O Lobo-homem e o Feiticeiro Mestiço escrita por Melvin


Capítulo 21
21: Um momento do passado. ― Luahn


Notas iniciais do capítulo

OIEEEE! Voltei.
Finalmente dei um jeito e posso voltar a escrever. ♡ Eu estou muito feliz em poder estar aqui!! Espero que alguém ainda leia ou se lembre dessa história e me faça companhia, porque eu estou com saudades para matar. Hehe.

A escrita, ritmo e outras coisas podem estar diferentes... estou enferrujado :/ Poxa, fazem mais de 6 meses... mas ainda tenho ideias e vou tentar lembrar qual o destino desse arco da história!

Lembro que também fiz uma pausa grande na minha história de "O unicórnio de um coelho" e mesmo assim (e com a companhia de leitores
super especiais) eu conclui ela.

Em fim...
Aconselho, a quem quiser, reler. Ou, se você lembra onde paramos, ótimo!

No capítulo anterior: Mejen encontrou Luahn na fazenda de Carlyne e houveram muitas descobertas sobre a origem do jovem feiticeiro. Logo eles estavam voltando para o vilarejo, mas antes foram interrompidos por um figura misteriosa e maligna que possuiu o corpo de Fiel após um luta contra Mejen. Restando apenas Luahn, ele viu Carlyne ser controlada por outra coisa e ela lutou contra Fiel, mas o lobo possuído desapareceu. A alma do feiticeiro negro do castelo abandonado sobreviveu e levou Fiel. Luahn quer resgata-lo, mas o ser que habita Carlyne quer apenas acabar com o feiticeiro negro a qualquer custo.


(Vou estar revisando/editando esse capitulo).

Boa leitura!



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As nuvens estavam escuras e densas, parecendo segurarem sua chuva o máximo que podiam, quando chegamos à fazenda carregando Mejen. Logo, uma tempestade deu inicio, grossa, porém calma, se estendendo pela noite toda depois que o brilho do dia se desfez.

Mesmo distraído tratando das queimaduras de meu mestre, tudo o que eu pensava o tempo todo era em como encontraria Fiel e o traria de volta. Devia ter uma forma de fazê-lo ser despossuído. Mejen talvez soubesse então precisava consultá-lo antes de qualquer coisa, mas o velhote tinha gastado quase toda sua energia e só me restava esperar.

O casebre estava mais frio que o costume por culpa da chuva e com a falta da companhia do lobo-homem. Eu me movia e tinha espaço demais. Olhava a minha volta e apenas confirmava que estava sozinho. Já Carlyne estava debruçada sobre a mesa, achei que estava cochilando, então apenas me sentei em um dos bancos sem poder parar de pensar. De repente ela ergueu-se e ficou me encarando de volta, sem expressão, mas desconfiada. E pelo seu olhar me lembrei que não era Carlyne, já que sua íris ainda tinha um brilho emanando de dentro.

― Quem é você, afinal?... Deve ter muito ódio daquele feiticeiro pela forma que o atacou. 

Ela suspirou, olhando para a lareira acesa:

― É uma longa história, menino.

― Bom, não acho que eu vá dormir cedo. Quero ouvir.

A mulher encarou-me e tenho certeza que soube que eu seria insistente. Sorri, satisfeito e curioso, quando ela começou a falar:

― Na forma de espectro, eu estive por muitos lugares para concluir que meu povo existiu aqui a algumas centenas de anos atrás e vocês mal sabem quem realmente fomos.

― É verdade ― falei. ― Só soube um pouco de vocês recentemente. ― e me recordei dos dias em Prata Leal, sentindo o peso da nostalgia daqueles dias que minha vida parecia uma tranquila aventura.

― Nós, os Atroes, surgimos assim que a magia foi dada a alguns poucos homens por alguns deuses. Esses homens, sábios e bons, estudaram a mana e como usá-la do jeito correto. E é deles que nós descendemos. No começo dessa era, os primeiros com magia eram muito poderosos junto com tudo o que aprenderam e souberam que o conhecimento poderia ser mal usado se dado a pessoa errada. Por essa razão começaram a avaliar os abençoados com magia. Os que eram dignos aprendiam os segredos do uso da magia e eram treinados, assim todos se tornaram heróis e ajudaram o mundo sem egoísmo ou destruição, lutando contras as bestas que costumavam dominar todos os cantos desse mundo e trazendo paz aos homens.

