Protocolo - Bebê Desaparecido escrita por Pixel


Capítulo 4
Capítulo 4 - Problemas


Notas iniciais do capítulo

~~ Boa Leitura



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 As ruas estavam praticamente vazias, sem nenhum carro nas ruas e com pouquíssimas pessoas se atrevendo a andar em meio a neve. O ar estava tenso, pesado, e a neve caia lentamente.

 Peter não estava se sentindo muito bem, seja pela fome ou pelo frio, ele estava basicamente se arrastando pela neve; cada passo parecia levar uma eternidade, chegando a esgotar seu corpo. Ele se aproximou de uma vizinhança familiar e parou para olhar o grande letreiro vermelho.

 Peter sempre se recusou a assaltar o sr. Delmar, era um quesito de honra. Ele sentia como se já tivesse usado o velho senhor demais apenas por "roubar" o aquecedor dele no inverno passado. Por isso ele passou reto pelo letreiro vermelho e procurou outra mercearia nas redondezas.

 Ele encontrou logo uma mercearia chamada "Market" apenas algumas quadras de distância do sr. Delmar. Seu corpo já estava tremendo violentamente com cada passo dado, os dentes batendo de forma involuntária.

 Peter sentiu como se ele fosse desmoronar a cada passo dado, e foi por falta de alternativas que ele entrou na mercearia.

 O calor e as luzes de natal foram as primeiras coisas que ele notou, se permitindo soltar um suspiro pesado quando sentiu seus ossos gelados se aquecerem brevemente com o calor repentino — essa sem dúvidas era a dadiva de um aquecedor. O ambiente era agradável e estava quase completamente vazio, por exceção de algumas pessoas aqui e ali. O relógio na parede dizia que eram apenas oito e meia da manhã, cedo demais para qualquer pessoa normal no inverno ficar perambulando por aí. Peter abaixou a cabeça, ignorando o enorme Papai Noel e uma senhora que parecia estar analisando com cuidado a sessão de laticínios.

 Ele encarou as prateleiras, analisando suas opções. Peter não demorou em pegar três pacotes de oreo e soca-los rapidamente em sua mochila de forma desajeitada. Ele também pegou quatro barras de proteínas e seguiu para o frigorífico, buscando água.

 Apenas a ideia de comer alguma coisa causou um despertar em seu estômago, seguido de um rosnado que enviou um certo calor ao rosto de Peter, mesmo que ninguém estivesse perto para ouvi-lo.

 Seus dedos chegaram apenas a roçar na garrafa antes de ouvir uma movimentação estranha na mercearia; pareciam que sacolas haviam caído no chão com um baque forte e então veio o grito:

 — Não deixa ele fugir! — Era a voz de um homem, que simplesmente serviu de gatilho para o sentido aranha, que de repente despertou, enviando um arrepio por todo seu corpo.

 “Rápido”

 Peter jogou duas garrafas de água na bolsa e fechou o zíper, jogando-a por cima dos ombros num reflexo involuntário. Ele não pensou duas vezes antes de avançar, mesmo com o temor de seu corpo, para a porta da frente da mercearia.

 A mudança de clima foi perceptível, mas ele a ignorou.

 Do lado de fora, ele encontrou com o caixa, apontando para uma figura que corria pela rua, atropelando toda e qualquer pessoa que passava pela sua frente. Seus ombros caíram e Peter se sentiu doente.

  Foi como olhar em um espelho, e por isso ele sentiu raiva.

  Peter era tão hipócrita, prestes a salvar alguém que tinha acabado de ser assaltado, mesmo quando ele também cometia um assalto. Peter não podia se sentir mais nojento do que agora, mas ainda assim seus sentidos não descansaram até que ele avançou e começou a correr na direção do assaltante.

  Se não fosse a adrenalina em seu corpo e toda a raiva encubada — provavelmente de si mesmo, e não do assaltante — Peter não teria conseguido correr tanto. Suas pernas estavam bambas de frio e ele estava mais lendo do que o normal. A falta de comida em seu organismo estava afetando seu sentido aranha e todas as suas outras habilidades.

 Mas ainda assim ele encontrou forças suficientes para encobrir metade da sua culpa.

 Peter avançou rapidamente por causa dos seus poderes, e quando estava perto o suficiente pulou em cima do assaltante, derrubando a ambos no chão.

