Protocolo - Bebê Desaparecido escrita por Pixel


Capítulo 2
Capítulo 2 - Lembranças


Notas iniciais do capítulo

~~ Boa Leitura



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 A Torre dos Vingadores estava completamente vazia, sem nem mesmo um funcionário dos laboratórios para perambular por aí. Não que isso incomodasse Tony, era até que aconchegante. O bilionário gostava do silêncio, exceto quando seus pensamentos vagavam e ele quase se derramava em lágrimas no seu laboratório pessoal.

 Mesmo com os prós e os contras, Tony acabou resmungando quando ouviu passos e vozes no corredor, que claramente não estavam relacionados ao barulho da televisão. Por um instante ele amaldiçoou Sexta-Feira por não avisa-lo da chegada de quem-quer-que-seja.

 — Hope, eu não quero passar o natal com seus pais. Também acho que eles merecem um tempinho sozinhos — A voz inconfundível de Scott Lang ecoou pelos corredores.

 O Homem Formiga era apenas o novo recruta dos Vingadores, ainda passando pela fase de teste e burocracia com o Fury. Isso aconteceu depois que Sam simpatizou com ele.

 Ironicamente o cara estava tentando roubar o Complexo.

 Tony só queria que Scott fosse menos irritante, não importa o quão genial o cara possa ser, ele ainda possui uma estranha ficha criminal. Não que Tony fosse digno de julgar.

 — Scott, esse vai ser o nosso primeiro natal em família em muitos anos. Eu vou. Se quiser pode passar com a Cassie, acho que ela vai adorar — Logo as duas figuras emergiram, entrando na sala carregados de malas.

 A Vespa ainda não era uma Vingadora oficial, na verdade ela ainda nem tinha aceitado qualquer oferta; porém, ela era uma moradora quase que fixa na Torre, já que Scott é seu namorado.

 — Tony! Tá acordado? — Scott o cumprimentou com um enorme sorriso e Tony apenas revirou os olhos para a pergunta.

 Se ele estivesse dormindo não estaria aqui, na sala principal, bebendo café preto enquanto assiste uma reprise de O laboratório de Dexter.

 — Acho que a resposta é meio óbvia — Disse no seu habitual tom sarcástico. — Como foi o fim de semana? — Tony perguntou apenas por educação, sem ter nenhum interesse na vida do casal de insetos.

 — Renovador. Quando o resto da equipe está voltando?

 — Provavelmente na terça-feira — Tony disse, se apoiando na bancada quando se lembrou de quem o rei T'Challa estava trazendo com ele na terça-feira.

 Ele podia tolerar Buchy, mas não era obrigado a gostar do saldado.

 — Bem, acho que até lá esse lugar vai ficar bem mais calmo... — Hope disse, cruzando a sala. — Boa noite Stark, boa noite Scott. Vejo vocês amanhã — Tony apenas ignorou o tom seco dirigido a ele.

 Descobrir que seu pai teve certos problemas no passado com um tal de Hank Pym não era uma grande surpresa. Na verdade, foi uma surpresa que Hope e seu pai ainda o toleravam, mas claramente não confiavam nele; Scott parecia mais à vontade.

 Tony resmungou um “boa noite” enquanto Scott parecia bem mais feliz em responder a namorada. O bilionário amaldiçoou internamente quando o herói deixou as malas de lado e se sentou no sofá.

 — Nossa! Esse desenho é bem antigo — Ele comentou e Tony apenas confirmou com um murmúrio enquanto levava a caneca de café a boca, tomando um longo gole. — A Cassie adora

 Tony sentiu uma pontada de inveja em seu interior ao ouvir o nome da menina. Ele sabia que Scott tinha uma filha e lhe doía saber que ambos eram tão próximos, mesmo considerando todas as situações que o homem já passou.

 Era apenas inveja. Pura e clara inveja. Mas Tony se permitia senti-la.

 — Como ela está? — Tony perguntou, pela primeira vez demonstrando interesse. Ele encheu novamente a caneca de café e cruzou o balcão para se juntar a Scott no sofá.

 — Bem... principalmente depois do que aconteceu — Scott explicou. Uma certa alegrai brilhando em sua voz ao falar sobre sua filha. — Quando a gente saiu, Cassie estava prestes a liderar uma festa do pijama

 — Parece emocionante

 Tony não pode deixar de abrir um pequeno sorriso quando imaginou um pequeno garotinho, vestindo um pijama grande demais, mas confortável, enquanto brincava em seu quarto com tantos brinquedos que chegavam a sufoca-lo. Era apenas a sua mente o torturando com uma imagem falsa de Jean, mas mesmo assim ele não pode deixar de sorrir... um pouquinho.

 Era apenas mais uma das possíveis lembranças que ele perdeu.

 — Ei Tony. Posso perguntar uma coisa?

 Tony não pode se conter e revirou os olhos. Ele concentrou seu olhar na televisão e levou a caneca aos lábios mais uma vez.

 — Acabou de perguntar — Resmungou.

 — Eu sei que... isso é... um assunto bem delicado pra você mas eu estou curioso desde que cheguei... — Scott parecia indeciso e isso irritou um pouco Tony. Ambos não se conheciam a tanto tempo, mas o jeito do herói o irritava facilmente. — Como era a sua relação com o seu filho?

 A pergunta o pegou desprevenido, causando um arrepio. Tony franziu as sobrancelhas e os lábios, abaixando a caneca de café na bancada.

 Por um momento, ele não sabia o que dizer.

 A lembrança da situação anterior com Steve veio a sua mente e isso deixou Tony desconfortável. Porém, diferente daquela vez, Tony não sentiu a magoa dominar seu corpo ao ouvir seu filho ser citado dessa forma, foi apenas... nada. Apenas uma pontada vaga de dor no peito, recheado por aceitação. Era um vazio, sim...