― Foi por isso que se tornaram tão populares! Em Prata Leal, falam de Atroes como heróis famosos do passado! ― E um leve sorriso surgiu no rosto dela, logo sumindo. ― Mas... O que acontecia com os que eram indignos?

― Tinham a magia removida ou contida, sem nunca se lembrarem dela por toda sua vida.

Encarei-a perturbado, mas, pensando melhor, era a forma que acharam para que esse dom não fosse usado para o mal. A mulher ajeitou a espada ao lado da adaga, depositadas na mesa.

― E as armas?... Porque suas armas são especiais? ― Agitei-me curioso, por um curto momento pensando em contar para Fiel depois de saber, mas me lembrei que ele não estava mais comigo.

― Para vencerem as poderosas bestas, os Atroes desenvolveram proteções e armas reforçadas com a energia da mana essencial. E cada uma dela é única para cada guerreiro.
Ela ficou em silencio, alisando a espada e pensativa.

― Encontramos estas no calabouço de um castelo desmoronado... Você conhecia o dono? ― perguntei cuidadosamente.

Carlyne assentiu, desanimada.

― Pertencia ao meu comandante, Magnus... O mundo com os Atroes era equilibrado ― ela mudou de assunto. ― O Okumanuai, o feiticeiro negro, não foi aceito para aprender os conhecimentos e de alguma forma quebrou o selo posto em sua mana e memória. Revoltado, ele desenvolveu o ritual de consumir almas e pegou um dos nossos guerreiros, ficando mais forte e descobrindo com as memórias que teve acesso que, em um lugar secreto, guardávamos magias poderosas e feitiços que não poderiam ser usados de forma boa. Ele jamais poderia aprender tudo sozinho então atacou a biblioteca, roubou alguns livros e destruiu absolutamente tudo, eliminando todos os Atroes que tentaram impedi-lo... Por culpa dele nós perdemos muito do conhecimento e pessoas poderosas e importantes. Ninguém que tentou encontrá-lo voltou. Apenas soubemos que ele continuava ficando mais forte e dominando os povos com ganância, usando magia no solo para empobrecer as pessoas e fazê-las servi-lo.

— Está falando do velho período da terra seca? — chutei com estranhamento.

— Nessa época, Okumanuai amaldiçoou as plantações daqueles que não o seguiam e os povos sucumbiram e ofereciam sua lealdade pela suposta cura que ele dava. — Ela soltou um curto riso irônico: — O maldito se saia como bom feitor, mesmo que fosse o criador do mal ou quando ceifava vidas. E as pessoas começaram a endeusá-lo, mesmo quando suas atitudes cruéis e egoístas vinham à tona. Enquanto nós, que tentávamos impedi-lo, fomos apontados como vilões pela humanidade! — A mulher disse com rancor. — Mas os deuses, tendo a prova da maldade de um homem, deixaram de abençoar as pessoas com magia. Contudo permitiram que o homem já abençoado passasse-a aos seus filhos, com a condição de que aquele que se unisse a um humano comum pagava o custo de uma redução de poder mágico, tornando a magia cada vez mais fraca. Dessa forma, aos poucos, os homens se adaptariam a completa inexistência da magia no futuro.

— Isso faz muito sentido! — a clareza dissolveu meus outros pensamentos por um momento. — Hoje não existem mais tantos feiticeiros ou bruxos, até Mejen tem uma obstinação com isso de pureza de sangue e poder mágico. Eu sei que tudo que ele fez por mim foi por interesse, mas... Não posso culpá-lo por se dedicar a um sonho.

— Daqui em diante o mundo não precisará de feiticeiros. Não há mais tantas bestas e mistérios ocultos no mundo como era antes quando precisávamos de algo especial que nos permitisse sobreviver... Isso é como os deuses previram e vai ser. A linhagem pura é um pensamento que deve ser deixado para trás.

— Vou me lembrar disso para argumentar com Mejen... — assenti. De alguma forma as palavras dela me confortaram de seguir a vida que eu queria e não a que o meu mestre imaginava. — E como você e o feiticeiro negro vieram parar aqui, nessa época?

— Os Atroes caçaram o Okumanuai mesmo com as pessoas os julgando. E em uma noite as defesas da fortaleza dele foram vencidas e meu grupo, liderado por Magnus, cercou o feiticeiro negro em um quarto. Eu o vi sem saída, mas ele nos desprezou e abriu um portal... Um portal que ninguém antes tinha visto. Contudo, seu encanto único tinha falhas e quando ele o atravessou deixou seu corpo para trás.