 — Filho da puta! — O murmúrio de raiva passou despercebido pelo jovem aranha, que se concentrou em imobilizar o assaltante.

 Ele viu de soslaio a arma, e uma mão perigosamente próxima.

 Memórias de Skip invadiram sua mente, da arma que ele guardava na gaveta de meias, a mesma arma que ele lhe ameaçava caso tentasse contar a alguém o que acontecia dentro daquele apartamento.

 Peter se moveu com base nessa lembrança, alcançando a arma antes do assaltante. Ele apontou para cima, onde tinha certeza de que ninguém ia se machucar e apertou o gatilho.

 Uma. Duas. Três. Quatro vezes.

 A quinta nunca veio, porque o assaltante decidiu que era hora de reagir e derrubou Peter, mudando as posições. Seu sentido aranha foi lento demais para avisar sobre o primeiro soco, direcionando exatamente para seu olho direito.

 Peter gemeu e rosnou, sentindo a dor invadir seu crânio de forma desconfortável, a visão ficando levemente turva. Aquilo iria rapidamente formar um hematoma, assim como rapidamente iria desaparecer. Claro, se ele comesse alguma coisa.

 O sentindo aranha estava mais alerta na segunda vez, já que Peter foi capaz de pegar o soco no ar com a mão livre, não tendo dificuldades em neutralizar o ataque.

 A outra mão ele estendeu para o mais longe possível do assaltante. Uma mistura de medo e adrenalina movimentando seu corpo, algo que ele não era capaz de controlar.

 — Você vai pagar por isso pirralho!

 O homem não desistiu, determinado a espancar Peter custe o que custar. Peter estava acostumado com esse olhar assassino direcionado para ele, já que no último ano em que ele tem atuado como Homem-Aranha é normal os bandidos demonstrarem sua raiva dessa forma.

 Mas ele não sabia que Peter tinha uma força sobre humana, por isso não foi difícil empurrar o assaltante para o chão, causando um gemido de surpresa do homem quando ele se viu desprotegido. Peter não teve tempo de se sentir orgulhoso do olhar de espanto no rosto do mais velho, logo um par de braços rodearam seu corpo e o puxaram para longe da briga.

 — Chega vocês dois! — Peter estremeceu, dessa vez não de frio, mas de medo. A voz atrás dele era carregada com uma força e um autoridade que somente um policial treinado teria. Ele nem sequer se preocupou com a arma em sua mão.

 Ele piscou, percebendo o enorme erro de ter apontado a arma para cima e disparado quatro vezes; é claro que isso chamaria a atenção de alguém.

 A adrenalina se esvaziou do seu corpo como o ar em uma bexiga furada. Ele ficou frio e pálido, quase que transparente.

 Peter estava sendo imobilizado por um policial local, e por mais que tivesse a força necessária para se soltar do aperto, ele não foi capaz de fazer isso. Ele estava fraco agora, sem comida e ser energia. A falta de adrenalina o deixou mole e extremamente consciente do frio ao seu redor.

 Seus dentes começaram a bater instantaneamente.

 Outro policial surgiu, apontando uma arma para o assaltante. Uma breve discussão começou a acontecer entre o assaltante e o policial.

 Peter de repente viu dois pares de olhos diretamente para ele e seus sentidos estavam tão entorpecidos que ele foi incapaz de registar toda e qualquer palavra que estava sendo trocada entre o assaltante e o policial. Diante dessa visão, Peter deixou a arma que ainda estava na sua mão escorregar para o chão, completamente mortificado. Ele sabia que agora estava ferrado, não importa se ele estava tentando ajudar ou não, ele ainda podia ter machucado alguém com aquela arma.

 Céus! Ele nunca iria se perdoar por isso.

 Seus pulsos foram agarrados e uma voz no seu interior gritou desesperada:

 — Os atiradores!

 Seus ombros ficaram tensos e ele não foi capaz de se mexer, nem mesmo quando o par de algemas prenderam seus pulsos juntos.

 O primeiro pensamento que cruzou sua mente foi:

 — Eles estão prendendo o cara errado!

