que sentir depois de ler, porque numa dessas vão remediar um bloqueio criativo! Não só meu, mas de outros autores também.

Até o próximo!

Com um gato no colo e carinho, Melvin.



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