Ri sem querer ao imaginar. Ela me olhou séria então contive e fiz uma expressão de mais atento. Ela continuou:

— Não sabíamos para onde ele foi, qual era seu plano e nem tínhamos muito tempo até que o portal se fechasse. Aquela chance de pegá-lo havia custado muito para não a concluirmos, então Magnus, que era o Atroes mais experiente e habilidoso dentre nós, repetiu as frases de encanto, mas fez alguma modificação que eu não ouvi, conseguindo levar seu corpo físico e armas ao atravessar. Logo depois a passagem se reduziu e eu não podia deixar meu instrutor lutar sozinho, repeti a frase do Okumanuai rapidamente e só aceitei deixar meu verdadeiro corpo para trás.

— O que?! Instrutor? Você é um aprendiz?

Ela balançou a cabeça, sem perder nenhum pouco do orgulho por ser apenas uma estudante.

— Apesar de como você chama, minha colocação estava próxima da dele e eu ainda estou preparada para oferecer tudo que tenho para vencer o feiticeiro. Nós perdemos muito e levamos décadas para achá-lo, e embora esse corpo tenha desvantagens, minha determinação não mudou e o momento é favorável — a mulher me olhou determinada. — O feiticeiro não tem mais a proteção de seguidores, nem fortaleza para se esconder e vai tomar cuidado para não perder o novo corpo. Tenho que achá-lo o quanto antes, porque com certeza seu plano é de dominar essa era onde não há outros que possam impedi-lo.

— E-entendo... Mas não pense que vou deixar que o corpo de Fiel seja incluído na sua vingança! — a encarei, sendo sério também.

— Farei o que for necessário, garoto — ela disse sem emoção.

— E eu também.

Encaramo-nos por alguns segundos, mas não era tão hostil como pensei. Claro que ela sabia de mais coisas para ter sucesso, mas eu também estava disposto a usar todos meus truques para recuperar meu lobo-homem.

— Você tem uma ligação mágica com a lua, não é? — ela disse de repente me desconcentrando.

— Tenho? — estranhei.

— Sim. Por alguma razão sua aura brilha a noite, ao menos para meus olhos. — Olhei para mim e não tinha nada cintilando. Acharia que ela estava louca se não estivesse concentrada me analisando seriamente. — Além de ser um descente que usa magia com sangue mais puro, você tem uma benção de uma deusa... Eu já te disse que os deuses pararam com isso faz tempo, mas por alguma razão você é uma exceção e seu poder deve ser diferente dos outros nesse mundo.

— Ou isso é uma maldição. Eu não tenho muito controle da força da minha magia desde que foi liberada e quand...

— É porque sua mente não fica quieta. — Encarei-a por me interromper tão mal educadamente, mas também curioso. — E o seu medo do poder faz com que sua mana fique rebelde para ser controlada facilmente... Para um rio chegar ao seu destino sem transbordar, ele não pode estar em meio há uma tempestade...

— Está dizendo que estou transbordando?

— Nenhum rio controla sua água quando ela transborda. Então, sim... Em outras palavras, você tem que pensar em seu objetivo no momento que for usar magia e manter sua calma junto com confiança no que vai fazer. Não estou dizendo que é fácil ignorar os pensamentos sobre o futuro quando a magia que você tem para usar é poderosa e pode causar estragos, mas essa é a resposta se quiser dominá-la. — Muito de repente ela bocejou, nem ela esperava, e esfregou os olhos. — Ah, estou cansada... — disse já se deitando sobre a mesa, indo dormir enquanto minha cabeça analisava os ensinamentos dela e sua historia.

— Ah! Hey, você tem um nome? — perguntei curioso demais para deixar para depois.

— Ágata.

— Ágata... — repeti, apreciando que me fazia lembrar de uma pedra. — Hey? Se você podia ocupar apenas um descendente de Atroes, e Atroes eram feiticeiros, porque não escolheu Mejen ou eu?

Ela suspirou, cansada, mas eu realmente precisava saber.

— A mana que resta nessa mulher é quase inexiste... E a de vocês se conflitaria com a minha, dificultando meu controle.

— Então o feiticeiro negro também tinha esse problema e, dentre nós, Fiel não tinha mana interna?

— Acho que é isso mesmo. Agora, garoto, vai dormir. Não esperarei muito para partir.