 Um vazio triste, essa era a sensação.

 Tony engoliu em seco, se sentindo confiante o bastante para falar sobre Jean para Scott. Afinal, ambos eram pais. Pelo menos foi o que Tony queria que fosse motivo, que não houvesse nada além disso dentro dele, nenhum peso esquecido que de repente ele sentiu a necessidade de tirar.

 — Eu acho que... nós estávamos bem. Mesmo com o trabalho e tudo mais — Tony nunca iria admitir, mas ele se sentiu mais leve, mesmo com as poucas palavras. Foi como se um peso enorme tivesse sido tirado das suas costas depois de tantos anos.

 Memórias vagas das vezes em que Jean brincava na oficina rechearam a mente de Tony, lembranças que agora pareciam de uma outra vida; tão distantes. O garoto amava Dum-E e U, mesmo quando Tony o puxava para longe dos robôs o garoto dava um jeito de voltar.

 Certa vez, Jean se queimou com o ferro de soldar. Uma queimadura feia na mão direita. Tony nunca se sentiu tão desesperado em toda sua vida, mesmo hoje quanto ele já passou por tantas coisas — os gritos e as lágrimas de Jean ainda superam.

 A pior coisa que alguém pode sentir é ver seu filho com dor e não poder fazer nada, Tony chegou a essa conclusão naquele dia.

 Ele entrou no primeiro carro que viu e levou o garoto a emergência. Os médicos fizeram tudo, limparam, enfaixaram, deram-lhe remédio para dor. No final, Tony foi informado que a queimadura era de terceiro grau e que iria deixar uma marca.

 Jean foi proibido de entrar na oficina partir daquele dia, apenas uma precaução.

 Outra memória também veio, uma onde Jean tentava colocar os sapatos sozinho, brigando com Tony quando ele tentou ajuda-lo. Ele se lembra de ter rido do beicinho que seu filho estava fazendo, emburrado com os sapatos que para ele pareciam tão complicados. O resultado foi desastroso;

 Teve também uma vez em que Tony o levou para a piscina pela primeira vez, era um verão quente em Malibu e ele estava com medo de Jean se machucar acidentalmente na piscina. Acabou que foi melhor do que na hora do banho;

 Certa vez, Jean caiu do berço enquanto tentava fugir. Ele tinha apenas dois anos e odiava a cama com barras, preferindo bem mais a cama do pai. Infelizmente para Tony, Jean não se importava em cair algumas vezes do berço se isso significava que ele poderia passar a noite ao seu lado;

 Ele também rolou por dois degraus da escada uma noite, quando tentava se esgueirar até a oficina mesmo sabendo que Jarvis não iria abrir a porta — coisa que acontecia regularmente. Ele ficou com um galo na cabeça;

 Outra noite, Jean teve um pesadelo sobre panquecas tentando come-lo. Tony o acalmou;

 Ainda outra, ele pensou que um monstro iria sair do seu armário igual no filme da Disney. Tony o encontrou lá dentro pela manhã.

 Tony sempre esteve lá para ele, mesmo com o trabalho e Obadiah nas costas. Mas ainda assim o bilionário tinha a sensação de que as coisas podiam ter sido melhores, que deveriam ter sido melhores, talvez assim Jean ainda estivesse aqui.

 — Eu tentava... estar mais presente que o normal

 — Isso não quer dizer que eu não sinta sua falta dia opôs dia da minha vida — Acrescentou mentalmente com um humor negro que somente ele poderia entender.

 O silencio caiu sobre os dois brevemente, até que Scott o quebrou.

 — Eu acho que ele teria orgulho de você hoje — Disse sem rodeios. Tony arqueou uma sobrancelha para esse comentário, não acreditando em nenhuma das suas palavras. — Quer dizer, você é um Vingador, já salvou um monte de vidas. Acho que não precisa de muita coisa para subir no patamar de "herói" de uma criança. A Cassie ama o Homem Formiga, então... — Por fim, Scott deu de ombros.

 Tony acabou se deixando levar pelas palavras do homem, chegando a imaginar se Jean realmente sentiria orgulho do seu pai hoje em dia. Talvez, apenas talvez, Tony fosse seu Vingador favorito.

 O pensamento causou um sorriso sincero em seu rosto.

 — Eu vou pra cama — Era uma mentira, Tony queria apenas se livrar de Scott, dando-se ao trabalho de ser gentil quanto a isso. — Boa noite Scott...

 — Boa noite Tony

 Tony deixou a caneca vazia em cima do balcão e seguiu pelo corredor, indo até o elevador que iria leva-lo até o topo da Torre, onde ficava seu espaço meio que privado. Ele estava se sentindo um pouco exausto depois de passar dois dias seguidos dentro do laboratório; talvez ele de fato fosse dormir depois disso.

 Depois de alguns minutos, Tony estava seguro e quente dentro do seu quarto, o aquecedor zunindo ao fundo mantendo o lugar quente do frio que fazia do lado de fora. Tony se sentou na cama, mexendo em seu Starkphone por um longo tempo, conversando com Pepper e revisando alguns e-mails. Depois de um tempo, ele bocejou.

 — Sexta-Feira, me acorde somente se uma invasão alienígena acontecer — Ele resmungou para a I.A, ganhando a resposta quando as luzes do quarto se apagaram.

 Apesar de todo o cansaço, do peso em seus ombros e das mãos levemente doloridas, Tony demorou para pegar no sono, revirando várias vezes na cama antes de adormecer.


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Notas finais do capítulo

~~ See Ya Later



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