 De repente, Peter estava consciente de muitas coisas, não só dos atiradores. Sua mochila parecia chumbo em seus ombros, sua respiração parecia nada mais do que um peso ardente em seus pulmões e o olhar vingativo do assaltante quando ele se afastava, livre.

 Sua mente nublada em pensamentos quando uma viatura da polícia de Nova York se aproximou.

 Ele sem dúvidas parecia extremamente idiota, com os olhos arregalados e a boca entreaberta. Foi somente quanto ele foi empurrado para dentro da viatura que o terror se instalou por completo.

 A percepção da situação caiu sobre ele como um balde de água extremamente gelada.

 Não. Eles não podiam fazer isso.

 Eles não podiam manda-lo de volta para Skip, não depois de tudo que Peter passou para ficar longe. Não depois de ter fugido, não depois de ter roubado para sobreviver, lutando assim contra seus próprios conceitos.

 Não depois de ter sobrevivido por um ano nas ruas!

 Céus! Isso é o inferno. Isso é o inferno!

 Nada disso pode ser real, Peter não está sendo detido. Ele não estava em uma viatura policial, não tem um homem vestido em um uniforme azul e branco olhando para ele de soslaio, parecendo extremamente preocupado.

 — Ei garoto, você está bem?

 Peter não ouviu.

 Peter não podia ouvir.

 Sua respiração se tornou rapidamente superficial e todo seu corpo gritava para ele correr, correr para o mais longe onde nenhum policial ou Skip pudesse lhe encontrar. Ele precisava se refugiar em algum lugar distante.

  Algo lhe disse que seu sentido aranha estava formigando na base do pescoço, mas Peter não conseguiu prestar atenção.

 Ele não conseguiu porque sabia que em algum lugar, Skip estava vindo para lhe encontrar. Para leva-lo de volta ao inferno. Para a tortura. Para o que ele estava fugindo durante todo esse tempo.

 Para quebra-lo em pedaços, justo agora que ele estava voltando a junta-los.

 — Chefe, eu acho que o garoto tá tendo um ataque de pânico — O policial disse no banco do motorista.

 Para Peter, parecia embaixo d’água.

 Ataque de pânico. Ele sabia o que isso significava. Já teve isso diversas e diversas vezes após acordar de um sonho ruim até que o dia ele resolveu pesquisar o que era. Geralmente a única coisa que o acalma são as luzes alegre dos pisca-pisca, às vezes, quando a noite está clara, é o brilho da lua.

 Mas quando não tem nada, céus, é aí que ele quebra em lágrimas.

 Era como se ele se afogasse na própria miséria.

 — Respire Peter, respire...

 Peter fechou os olhos, fechando as mãos em punhos cerradas, suas unhas cravando em sua pele forte o suficiente para machuca-lo. Só então ele notou o quanto sua respiração parecia superficial, o quanto seu peito estava apertado e implorando por ar.

 Só então ele percebeu o quanto sua cabeça doía e ao mesmo tempo exigia um pensamento coerente.

 — Respire Parker, é só respirar

 Dentro. Fora. Dentro. Fora. Repita isso até que seu peito não doa, implorando por ar.

  — Se acalme, Peter

 Lentamente, quando a viatura já estava chegando a delegacia, foi que Peter começou a de fato pensar com claridade. As nuvens se definharam em sua mente e ele permitiu abrir os olhos, olhando para o estofamento da viatura.

 Frio. Foi a primeira coisa que sua mente registou.

 Medo. Essa foi a segunda.

 Skip. Foi a terceira

 — Melhor? — O policial perguntou, sua voz estranhamente preocupada, mas a única coisa que brilhavam em seus olhos era pena. Peter assentiu em resposta, ainda sem desviar o olhar do estofamento.

 Tudo iria ficar bem quando ele saísse dessa.

 Voltar para aquele apartamento era um pensamento horripilante, causador de um ataque de pânico. Peter precisa ficar longe de Skip, nem que isso exija o uso dos seus poderes.

 Ele precisava de um plano. Se tudo der errado, ele sempre pode abrir uma janela e rastejar pelo lado de fora — provavelmente alguém vai vê-lo —, mas se ele poder sair pela porta da frente — de preferência sozinho — vai ser como ganhar na loteria.

 A única coisa que Peter precisa é não entrar em pânico.


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Notas finais do capítulo

~~ See Ya Later



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