Ela ficou em silencio, se encolhendo mais pelo frio da noite chuvosa, deixando-me sozinho e sem resposta quando perguntei mais detalhes. Depois, não sei quando dormi, nem quais os sonhos que estava tendo, mas acordei com uma sutil vibração se espalhando pelo meu corpo. Sonolento, percebi uma luz crescente no ambiente que logo explodiu e meu estomago revirou no mesmo ritmo, fazendo meu coração acelerar. Eu caí do banco assustado, cego, confuso e achando que estava sendo atacado por um feitiço, mas aquilo logo passou. Então olhei em volta, sabia que estava inteiro e aparentemente bem, e tudo continuava igual no casebre. Ágata tinha acordado e estava me encarando assombrada.

— Luahn? — a voz baixa e rouca de Mejen veio do quarto. —  O que fez?

Levantei-me do chão, puxando a calça que escorregava da minha cintura, e fui vê-lo:

— Como assim? Não fiz nada — disse assim que o vi sentado na cama com esforço e fui fazê-lo voltar a deitar e dormir. — Mestre você tem que descansar! Tem que se recuperar o máximo que puder até amanhã.

Mejen ficou me olhando depois da minha tentativa de empurrá-lo. Sua expressão era indefinível pelos ferimentos na pele, mas ele levantou a mão e tocou meu cabelo, trazendo uma mecha longa para frente, para meu ombro. Fiquei em choque.

—... Mulher. — se limitou a dizer e deitou-se com um gemido baixo, sem tirar os olhos de mim.

— AH, NAO! — gritei, passando as mãos no meu corpo e segurando a roupa folgada. Ágata surgiu na porta, ainda sem entender nada. — Eu fiz a poção! Era para ter revertido para sempre! Vocês precisam me ajudar e fazer alguma coisa! — olhei para os dois, desesperado. — Não posso ir atrás daquele feiticeiro assim!

E esperei respostas.

— Creio que podes, sim. — Ágata disse algo finalmente. — Sua magia e habilidades ainda são as mesmas.

— Não posso, mulher! O feiticeiro negro é quem fez isso e ele só me queria para ter filhos feiticeiros! Ninguém poderá impedir-lo se me pegar novamente! É muito perigoso! Ainda mais... — engasguei pensando — Ainda mais ele estando no corpo de Fiel... Aah! — minha cabeça doeu e me autorepreendi.

— Luahn... Acalme-se — pediu Mejen suavemente. Palavras que significava desde minha infância para respirar fundo e ficar quieto por um tempinho, o que eu fiz. — A explosão de magia para te transformar é muito alta... Nós não podemos te ajudar.

— E aparentemente você não tem controle sobre isso — concordei com o comentário da mulher. — Mas, talvez, se o feiticeiro for eliminado por completo, isso acabe.

— Só o feiticeiro! — reforcei.

— Luh, faz um mês que voltou a seu corpo original... — o mestre disse de olhos fechados, mas com um tom de analise. — Isso pode ser um ciclo.

— Ciclo?

— É só uma teoria... As coisas irão se repetir, Luh. E só teremos mais certeza quando a lua cheia chegar daqui a três dias — me pareceu preocupado.

— O senhor pode estar certo. — Para meu medo, Ágata, a Atroes nutrida desde criança com conhecimentos, apoiou-o. — Se você tem a lua como madrinha de magia, Luahn, ela tem ciclos. E a lua cheia é a mais forte que revela o que está escondido na noite, nesse momento talvez você volte a ser homem.

Observei-os, refletindo cuidadosamente. Mas tinha coisa que ela não sabia e só então entendi o que Mejen tinha pensado que veríamos com a chegada da lua cheia... Entendi seu medo.

— Não Ágata... Se você estiver certa... — disse-lhe hesitante. — Antes de eu voltar a ser eu, serei um monstro assassino. — Ela franziu entre as sobrancelhas sem compreender. — Se a lua cheia plena for mesmo poderosa e revelar o que está oculto vai... Vai trazer no mundo minha parte não humana. Minha parte mestiça com lobo... Por algumas longas noites.


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Notas finais do capítulo

E por hoje é isso.
Sério queria acelerar a narrativa, Mas... parte desse capítulo já tava pronto e não poderia muda-lo.

Espero que tenham gostado da história desse trecho. Rsrs

Comentem algo, me deixaria feliz.

E, principalmente, cuidem-se!



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